Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 22
Celeste- Desejos


Notas iniciais do capítulo

Vamos fingir que eu não estou atrasada pra caramba com esse capítulo.. kkkkk Admito que a culpa é completamente minha por essa enorme demora mas eu espero que tenha valido a pena. Mesmo demorando saibam que nos importamos muito com a opinião de vcs meus amores..
Por isso espero que gostem, ele foi feito com muuuuuito carinho.
Aproveiteeem!
Beijos, Tatá..



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–Você está.... Digo, vossa alteza, está falando sério? –Uma risada um pouco mais alta acabou saindo de meus lábios contra a minha vontade e o príncipe ao meu lado deu um sorriso contido.

–Por favor princesa, me chame de Woo Bin ou de você, se a senhorita não se importar. –ele falou em seu tom perfeitamente polido mas sem deixar de ser agradável. –E sim, eu estava falando sério. Trouxe esse jogo pois achei que a senhorita fosse se interessar por ele.

–Eu amei! Amei tudo neste tablet e principalmente amei esse jogo. É perfeito!

Ele sorriu mais uma vez diante da minha empolgação e voltou a me contar sobre o jogo e me ensinar a jogá-lo. Havia cerca de uma hora e meia que nós dois estávamos sentados no jardim esperando as selecionadas e Vick terem sua aula de etiqueta diária para irmos para as atividades do “Volta ao mundo em dez dias”, hoje seria sobre a Nova Ásia, a pátria de Woo Bin. Eu havia saído do meu quarto após o café da manhã já vestida no kimono que Kat, minha criada e grande amiga, havia preparado com tanto cuidado para mim. Amanda também se encarregou de arrumar meu cabelo segundo a tradição da Nova Ásia, tudo aquilo me fez sentir como uma das bonecas que meus pais me deram em uma das vezes que fomos àquele país tão interessante. Logo soube que as atividades apenas começariam depois da aula das garotas e antes que eu pudesse encontrar um lugar para me esconder fui encontrada por Woo Bin.

Depois dos acontecidos da festa de ontem tudo que eu queria era me abster da companhia de todos, mas o olhar maravilhado daquele príncipe ao me ver com as roupas típicas de seu país me impediu de sair correndo dele imediatamente. Bom, talvez o kimono também tivesse um pouco a ver com isso dada a impossibilidade de correr com ele. Além disso em minhas memórias sobre a noite anterior não havia presenças dele, o que torna provável o fato de Woo Bin ser um dos poucos príncipes que eu não precisaria evitar.

Depois de seus elogios educados acabamos indo dar uma volta pelos jardins e nos sentamos em um dos banquinhos banhados pelo sol da manhã. Eu não havia visto nenhum dos outros príncipes vestidos daquela forma, mas duvidava que algum pudesse estar mais bonito e natural que Woo Bin.

Eu me recordava de todos os brinquedos que tive vindos da Nova Ásia e de como eles me encantavam por sua engenhosidade e criatividade. Após alguns minutos o garoto não aguentou de ansiedade e me presenteou com mais um deles. A “coisa” se chamava tablet e tinha tantas funções que eu duvidava algum dia aprender a mexer em todas, e mesmo assim ele se dedicou a me ensinar tudo que podia. A certa altura ele me disse que havia instalado algo especial no que havia me dado. Era um jogo que funcionava como uma espécie de simulador, você criava os personagens da forma que quisesse e a partir daí controlava a vida deles.

–Eu notei o quanto a senhorita se sente presa, como sente todos controlando a sua vida menos você mesma. Eu entendo perfeitamente pois também me sinto assim. Esse jogo não vai mudar nada na sua vida real, mas pelo menos é uma forma de possuir controle sobre algo. –Quando terminou de dizer isso sua mão tocou de leve a minha, mas seus olhos vagavam pelas flores do jardim. Eu percebia o quanto era difícil para ele lutar contra seu instinto de se manter dentro de si mesmo e ousar aquele simples toque de nossas mãos. Instantaneamente senti carinho por aquele garoto e movi meus dedos para pegarem a mão que me tocava e apertar de leve.

–Muito obrigada Woo Bin, isso foi muito gentil da sua parte. Muito mesmo. –Ele ainda não olhava para mim, mas sua mão pressionava a minha de volta –Não imaginei que estivesse prestando atenção em mim o suficiente para notar isso, na verdade não imaginei que nenhum príncipe estaria, e fico muito feliz por saber que você está.

