Apesar dos incessantes flocos de neve que caiam pelo campus, os alunos demonstravam sua empolgação criando times para uma épica batalha de neve.

Os times foram divididos entre os cursos e áreas a que cada um pertencia, o objetivo era conseguir mais lenços das pessoas do time adversário.

Sherlock estava sentado em um banco debaixo de uma árvore lendo, às vezes olhava por cima do livro para observar a movimentação a sua frente, esperava não ter que sair dali, mas sabia que logo teria que arrumar outro lugar para ler.

Uma buzina foi disparada por alguém, anunciando o início da guerra, bolas de neve voaram por toda parte, as pessoas se escondiam atrás de árvores, barricadas de neve ou usavam umas as outras como escudo.

Molly facilmente se esquivou das pessoas dos times adversários, sua colega de quarto era de outro time e tentou acertá-la, provando que não existe nenhum tipo de ligação quando se está numa guerra de neve, reuniu toda sua força e arremessou uma bola sem olhar se tinha conseguido acertar, ouviu um 'ei!' vindo da direção que ela tinha jogado a bola, quando viu quem tinha acertado sentiu as bochechas esquentarem.

Sherlock fechou o livro indignado, levantou-se olhando em volta procurando quem teve a ousadia de lhe acertar, não foi difícil encontrar o autor do arremesso, a garota vinha em sua direção.

— Mary! Aqui – Molly jogou o lenço para a amiga no time adversário — Estarei fora do jogo por enquanto – continuou indo na direção de quem tinha acertado, o conhecia de vista e por ser um dos melhores alunos da universidade, sabia que o único amigo que ele tinha era seu colega de turma, John — Desculpe! – pediu assim que estava próxima o suficiente para ele ouvi-la.

— Dá próxima vez, tente acertar apenas as pessoas que estão participando da brincadeira – sua expressão não era das mais amigáveis, parou a distância de dois passos.

— Da próxima vez, tente não ficar próximo da zona de guerra – rebateu — Quanto mau humor! Se quiser posso fazer um chocolate quente com marshmallows para você, quem sabe assim seu humor não melhora.

— Dispenso – passou por ela indo na direção dos dormitórios.

Molly notou que ele tinha esquecido o livro no chão, pegou-o e correu atrás dele, desviou-se de algumas bolas e usou o livro como escudo para bloquear outras, teve que correr para o alcançar, como ele andava rápido! Pisou num monte de neve e seu pé entrou em um buraco, tratou de tirá-lo dali rapidamente, antes que perdesse o garoto de vista.

— Esqueceu seu livro – entregou para ele e acompanhou seus passos, ele não dizia nada, algo na expressão dele evitava que mesmo sem querer alguém jogasse uma bola de neve nele — Por que não participa da batalha de neve?

— Neve é boring!

— E já que perguntou, me chamo Molly – apresentou-se a ele, sabia seu nome por causa de John, que vivia dizendo o quão inteligente o amigo dele era, ele podia ser inteligente, mas pelo jeito era um tremendo de um chato.

— Por que não volta para a batalha? Aposto que devem estar perdidos sem uma exímia combatente no time – sentiu toda a ironia que ele colocou em suas palavras e também sentiu uma imensa vontade de enterrá-lo na neve.

Sherlock virou-se para encarar a garota e ergueu uma sobrancelha, não entendia o porque dela ainda continuar ali, geralmente as pessoas evitavam se aproximar do arrogante da turma de química.

— E neve não é chato! – Molly encarava o garoto a sua frente com as mãos na cintura, não entendia como alguém podia não gostar de neve — Deixe que neve!

— Seu pé está doendo?

— O quê? – por um segundo ela não entendeu a pergunta dele, até então estava ignorando a dor — Não – mentiu.

— Você está jogando o peso do seu corpo na sua perna direita, e como a neve cobriu tudo, você deve ter torcido em algum buraco – explicou.

Molly já tinha ouvido falar das habilidades dedutivas de Sherlock, ouvir falar sobre é uma coisa, provar é outra totalmente diferente.

— Vai, sobe – virou-se de costas e agachou até ficar da altura dela — Anda, antes que me acertem por sua causa.

Se antes sentiu as bochechas esquentarem, agora sentia que estava vermelha dos pés à cabeça, não podiam ficar o resto do dia parados ali e tinha que admitir que o pé realmente estava doendo, Molly inspirou com força antes de subir nas costas de Sherlock.

Todo o trajeto até o dormitório feminino foi feito em silêncio, Molly estava envergonhada demais para tentar manter uma conversa com Sherlock, agradeceu internamente por ele não se incomodar com isso, e principalmente, por não soltar nenhum comentário que a fizesse querer se enterrar em um monte de neve.

Mesmo com os protestos de Molly, quando chegaram no dormitório Sherlock ajudou-a a enfaixar o pé.

— Já que está aqui, vou fazer chocolate quente, é o mínimo que posso fazer depois da sua ajuda – disse se levantando após ele terminar o curativo no seu pé.

Apesar de não dizer nada, Sherlock divertiu-se internamente assistindo Molly pulando num pé só de um lado a outro enquanto preparava a bebida, naquele momento observando a garota ir num pé só pra lá e pra cá, ele não imaginou que se tornaria costume entre eles beber chocolate quente com marshmallows em dias com neve.

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Sherlock observava a neve cair na janela de seu apartamento, tinha o violino e o arco em mãos, deixou ambos em cima de sua poltrona, pegou seu celular e mandou uma mensagem.

Ainda acho neve boring, a lareira já está acesa - SH

Menos de um minutos duas mensagens chegaram.

Bobo. Levarei marshmallows - MH

E deixe que a neve caia em paz! - MH

Sherlock sorriu para o visor, talvez, só talvez, nevar não fosse tão chato assim.