Hate that i love you escrita por Thay Oliveira


Capítulo 13
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Não me matem! Sorry! Vou sair de fininho aqui..
Boa leitura!



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O vento gélido entrou em contato com a pele morena, fazendo Rachel aquecer o local. Londres parecia a mesma de uma década atrás; Os mesmos ônibus, os guardas mal encarados, a pontualidade regrada, tudo muito conservador.

Seus pais iriam lançar a nova coleção da marca Berry na cidade londrina. Eles não falavam em outra coisa e isso já estava saturando Rachel. Não estava tendo os melhores dias, nos últimos três havia faltado a faculdade. Passava a maior parte do tempo dormindo e escutando música no último volume. Não estava com cabeça para aquela balela de direito que não suportava. Mesmo se fosse, não estaria presente. Foi aí que viu, naquele lançamento de coleção, sua fuga. Claro, Leroy sabia que a filha queria escapar da rotina de estudante e ensaiou uma negativa, porém Rachel nasceu para driblar os pais. Quando viram, Rachel tinha as malas prontas e o passaporte em mãos.

E ali estava ela. Não sabia o que esperava com essa viagem de última hora, talvez o ar londrino lhe trouxesse a amnésia que tanto sonhava.

A primeira semana em Londres passou voando. Os eventos da marca Berry tomavam o tempo da família e Rachel apreciava isso. Se estivesse ocupada, não teria tempo para pensar e muito menos sentir.

Havia conversado bastante com seu pai Hiram. Desde que Rachel se abriu com o pai, as coisas entre eles estavam mais leves e sadias. Conseguiam conversar sem barreiras e julgamentos; finalmente estavam tendo uma relação como pai e filha. Com Leroy, era o oposto. O homem achava que sua filha não tinha limites - Mesmo notando que Rachel estava se mantendo na "linha", mostrava sua decepção estampada no rosto. - , já tinha discernimento suficiente para fazer as coisas certas.

_ Pai, não podemos ficar aqui assistindo filme? Já fomos há tantos eventos que aposto que nem vão notar nossa ausência.

_ Eu queri..

_ É claro que vão notar, estão lá por nossa causa! _ Leroy interrompeu a resposta do marido, entrando na sala do quarto em que estavam hospedados. _ Quando se é responsável, você tem que cumprir com suas palavras e seus deveres..

Rachel revirou os olhos, bloqueando o sermão que seu pai apenas começara. Estava cada vez mais difícil ficar no mesmo ambiente que seu pai. Há tempos a relação dos dois não era de pai e filha. A rotina misturada com o estresse, denunciava que uma bomba estaria prestes a explodir. Embora Já não suportassem as atitudes um do outro, tentavam manter o respeito. O que não era nada fácil.

Rachel tinhas algumas cartas na manga para evitar toda cobrança de seu pai: Ela fingia estar ouvindo e prestando atenção em tudo que o homem dizia. Caso não funcionasse, ignorava. E se isso também não fosse o suficiente, apelava para os seus dons dramáticos e improvisava alguma coisa que a tirasse de cena. Literalmente.

E, naquele momento, ela improvisava.

_ Esse evento é tão importante quanto os demais, não só por ser o maior que vamos fazer na Europa, mas porque será televisionado. O mundo estará assistindo.

_ Um pouco pretencioso da sua parte achar que o mundo assistirá esse desfile. Eu, por exemplo, preferia assistir o novo filme da Angelina Jolie.

_ Rachel! _ Hiram chamou a atenção da filha.

_ Vocês me ensinaram a ser sincera, aceitem as consequências. _ Rachel disse, desviando sua atenção para a TV.

_ Isso não é sinceridade, é falta de educação! _ Corrigiu, Leroy.

_ Talvez se você tivesse dado a mim um pouco dela, ela não estaria faltando nesse momento. _ Rachel, retrucou.

_ Já chega. _ Hiram, interveio. _ Rachel, vai para o seu quarto, por favor.

A morena não pensou duas vezes e saiu em disparada para o quarto.

_ Às vezes eu me pergunto por que ela me odeia tanto? _ Leroy questionou mais a si mesmo do que o marido.

_ Ela não te odeia, meu amor. _ Hiram puxou o marido para o seu colo. _ Pelo contrário, ela te ama muito!

_ Que belo jeito de demonstrar. _ Tirou os óculos e soltou o ar.