–Eu também fico feliz por ouvir isso princesa, contudo receio que esteja enganada ao pensar que eu sou o único que estou notando detalhes sobre a senhorita. Eu diria que todos nós estamos. –ele disse com um pequeno sorriso nos lábios, demonstrando que sabia de mais coisas do que podia dizer e me deixando curiosa.

–Isso é uma surpresa. –eu sussurrei sem saber se ele ouviria e depois elevei minha voz –De qualquer forma no dia de hoje eu estou interessada em saber mais sobre você e seu país.

O sorriso largo em resposta à minha frase me surpreendeu. O garoto sempre tão reservado mostrava por um breve momento o que sentia e o fato de eu ter sido a escolhida para isso me alegrou muito. No mesmo momento um dos guardas nos avisou que Silvia nos chamava para começarmos as atividades culturais imediatamente. Quão grande foi minha surpresa quando Woo Bin se levantou sem soltar nossas mãos e começou a me puxar pelos corredores em direção ao Salão Principal, soltando-a apenas quando notou que estávamos na porta.

Nossa entrada juntos provocou olhares desconfortáveis tanto dos príncipes da minha seleção quanto de algumas selecionadas de meus irmãos. Pelo visto o garoto não conquistou apenas a minha simpatia.

Me desgrudei rapidamente dos olhares que eu tanto queria evitar para observar e me maravilhar com a nova decoração do Salão Principal. O local estava completamente ornamentado com objetos tradicionais da cultura da Nova Ásia, dando ao ambiente um novo ar delicado e ao mesmo tempo rígido, como se cada coisa pudesse pertencer apenas a um lugar no mundo. Pensar dessa forma me deixou levemente desconfortável novamente e eu me apressei a ocupar meu lugar no espaço vazio ao lado de minha mãe e Shay. Todos nós vestíamos nossos kimonos e estávamos sentados no chão em círculo quando Woo Bin apresentou um grupo de dança vindo especialmente de seu país.

E foi assim que o resto do dia se seguiu, alternando entre Woo Bin falando sobre sua cultura milenar, nós todos provando dela através da culinária e dos costumes, e por fim eu fugindo dos príncipes o tempo todo.

Shay rapidamente escapou das atividades planejadas com uma de suas selecionadas enquanto Julian sequer apareceu. Mas ao contrário de Shay, que havia saído para se divertir, Jules ficara o dia todo preso no escritório cuidando de assuntos do reino. A diferença entre os dois algumas vezes gritava alto em meus ouvidos, como se os minutos que Julian teve de vantagem ao nascer o tivessem tornado mais responsável e sensato. Eu o admirava de várias formas e tinha certeza que ele seria um ótimo rei, com seu senso de justiça impecável e sua mente projetada para pensar no melhor para as pessoas acima dos interesses de estado.

Eu pensava nisso enquanto caminhava pelos corredores em direção ao meu quarto e como se tivesse vida própria uma ideia passou por minha mente. “É provável que Julian faria mais sacrifícios, ou quaisquer outras coisas, por mim do que Shalon..” Balancei a cabeça para afastar esse pensamento mas ele já havia deixado suas marcas. Com a mente ainda vagando longe não notei o garoto encostado na parede pouco antes da porta do meu quarto e dos guardas que a vigiavam até que já estava bem perto dele.

Dimitri deu um sorriso contido, como ele quase sempre se apresentava, e fez uma reverência, me impedindo de ignorá-lo e me esconder em meu quarto. Eu não queria vê-lo. Não queria ver nenhum dos príncipes. Queria me tornar assexuada e nunca mais ver nenhum garoto na minha vida. Também queria não ver qualquer tipo de álcool novamente. A dor de cabeça da ressaca me acompanhara o dia todo como um aviso sutil das consequências que certas atitudes podem causar. Como por exemplo terminar a noite aos prantos na cama de um dos meus irmãos e sendo consolada pelo príncipe que agora sorria para mim, preocupado com a expressão em meu rosto.

