O amor que superou o ódio do Holocausto escrita por Sadah


Capítulo 1
Amor além do ódio do Holocausto


Notas iniciais do capítulo

Esta estoria contem alguns fatos que realmente ocorreram na historia do Holocausto.



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A Alemanha foi um país terrivelmente humilhado após a Primeira Guerra Mundial, alguns alemães saíram da Alemanha temendo que suas famílias fossem à falência e partiram em direção aos países vizinhos. Para alguns, conseguiram salvar suas riquezas em outros lugares e no caso de Aldo King fora o começo de uma realização de um sonho, constituir uma família dura e forte que resistiria muitos anos com muitas gerações de Kings; Aldo teve seu primeiro filho e depois de um ano teve a sua filha preferida Ataíde. Para a grande preocupação de Aldo, Ataíde teve seu primeiro ataque de asma que quase a matou enquanto eles estavam na casa de campo da família em frente à um lago.

Ataíde cresceu enfrentando sua asma que a castigava, o pai gastava demais com a saúde de Ataíde e com a educação dela e de seus outros irmãos e irmãs. O pior ataque de asma que ela teve foi apenas na primeira vez quando ela tinha dois anos, mas o mesmo ataque mortífero da asma voltou aos seus oito anos.

Neste dia, Ataíde tinha conhecido umas crianças na vila onde eles moravam e nisso ela conheceu uma pessoa que ficaria para sempre entrelaçada ao seu destino, a jovem Esther. No início elas não se davam bem, porque Esther trapaceou no pique esconde dedurando a localização de Ataíde, tornando as duas inimigas declaradas. No entanto, na tarde daquele mesmo dia, Ataíde voltava caminhando em cima do degrau que separava a rua da ladeira que descia em direção ao lago, ela se equilibrava bem naquele degrau de cimento de uns dez centímetros, mas o forte ataque de asma atacou, ela parou onde estava e tentou forçar a respiração. Ela sacou seu inalador do bolço, mas uma tosse forte a fez largar a bombinha. Ela tombou e saiu rolando ladeira a baixo, caindo no lago. Por alguns minutos Ataíde pensou que morreria naquele lago, mas sua vida fora salva por mãozinhas ásperas de uma criança, ao subir para a superfície ainda lutando para sobreviver, só sentiu alguém colocando o inalador na sua boca; ignorando a pessoa ela apenas agarrou o inalador e forçou a respiração. O ataque foi amenizando enquanto ela sentava e forçava a respiração com o inalador, quando ela olhou para o lado para ver quem era, era a Esther dando uns tapinhas em suas costas para ajudar na sua respiração.

- Não se preocupe, sei o que estou fazendo, eu tenho um priminho asmático – disse Esther.

- Muito obrigada... – disse Ataíde.

A partir deste dia em diante, as duas viraram amigas inseparáveis, pois os ataques de asma que Ataíde tinha estavam apenas piorando com o tempo, isso fez com que a maior parte do dia ela tivesse que brincar com Esther e com as outras crianças de uma forma menos agitada. As duas frequentavam a mesma escola no campo, eram da mesma sala e compartilharam das mesmas ideias revolucionarias do avanço comunista na Polônia. Iam para movimentos estudantis, mas nunca contavam com lutas entre policiais por sempre esconder suas razões aos seus pais conservadores.

Do ódio infantil veio a amizade na adolescência, da amizade surgiu o amor entre as duas que passaram a se amar. As duas eram um casal de estudantes aos dezoito anos e foi na tarde de um dia ensolarado e embaixo de uma árvore que um beijo de amor verdadeiro foi dado entre as duas. Mas para um amor que seria declaro aos vinte e cinco anos aos pais, um mundo hostil surgiu aos vinte anos das duas e por um grande período de tempo o ódio parecia dominar o amor entre as duas. Hitler e o nazismo declarara Guerra ao Mundo invadindo a Polônia.

Ataíde vivia na capital polonesa com a tia para poder completar seus estudos em Arquitetura, ela via muito pouco a Esther devido aos estudos e Esther sempre que possível ia visita-la. Mas na manhã do bombardeio nazista sobre a capital, Ataíde saiu correndo de sua casa para ir ao local onde Esther trabalhava, Esther trabalhava como musica em uma gravadora polonesa, mas enquanto gravava uma canção no estúdio só teve tempo de se jogar ao chão e ter um ferimento na testa por um pedaço de madeira. Ataíde chegou nas portas da gravadora e teve quer dentro do estúdio para resgatar Esther e teve de leva-la para sua casa onde receberia os cuidados do vizinho dela que era médico.

