Darkness escrita por Maddie


Capítulo 1
Como tudo começou.




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Não me lembro de muita coisa.

Só me lembro de estar indo para um lugar qualquer. Pela mochila em minhas costas, o meu uniforme e a expressão engraçada no rosto, deduzi que estava indo pra escola. Eu tinha fones em meus ouvidos, e provavelmente estavam tão altos que qualquer pessoa do outro lado do mundo poderia escutar. Meus cabelos castanhosesvoaçavam com o vento, e os meus olhos azuis tinham um brilho estranho, diferente, como se já soubessem oque iria acontecer. Eu me sentia tão bem, nada poderia estragar. Talvez quase nada. Estava pronta para dar mais um passo quando ouvi gritos, gritos tão altos que tive de parar e conferir se estava tudo bem.

Mas não estava.

Uma aglomeração de pessoas estava em frente á uma casa amarela, que agora estava em chamas. Uma mulher chorava e gritava tão alto que eu não conseguia pensar direito. Ela queria entrar na casa em chamas, mas vários outros moradores a seguravam. Eu não entendia o porque daquilo, até vê-los. Eram duas crianças. Uma menina de cabelos loiros e um garoto que parecia ser mais velho, também loiro. Eles estavam na casa, no segundo andar, e pediam socorro pela janela fechada. Eu corri até lá, a procura de algum bombeiro, mas não havia nada e nem ninguém que pudesse ajudá-los.

— Por favor, alguém ajude os meus filhos!— a mulher implorava em prantos.

— Os bombeiros devem chegar daqui á pouco, mantenha a calma.— uma mulher ruiva pediu, mas a mãe das crianças não queria escutá-la.

— Meus filhos podem morrer a qualquer momento!— a mulher esbravejou, enquanto as crianças ainda choravam.— Como quer que eu mantenha a calma?

— Alguém entre lá e os ajude!— uma pessoa gritou da aglomeração, mas ninguém, eu digo, ninguém, se moveu. Eu cheguei mais perto, sentindo uma tremenda dor no peito.

— Precisamos de alguém rápido e magro, para que possa entrar e sair antes que a casa desmorone e mate as crianças antes do fogo.— um homem disse, e a mãe das crianças voltou a chorar desesperadamente.

— Eu iria, mas tenho três bocas para alimentar.— um homem de cabelos claros disse.

— Não corro risco. Antes eles do que eu.— uma mulher esnobe falou. Eu cheguei mais perto e me ajoelhei ao lado da mãe das crianças. Foda-se a escola, uma coisa muito mais séria estava acontecendo ali.

— Senhora, eu sei que é complicado, mas tenteficar calma.— eu pedi, sem sucesso.

— Quando você for mãe, saberá o quanto dói.— ela disse. Seu modo de se expressar deixou muito claro que ela já considerava as crianças mortas. Que não tinha esperanças.

— Eu juro que elas ficarão bem. Confie em mim.— eu falei, tirando aquela confiança de sei lá onde. A mulher me encarou com os olhos vermelhos, ainda chorando.

— Não prometa oque não pode cumprir.— ela disse e voltou a chorar alto, pondo a mão no peito, como se doesse profundamente. Eu senti o mesmo que ela, de um jeito ou de outro e naquele momento me veio uma ideia suicida.

Eu tinha jurado que os filhos dela ficariam bem. Eu nunca quebro uma promessa. Eu só me levantei do chão aos olhos de muitos ali. Encarei a casa em chamas e as crianças que só sabiam chorar, desesperadas. Um instinto protetor surgiu em mim. Não me lembro se tinha pai, mãe, irmãos ou até mesmo um cachorro, mas eu sabia que deveria fazer aquilo. Fui andando rápido em direção á casa, ouvindo protestos de vários moradores. Ignorei-os. Eu era a única chance daquelas crianças saírem vivas, não iria deixar duas vidas inocentes morrerem.

E então, eu entrei na casa.