Retribui a reverência e o sorriso, mas ainda sem coragem de olhá-lo nos olhos. Minha visão periférica captou um movimento na porta do meu quarto e eu olhei para aquela direção instintivamente e me surpreendi levemente. Um dos guardas olhava para Dimitri com uma expressão de raiva e revolta. Eu precisei de alguns segundos para reconhecê-lo, o mesmo tempo que ele levou para notar que eu o via, fazer uma reverência e pedir desculpas silenciosamente. Eu voltei meus olhos para o chão, tentando pensar no que aquilo poderia significar. O guarda se chamava Louis e era um dos amigos de Daniel. Mas por qual motivo ele poderia olhar daquela forma para um dos príncipes da minha seleção? Shay havia me afirmado que dera um jeito de dizer aos guardas do turno passado que eu havia dormido em seu quarto, mas sem mencionar Dimitri de alguma forma. A aparição de seu nome em meus pensamentos me fez voltar a realidade e encarar seu rosto por alguns segundos apenas para desviar o olhar novamente.

–Vossa Alteza se sente bem? –ele esticou a mão para tocar a minha mas a reação instintiva foi dar um passo para trás, fugindo do seu toque. “Não quero que esse tipo de coisa chegue aos ouvidos de Daniel.” Me repreendi pelo pensamento e pela atitude que eu sinceramente não sabia de onde haviam vindo. Eu não ia dar chance a minha mente de pensar mais sobre isso, por isso forcei em meu rosto um sorriso para que Dimitri ignorasse meu gesto grosseiro.

–Sim, me sinto bem. Obrigada pela preocupação.

–Tem certeza princesa? Me perdoe pela intromissão, mas eu realmente me sinto no dever de saber se a senhorita está mesmo bem. Por conta do momento que dividimos onte...

–Shhhh! –eu gesticulei para que ele parasse de falar rapidamente, temerosa que mais alguém pudesse ouvir suas palavras. Minha voz passou a um tom mais baixo, quase um sussurro. –Esse assunto deveria ser dado encerrado por nós dois. Meu irmão fez muito por nós ao fingir que você não esteve lá ontem à noite. Nós dois sabemos que não houve nada, mas se meu pai sonhasse que dormimos no mesmo quarto você estaria em maus lençóis e a imprensa nos dilaceraria.

–Me desculpe. –ele passou a usar o mesmo tom que eu usava, mas parecia apenas um pouco abalado pela dureza de minhas palavras. –Eu realmente estava apenas preocupado.

–Eu sei. –a preocupação dele me tocou e eu passei a encarar o constrangimento da noite anterior pelo ângulo de que ele havia me visto em meu momento mais frágil e mesmo assim ainda estava aqui, apenas preocupado comigo. –Eu que peço desculpas pelo modo como falei. Só não quero que pensem coisas erradas sobre nós.

–A senhorita tem toda razão. Quando pensarem sobre nós quero que tenham absoluta certeza. –Dimitri sorria de maneira séria e seu sotaque carregado dava ainda mais seriedade às suas palavras.

–Concordo totalmente. –eu respondi e sorri, mas sem ter ideia do que mais dizer. Achei que a conversa havia sido encerrada e me preparava para me despedir quando olhei para o garoto e vi sua expressão séria e decidida.

–Saiba que estou de corpo e alma nesta seleção Celeste. –o russo olhava dentro de meus olhos ao pronunciar cada palavra, me causando um arrepio de satisfação. –Em nenhum momento da noite de ontem eu pensei em me aproveitar de sua fragilidade. Eu só queria cuidar de você. Eu vou fazer cada momento seu ao meu lado ser inesquecível.

–Dimitri... –o ímpeto de suas palavras me tirou o ar e meus movimentos também. Enquanto falava ele se aproximou rapidamente de mim e colocou uma das mãos em meu rosto para aproximá-lo do seu. Eu sabia que ele iria me beijar e eu queria isso, mas minha mente ignorou meu desejo e quando dei por mim eu me afastava em direção ao quarto. –Preciso ir para o meu quarto. Nos vemos depois. Boa noite.

Não esperei sua resposta e quase corri em direção à minha porta. Enquanto passava rapidamente por ela pude jurar ver uma ponta de sorriso no rosto de Louis que a mantinha aberta para mim, mas quando olhei novamente ele estava com a expressão séria. Entrei no quarto e a porta se fechou atrás de mim. Corri e me joguei na cama, o rosto afundando nos travesseiros para conter um grito.

–O que houve Celle? –senti as mãos calmas de Amanda em meus ombros e me virei para olha-la.

–Kat...? –perguntei receosa. Apesar das duas serem minhas grandes amigas eu sabia que Kat iria rir de mim naquela situação e isso era a última coisa que eu precisava.