Os dias que se sucederam foram de muito ódio e de preconceito. Esther não podia mais entrar restaurantes chiques por ser judia, mas Ataíde podia por ter sangue ariano e ser loira de olhos azuis. Esther era tratada como uma prostituta suja quando andava pelas ruas polonesas a procura de trabalho utilizando suas roupas mais chiques e bonitas, ela não podia sentar em bancos de praça púbica, tinha que andar em uma parte apertada de um ônibus reservada aos judeus e aos cães e ainda teve que costurar uma estrela em seu casaco. As duas se viam muitas vezes agora que tinham que estar mais juntas do que nunca.

O tempo em que ficaram juntas fora muito pouco, pois depois de alguns meses Esther teve que partir com os seus pertences de valor ao gueto que estava sendo formado na capital. A despedida das duas fora muito dolorosa e foi ainda mias doloroso para Ataíde quando ela viu o muro que separava a cidade do gueto sendo construído. Os dias que se seguiram fora de muita dor e sofrimento para Ataíde, a angustia de não saber como sua companheira estava ficara ainda maior. Para Esther os dias no gueto foram de extrema luta pela sobrevivência junto à uma outra judia que ela conhecera por ela ter namorado seu amigo na gravadora; Esther vivia como podia ali, enquanto Ataíde era bem sucedida entre os outros arquitetos alemãs que admiravam seus projetos arquitetônicos.

Enquanto se seguiam dois anos de sofrimento, uma era bem sucedida entre os nazistas a outra tinha que lutar para conseguir um pedaço de pão e um bom emprego para não ser descartada pelos nazistas. Os dias no gueto iam ficando mais difíceis, a colega de quarto de Esther estava sofrendo com uma gripe interminável. Ataíde estava sofrendo ainda mais pensando na situação da companheira naquele lugar, em um ato de curiosidade perguntou ao seu irmão mais velho através de uma carta o que aconteceria com aqueles judeus trancados no gueto, e ele respondeu que em poucos meses seriam transferidos para um campo de trabalhos forçados onde iriam trabalhar em industrias para a guerra.

A saudade de Ataíde estava crescendo ainda mais, mandou outra carta para o irmão perguntando como ela poderia entrar para o exercito e servir a grande e sagrada Alemanha, ele disse para ela se dirigir ao posto de alistamento mais próximo e dizer que era irmã dele, os oficiais a mandariam para onde ela quisesse trabalhar como ajudante, ela escolheu logo aquele gueto. Fora um mês de disciplina inimiga que ela teve de engolir e um mês de preparação física, no terceiro mês ela entraria naquele gueto como soldada assistente da SS no gueto. Ela tinha que inspecionar ruas, becos e ainda alguns lugares abandonados suspeitos de local de contrabando judeu, mas o seu principal trabalho era garantir a sobrevivência de Esther. Durante dois dias ela procurou por Esther e sem resultados estava começando a desistir, quando todos os judeus foram convocados a ir para a estação de trem onde teriam que entrar em vagões de gado e em péssimas condições de higiene, ela se posicionou junto às outras guardas assistentes da SS na frente dos primeiros vagões que iam chegando. Quando os judeus foram passando em grandes aglomerados, Ataíde começou a procurar por Esther, observando cada mulher de cabelo escuro que passava, quando uma de suas companheiras perguntou:

- Estás procurando por algum judeu miserável?

- Sim, estou procurando por uma judia que roubou meu namorado na faculdade. – disse ela disfarçadamente como se sentisse nojo de lembrar deste fato.

- Não se preocupe com essa vagabunda que roubou seu namorado, eles todos estão indo para o lixo ao entrarem nesses vagões. – disse a mulher rindo com desprezo.

- E qual é o lixo?

- O campo de trabalhos forçados de Auschwitz.

Quando a mulher falou isso, Ataíde começou a observar melhor para quem entrava naqueles vagões e eram velhos e crianças e pessoas doentes ou desnutridas.