_ Ela só quer que você dê mais atenção a ela. Eu conversei com ela mês passado e ficou claro que ela sente a nossa falta, principalmente a sua. Quando ela agir de uma forma hostil, não revide. Apenas a deixe dizer o que ela quiser dizer. Toda essa hostilidade é uma barreira que ela construiu para esconder a carência que ela sente da gente. E nos últimos tempos não podemos negar que estivemos ausente.

_ Quer que eu concorde com a falta de disciplina dela?

_ É claro que não. Apenas contorne a situação de uma forma inteligente. Se ela faz isso porque não estamos presentes, que comecemos a estar.

_ Não pense que eu não quero passar mais tempo com ela, eu sempre vou querer. Mas toda vez que tento, ela vem com sete pedras na mão e fica difícil tentar uma aproximação.

_ Eu sei, meu amor, é a barreira que eu te falei. Sabe, outro dia fui até o quarto dela e ela não estava só..

_ Não me diga que ela estava com um garoto! _ Leroy exclamou, arregalando os olhos.

_ Não era um garoto _ Viu o marido respirar aliviado. _ , era uma garota.

Hiram tentou não rir da cara surpresa que Leroy fizera, mas não conseguiu.

_ Uma garota? _ Leroy sussurrou, em forma de pergunta.

_ Sim, uma garota. _ Enfatizou, para que o marido compreendesse. _ E linda por sinal! Mas o que eu ia dizer é que eu reparei o jeito que nossa filha olhava para essa menina, é o mesmo jeito que eu olhava para você.

Leroy levantou e colocou os óculos. Ele começou a andar sem uma direção específica, aparentava um semblante de confusão, estagnou na frente do marido e perguntou.

_ Uma garota?

Hiram sorriu com a surpresa do marido e o puxou para o seu colo mais uma vez.

_ Uma garota linda por quem Rachel está apaixonada. Mas aconteceu alguma coisa entre elas, Rachel não viajaria conosco se não tivesse acontecido alguma coisa. Mais cedo perguntei como ia essa garota e ela desconversou com um semblante triste.

_ Muita informação, querido. _ Leroy falou, abraçando o marido.

_ Eu sei.. _ Beijou o topo da cabeça de Leroy. _ Mas pense no que eu te disse. Rachel precisa de atenção nesse momento, precisa da gente.

[...]

Quinn deslizava seu dedo indicador sobre os conhecidos títulos dos livros de direito da biblioteca de Columbia que nem percebeu Kurt se aproximar.

_ Cinderela. _ O garoto chamou sua atenção.

Quando escutou a voz de Kurt, o costumeiro frio na barriga se apossou de seu corpo. Sempre que pensava em Rachel, ele entrava em ação. _ Não que Quinn estivesse pensando muito em Rachel, na verdade ela fez esse ato se tornar uma coisa proibida. Porém, mesmo com o decreto que sua consciência estabeleceu, sua mente estava ficando muito boa em quebrar regras. _ Kurt fazia ela lembrar de Rachel, que fazia seu interior se manifestar, coisa que ela tentava evitar ao máximo.

_ Oi, Kurt. _ Cumprimentou o garoto, tentando equilibrar a pilha de livros que carregava.

_ Deixa eu te ajudar. _ Disse, pegando os livros que Quinn segurava.

_ Obrigada.

_ Eu vim buscar um livro e vi uma loira entretida com alguns livros. Aí eu pensei: Minha cinderela! _ Brincou, arrancando um sorriso tímido da loira. _ Como você está?

_ Eu estou bem. As provas ainda não começaram, então eu vou estar bem até lá.

_ Até parece, Quinn, Rachel dizia que suas notas eram as mais altas do seu curso!

Ouvir o nome de Rachel a fez lembrar como era antes de tomar a decisão de se afastar. Lembrou que Rachel sempre guardava um lugar no canto da sala, porque a morena sabia que Quinn se sentia incomodada com as luzes centrais. Lembrou do jeito bem humorado que era típico da morena. Lembrou das caras e bocas que Rachel fazia quando comia algo preparado por ela. Lembrou da implicância que uma tinha com a outra. Lembrou do sorriso que a cativava. Lembrou dos olhos apaixonantes. Lembrou..

E essa nostalgia mexeu com ela.

Kurt percebeu que a garota se incomodou com o fato dele ter citado Rachel e tratou de reverter a situação.

