Uma semana depois.

— Haruhi, a Alexia disse que nesse fim de semana vai acontecer alguma coisa lá no Hanamura, ela te contou o que é? Essa boboca não está respondendo minhas mensagens.

Kirara reclamou bufando ao abrir novamente a tela e ver que sua mensagem não havia sido nem mesmo visualizada. A mais alta apenas assentiu calmamente, deixando o refrigerante em cima da mesa.

— Ela está fazendo uma prova. — a Yoshida explicou o porquê da ausência da italiana. — Mas sim, eu sei o que é. Parece que um modelo famoso está fazendo trabalhos sociais em um asilo por cidade e o Hanamura foi o escolhido para esse domingo. — a acastanhada explicou enquanto a amiga já revirava os olhos, indignada.

— Mas que lugarzinho mais movimentado a gente foi arrumar, hein? Espero que ele não atrapalhe as filmagens. — murmurou entre dentes, arrancando uma risada de Haruhi que balançou os ombros indiferente, mas se divertindo com a revolta da amiga. Olhava o cronograma do T.C.C. e sentia uma ansiedade enorme ao ver que só faltavam quatro meses para a entrega. Não podiam atrasar em nada!

— E a Hailey, onde está? — Haruhi perguntou. Geralmente a ruiva as encontrava na cantina no horário de intervalo, mas dessa vez ela sumira.

— Puxou Yuuki e foi dar uma volta. — a jornalista falou isso num tom extremamente sarcástico, fazendo a Yoshida soltar uma gargalhada.

— Ainda atrás do médico? — a acastanhada perguntou o óbvio, fazendo Kirara erguer uma das sobrancelhas como se questionasse "o que é que você acha?".

— Me parece que ela não vai desistir tão cedo. — uma terceira voz surgiu, dessa vez mais baixa e doce, chamando a atenção das duas jornalistas. A menina de longos cabelos acastanhados tomou um dos assentos vazios da mesa.

— Meus pêsames pelo passeio, Yuuki.— Haruhi deu um tapinha camarada no ombro da menor sentada ao seu lado que riu e balançou os ombros como se não houvesse problema.

— Isso, me amem mais, eu gosto. — Hailey respondeu sarcástica, revirando os olhos e sentando enquanto a Akahana riu e Kirara lhe mandou um beijo no ar.

— Então Yuuki, como estávamos conversando antes dessa louca ai aparecer — a Imayoshi apontou para Hailey que lhe deu o dedo do meio — Se você quiser ir lá no asilo domingo, nós costumamos chegar às nove. — retomou o assunto que tiveram que interromper quando a francesa saiu puxando a garota.

— Esse domingo eu estou livre! Vou ver se consigo aparecer lá!

~x~

— Bom dia! — Amai desejou com um largo sorriso para a garota que estava acabando de chegar.

A movimentação tanto na porta do local quanto lá dentro era fora do comum, algo nítido pelo mar de fãs que tivera de atravessar para chegar no estacionamento do asilo, motivo de seu mal humor, junto com os gritos histéricos que conseguia ouvir mesmo com um quarteirão de distância. Olhou para a Shirubako um tanto contrariada, mas respondeu bom dia com toda a educação que tinha.

— Isso aqui tá um inferno! — Kirara falou ajeitando os óculos escuros no rosto e torcendo os lábios em sinal de irritação. Aproveitou também para desamassar levemente a blusa de seda azul enquanto revirava os olhos.

— Desculpe, nós não imaginávamos que as fãs descobririam a localização dele tão fácil... — Amai murmurou suspirando frustrada e apontando para trás onde o motivo de todo o rebuliço estava.

O modelo Kise Ryouta desfilava entre os velhinhos com presentes, sorrisos e claro, muitas fotos. Kirara o observou de longe, mas não deu muita atenção. Aquele marketing conhecia muito bem.

— Haruhi está com Yuuki e Milenny no quarto da senhora Akemi. Hailey no consultório com Midorima e Alexia está atrasada, como sempre.