- E o que farão com os que não podem trabalhar?

- Serão descartados.

Ao escutar isso, Ataíde começou a procurar desesperada por Esther. Avistou-a, para seu alivio estava viva e com um olhar forte mas um sorriso triste, muito diferente da Esther que ela conhecia, seu rosto estava magro e seus cabelos negros estavam despenteados. Entregou suas malas aos guardas judeus que ajudavam a SS sem nenhuma resistência e entrou no vagão à porrada de cassetete. Ataíde pode perceber que Esther a viu quando esta começou a querer sair do vagão e quase tem seus dedos esmagados pela porta do vagão que se fechava.

Ataíde viu os vagões saindo da estação, por fora ela estava dura e rígida aos ideias nazistas, mas por dentro destruída. Enquanto as outras mulheres saiam da plataforma junto com as tropas de segurança nazista ela viu o carregamento de malas indo em direção a um deposito e no meio do deposito viu a mala de Esther e decidiu ir atrás do carregamento, quando um guarda judeu a parou:

- O que a senhora deseja?

- Quero ver o destino das coisas imundas daqueles vermes, caso você não saia do meu caminho informarei à própria SS que um subordinado ousou parar uma oficial assistente da SS.

- Desculpe senhora, pode seguir adiante.

- Saia daqui apenas – ao chegar do lado dele ela disse segurando seu ombro – Saia.

O homem não mais nenhuma palavra e saiu correndo dali.

Ataíde foi até o deposito e viu que vários SS andando de um lado para o outro não paravam de carregar malas com nomes. Ataíde parou um dos oficiais e perguntou a onde iriam as malas.

- Serão descarregadas e os itens nelas passarão por uma vistoria.

- Me mostre por favor.

O homem a levou até o centro deposito onde alguns judeus joalheiros trabalhavam como escravos na procura de ouro e diamantes nas joias judias, viu até que um SS descarregou um saco cheio de dentes de ouro na mesa de um joalheiro e ordenou que analisasse todos os dentes que estavam na mesa. Seguiu adiante e viu o que acontecia com as malas judias, elas eram descarregadas e as roupas eram separadas dos objetos de valor como peças de ouro e etc. ela avistou um carregador quase descarregando a mala de Esther quando ela pediu que parasse.

- Essa mala é propriedade da SS, o conteúdo dela tem um enorme valor para nós se é que você pode entender.

- Posso saber o que a senhora está fazendo? – perguntou um inspetor da SS.

- Sou uma investigadora da SS sobre os comandos diretos do próprio Füher e com a administração do Comandante Nivaldo King da SS. Tenho autorização para investigar e encontrar tesouros judeus espalhados pelos guetos e até agora já achei uma linha de contrabando essencial para a SS. Caso o senhor me atrapalhe na minha investigação sugiro que pense duas vezes, caso contrario servirá à Alemanha nas linhas de combate contra a União Soviética.

Todos olharam para ela e o inspetor não teve opção senão libera-la.

Ela saiu do deposito e procurou um esconderijo que achara na primeira vez que ela pisou naquele gueto. Ela realmente tinha achado um deposito de contrabando judeu, mas não era nada relevante para a SS e ela não estava a serviço de ninguém. O esconderijo era uma sala pequena que pertencia à uma antiga gráfica falida, mas que servia de esconderijo para o contrabando de alimentos no gueto. A sala estava completamente desorganizada, ela levantou a mesa que estava jogada ao chão e pegou uma cadeira velha, observou pela janela se vinha algum SS, mas não viu ninguém; sentou-se colocando a mala na mesa e abriu-a, na mala haviam diversos cadernos de anotações de Esther e algumas roupas, Ataíde pegou um e o leu:

“A situação aqui no gueto é precária demais, minha casa fica uns dois quarteirões depois da entrada do gueto, tenho que dividir meu quarto com mais quatro pessoas e com suspeita de vir mais. Ao chegar meio dia observamos os trabalhadores da SS construindo o muro que separa o gueto da cidade, foi muito duro para mim, acho que nunca mais verei a Ataíde.”

