If I Die Young escrita por Vittoria Brasil


Capítulo 2
Ink me in the river at dawn


Notas iniciais do capítulo

Obrigada mesmo a quem comentou XD
Já, já eu respondo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/535178/chapter/2

Por que o Otou-san é sempre assim? Eu sei que ele não consegue superar a perda da Okaa-san, mas eu também a perdi caramba! Por que eu tenho que viver por nós dois enquanto ele fica definhando naquela poltrona com sua garrafa de cachaça e usando o dinheiro que nós não temos em suas malditas apostas?

Eu só... Não consigo odiá-lo. Desde que a Okaa-san morreu, eu tenho sonhado todos os dias que as coisas melhorem, mas eu já sonho a dez anos. Será que não está na hora de parar? Quantos hematomas eu vou ter que sofrer para eu ter certeza disso?

Estou tão cansada...

– Sakura para onde você vai garota? Onde está o dinheiro? Hoje é dia do seu pagamento, não é? – ele falou autoritário e eu apenas suspirei e entreguei o pacote laranja em suas mãos enrugadas – É bom que você não tenha ficado com nenhum centavo!

Só se que quisesse morrer! O único dinheiro que eu tinha comigo era para a nossa comida. Eu também vou ficar uma semana sem jantar para poder pagar aquela conta de luz... A vida é tão difícil...

– Está tudo aí, pode contar. Vou só dar uma volta.

Ele ignorou minha última frase, estava ocupado demais contando o dinheiro. Eu apenas aproveitei sua distração e saí pela porta da casa, não esquecendo meu casaco surrado.

Mais uma vez me encontrei naquela situação natural em que eu andava pelas ruas sem qualquer rumo no meio da noite. Eu sabia que aquele bairro era um lugar perigoso, mas quem ligava? Eu já estava cansada mesmo...

Se a minha melhor amiga, Yamanaka Ino, ouvisse eu dizendo isso, ela diria: “Qual é Sakura! Você tem que parar com essas suas ideia suicidas sabia? Devia ir atrás de algo divertido para fazer como namorar”.

Sorri ao lembrar daquela loira louca. Já faziam três anos que não nos víamos, desde a época em que eu e meu Otou-san nos mudamos para essa cidade e esse bairro perigoso, desde que o Otou-san perdeu seu emprego e as surras ficaram muito piores, as bebedeiras, as brigas...

Eu gostaria de falar com ela de novo, mas o que eu diria? Ela era uma garota animada que tinha tudo na vida. Pais gentis, uma casa bonita, popularidade, amigos... Quando eu fui embora da minha modesta e bem arrumada casa em Konoha para uma casinha extremamente pequena na periferia de Tóquio era como se nós duas já não fôssemos do mesmo mundo.

Ino estava distante. Muito distante.

Quase tropecei quando notei aonde meu subconsciente havia me levado dessa vez. O parque em que conheci o Naruto, o garoto que quase cometeu a maior burrada da sua vida quando pensou em se envolver com drogas. Que idiota, ainda bem que eu estava lá para pará-lo.

Pensei por um momento em dar meia volta.

E se outros drogados (esses de verdade) estivessem fazendo aquele lugar de ponto para se encontrarem? O que eles fariam com uma garota como eu?

“Vai lá garota! Você não queria a chance de morrer? Não estava tendo aquelas suas ideias suicidas idiotas? Então? Essa é sua chance, talvez eles até sejam gentis com você já que é bonita” – Droga de voz interior da Ino! Eu não tinha me livrado de você a três anos atrás? O que você está fazendo na minha cabeça sua idiota?!

Ok, era coisa da minha cabeça. Imaginar uma situação e pensar o que a Ino diria. Era um jeito que eu tinha encontrado de suprir a falta dela nesses três anos. Deixava-me calma e diminuía essa saudade chata.

Apenas fui me dirigindo para o parque e me preparando para ser atacada, mas não foi isso que aconteceu.

Sentado no balanço e fitando o céu pensativo estava, dessa vez sem sinal de isqueiro ou cigarro, Naruto. De onde eu estava parecia uma visão bonita, ele parecia estar imerso em pensamentos intensos enquanto fitava as poucas estrelas que podiam ser vistas no céu de Tóquio.

Parecia quase um pecado distraí-lo. Era uma cena intensa afinal, senti os pelos do meu braço e pescoço se arrepiarem.

Estranho.

– Sakura...-chan? – eu ouvi sua voz pronunciar meu nome. Na verdade quem estava imerso em pensamentos agora era eu.

– S-sim?

Foi engraçada o quanto duvidosa minha voz soou. Nós dois rimos rapidamente da situação.

– Acabamos nos encontrando de novo, não é? – ele disse divertido.

– Parece que sim. Dessa vez pelo menos você não está com nenhum cigarro ou isqueiro.

Ele me mostrou uma expressão alegre e divertida dizendo:

– Não sou o tipo de cara que comete o mesmo erro duas vezes. Nunca mais trisco naquele troço, você tem razão, era uma ideia idiota...

– Que ótimo! Agora não preciso me preocupar... – ok, acho que falei essa frase sem pensar.

– Você estava se preocupando... comigo? – ele apontou para se mesmo meio desacreditado. Na verdade Naruto parecia o tipo de gente que sempre sonhou com a possibilidade de ser querido pelas pessoas, e isso explicava porque seus olhos azuis brilhavam tão intensamente agora.

– Bom... Talvez um pouco... – eu admiti meio contra vontade.

Naruto abriu um enorme sorriso com seus dentes brancos.

