Eu estava paralisado,minha vida tinha morrido. Tinha cancelado todos os meus trabalhos,minhas consultas,tinha jogado tudo fora,sentia um mal interno terrível. Fazia algum tempo,por volta de dois meses,que me sentia perdido,desconfortável,como se um par de olhos me encarassem fixamente.Por um tempo,procurei certos olhos em todos os detalhes.Mas se na primeira vez eu não encontrar,não existe razão pra continuar procurando. Minha mãe costumava dizer que o fracasso dos outros é o caminho exato para o orgulho,mas eu nunca atrai o fracasso dos rivais,ao contrário,sempre atrai minha própria decepção. A decepção é um sentimento bem comum,ele estando presente em toda minha vida,em cada detalhe,não é lá algo triste e horripilante,pra mim,apenas faz parte da rotina. Me forcei a fazer os exames necessários,minha saúde não é muito boa,da última vez que compareci ao hospital descobri um tipo de câncer no pulmão.Dessa vez,tinha obtido depressão. Nunca valorizei a saúde,por isso não me abato com as doenças,as encaro como mas uma página em meu cotidiano. Mas nunca me importei tanto com meu psicológico como agora. Eu havia sido deixado para traz,tem horas,que me perco pensando nisso,não tenho memórias boas,digamos que eu aprendi a ter uma vida solitária. Minha casa era grande,uma herança de família,perto da sala de estar,onde havia ladrilhos entre o preto e o branco,vi de relance,uma garota.Ela parecia abatida,o olhar baixo e postura ereta,ela me encarou,deu um passo,na ponta dos pés,outro passo.Cada passo soava uma dança,cada ladrilho em que seus pés tocavam desabava.Seu olhar era a âncora e minha alma era o fundo do oceano.Eu encarei a personificação do nada a minha frente e disse:
"Nomeie-se.
Aguardei o silêncio,mas não pude terminar minha conclusão... "Angústia,chamo-me."

Então eu percebi,não,ela me contou,a divisória entre a verdade e a mentira,que em toda minha vida,só agora,somente no ápice...
Eu cai.