“Segundo dia e já começa o inferno aqui. Chegam mais pessoas ao nosso aposento, agora dividimos um quarto feito para ser um gabinete pequeno para oito pessoas. Enquanto eu me preocupo com o futuro de nossa alimentação e velha Neida se preocupa com suas joias e com os objetos de valor que ela e seu marido tinham.”

O primeiro diário que ela leu relatava a vida de Esther na primeira semana no gueto e apenas se relatava da vida dela tendo que dividir o quarto com oito pessoas. A medida que ela ia lendo a situação ia piorando ainda mais.

“ Já se passaram mais de 6 semanas aqui no gueto e a situação com os alimentos começou a piorar, tive que ir com Guilda até os contrabandistas do gueto para conseguir comida. Acho que se as coisas continuarem assim, vamos ter sérios problemas.”

“Já se passou uma semana desde que me envolvi com o contrabando, é preciso fazer o que faço para salvar o máximo que eu puder. Todo o tempo entramos e saímos do gueto, mas essas nossas saídas começaram a ser muito perigosas porque os SS já começaram a nos procurar por aqui no gueto, podemos contar com o esconderijo perfeito numa gráfica abandonada.”

“Guilda não aguentou muito a gripe que ela teve e morreu na cama, como eu não podia enterra-la ou joga-la na vala como qualquer um faria, ateei uísque no seu corpo e o queimei na vala. As valas dos guetos estão se enchendo de corpos de judeus desnutridos e já tem uns enlouquecendo de tanta fome e desespero chegando até mesmo a caçar ratos e baratas.”

“Por obra do destino, a polícia descobriu quem eram os traficantes, mas não me descobriram. Fiquei sabendo que eles foram fuzilados onde foram encontrados. Falei com um sujeito que conhecia um cara que estava interessado em judeus jovens para a sua fabrica de roupas perto do gueto. Perdi a conta de quantos homens eu tive de implorar para me colocar lá dentro.”

“O trabalho até que é bom, eles nos alimentam com sopa e pão e nos dão lugar para dormir, mas o trabalho é para quem é forte, porque é uma carga de trabalho rápida e pesada.”

“Acho que iremos ser transferidos para outro lugar, os guardas entraram nos aposentos falando que deveríamos ir até a estação com todas as nossas bagagens. Com sinceridade, tenho uma estranha sensação no meu coração de que a minha hora chegou.”

Ataíde mandou uma carta para seu irmão dizendo que gostaria de trabalhar na segurança do campo de trabalhos forçados de Auschwitz. Demorou só alguns dias para ela chegar até lá, por conta do transporte e dos papéis que seu irmão assinava autorizando sua transferência. Ao chegar lá viu que estava sendo construída uma enorme chaminé e entrando lá o que separava os judeus da entrada era uma cerca de arame farpado, no carro em que Ataíde estava ela só pode ver de relance o pessoas com pijamas listrados e em péssimas condições de vida.

- Quem são estes atrás da cerca? - perguntou ela ao SS que dirigia o carro onde ela estava.

- São a escória judia que contamina nosso mundo.

Ela mal podia acreditar que aquelas pessoas carecas e magricelas eram as pessoas que ela vira na estação de trem.

Ela fora apresentada aos responsáveis pela segurança ela foi designada à fiscalização dos banhos das mulheres. No seu primeiro dia ela apenas viu dezenas de mulheres diferentes entrando em uma câmara de banho coletivo onde cabiam mais de 100 mulheres, mas nenhuma delas era a Esther; espantou-se ao tentar abrir a porta e uma superiora intervir em sua ação:

- Mas o banho delas já acabou... – disse ela confusa.

- Sim, mas agora que vem a melhor parte.

Ataíde olhou pela janela da porta e viu que toda a sala tinha ficado esfumaçada e que todas as mulheres gritavam lá dentro até pararem depois de alguns minutos. Ela ficou totalmente horrorizada com o que tinha testemunhado, enquanto via as superioras seguindo com o regulamento e pondo seus uniformes para entrar na câmara.

Ela não parava de pensar se aquele seria o destino de Esther ou seria coisa pior, mas ela sabia que tinha andar rápido e com cautela. Ela andava pelo campo de dia observando os prisioneiros e as prisioneiras trabalhando nas plantações e construindo mais fortes dentro do campo. Até que ela avistou Esther, careca, extremamente fraca e muito magra, ela estava com o olho roxo e com a cara toda cheia de poeira, carregava um carrinho de mão cheio de tijolos. Ataíde queria pular aquela cerca de arame e ir correndo abraçar sua companheira, mas precisava ter calma e paciência para não comprometer a segurança de Esther.