–Teve que resolver alguns assuntos de família, mas nada grave. Ela me perguntou se eu poderia fazer tudo sozinha essa noite e eu disse que sim, afinal você não costuma dar trabalho para se arrumar para o jantar. –gemi de tristeza a menção do jantar e ela riu.

–Não quero descer para o jantar hoje Amanda. Peça por favor para servirem para mim no quarto. Quero afundar nessas cobertas e não submergir nunca mais! –ela riu novamente e eu a encarei séria. –Não tem graça e estou falando muito sério.

–Me conte o que aconteceu Celle. –ela falou o mais calmamente possível e eu respirei fundo antes de começar a falar, feliz por tê-la ali para me escutar.

–Aconteceu que é a segunda vez em menos de 24 horas que eu fujo de um beijo por medo. –ela gargalhou, achando graça do meu desespero. –Isso é sério Amanda! Desse jeito eu nunca vou ser beijada!

–Celeste, se acalme.

–Não consigo me acalmar! Eu sou um desastre! Ao mesmo tempo que quero ser beijada eu morro de medo disso. É por isso que fujo. –afundei o rosto do travesseiro novamente e dei um gritinho histérico. –Quero desaparecer!

–Tudo bem, pare com isso. –Amanda me virou para encará-la. –É completamente normal ter medo de dar seu primeiro beijo Celeste. Eu também morria de medo antes de dar o meu.

–E como foi? –eu havia me recuperado do ataque adolescente e agora estava sentada na cama esperando ansiosa pelas próximas palavras de Amanda.

–Um desastre. –ela riu alto, me fazendo rir também. –E tudo por que eu me apressei e beijei o primeiro garoto que apareceu. Se eu tivesse esperado o momento em que me sentisse confortável teria sido muito melhor. Não é por estar em uma seleção que você precisa necessariamente beijar todos os rapazes ou qualquer um deles. Mas se quiser pode beijar todos também. Você tem que fazer o que te faz bem Celeste.

–Amo você Amanda. –eu a abracei apertado, agradecida pelas suas palavras que haviam reconfortado meu coração e minha mente agitados.

–Também amo você Celle. E fico muito feliz por sermos tão próximas.

Depois disso ela me ajudou a tirar a maquiagem, a roupa e desfazer o penteado elaborado em meu cabelo. Tomei um banho longe e quente, quando sai envolta em meu roupão de seda o jantar já estava em minha mesa e eu o comi rapidamente. Eu não havia percebido até aquele momento o quanto estava cansada e o quanto precisava de uma noite de sono em minha cama. Logo já estava envolta em minhas cobertas e com a cabeça em meus travesseiros macios, pronta para mergulhar na paz revigorante do mundo dos sonhos.

***

–Graças a Deus o café da manhã de hoje foi completamente normal. Eu simplesmente não consegui me acostumar com a culinária da Nova Ásia, me provocou enjoos. –uma das garotas comentou e eu não pude conter um pequeno riso. Eu estava no Salão das Mulheres, aproveitando o resto da manhã que tinha livre para ler um livro que minha mãe havia me dado e que prendia minha atenção totalmente, mas que não podia ter toda a minha atenção devido a todas as coisas que eu tinha para fazer. Eu tentava me concentrar na leitura em meio ao barulho que as selecionadas faziam. Elas estavam dedicadas ao planejamento da festa de aniversário da minha pequena e doce Sara. Infelizmente eu, minha mãe e Silvia não estávamos podendo nos dedicar exclusivamente à festa dado o grande número de outras coisas a se planejar. De qualquer forma era uma ótima forma de treinar aquelas meninas para o que lhes aguardava. A garota me olhou assustada quando ouviu meu riso e começou a se desculpar. –Perdão Vossa Alteza, meu paladar que não deve ser tão refinado.

–Me chame de Celeste, por favor... Solaria certo? –ela assentiu com a cabeça. –E não há motivo para se desculpar, você não tem que gostar de tudo.

–Ainda bem. –ela deu uma pequena gargalhada –Imagina ter que comer todas essas comidas estranhas?!

–Você tem toda razão. –foi a minha vez de gargalhar –Mas infelizmente essa é a vida de uma princesa.

–Falando em vida de princesa a Vossa Alte... Digo, você toca maravilhosamente. E aquela música que você apresentou foi linda. Eu fiquei emocionada de verdade. Quero muito aprender a tocá-la. –Solaria dizia tudo em um tom extremamente empolgado, o que já me fez gostar dela.