_ Mas é por isso que eu estou aqui numa sexta feira, não quero chorar lágrimas de sangue quando receber as minhas notas.

Quinn concordou mexendo a cabeça, mas não tinha escutado nenhuma palavra vinda de Kurt. Seus pensamentos estavam em Rachel.

Um silêncio desconfortável se instalou e Kurt não sabia o que falar para quebrá-lo. Ele apontou para atrás de Quinn e disse:

_ Acho que os livros que eu procuro estão para aquele lado.

_ Claro. _ Deu passagem para que o garoto prosseguisse.

Kurt piscou para ela e seguiu o corredor que Quinn estava anteriormente. Entretanto, quando já havia andado alguns metros, sentiu uma mão coloca-se sobre seu ombro o parando. Ele virou e viu uma Quinn com a respiração instável.

_ Eu queria saber..

Quinn fez uma pausa, ponderando se devia perguntar ou não.

_ Saber.. _ Kurt, incentivou.

_ A Rachel não tem vindo.. _ Começou, olhando para a gravata borboleta do garoto. _ Ela está bem? Quero dizer, aconteceu alguma coisa para ela não vir? Se aconteceu, o que foi?

Quinn estava tão curiosa que as perguntas saíram da sua boca sem filtro. Se culpava por não conseguir seguir o seu caminho e deixar Rachel seguir o dela. Porém, a vontade de saber o que tinha acontecido para Rachel se ausentar por duas semanas estava tirando seu foco em tudo.

Kurt se assustou um pouco com a velocidade que Quinn fez tantas perguntas. Ele sorriu de leve, achando meigo Quinn estar preocupada ao ponto de perguntar.


Todo mundo é parecido quando se está apaixonado.

Kurt pensou, mas não deu voz ao seus pensamentos. Em vez disso, falou:

_ Rachel está em Londres. _ Viu Quinn fazer uma expressão surpresa e continuou. _ Os pais dela foram lançar a nova coleção da marca Berry e ela foi junto.

Quinn ficou surpresa e aliviada. Havia imaginado vários motivos para Rachel se ausentar. Um deles era que Rachel não quisesse mais vê-la. o que seria normal na sua concepção. Mas logo anulou essa hipótese, pois achava que Rachel não mudaria sua rotina só para isso não acontecer.

Sabia que havia magoado Rachel, teve certeza disso quando sentiu os lábios da morena pela última vez. Sabia também que sua escolha estava magoando-a mais que o esperado. Achou que as coisas iam ficar mais fáceis de se levar, mas agora sabia que não.

_ Nossa, Londres! _ Quinn, disse por fim.

_ É.. Queria ter ido, mas sou um mero mortal e tenho que estudar.

Ele observou como Quinn ficou pensante e, mesmo sabendo que Rachel o mataria se descobrisse, falou.

_ Posso te falar uma coisa? _ Kurt perguntou, tirando Quinn de seus devaneios.

Quinn fez que sim com a cabeça, dando aval para o garoto.

_ Rachel fica do mesmo jeito que você está agora, quando o assunto é você. Fica com o olhar perdido e tenta disfarçar. Igualzinha a você! _ Enfatizou. _ Não sei quais foram os motivos para vocês não estarem mais se vendo, mas se isso está te afetando, com está afetando a Rachel, deveriam pensar em outro modo de continuar.

Ela ficou meio surpresa com as palavras de Kurt. Depois de escutá-las, tentou negar para si mesma que estava sentido-se assim. Desistiu. Fingir nunca combinou com ela. Sinceridade era uma de suas características.

Saber que Rachel sentia-se da mesma forma, a surpreendeu. Não sabia se achava àquilo bom ou ruim, apenas estava surpresa com a notícia.

_ Kurt, é mais complicado do que você pode imaginar...

_ Você não tem que me explicar nada, Quinn. Eu só disse o que qualquer um diria se visse seu semblante agora.

Ele viu Quinn abaixar a cabeça e foi até ela.

_ Você se esconde demais para uma menina tão bonita. _ Com o dedo indicador, levantou o rosto dela. _ Não se cobre muito, aproveite o seu momento. E se permita a não dar a mínima para o que as pessoas vão pensar!

O garoto lhe deu uma piscadela e saiu, deixando uma Quinn pensante.

[...]

_ Eu não acredito que você ía cortar o cabelo sem me avisar!

Leroy finalmente se manifestou, olhando para o perfil de Rachel. Estavam no carro a caminho do cabelereiro.