Trabalhou vários meses tirando Esther da lista do corredor da morte e colocando ela na lista dos judeus importantes. Esther sempre achava que chamariam o seu nome quando selecionavam os trabalhadores para irem até o “tratamento especial”, mas ela de certa forma sempre mantinha as forças de que um dia sairia daquele lugar. Um dia, chegou ao campo um médico a serviço da SS para utilizar cobaias humanas em seus experimentos e isso serviu para Ataíde garantir mais uma chance de sobrevivência para a Esther. Ela iria falar com ele quando ele começasse a selecionar os prisioneiros, mas ela teve que se adiantar quando soube que estava chegando um carregamento da França de Judeus e Ciganos e que era preciso eliminar todos os outros prisioneiros para ter mais espaço.

Ela pediu para o diretor transferi-la para trabalhar como assistente nas experiências do doutor, a permissão fora concedida quando ela mostrou um pouco de sua perna acima dos joelhos para o doutor, mas em troca teria que transar com ele quando ele quisesse. Conseguiu convence-lo a utilizar Esther em um de seus experimentos para testar quanto tempo um indivíduo pode permanecer sem comer ou tomar banho, de acordo com a ética do trabalho (que era bem pouca, quase nada) as mulheres davam banho nas mulheres e podiam vê-las nuas. O momento do grande encontro teve de ser adiado por alguns minutos enquanto o doutor estivesse analisando a cobaia.

- Fisicamente bem, as condições de desnutrição estão no ideal para o meu experimento, dê banho nela e tranque-a na cela de observação, fique hoje a noite e monitore-a. Boa noite.

Esther entrou na sala de banho de cabeça baixa e completamente sem esperança, não percebeu quem estava naquela cela era uma mulher conhecida e que na qual ela amava muito. Ataíde trancou a porta da sala e começou a dar banho nela.

- Por que você está assim? – perguntou Ataíde chorando enquanto passava sabão nas costas dela.

- Não é nada senhora...

- Você sabe meu nome, não precisa me chamar de “Senhora”... – disse ela chorando de alegria.

- Perdão?... – disse ela virando-se sem entender nada, mas quando viu quem era, voltou a ser a pessoa cheia de vida que ela era antes, começando a chorar horrores – Ataíde.....

- Esther... eu estava com tanta saudade de você.... – disse Ataíde chorando de tanta alegria em poder rever a companheira.

- E eu ainda mais de você ... – respondeu Esther.

O experimento de Esther não durou muito tempo para manter o disfarce enquanto Ataíde bolava um plano para que elas saíssem dali. Ataíde teve que participar de vários outros experimentos que na qual ela não se orgulha nada de ter visto, preferiu fazer uma limpeza de memória a ter que se lembrar dos experimentos monstruosos do doutor. Nos horários de almoço Ataíde conversava diariamente com os funcionários da vigilância do local e sempre perguntava se tinha algum trem ou algum carregamento que estaria em dia para vir e deixar coisas ali.

- Olhe, nós recebemos muitos carregamentos de comida enlatada de um fornecedor austríaco – disse um dos vigilantes.

Esse velho e o carregamento dele seria a escapatória daquele lugar horrível.

Não seria perda de tempo idealizar um bom plano, mas quando o velho chegou com o carregamento os guardas estavam mais atentos e a vigilância a 100%, logo teve de ser adiado.

O tempo de Esther estava acabando e Ataíde tinha de pensar em algo rápido.

Ataíde foi até a cantina no horário de almoço durante o inverno rigoroso da Polônia e as perguntou quando chegaria mais prisioneiros.

- Amanhã às 4:00 chega um trem com prisioneiros de Israel.

Então teria que ser neste dia que as duas deveriam escapar dali. Ataíde pensou em um plano astuto de no momento em que estivesse sendo descarregado os prisioneiros delas escaparem no momento, mas a pergunta era “Como?”.