–Se você quiser eu posso te passar as cifras. –uma sensação de animação por ter alguém com quem conversar sobre música começou a nascer em mim –Você também toca violoncelo?

–Infelizmente não. Mas é um instrumento que me fascina muito, principalmente depois de vê-la tocar. –nós sorrimos juntas e eu já me preparava para continuar a conversa quando uma criada se aproximou de nós com um bilhete para mim.

Me despedi rapidamente de Solaria assim que vi qual nome estava escrito e sai dali para poder ler o bilhete sem ser observada por todas aquelas pessoas. Meus passos me levaram até um corredor menos movimentado onde me sentei em um sofá de frente para uma janela de onde se podia ver uma parte isolada do jardim. As únicas pessoas naquele lugar eram alguns guardas em seus postos de trabalho, atentos em mim o bastante para que eu não corra nenhum tipo de perigo, mas não o suficiente para invadir meu espaço. Olhei novamente para o contorno elegante das letras gravadas no papel e senti surpresa mais uma vez, como se achasse que o nome fosse mudar se eu olhasse mais atentamente.

Lorenzo Albuquerque realmente havia me enviado um bilhete. O conteúdo deste me era completamente inimaginável, quem sabe um anúncio de desistência. Eu poderia pensar qualquer tipo de loucura vindo daquele príncipe, comicamente não passou pela minha cabeça a loucura exata contida naquele papel.

“Celeste,

Todas as palavras do mundo não seriam suficientes para me desculpar com você sobre os fatos ocorridos, então peço-lhe que os esqueça princesa. Apesar de meu dom inato em lidar com as palavras, gostaria de lhe mostrar que também sei agir devidamente. É por isso que te convido para passar a tarde comigo amanhã em uma atividade que eu mesmo prepararei para nós. Pense calmamente em minha proposta. Acredito que nós dois merecemos uma chance. Esperarei você ás 14:00 horas no jardim leste.

Com carinho,

Lorenzo Albuquerque.”

Uma gargalhada nervosa e surpresa irrompeu dos meus lábios ao final do bilhete. Passei a encarar o jardim vazio, procurando dentro de mim mesma a resposta para o que eu sentia. Finalmente percebi que eu tinha esperança. Obviamente poderia ser só mais uma das minhas ilusões, mas também poderia não ser, as pessoas podem mudar. Dobrei o bilhete, ainda rindo, e o coloquei em um dos bolsos invisíveis que Kat sempre coloca em meus vestidos e que costumam ser muito úteis. Me levantei e voltei pelo mesmo caminho que passei minutos antes, caminhando devagar e pensativa. Quando virei em um dos longos corredores me deparo com cabelos vermelhos vindo na direção oposta a que eu estava, mas àquela distância seria impossível dizer qual dos meus irmãos era.

–Princesa. –o garoto fez uma reverência exagerada e pelo seu tom logo percebi que era Shalon.

–Príncipe. –imitei sua reverência e nós dois rimos. Percebi que não nos falávamos desde a manhã em que acordei em seu quarto e isso me fez corar levemente de vergonha.

–Aposto que você corou por imaginar o que vim falar com você. –ele riu e eu ri junto, menos empolgada do que ele. –Só quero saber se você está bem depois de tudo.

–Obrigada pela preocupação Shay. Sim estou melhor, evitando algumas pessoas, mas mesmo assim melhor. –ele riu com o meu tom. –A propósito, trate suas selecionadas melhor. Posso não me lembrar de algumas coisas da festa, mas me lembro muito bem de ver o senhor tratando mal uma delas.

–Por favor Celeste, não. –seu tom agora era mais amargurado e sério, Shalon não suportava receber ordens.

–Sim! Estou falando como sua irmã que deseja o melhor pra você. –ele desviou o olhar e trincou o maxilar. –Tente tratar as pessoas melhor tudo bem?

–Mudemos de assunto. –ele enlaçou meu braço e se pôs a caminhar comigo. –Está animada para o passeio à praia?

–Passeio? Nós vamos à praia? –vasculhei minha mente em busca do lembrete de algum passeio a praia mas não havia nem uma mísera lembrança desse assunto.

–Vamos ué. Julian me disse que nós vamos na nossa velha casa na praia para acompanhar você em um encontro. –eu o olhei, completamente perdida e encontrei sua expressão confusa.

–Simplesmente não faço ideia do que você está falando Shay. Você deve ter se enganado. Eu não marquei nenhum encontro na praia. –eu dei uma risadinha. –Deve ser algum encontro do Julian.