Ao falar isso pode ouvir Daisuke gritando com a própria Zenari no telefone. Numa situação normal riria, mas desde a festa ela e o Sora não estavam nas melhores, então apenas virou a cara e fez um bico. Kirara estranhou aquilo, mas deu de ombros.

— Valeu Amai, vou me encontrar com as meninas.

No quarto, Haruhi estava enlouquecendo. Todos aqueles gritos somados ao estresse do projeto irritavam a Yoshida. Milenny e Yuuki tentavam acalmá-la, mas isso só ocorreu quando Kirara atravessou a porta.

— Finalmente! — Milenny falou com um riso doce, olhando a baixinha enquanto essa cumprimentava a todos com aceno de cabeça. — A Haru está tendo um surto, não sabemos mais o que fazer. — a francesa falou colocando uma das mãos na nuca e a apertando levemente.

A Imayoshi suspirou, tirando os óculos escuros e o colocando em cima de uma penteadeira, mas logo um sorriso curto e malicioso tomou as feições delicadas.

— Haruhi, por que você não vai comprar uns doces pra se acalmar? —

Kirara perguntou num tom inocente. A Yoshida respirou fundo algumas vezes, mas acabou ajeitando o cabelo e levantando do sofá onde estava.

— Eu já volto. — murmurou, passando pela porta e arrancando uma risada de Kirara que sabia que ela voltaria de bom humor.

— Eu vou dar uma volta também, meninas. — quem se pronunciou foi Yuuki, não entendia muito de jornalismo e não queria atrapalhar a concentração das meninas, então decidiu que ia passear pelos jardins e aproveitar o clima cálido do local.

Kirara e Milenny concordaram, e voltaram a se concentrar no planejamento do que deveriam fazer no trabalho.

~x~

Haruhi estava nitidamente inconformada. Por que justo aquele bendito asilo havia sido escolhido por aquele modelo?! Não conseguiriam gravar nada naquele dia, os gritos das fãs estavam como som de fundo e com certeza seus professores não gostariam disso nas filmagens.

Respirou fundo, virando no caminho de pedras que levava pelos jardins dos chalés até os prédios de administração e por fim, a saída. Porém não conseguiu percorrer todo esse trajeto, ao passar pelo prédio de recepção, alguém falou seu nome e lhe fez parar para ter certeza que estavam a chamando.

— Haruhi! — o rapaz falou com a expressão tranquila de sempre, segurando um belo bolo decorado com chantilly e morango. A Yoshida abriu um sorriso discreto pela coincidência de vê-lo ali.

— Atsushi! Não esperava te ver aqui, na verdade eu estava indo lá agora pra comprar alguns doces. — A acastanhada ajeitou levemente os cabelos para cima do ombro. O vento gelado soprou levemente e ela havia deixado o casaco no quarto.

— Entra. — o arroxeado falou ao perceber o frio da menor, liberando a entrada para ela. — Eu só vim trazer uns doces e depois vou voltar para lá. Você pode ir comigo. — falou com um sorriso de canto. — Fiz algumas coisas novas, preciso de alguém para testar e ver se está bom.

— Eu com certeza aceito ser a cobaia! — Haruhi sorriu e entrou no prédio vendo uma mesa com ao menos cinco bolos e algumas formas com diversos cupcakes. Daisuke a velava com um sorriso de canto inocente enquanto Murasakibara colocava o último bolo ali. Haruhi riu baixo, levando um dos dedos até abaixo do próprio lábio para sinalizar ao Sora seu lábio sujo de creme.

— Os velhinhos, Daisuke. Lembre dos velhinhos.

— Claro que sim! — o rapaz de cabelos pretos bateu uma continência sarcástica em direção ao casal que já saía. Erguia a mão para roubar outro doce, mas outra silhueta apareceu na porta.

Daisuke mordeu o lábio inferior. Sabia que a azulada estava brava e sentia que a culpa era sua, mas ao mesmo tempo não conseguia saber o que diabos havia feito para a baixinha estar revoltada daquela forma. Pensou até mesmo em perguntar, mas já havia o feito antes e sabia que ia ganhar apenas uma cara de desprezo e um nada.