Ela pensou em pegar umas das perucas que estavam fazendo no campo e colocar na cabeça da Esther e vesti-la com uma roupa de uma das Assistentes da SS, para isso custou-lhe o dia todo e quase fora descoberta pegando uma peruca negra no deposito, mas foi pega no flagra apenas com a peruca na mão por um inspetor.

- Isto daqui é para a minha tia, não queria que ninguém soubesse disso ou deste fato que acabei de lhe deduzir – disse ela já partindo pra a apelação de seu corpo. Claro, funcionou.

Quando o dia estava chegando ao fim ela viu chegar no campo um caminhão descarregando munições da fábrica D.E.F, ela ficou sabendo que o caminhão iria embora quando o trem com mais prisioneiros chegassem para serem incinerados na câmara de cremação no campo.

Elas precisariam estar naquele caminhão quando o trem chegasse, então Ataíde se apressou com o plano.

- Depressa! – disse Ataíde dando pão e comida para a Esther que já estava voltando a sua forma normal assim que o experimento começou e Ataíde começou a nutri-la com comida boa.

Ataíde escondeu a peruca e vestimenta debaixo de seu casaco, mas ela precisava de sapatos para a Esther. Foi até o vestiário das mulheres e pegou um par de sapatos tamanho 39, porém foi pega por uma inspetora que só fez olhar para os sapatos nas suas mãos e em seguida olhou para seus pés.

- Por que estás carregando um par de sapatos de tamanho diferente dos seus pés?

- É porque darei eles para a minha tia...

- Isso me é estranho demais, os assistentes tem apenas um pequeno período de tempo para aproveitar férias, estamos no meio do inverno e as férias só serão daqui a um mês. Sinto muito mais terei de lhe encaminhar até o diretor... – disse a mulher se virando.

Ataíde só teve essa chance e a fez. Tirou a arma de seu coldre e acertou a cabeça da inspetora. Arrastou-a até seu armário no vestiário e com algumas toalhas fez umas amarras e amordaçou a inspetora, colocou-a dentro do armário e a trancou, levou seu chapéu e os sapatos que tinha pegado.

Ao chegar na enfermaria encontrou o doutor apenas observando a Esther.

- Estranho... Não vejo mais o mesmos sintomas de desnutrição em você...

Ataíde olhou para a pequena mesinha móvel feita de canos com materiais cirúrgicos e pegou um bisturi.

- Por que ela está assim?... – disse o doutor apenas sentindo o bisturi perfurando sua barriga e depois sendo enfiado no seu coração.

Ele caiu no chão. Ataíde mandou Esther tomar banho enquanto ela falsificava um documento. Esther vestiu as roupas e colocou a peruca junto ao chapéu, arrastou o corpo do doutor até sua cela e o trancafiou lá dentro. Ataíde tinha conseguido falsificar corretamente a assinatura do diretor em uma carta dizendo que elas deveriam ir até a fabrica D.E.F para dar os agradecimentos do diretor do campo ao responsável por ela.

Ataíde limpou o bisturi e o colocou no bolço do casaco de Esther, tirou de sua bolça um batom e maquiagem, passou no olho de Esther e em seu rosto para poderem fugir.

As duas passaram horas esperando dar a hora exata do caminhão chegar.

O caminhão chegar, desembarcara tudo que tinha e foi assinar uns papeis com o diretor até a hora que o trem de prisioneiros havia chegado.

- Chegou a hora... – disse Ataíde em um desabafo – Esther... caso não dê certo... saiba que eu fiz tudo o que estava ao meu alcance e ... – dizia ela sendo calada por um beijo de Esther.

- Obrigado Ataíde.

As das chegaram até o caminhão e mostraram o documento ao oficial e ao caminhoneiro, ambos reconheceram a assinatura e aceitaram. Ao subirem no banco carona do caminhão, Esther olhou para os vários prisioneiros indo em direção a crematória quando ela recebeu uma cotovelada de Ataíde, ambas apenas olhavam para a frente e fizeram questão de não se despedir daquele inferno.

Ao chegarem na estrada já de dia e bem longe do campo, Ataíde sacou sua arma e a colocou na cabeça do motorista.

- Nos leve até a capital, agora!

- Vocês são malucas! – disse o motorista dando a dobra na rua que levava até a capital polonesa.