–Celeste, -ele parou de caminhar e se virou de frente para mim. –está me dizendo que não sabe sobre o seu encontro com Gabriel?

–Eu não tenho um encontro com Gabriel, Shalon. –ele me olhava com uma expressão entre a surpresa e preocupação, o que era extremamente raro quando se tratava dele. –Do que você está falando?

–Suponho então que não saiba que isso foi uma troca. –ele falou em um tom mais baixo, como se ao mesmo tempo quisesse me contar e depois não quisesse mais.

–Troca? –minha voz também saiu mais baixa, temerosa pela resposta.

–Olha Celle, eu realmente não sabia disso. Julian me explicou por alto, mas o tempo todo eu achei que você soubesse. Então não achei estranho, mas devia ter achado...

–Shalon! –eu o interrompi sem mais paciência. –Que troca?

–Aconteceu algum problema com nossa colheita, perdemos grande parte dela. Nosso pai e Julian ficaram muito preocupados e então Gabriel nos forneceu o que precisávamos. –as mãos dele se fecharam em punhos. –Em troca de algumas coisas e de um passeio a praia com você.

Eu apenas encarava meu irmão sem dizer uma palavra. Milhares de coisas passavam rapidamente por minha mente, todas elas dolorosas demais para que eu focasse em qualquer uma. Minhas mãos também se fecharam em punho e eu engoli em seco, procurando minha voz.

–Meu pai sabe disso? –minha voz saiu menos firme do que eu pretendia.

–Acredito que sim Celle. Mas a decisão final não foi dele. –ele não me olhava nos olhos, meu irmão não sabia lidar com sentimentos alheios. Na verdade, nem com os próprios.

–Julian me trocou por um punhado de colheita? –ele apenas palancou a cabeça afirmando em resposta.

–Saiba que eu não vou mais agora que sei que você não sabia. –ele balança a cabeça em uma negação descrente. –Até eu sei que isso é errado. Não entendo como Julian... Celeste!

Virei as costas para ele e comecei a andar pelo corredor e depois a correr, torcendo para que ele não viesse atrás de mim. Se isso acontecesse eu não teria chance de chegar até a sala de trabalho de Julian. Mas ele não veio atrás de mim e eu continuei correndo até me deparar com a bela porta da sala onde Julian e meu pai trabalhavam. Um dos guardas me olhou preocupado pelo meu estado ofegante, mas eu apenas sorri, indicando que estava bem. Porém eu não estava bem. Bati a porta e ouvi alguém gritando de dentro para que eu entrasse. Respirei fundo e girei a maçaneta.

Dentro da sala estava apenas Julian, enfurnado em uma pilha de papéis em sua mesa. Ele levantou os olhos e sorriu quando me reconheceu, mas logo seu sorriso murchou diante da minha expressão severa. Fechei a porta mas permaneci em pé no mesmo lugar, encarando-o. Ele engoliu em seco.

–Não é nada cortês trocar sua irmã com alguém desconhecido e sem o consentimento dela. –ele juntou as sobrancelhas em sinal de dor diante das minhas palavras. –Acredito que Silvia tenha te ensinado isso.

–Não é bem assim. –ele se levantou enquanto falava. –Me deixe te explicar.

–Explicar o que? Não há o que explicar. –minhas palavras pareciam atingi-lo em cheio e parte de mim sentia dor por isso.

–Celle, estávamos numa situação sem saída, que afetaria todas as camadas da população, e este não é o momento para termos mais motivos de rebeldia. Toda vez que eu abro o jornal vejo ataques e protestos pela destruição das castas. –ele se aproximou com a mão estendida para me tocar, mas eu dei um passo para trás e ele abaixou a mão. –Eu também não gostaria de estar na sua situação, mas desde quando nascemos fomos criados para sacrifícios, tudo visando o bem do país. Eu apenas utilizei uma fraqueza do príncipe Gabriel para sustentarmos uma pose de invencibilidade, que está mais difícil de aguentar.

–Não é essa a questão Julian. –travei o maxilar para que as lágrimas não irrompessem.

–Celeste, por favor. Nós precisamos muito dessa safra. Não desmarque o encontro.