_ É só um cabelo..

Rachel não estava em seu melhor humor, Leroy tinha descoberto que Rachel estava preste a fazer um corte inglês moderno e isso só piorava a situação.

_ Está se escutando? Ser que habita esse corpo pequeno, devolva-me minha filha!

Leroy não estava brincando - Na verdade, estava falando muito sério. - , mas Rachel não conseguiu não rir do tom dramático do pai.

_ Ok, não é só um cabelo. _ Leroy juntou as mãos e agradeceu aos céus. _ Eu só queria mudar um pouco.

_ E te apóio, mas não em um salão de esquina.

_ Drama..

_ Não é drama, Rachel.

_ Drama. _ Disse, dessa vez, cantando.

Rachel fitava seu reflexo no espelho do salão. Seu pai, assim que soube o que Rachel estava prestes a fazer, ligou para o melhor cabeleireiro de Londres, que no caso era seu amigo de longa data.

_ Vê se pode, George! Ela queria raspar a lateral da cabeça!

George arregalou os olhos e Leroy se jogou na poltrona sem muita cerimônia.

_ Eu não ia raspar a lateral da cabeça, eu só estava brincando. _ Rachel confessou, revirando os olhos.

_ Brincando? Não brinque assim, já não tenho mais meus trinta anos para suportar esse tipo de brincadeira.

_ Foi só um mal entendido. _ George, apaziguou a situação. _ Agora, o que tem em mente, Rachel?

Enquanto George via o comprimento e a espessura, Rachel lembrou que na sua última passagem pela capital londrina também esteve no salão de George. Na ocasião, era Leroy quem cortara o cabelo e Rachel brincava com uma outra criança de pique e pega.

_ Eu não queria que mexesse muito no comprimento, talvez um corte lateral, um franja..

_ Você usava franja há dez anos atrás e tinha a mania de implicar com o meu cabelo.

Todos viraram ao som da voz feminina. Uma ruiva, de porte médio e com um par expressivo de olhos verdes, entrou na sala e fitou Rachel como se a morena a devesse algo.

_ Oi, pai! _ Foi até o homem e o abraçou. _ Senhor Berry. _ Estendeu a mão para o estilista que aceitou.

_ Não me diga que essa mulher a minha frente é a pequena Vivian? _ Leroy perguntou, olhando a mulher por completo.

_ A mesma garota. _ Vivian abriu um grande sorriso.

_ Garota? Uma linda mulher, é mais qualificado de se dizer. _ Leroy a elogiou e Rachel revirou os olhos mais uma vez.

Rachel franziu a testa, lembrando exatamente quem era. Vivian era a garotinha com quem ela brincava toda vez que ía a Londres. Se davam bem na maior parte do tempo. Ou quase isso..

_ Eu já vou indo..

_ Mas já? Querida, fique mais um pouco. _ Leroy, pediu.

_ Acho que alguns minutinhos não vão ser um problema. _ Disse, sentando-se na poltrona ao lado da de Leroy.

_ Rachel, lembra da Vivian? _ Leroy, entusiasmado, perguntou.

Lembro que ela me chamava de nariguda e costumava me empurrar, dizendo que o meu nariz ía amortecer a queda. Ah, como eu lembro dessa vadia!

_ Eu lembro. _ Disse, fingindo um sorriso.

_ Eu lembro que a gente se divertia bastante. _ Vivian disse, devolvendo o mesmo sorriso fingido.

_ George, o que você acha? _ Rachel pediu a opinião do cabelereiro, rompendo o contato visual com Vivian.

_ Eu gosto da ideia da franja. Seu rosto é simétrico e o corte irá combinar com você. _ George disse, mexendo no cabelo de Rachel.

_ Pode cortar! _ Rachel disse, decidida.

_ Então, Vivian, me conte o que anda fazendo da vida.

A mulher que mantinha o olhar em Rachel, se aprumou e respondeu a Leroy:

_ Além de ser uma boa admiradora de chá ? _ Sorriu. _ Estou no terceiro período em Medicina e faço trabalho voluntário no hospital do câncer aqui de Londres. Acho que é isso que eu ando fazendo da vida.

E pela terceira vez Rachel revirou os olhos. Lembrava que quando criança, Vivian, nada tinha de humanitária. Era uma criança implicante e metida. E se Rachel brincava com ela, era porque não queria que seus pais ficassem desgostosos com sua opinião sobre a menina.