– V-vamos mudar de assunto... – eu disse sentindo minhas bochechas ficarem quentes – Por que você está aqui hoje?

– Pelo mesmo motivo de ontem e você?

– Idem. Nossa vida é uma droga...

– Parece que sim. – Naruto sorriu depois que falou, fiquei meio sem entender – Sakura-chan tenho uma ideia para melhorar nosso astral.

– Hum?! Se for algo como encher a cara eu estou fora, não tenho grana nem estômago para isso. – só de pensar no meu Otou-san a bebida me dá dor de estômago.

Ele fez uma expressão divertida, como se achasse graça das minhas suposições que, parando para pensar, são bem idiotas. Corei.

– Eu estava pensando em picharmos um muro ou algo assim...

– Pichação? – era uma ideia... atraente. Sempre pensei que fazer algo assim pelo menos uma vez seria divertido – E onde arranjaríamos as tintas?

– Eu vi algumas em um comércio perto daqui, do outro lado da esquina. Pensei que seria legal fazer algo assim pelo menos uma vez na vida...

Naruto estava lendo meus pensamentos ou o que? Que coisa mais louca...

– Não tenho dinheiro para comprar isso, desculpe. – admiti meio sem graça. Naruto apenas me direcionou uma expressão divertida.

– Deveríamos roubar então? – ele falou segurando o riso, eu o repreendi com uma expressão séria – Estou só brincando... Na verdade eu tenho dinheiro para comprar algumas tintas...

– Não me sinto confortável com você gastando dinheiro comigo...

– Por que está se preocupando? Se não quiser as tintas vou gastar meu dinheiro inteiro e te comprar algumas flores... E aí qual prefere?

Esse maldito estava realmente se divertindo com minha expressão totalmente corada, já estava ficando com raiva! Por isso eu apenas segui sem dizer nada... Em direção ao comércio do final da rua.

Foi rápido e fácil chegar até lá. Eu e Naruto entramos e a atendente, que estava bastante concentrada em uma revista de moda, nem ligou para a nossa presença. Se fôssemos mesmo roubar as tintas seria algo muito fácil de se fazer.

Naruto apenas pegou duas tintas spray, uma branca e uma preta, e nos dirigimos ao caixa. Tivemos que esperar alguns segundos para que a mulher notasse que queríamos comprar algo. Ela empacotou os produtos e Naruto lhe deu o dinheiro.

– Foi fácil, pensei que iam nos julgar por comprar tintas que nós com certeza usaremos para pichar algum muro. – eu disse enquanto pegava um dos sprays da sacola.

– Acho que ela já deve estar acostumada com esse tipo de cliente, já é um diferencial que se encontre ainda alguns jovens que paguem. A maioria vai lá e pega.

Continuamos andando e, conforme seguíamos as ruas mal cuidadas do lugar, encontrávamos vários mendigos dormindo, os pobres homens pareciam doentes e com frio. Eu mesma doaria aquele casaco velho que eu usava... se ele não fosse o meu único casaco.

Caminhamos mais até que nos deparamos com um muro com poucas pichações, o que era bastante raro levando em conta o bairro em que estávamos.

– E o que deveríamos pichar? – perguntei para o loiro que apenas esboçou um sorriso para mim e começou a fitar o grande muro.

– Sabe Sakura-chan... Ficamos nos preocupando com nossos problemas familiares, mas aqueles caras... Eles sim tem do que reclamar. Nós temos um teto e família, temos comida na mesa todos os dias, um casaco quente para nos manter aquecidos no inverno e alguém para se preocupar se algo nos acontecer. – comecei a fitá-lo seriamente. O vento frio do inverno me causava uma série intensa de arrepios frenéticos, não demorei muito para ignorá-los e realmente prestar atenção na expressão do seu rosto, tão serena quanto as que minha mãe fazia quando me dava um presente de Natal, tão intensa quanto o de um ativista tentando empurrar seus ideais para alguém.

E naquele momento, pela primeira vez, eu pensei que Naruto seria um bom adulto, que ele seria capaz de fazer terem orgulho dele como eu estava tendo agora, que ele era alguém em quem se podia depositar confiança e que ele era... muito bonito, tão bonito quanto o verão.

Ele era o único que conseguia me fazer sentir quente naquele temeroso inverno. Uma pequena luz na minha escuridão insistente, meu pequeno ponto de luz.

– Mas aqueles mendigos... – ele continuou, provavelmente sem fazer a menor ideia do que eu pensava dele até agora – Só tem eles mesmos, se o inverno ficar muito forte eles não tem a quem recorrer, eles vão apenas congelar e morrer. Quando isso acontecer ninguém vai vir busca-los ou velá-los, vai ser como se eles não tivessem existido. Você não acha que isso seja algo realmente triste?

– Sim... – foi o que consegui dizer com aquela sensação na minha garganta, ela era intensa. Era a primeira vez que eu sentia algo assim, a primeira vez que eu via tanta beleza em algumas palavras, mesmo que sejam apenas um sonho distante que eu não conseguiria alcançar com minha miserabilidade.

– Então eu acho que devemos pichar algo assim. Um pequeno protesto que apenas nós dois iremos entender, o que acha?

Sorri. Dessa vez verdadeiramente, como eu não sorria a muito tempo. A expressão de Naruto mudou como se estivesse deslumbrada com o meu ato, vi suas bochechas corarem e ele tentar esconder o rosto colocando o gorro do casaco.

– Vamos nessa então!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Críticas? Sugestões?