–A questão não é essa. –eu engoli em seco e consegui dizer entredentes mesmo com a dor de ver que ele não parecia se importar com o que eu sentia. –Passou pela sua mente por um só segundo me pedir antes? Eu sei a maneira como nós fomos criados. Apesar de eu ser uma garota fui criada da mesma maneira que você. E nenhum dos nossos pais ou ninguém nos ensinou o tipo de coisa que você está fazendo. Eu tenho sentimentos Julian, e você deveria coloca-los na frente dessas coisas de governo. Não é a primeira vez que você age como se tivesse poder sobre as minhas escolhas e isso machuca muito. Eu nunca teria negado se você tivesse me pedido.

–Celeste... –ele tentou me impedir, mas eu já havia aberto a porta, pronta para sair.

–Não se preocupe, pois eu vou no encontro. Volte ao trabalho.

***

Passei as mãos pelo tecido macio enquanto caminhava pelo jardim, num gesto bobo para desamassar o que não estava amassado. Na verdade eu só queria o toque do tecido macio e verde água para me acalmar. Eu havia passado a manhã toda pensando em simplesmente não ir, preocupada demais com a conversa com Julian no dia anterior. Mas, contra as minhas expectativas, cá estava eu caminhando à passos lentos para o jardim leste, sem saber exatamente o que iria encontrar. Eu estava cerca de vinte minutos atrasada exatamente para ver se Lorenzo saberia esperar por mim. E ele soube. Assim que entrei no jardim leste pude avistar uma pequena tenda sob a qual havia uma mesa e duas cadeiras, uma delas ocupada pelo príncipe que se levantou e abriu seu típico sorriso galante quando me viu. Sorri em resposta.

–Por alguns minutos cheguei a pensar que a senhorita recusaria meu convite. –o tom dele ainda me assustava um pouco, mas bem menos do que na primeira vez que o vi.

–Eu também pensei isso. Mas aqui estou. –ele puxou minha mão e a beijou demoradamente para depois puxar a cadeira para que eu me sentasse, muito mais cavalheiro do que eu me recordava.

–Preparei este piquenique com muito cuidado para nós dois. –provavelmente ele não viu o meu olhar de descrença diante das suas palavras, por isso continuou. –Eu não ia trazer nada do meu país, tinha a intenção de guardar a surpresa para o dia que será dedicado a ele. Infelizmente eu não resisti em lhe trazer uma espécie de doce que nós temos. Principalmente depois de ouvir sobre como a senhorita aprecia doces diferentes.

–Você está completamente certo. –aquela não era uma informação de conhecimento geral e fiquei admirada por ele ter se dado ao trabalho de descobrir.

–Espero que goste. –ele se levantou e colocou na minha frente uma pequena bandeja de prata, dentro dela havia uma espécie de prato de louça com divisórias. Uma delas estava cheia de pequenos bastões, provavelmente feitos de alguma massa, fritos e cobertos de açúcar e canela. A outra divisória estava vazia e logo Lorenzo despejou nela o conteúdo de um bule que estava em um pequeno fogareiro no canto da mesa. O cheiro do chocolate tomou o ar enquanto o príncipe despejava o doce quente, viscoso e marrom escuro até o topo. –Existem vários nomes para este doce, mas o mais popular é churros.

Enquanto ele se servia eu rapidamente peguei um dos churros, mergulhei a ponta no chocolate e levei a minha boca. A mistura incrível de texturas e sabores me deixou extática e tudo que eu pensava era que eu queria mais. O chocolate estava na temperatura e textura ideais, do mesmo modo que a textura crocante da massa. Lorenzo sorria ao me observar comer e eu acabei sorrindo também.

–Fico muito contente que tenha vindo. –ele havia se sentado na outra cadeira e a colocado bem perto da minha. –Há muito tempo tenho esperado por essa oportunidade de estar quase a sós com a senhorita.

Olhei por instinto para os guardas ao nosso redor, mas sem olhar diretamente para o rosto de nenhum deles. A ideia de que Daniel fosse designado para algum dos meus encontros me assustava tanto quanto os próprios encontros.

–Para...? –ele deu uma pequena gargalhada diante do meu tom.

–Para me desculpar e lhe mostrar que não sou apenas aquilo que viu.

–Não há nada te impedindo. Pode começar. –outra gargalhada, o que acabou me fazendo rir um pouco junto com ele. Mordi mais um pedaço da iguaria maravilhosa que ele havia trazido.