_ Nossa, medicina! É de se admirar, Vivian. _ Leroy, comentou.

_ Não é para tanto, senhor Berry. _ Sorriu, encabulada. _ Eu sempre quis ser médica, brincava disso quando mais nova, então foi uma questão de seguir meu coração.

Claro que brincava.. Me fazia de cobaia! "seguir meu coração" sério, pai! Não acredite nesse projeto de Juliane Moore!

_ Ah, admirável, Vivian! Admirável.. Minha Rachel está cursando direito em Columbia! Foi emocionante quando ela nos deu a notícia e esqueceu aquela história de cantar.

Rachel respirou fundo, evitando o comentário de seu pai. Não tinha desistido de cantar. Havia escolhido cursar direito para que seus pais não pegassem mais no seu pé. Entretanto, desistir ou esquecer era algo impossível; já que cantar era parte de quem ela era.

_ Eu lembro que Rachel cantava muito bem, parecia até profissional..

Os olhares de Vivian e Rachel se cruzaram e, pela primeira vez, não havia desafio neles.

_ Mas direito é um ótimo curso e Rachel vai se sair bem.

Quando os olhares se encontraram novamente, Rachel não desviou. Os olhos verdes de Vivian lembravam os de Quinn e isso a paralisou por um instante. Era como se Rachel estivesse vendo Quinn na sua frente. _ Eram diferentes fisicamente, porém Rachel desejava, mesmo que inconscientemente, tanto ver Quinn novamente que deixou sua imaginação fluir. _ Mesmo que o contato se estabelecesse pelo espelho, não tirava a intensidade da ação.

Com muito esforço, ela desviou o olhar para George.

Leroy percebeu o clima atípico e falou:

_ Claro, claro..

Rachel não olhou mais para Vivian, enquanto George cortava seu cabelo. Ela apenas fazia meneios quando era mencionada e isso ocorreu bastante pela parte de Leroy. Vivian e ele pareciam velhos amigos e os assuntos surgiam naturalmente. Vivian era carismática e Rachel não podia negar que ela sabia envolver quem é que fosse com seu jeito.

Quando George finalizou o corte, Rachel levantou-se e avaliou o trabalho do cabelereiro. Ela gostou. Gostou do comprimento dois dedos mais curto, da leveza e de como a franja adornou seu rosto.

_ Ficou linda, Rachel! _ Leroy, elogiou.

_ Ficou mesmo.

Rachel ouviu o comentário de Vivian e a olhou por um instante. O sorriso provocador de Vivian a fez estreitar os olhos. A morena não fazia a mínima ideia do que Vivian pretendia, mas sentia que a qualquer momento algo poderia surpreende -la.

_ Bom, o papo estava muito bom, mas agora tenho um desfile para fazer! Vamos, Rachel. _ Leroy disse, levantando.

_ Eu não posso ficar no hotel? Acho que bati minha cota de desfile em uma semana e eu nem vi a cidade ainda.

_ Já conversamos sobre isso, Rachel. Não vou deixar você sozinha e colocar Londres de cabeça para baixo!

_ Menos pai, Eu só iria andar um pouco.

_ Ande no evento.

_ Claro, com centenas de pessoas ao meu redor.

Os olhares de George e Vivian iam de Rachel a Leroy toda vez que um retrucava o outro.

_ Rachel não há a mínima chance de você ficar sozinha por aí e..

_ Senhor Berry, se me permite, eu posso sair com a Rachel e garantir que ela não vá incendiar minha cidade.

Rachel não estava acreditando no que Vivian havia acabado de propor. A morena, no primeiro minuto, não gostou nada da ideia, muito menos do comentário. Sabia que Vivian tinha algo arquitetado debaixo dos cabelos ruivos. Entretanto, era sair com Vivian ou ir a mais um desfile da marca Berry . E a primeira opção, por mais arriscada que fosse, era mais agradável.

_ Então, está tudo certo, eu saio com a Vivian e você vai ao desfile! _ Rachel falou, pegando na mão de Vivian e a puxando para saída, sem dar chance para seu pai dizer não. _ Tchau, pai! E muito obrigada George!

Ela só parou de andar, quando o salão estava bem longe. Vivian estava ofegante e olhou para as mãos ainda unidas, sorrindo de lado. Rachel também reparou que ainda mantinha contato e o rompeu.