Foi por isso que o rapaz respirou fundo e resolveu ir para sua sala e voltar ao trabalho.Mas não antes de roubar outro cupcake.

~x~

Mesmo sendo um ambiente um pouco depreciativo, o clima de ameno e agradável no jardim dos fundos quase não se ouvia gritos histéricos e as folhas que restavam nas árvores se desprendiam com o vento, flutuando até o chão. Yuuki sorriu com a cena, admirando a natureza quando viu um senhor sentado em frente a um tabuleiro de shogi, embaixo de uma Sakura sem flores.

O senhor de cabelos platinados parecia "jogar" sozinho, pois pegava as peças e as escondia no banco vazio ao seu lado para simular sua Vitória, enquanto sorria maldoso.

Yuuki sorriu de canto pensando se havia algum problema em se aproximar dele, mas crente que não, o fez, sentando-se ao lado do senhor que a olhou com uma das sobrancelhas grossas arqueadas.

— Já sentou né. — ele falou emburrado, mas logo levou uma das mãos até a boca para para abafar as tosses que subiram por sua garganta. A moça estava pronta para ignorar o comentário mal educado quando uma terceira figura apareceu.

— Vô... O senhor bagunçou de novo as peças?

— E não é assim que joga?

— Desculpe, eu não sabia que ele estava acompanhado. — Yuuki falou entre o assunto dos dois homens, já se levantando para sair.

Mas antes que saísse um ser espevitado e loiro surgiu ao seu lado, com um largo sorriso divertido e para quem conhece bem, levemente malicioso.

— Bom diia, Akashis e Akahana! — brincou, lançando um olhar cúmplice para Yuuki e pegou o senhor pelo braço, o fazendo levantar.

— Bom dia, senhorita Zenari. — Seijuuro cumprimentou educadamente, mesmo que suas palavras houvessem sido abafadas pelos xingamentos de seu avô em direção direção loira. Alexia tampou a boca do velho "discretamente".

— Yuuki Akahana e Seijuuro Akashi.

— a loira apresentou com um sorriso de canto. — Creio que ela pode te fazer companhia enquanto levo seu avô pro exame! Até mais.

Saiu antes de qualquer protesto ou concordância, arrastando o homem e deixando os dois sozinhos. Yuuki riu do jeito da italiana, mas suas bochechas arderam levemente ao perceber que no fim, havia ficado sozinha com o rapaz que lhe olhava de forma intimidadora, o que fazia certos arrepios subirem por si espinha.

— Então, Yuuki... O que faz por aqui?

~x~

A loira soltou um longo suspiro de alívio ao finalmente deixar o homem no consultório e se livrar do resto de muitos xingamentos que ele proferia. Se havia uma coisa que ele não havia se esquecido era de palavrões!

Olhou o relógio em seu pulso, marcando apenas onze e quarenta da manhã. E já estava com uma dor de cabeça horrenda por conta daqueles malditos berros! Pousou uma das mãos sobre a tempôra, a massageando levemente.

— Lexy! — o rapaz e cabelos loiros a chamou com um largo sorriso, cutucando a cintura da moça que soltou um grito pela sensibilidade naquela região.

— Ki-Kise! — bronqueou com um bico amuado, colocando uma das mãos no local. O rapaz soltou uma risadinha que a fez revirar os olhos verdes por baixo dos óculos vermelhos. — Algum problema? — Alexia perguntou arqueando uma das sobrancelhas. Se ele havia a procurado, provavelmente tinha algum problema.

— Sim! Muito grave! — a expressão do Ryouta se contorceu, assustando a psiquiatra que arregalou os olhos e gesticulou para que ele continuasse. — Eu não quero almoçar sozinho e estou procurando alguém que possa me fazer companhia. De preferência uma moça de cabelos loiros, olhos verdes e jaleco... — sorriu para a garota que o olhou revoltada. Por um momento achara que era algo sério!