–Eu não devia ter tido aquele tipo de intimidade com aquela selecionada. Foi um grande erro e fico grato que a senhorita tenha me alertado. Mas eu espero que a senhorita me entenda, eu nunca tive que dividir atenção de ninguém, sou filho único e dividir ou esperar não fazem parte do meu vocabulário. Então quando cheguei aqui e percebi que não teria a senhorita completamente para mim fiquei muito irritado. –ele falou sem perder seu tom de voz pretencioso mas ainda assim parecia sincero naquilo que me dizia.

–Você vai precisar aprender a compartilhar e aguardar a sua vez Lorenzo. –eu falei calmamente e logo em seguida mergulhei outro churros no chocolate, completamente viciada. Mas dessa vez acabei o deixando tempo de mais dentro do doce e só fui perceber o excesso quando lambuzei meus lábios com ele. Dei uma pequena risada de constrangimento e rapidamente os limpei com a língua e depois com o guardanapo. Quando levantei meus olhos encontrei os do garoto grudados nos meus lábios de uma maneira bastante obcecada.

–Por que você faz isso comigo? –ele me virou na cadeira de frente para ele e pegou meu rosto em suas mãos, seu tom de voz provocava um arrepio luxuriante pelo meu corpo. –Ceda aos nossos instintos. Você sabe que não precisa de nenhum desses príncipes tolos. Olhe para mim, você me deseja. E eu desejo você. Vamos acabar com isso de uma vez.

–Não Lorenzo, assim não. –encontrei minha voz em meio ao tumulto de sensações em meu corpo. Mas quando disse isso ele não me soltou como aconteceu com todos os outros príncipes quando eu os recusei. Lorenzo continuou segurando meu rosto entre suas mãos, sua cabeça cada vez mais perto da minha.

–Pare com esse jogo. Experimente. Eu sei que você vai gostar. Todas gostam. –o tom dele parecia tentar me convencer e eu quase cedi até que meu cérebro processou sua última frase. “Todas gostam”. Eu não era especial para ele, era só mais uma. Tentei me desvencilhar de novo de suas mãos, mas ele continuou me mantendo onde eu estava.

–Me solte! –ele riu diante da minha ordem e aquilo me apavorou ainda mais.

–Você vai provar. E vai ver o quanto está sendo idiota por não ter aceito antes. –ele começou a aproximar o rosto do meu para me beijar e a única coisa que eu conseguia sentir era medo enquanto batia meus braços nele e tentava me livrar do seu toque. Mas antes que seus lábios pudessem chegar até os meus, mãos mais fortes que as dele me arrancaram de Lorenzo.

Senti o perfume familiar enquanto Daniel, com os braços envolta na minha cintura e o peito quente contra as minhas costas, me tirava de perto de Lorenzo. Mais dois guardas seguravam o príncipe que agora se debatia e gritava ameaças.

–Me soltem agora! Eu sou o príncipe da Espanha! Eu valho mais do que todos vocês juntos seus inúteis! Eu faço tudo que eu quiser! –me virei para abraçar Daniel e apoiei meu rosto em seu ombro para chorar, sem querer mais ouvir os gritos de Lorenzo.

–Você não vai encostar em mais nenhum fio de cabelo da princesa Celeste! Este não é o seu país! –a voz de Daniel ribombou mais alta que a dele e ele se calou. –Soltem-no. Saia daqui.

Me virei para olhar para Lorenzo, agora totalmente descomposto e alterado. Os guardas o soltaram e ele saiu andando com passos duros, parou a nossa frente e fuzilou a todos nós com o olhar, principalmente a mim e Daniel que continuava me abraçando de lado.

–Vocês todos são escória diante de mim. Eu tenho um poder que vocês jamais vão conhecer! –ele gritou e depois apontou para mim. –Para seu infortúnio o mundo não gira ao seu redor princesinha. Absolutamente ninguém se importa de verdade com o que você pensa, ao contrário de um Albuquerque. Eu sou o futuro rei da Espanha e vocês não são nada!

Finalmente ele se virou e foi embora. As lágrimas voltaram aos meus olhos e eu novamente enterrei o rosto no ombro de Daniel que acariciava meu cabelo com delicadeza.

–Não precisa chorar. Está tudo bem. –ele sussurrava em um tom calmo.

Apesar de eu querer acreditar em suas palavras algo me dizia que tudo não ia ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Entaaao espero que tenha gostado. Me contem isso nos comentários.. kkk Obrigada por lerem nossa fanfic, vcs nos deixam muito felizes..
Beijos e até o próximo capítulo.. *-*
Tatá..



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