_ Você já pode ir agora. _ Rachel falou, deixando Vivian para trás.

_ Espera! _ Vivian segurou o braço de Rachel. _ Eu sou sua baba, esqueceu?

_ Ha, ha, muito engraçada. Agora, tire sua mão do meu braço!

_ Ou o que?

_ Ou você vai se arrepender!

_ Nossa, sua pretensão não mudou nem um pouco, nariguda.

Vivian soltou o braço de Rachel e apertou o nariz da morena.

_ Sua filha da pu..

_ Olha a boca, mocinha! _ Vivian fingiu repreender Rachel, quando uma senhora passou por elas. _ Ela não bate bem. _ Justificou para senhora.

_ Eu sabia que aquilo tudo lá no salão era fingimento.. Trabalho voluntário, sério?

_ Vem! _ Vivian disse, puxando Rachel para o outro lado da rua.

_ Me solta, sua louca!

_ Antes louca do que nariguda!

Rachel bufou e se arrependeu de não ter ido com seu pai assistir mais um desfile. Ela presenciou Vivian tirar uma chave do bolso e destravar uma Mercedes prata que estava estacionada em frente a um pub típico de Londres. A ruiva ainda segurava o braço de Rachel como se ela fosse uma criança mal criada preste a fugir. Ela abriu a porta e fez um meneio de cabeça, indicando para Rachel entrar.

_ Eu não vou entrar!

Vivian deixou uma risada sem graça escapar e falou:

_ Você não é mais criança para ficar fazendo pirraça, pequena Rachel. _ Sorriu com a coincidência. _ E eu não sou seu pai. O que significa que você não terá moleza.

_ Não é pirraça, água de salsicha! _ Rachel disparou a ofensa, porém Vivian não deu a mínima. _ Eu não vou entrar no carro da garota que infernizava minha infância e que aparenta ter piorado nesse sentido!

_ Somos adultas, Rachel! Pelo menos, eu me considero. Não está nos meus planos te infernizar. _ Vivian disse olhando nos olhos chocolates e Rachel enxergou uma centelha de sinceridade ali. _ Entre, por favor.

A morena respirou fundo, ponderando se entrava ou não no carro. Por fim, com uma cara indiferente, entrou. Vivian deu a volta no carro e abriu a porta do motorista, assumindo o lugar. Rachel viu ela colocar o cinto e fez o mesmo. - Não confiava nem um pouco em Vivian, achava melhor se precaver. - Vivian ligou o carro e logo o mesmo foi ganhando velocidade.

O silêncio predominou por alguns minutos, o único som perceptível era o do rádio do carro. Rachel até estava gostando da programação da radio londrina, mas quando escutou a voz do Paul McCartney soar no ambiente, deu fim rapidamente a ela. Vivian achou estranho a atitude da morena, porém preferiu não comentar.

_ Respondendo a sua pergunta, é sério. _ Vivian disse, quebrando o silêncio.

Rachel que tinha o olhar fixo na rua, virou dando atenção a Vivian.

_ Eu curso medicina e faço trabalho voluntário.

_ Como isso é possível? Você não tinha nada de humanitária e agora faz trabalho voluntário. Não consigo acreditar.

Vivian tirou os olhos da pista por um instante e respondeu:

_ Pois acredite! Eu era implicante, Rachel, isso não quer dizer que eu não era humanitária. E implicar com você era engraçado.

_ Claro, me empurrar, apertar o meu nariz de cinco em cinco minutos era bastante engraçado.

_ Não era engraçado fazer essas coisas, era engraçado ver sua reação. Eu lembro que sua cara de brava me fazia rir até a barriga doer.

Rachel revirou os olhos para o sorriso sacana que Vivian possuía.

_ Você não presta! _ Rachel declarou, cruzando os braços sobre o peito.

_ Não presto mesmo. _ Sorriu amplamente. _ Mas você gosta. Admita! _ Vivian provocou, parando o carro em frente a um grande casa típica de Londres.

_ Depois eu sou a pretenciosa.. _ Rachel falou, soltando o cinto.

A ruiva fez o mesmo e destravou o carro para que as duas saíssem. Ela observou Rachel ajeitar sua blusa e caminhou até ela. Chegou bem perto e sussurrou:

_ E não é?

Rachel estava tão distraída com sua blusa que não sentiu Vivian se aproximar. O que ela sentiu, na verdade, foi seu corpo se esquentar e seus pêlos eriçarem, revelando a sensação.