— Você precisa de um psiquiatra. — Alexia soltou em tom repreensivo, mas Kise voltou a abrir um largo sorriso entendendo a frase totalmente errado e tomando como um sim.

~x~

Hailey simplesmente não lembrava do que ocorrera há uma semana atrás. Na verdade, lembrava vagamente da presença de Midorima, memória reforçada pelas fotos que Alexia, Kirara e Milenny resolveram tirar quando acidentalmente caiu no sono no ombro dele depois das três da manhã. Também tinha um vídeo do esverdeado lhe carregando até a cama, mas a La Freour preferia fingir que não havia visto nada e que não sabia de nadinha do que acontecera depois de seu pt.

Por sorte Shintarou parecia pensar igual e apesar do olhar constrangido dele na hora que chegara, agora o clima no consultório onde os dois estavam era ameno e calmo. O local com iluminação forte pelas lâmpadas e as grandes janelas de vidro cobertas com cortinas brancas, tinha paredes também brancas e era espaçoso o suficiente para conter uma mesa média de madeira marrom, uma poltrona confortável e vermelha atrás dessa e mais duas iguais à frente.

Num dos lados havia duas cadeiras adaptadas para que os pacientes se sentassem, junto com um grande armário e os instrumentos necessários para exames básicos como pressão arterial, glicose, batimentos cardíacos e etc. E no outro lado haviam algumas cadeiras de espera próximas ao divã que Hailey roubara do consultório de Alexia, e onde a ruiva se encontrava agora.

Com as pernas confortavelmente - e folgadamente, claro - jogadas em cima do divã vermelho, a mulher olhava algumas mensagens no celular enquanto esperava a psiquiatra trazer os pacientes. Estava também de frente para Midorima que estudava na mesa, com os olhos focados nas folhas ajuntadas em sua frente.

A ruiva mantinha um certo esforço para não encará-lo fixamente, mas não resistiu em subir os olhos do celular quando ouviu um suspiro irritado do rapaz, que ajeitava a armação quadrada dos óculos negros. Shintarou acabou subindo os olhos também e ao perceber que havia chamado a atenção dela, voltou imediatamente a encarar as folhas, arrancando um sorriso de canto de Hailey.

— Está tudo bem aí? — a mulher perguntou com uma das sobrancelhas arqueadas, guardando o celular no bolso e olhando o mais novo.

— Sim. — ele respondeu na mesma hora tentando parecer confiante e fã o sorriso da ruiva se alargar e ela continuar o encarando, questionando sua certeza. Ele torceu o nariz, orgulhoso, e voltou a olhar os kanjis na folha e aqueles que havia marcado, o que lhe fez reconsiderar. — É a terceira resposta que a alternativa é B. Tem algo errado.

Midorima murmurou entredentes, arrancando uma risada de Hailey que se levantou e foi até a mesa, se inclinando para ler e ajudá-lo. Shintarou ficou um pouco emburrado com isso, não havia pedido ajuda... Mas não teve muito para reclamar já que ouviu o barulho de salto alto contra o chão e Alexia abriu a porta do consultório num estrondo, o invadindo com Yoshio Akashi.

O senhor finalmente parou de resmungar ao ver Hailey ali e ficou a encarando como se ela fosse alguém muito conhecida. A ruiva esboçou um leve sorriso para a loira que e baixinho e maliciosa.

— Cheguei, meus bombons! — Alexia anunciou com um largo sorriso, empurrando o senhor a sua frente até a cadeira para faze-lo se sentar. Vendo Midorima e Hailey um ao lado do outro. — Foi mal atrapalhar vocês, mas responsabilidades primeiro! — saiu quase correndo, fechando a porta e deixando entalado na garganta do esverdeado que não tinha nada para atrapalhar.

Hailey se preparava para atender Yoshio, mas ele fez uma pergunta que realmente não ouvir e lhe fez engolir em seco. Olhou para ele um pouco assustada, mas então abaixou o olhar e encarou o chão perfeitamente limpo.

— Quem é você, garota? Eu... Acho que tenho que te agradecer por alguma coisa.