O cheiro estava insuportável, então, amarrei um pedaço de pano da minha blusa em meu nariz. Percebi uma escada e fui andando devagar até lá, já que o chão estava rachando. Dei o primeiro passo, mas percebi que se quisesse salvar mesmo as crianças tinha que ser rápida. Saí correndo, sentindo algumas partes da escada desmoronarem. Eu teria que achar outra saída para nós. Quando finalmente cheguei ao segundo andar, eu as vi. Os dois estavam no fim do enorme corredor, em frente á uma janela. A menina abraçava o irmão, que tentava a proteger. Corri até os dois, que me encararam assustados e tremeram de medo, tossindo um pouco também.

— Não vou machucá-los, estou aqui pra ajudar!— falei um pouco abafado por causa do pano em meu nariz e eles ficaram em silêncio.

— Eu quero a minha mãe!— a menina berrou assustada, e eu me agachei ao seu lado. Percebi que eles tossiam, então, arranquei mais dois pedaços da minha blusa e amarrei bem forte em seus rostos.

— Não se preocupem, já vão ver a mamãe de vocês. Quais são seus nomes?

— Eu sou James. Ela se chama Alice.— o garoto disse, e eu sorri apressada. A cada minuto que ficávamos ali, o fogo aumentava mais. Porém, antes de fazer qualquer coisa, eles teriam que confiar em mim.

— Meu nome é Summer. Eu preciso que se afastem.— pedi e eles obedeceram. E fui tentar abrir a janela, sem sucesso. Ela estava emperrada.Tentei uma, duas, três vezes, mas não abria. Foi então que avistei uma pequena mesa e sem pensar duas vezes, a joguei pela janela. Ouvimos um grande estrondo, mas agora dava para respirar.

—Como vamos sair daqui?— Alice perguntou, ainda abraçando irmão fortemente.

— Jogue as crianças e se jogue depois! Nós vamos pegá-los!— um home gritou da rua e eu percebi que aquele seria o único jeito.

— Vocês cofiam em mim?— perguntei ás crianças, e elas assentiram.— Sei que é muito difícil, mas eu vou ter que jogar vocês pela janela. Lá em baixo terão várias pessoas pra não deixar que caiam.

— Eu estou com medo, muito medo!— James gritou e se separou da irmã.

— Eu sei, mas é o único jeito.— falei e eles assentiram, corajosos.

Eu os admirava. Nem mesmo eu teria coragem de me jogar dali, nem se um colchão do tamanho da rua estivesse ali pra me pegar. Peguei James no colo e me posicionei de um modo que os cacos de vidro não o machucassem. E então, eu o soltei. Ouvi um grito agudo e depois gritos de comemoração. James estava sã e salvo no colo da mãe, que o abraçava fortemente. Era a vez de Alice. Eu a peguei no colo e fiz o mesmo procedimento. Três, dois, um. Eu a soltei e ouvi mais gritos de comemoração. Bem na hora que a casa soltou um som estranho. Tudo aquilo iria desabar em poucos momentos. Eu não iria sobreviver, aquilo era nítido. Estava mais preocupada com as pessoas ali embaixo.

— Agora é a sua vez!— a mãe das crianças gritou, ainda com eles em seus braços.

— Não vai dar!— eu gritei de volta, vendo a escada desabar por completo.— Todos, eu disse todos, se afastem daqui!— pedi e eles me olharam incrédulos.

— Você os salvou. Não há nada que eu possa fazer?— a mulher gritou.

— Não. Eu já cumpri a minha parte aqui. Tenho que arcar com as consequências dos meus atos.— falei suspirando fundo, já vendo parte do teto desabar.— Cuide bem dos seus filhos, eles foram muito corajosos.

— Obrigada, menina.— a mulher disse com lágrimas nos olhos, assim como eu.

— Eu te jurei que eles iriam sobreviver. Eu nunca quebro uma promessa minha.— falei e soltei meu último suspiro. A casa desabou por completo, e eu senti o meu corpo colidir com a madeira e minha cabeça trombar com o chão. Só pensava na minha família, amigos e em mim mesma. E foi assim que eu morri. Pra mim, a morte era o fim de tudo.

Mas aquilo era só o começo.


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Notas finais do capítulo

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