Ao chegarem na capital elas desceram do caminhão e disseram para ele voltar para a sua fabrica. Elas trataram de procurar uma das amigas de Ataíde que poderia disponibilizar um quarto para as duas em um lugar bem distante.

Elsa tinha um apartamento quente e bom para se viver. Elas moraram uns bons meses nesse apartamento tendo a vida que sempre sonharam para as duas, mas só que as coisas na parte da Polônia onde elas estavam, estava piorando com a guerra chegando ao seu auge. Movimentos estudantis de jovens revoltados com aquela Guerra apenas acirravam mais as coisas.

Os Rebeldes começaram a entrar em conflito com os nazistas e a Polônia virou um verdadeiro inferno a noite. A medida que os rebeldes iam perdendo e sendo perseguidos pelos nazistas as duas tinham que tomar mais cuidado para não serem confundidas com rebeldes nas ruas. As duas tiveram que sair daquele esconderijo e partir para uma área menos agitada, que logo fora campo de batalha.

Perdidas como cegas em tiroteio elas, entravam e se escondiam em um lugar diferente a cada dia, sempre se movimentando para não serem encontradas. Essa fuga as levou até a parte mais inóspita da Polônia, a parte onde fora o inferno que elas viram pela janela, mas era alí onde elas ficariam até os nazistas abandonarem a Polônia.

Em questão de dias o mesmo ataque mortal de asma que a Ataíde teve voltara em um pior momento. Nesta hora, Esther realmente acreditou que ela iria morrer.

- Reaja Ataíde reaja! Estamos quase conseguindo, sobrevivemos aos piores infernos, vamos reaja!

Ataíde conseguiu vencer o ataque, mas isso lhe custou muita força.

As duas caminharam pelas ruas e casas destruídas até chegarem a desistir e sentar em um local seguro. Ataíde não conseguia respirar direito por causa da poeira no ar. As duas passaram muitos dias sentadas naquele mesmo lugar esperando a morte vir leva-las, mas Esther se levantou e com Ataíde em seus braços disse:

- Vamos, meu amor, acorde temos que continuar.... – disse ela parando de falar ao ouvir o som de uma musica estranha utilizada pelo exército.

Eram as tropas soviéticas caminhando pelas ruas polonesas.

- Escutas esse som? - perguntou Esther à Ataíde em seus braços extremamente cansada.

- Sim... escuto – disse ela sendo interrompida pelo som de um tiro que atingira sua coluna e fazendo ela abrir os olhos cheios de lagrimas para Esther.

- Não... Não! – disse Esther se encolhendo ao corpo de Ataíde.

- Paradas! – gritava um soldado soviético apontando a arma para a Esther.

- Nós somos polonesas! Não somos nazistas! – gritou Esther chorando.

O soldado chamou outro ao seu encontro e o mesmo concordou com a Esther.

- Realmente são polonesas... mas por quê estão utilizando esses uniformes horríveis? – perguntou um dos guardas abaixando as armas.

- Por que estamos com frio... e ela é asmática!... – respondeu Esther chorando.

Ataíde e Esther viveram juntas durante a vida inteira, após o tiro que Ataíde levara na coluna ela foi forçada a ficar na cadeira de rodas. Claro, quanto aos soldados soviéticos, eles realmente ajudaram as duas, mas nunca mais as duas tiveram noticias deles. Ataíde nunca mais teve noticias de seu irmão mais velho que sempre concedia favores há ela. A inspetora presa no armário fora solta, mas sofreu com uma perda de memória que a afastou do serviço militar. O doutor morto fora descoberto quando um jovem zelador achou seu corpo. O guarda judeu conseguiu fugir da Polônia e conseguiu se refugiar na Dinamarca. O inspetor da SS da estação de trem fora convocado e morrera em campo de batalha soviético. O motorista do caminhão nunca contou a ninguém sobre o seu sequestro, mas gerou um prejuízo à fábrica D.E.F, tal fábrica pertencia a Oskar Schindler, um empresário nazista que salvou a vida de 1.100 judeus empregando eles na sua fábrica. Ataíde e Esther viveram juntas a vida inteira, adotaram muitos órfãos de guerra e as duas viveram felizes para sempre, pois o amor que elas duas tinham prova que ele realmente é uma força muito poderosa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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