O rosto de Vivian estava bem próximo ao de Rachel e a morena não desviou o olhar dos olhos esverdeados. Agora, olhando de perto, pareciam mais ainda com os de Quinn. Não tinham a ingenuidade que era presente nos olhos da loira, porém o tom mais escuro lembrava quando Quinn estava sob ela em sua cama.

E essa lembrança a fez deturpar a realidade.

Ela fechou os olhos e quando os abriu novamente, não via mais Vivian ali; O rosto com que tanto vinha sonhando estava há centímetros de distância. Seus olhos brilhavam. A sensação que tomava seu corpo era de desejo, saudade. O seu polegar deslizou pelo lábio inferior da garota a sua frente e não demorou muito para que sua boca preenchesse o local.

Ela tinha plena consciência que não era Quinn quem estava beijando. Sabia e resolveu ignorar o fato de que seu desejo interior estava criando alucinações ao ponto de faze-la agir de forma não premeditada. Ignorou, por hora, a confusão que daria depois que seus lábios deixassem os de Vivian. Queria Quinn, por mais que tentasse negar, queria.

Mesmo que fosse apenas em sua cabeça.

Vivian aceitava de bom grado todos os beijos deixados por Rachel. Ela queria também. Queria muito! Desde do primeiro olhar no salão, se sentiu atraída por Rachel. - Talvez, essa atração viesse de tempos. Quando era pequena, adorava implicar com Rachel por tudo. Fazia isso para não deixar a mostra seus sentimentos pela morena. - E agora desfrutava da situação.

As mãos de Rachel deslizavam, sem pudor, pelo corpo esguio a sua frente. Deixou que seu instinto mais carnal viesse a tona. A cada beijo, a cada roçar de língua, a cada encostar de pele, parecia inebriar seus sentidos. Ela não lembrava como chegaram à cama, ela só sentia a vontade imensurável de sentir Quinn novamente.

Ela suspendeu o corpo e tirou a blusa a jogando para qualquer lugar. Seu peito subia e descia vagarosamente. Seu olhar fitou os olhos verdes, por segundos intermináveis, esperando que o aval viesse. E ele veio.

_ Não me torture, tire minha roupa!

Rachel não hesitou. Mesmo sabendo que tal frase não sairia da boca da loira, seus dedos desabotoavam os botões com habilidade invejável. Sentiu o corpo sob o seu pedir por mais contato e procurou pelos olhos esverdeados mais uma vez. Ela via uma Quinn diferente da qual estava acostumada. O rosto de luxuria incomum lhe aumentava o desejo que tinha de ter Quinn por completo. Ela interrompeu o beijo e esperou que a garota olhasse para ela. Então, com toda a certeza que tinha, disse:

_ Eu te amo, Quinn!

Quando deixou as palavras escaparem, despertou de seu sonho vívido. Não via mais a ilusão de Quinn a sua frente; tudo o que via era o semblante confuso de Vivian.

Ela fechou os olhos e saiu de cima de Vivian. Sussurrando um tímido " me desculpe" , começou a procurar por suas roupas. Uma sensação estranha a invadiu. O vazio ía tomando seu interior mais e mais, até que ela sentou no pé da cama e libertou as lágrimas que tanto prendeu na última semana. Ela nunca se sentira tão confusa.

Vivian, no primeiro instante, não sabia o que fazer. Observou por um tempo Rachel se tornar vulnerável e isso a intrigou. Não entendia a mudança brusca de comportamento, muito menos o porquê da morena chorar sem parar. Entretanto, o que mais a intrigava era saber quem era Quinn.

Vivian vestiu sua blusa e se postou atrás de Rachel.

_ Eu fiz algo de errado? _ Insegura, perguntou.

Rachel não respondeu verbalmente, apenas balançou a cabeça negativamente. Ela continuou a chorar e pouco se importou com os comentários que Vivian pudesse vir a fazer. Sempre fora indisciplinada e quando algo surgia como prova de fogo, usava da indisciplina. Mais do que confusa, sentia - se fraca por não ter conseguido controlar seus desejos carnais.

" Eu não posso confiar em você.. Você é imatura em aspectos que me machucariam"

Lembrar das palavras que Quinn dissera a fez se encolher e chorar mais ainda. Agora entendia o motivo de Quinn ter se afastado. Nem mesmo Rachel confiava em si mesma.

Vivian a envolveu nos braços, mesmo contra a vontade de rachel, esperando que a presença dela pudesse ajudar em alguma coisa. Elas ficaram naquela posição por bons minutos até que Rachel conseguisse se acalmar. Ela se acalmou, todavia, passada a constatação do que tinha feito, veio a culpa.

Rachel tentou se desvencilhar dos braços de Vivian, mas a garota a manteve no lugar.

_ Me desculpe, por ter te beijado.. Por te dito aquilo e..

Rachel tentava iniciar uma desculpa, porém sua voz falhava.

_ Não quero suas desculpas. _ Moveu Rachel para que pudesse olhar para ela. _ Eu devolvi o beijo, não era como se eu não o quisesse.

Rachel soltou o ar, fazendo um meneio positivo com sua cabeça.

_ Me desculpe, mas isso não era para ter acontecido. Não tem a ver com você..

_ Tem a ver com a Quinn?

Escutar o nome de Quinn a fez se sentir mais culpada. Ela fez que sim com a cabeça e evitou olhar para Vivian.

_ Sabe, eu nunca disse um eu te amo antes, eu invejo quem tem esse sentimento tão forte a ponto de se declarar. E é evidente que você ama essa Quinn. A Questão é: Ela sabe?

_ Da última vez que a vi, eu disse que gostava muito dela e ela disse que não podia confiar em mim. _ Fechou os olhos. _ Ela estava certa, não é mesmo.

_ Então vocês não estavam juntas? Digo, namorando?

_ Não estávamos. Eu queria, mas ela sabia que eu era imatura demais para se envolver e..

_ Espera, do jeito que você está falando parece que você a traiu.

_ Pior! Eu agi como ela disse que eu ia agir.

_ Não sei se entendo o seu ponto, Rachel. Se você a ama, como está parecendo, por que me beijou?

_ Seus olhos se parecem com os dela.. Não o formato, o tom. Eu deixei minha imaginação agir e o resto você sabe.

Vivian semicerrou os olhos, pensativa. Estava tentando entender toda a situação que se metera. Quando viu Rachel no salão, sentiu novamente a atração que não entendia quando tinha dez anos. Provocou e conseguiu o que queria. Contudo, a que custo? Pelo que entendera, Rachel a beijou com Quinn em seu pensamento.

_ Acho que entendi o que você quis dizer. _ Levantou-se. _ Não que isso seja algo legal de se ouvir, mas estou tentando ver pelo lado positivo. Os olhos delas lembram os meus, então ela deve ser gata. E gostosa! Para você está com essa cara de apaixonada.

Rachel deixou um sorriso escapar. Vivian era legal e mais madura do que ela poderia imaginar.

_ Você nem faz ideia! _ Suspirou.

_ Está esperando o que para dizer o que sente? _ Indagou.

_ Você não ouviu, ela não quer nada comigo!

_ Nunca vai saber se não tentar!

Rachel ficou olhando para uma Vivian sugestiva e uma fagulha de esperança acendeu-se nela. Ela tinha dito a Quinn que gostava dela, tinha se aberto para a loira, mas a negativa a frustrou. Ela sabia que Quinn gostava dela, porém achava que não era da mesma forma que a sua. E agora estava preste a levantar da cama e tentar mais uma vez.

_ Vamos, Rachel, a Quinn não vai te esperar para sempre!

Rachel levantou e vestiu suas roupas. Ela parou na frente de Vivian e falou:

_ Você é foda! Muito, muito, foda! _ A abraçou.

_ Me conte algo que não saiba, nariguda!

Vivian se afastou e beijou Rachel com determinação. Foi um beijo e tanto! Rachel teve que se esforçar para voltar a realidade.

_ A gente já tinha se beijado mesmo. _ Deu de ombros, sorrindo.

Rachel devolveu o sorriso. Vivian era uma grande mulher. Se ela não estivesse apaixonada por Quinn, com certeza ela tentaria algo com Vivian.

Talvez ela precisasse que Quinn rompesse o relacionamento delas para enxergar com mais clareza o que sentia. Ela a amava e disso não tinha mais dúvidas. E isso era uma fato que Quinn precisava saber..


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Notas finais do capítulo

Muita coisa, né? Me deixem saber se gostaram.
Juro, o próximo não vai demorar!
Um bom fim de semana para vocês:)



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