19º Desafio Sherlolly escrita por Mariii


Capítulo 1
Savoy


Notas iniciais do capítulo

Oie!

Ai gente, acho que está ruim... Mas não consegui pensar em nada melhor, então relevem... ;)



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Nós corríamos.

Eu ouvia os passos de Molly logo atrás de mim, mas não podia parar para deixá-la ir à frente. Ocasionalmente eu conferia se ela estava mesmo ali. Tentava ignorar a dor que sentia pelo ferimento na altura do meu quadril, ele teria que esperar. E se não estava enganado, havia arranhões pelo rosto de Molly, ocasionado pelos galhos da floresta por onde corríamos. Eles deveriam estar no meu rosto também, mas não tinha tempo para senti-los.

Estávamos em algum confim da Rússia. Sim, na ausência de John e com o fim do noivado de Molly, ela se tornou meu braço direito em situações inconsequentes. Como agora.

O porquê de ela ter aceitado, eu não sei exatamente. Posso deduzir que ela estava entediada e depois de mais uma decepção amorosa, acho que decidiu arriscar tudo em uma nova vida complicada. Ao meu lado. É, não fazia muito sentido se pensarmos pelo lado amoroso, mas ela aceitou por motivos indecifráveis.

E foi assim que nós viemos parar na Rússia atrás de uma máfia. E foi assim que tivemos que sair correndo do abrigo onde estávamos para não sermos mortos e nos enfiamos em uma floresta para despistá-los.

A neve nos deixava mais lento, mas era uma via de mão dupla, porque também os deixava lentos. Quando começamos a cansar e eu achei pela primeira vez que poderíamos não escapar, um complexo industrial apareceu a nossa frente. Parecia estar abandonado, mas tudo naquele lugar parecia estar. Teríamos que descobrir, não havia outra opção.

Segurei Molly pelo braço e nós corremos circundando o complexo até achar uma abertura por onde pudéssemos passar. Claro que nós poderíamos ser pegos ou morrer eletrocutados na cerca a qualquer momento, mas isso não importava agora. Não era como se tivéssemos opções.

Um estreito buraco na cerca serviu para que passássemos e nos arranhássemos ainda mais. Estávamos exaustos, mas não poderíamos parar agora. O frio castigava e mesmo que não tenhamos parado, nosso corpo não se aquecia o suficiente.

Puxei Molly para dentro do que parecia uma casa, ou um dormitório e nós caímos ao chão, exaustos e sem conseguir respirar. Nos arrastamos para o canto mais escuro e tentamos controlar nossa respiração para ficarmos no maior silêncio que pudéssemos. Nossas roupas estavam molhadas pela neve e nossas peles – onde tinha ficado exposto – estavam machucadas. O disparo que atingiu meu quadril parecia doer com força total agora e eu tentava voltar a me concentrar para ignorá-lo.

Observei Molly abraçar os joelhos e encostar a cabeça neles enquanto seu corpo tremia com o frio. Nós havíamos deixado todos os suprimentos para trás, não houve tempo de pegá-los. Tínhamos apenas duas armas e nossas roupas encharcadas. Tentei o celular em meu bolso, sem sinal.

Não demorou para passos ecoarem do lado de fora de onde estávamos e eu congelei onde estava, assim como ela. Por alguma espécie de milagre, ou então o poder de todas as orações que com certeza passaram por nossas mentes de forma involuntária, os passos se afastaram depois de momentos de tensão.

Olhei em volta pela primeira vez e vi que tínhamos entrado em uma espécie de alojamento e havia uma porta que poderia ser um banheiro.

- Vamos, nós precisamos cuidar desses ferimentos. – Ela apenas vira a cabeça na minha direção e ergue uma das sobrancelhas, fazendo uma careta quando sente dor pelos arranhões. Há inúmeros dele por seu rosto.

- Você está horrível. – Molly sorri ao dizer isso, quebrando a expressão séria que mantínhamos até então. Após ela falar, eu começo a sentir a ardência dos cortes em meu rosto.

- Você não está muito melhor.

- Como vamos sair daqui, Sherlock?

Suspiro com a pergunta, porque eu não sei. E não consigo pensar sobre isso agora.

- Vamos primeiro ver nossas condições, para depois pensar em um plano, ok?

Levanto-me com dificuldades e meu corpo estremece com o frio e com a dor que lateja por meu corpo. Caminho até a porta e, como eu imaginava, estou diante de um banheiro. Abro o chuveiro e deixo que a água escorra, mas é quase como cubos de gelo caindo do chuveiro. Não há opção e eu solto um palavrão quando abro a torneira da pia e começo a lavar meus cortes.

- Nós vamos morrer aqui? – Viro-me e encontro Molly encostada no batente da porta. Vejo alguns filetes de sangue escorrerem pela bochecha dela e percebo que não quero perde-la. Nunca quis. E eu queria muito saber onde eu estava com a cabeça quando a trouxe para a morte. Será que meu egoísmo ia tão longe que eu preferia trazê-la para morrer comigo a ficar sozinho, sem ela? Sim, é bem possível que sim.

- Aqui, congelados. Ou fora daqui, por tiros. Qual você prefere? – Sorrio para ela e vejo-a retribuir.

- Podemos virar bonitas estátuas se ficarmos na posição certa.

Antes que eu responda, ela se aproxima de mim e ergue meu agasalho, expondo a ferida acima da linha da minha calça.

- Não sabia que você tinha sido atingido... Não é grave, mas deve estar ardendo.

- Quase nada, Molly. Só como se estivessem me espetando brasas.

- Não seja fraco.

Nos encaramos por um segundo antes que uma tensão nos dominasse. Nós nos puxamos ao mesmo tempo e ainda nos olhamos novamente antes de nos beijar. Agora não havia frio, não havia dor, não havia nada que não fosse nós. Era, provavelmente, nossa última chance.

- Não quero morrer aqui. – Molly me diz entre pausas durante o beijo. – Mas se eu for morrer, terei você antes.

Voltamos a nos beijar de forma desesperada, como se não houvesse amanhã. E talvez não houvesse mesmo. O gosto de sangue e suor que se misturavam a nós fazia com que nos sentíssemos mais vivos, mais primitivos.

Tudo aconteceu de forma rápida e urgente. Nós precisávamos um do outro como sempre precisamos, e achávamos que teríamos toda uma vida para fazer algo.

Não tínhamos.

--- --- ---

- O que vamos fazer? – Nós já havíamos nos recomposto e estávamos cuidando dos cortes um do outro agora. Molly improvisava um curativo em meu quadril quando fez a pergunta. Com meu silêncio, ela ergue os olhos para mim e sei que ela percebe o quero dizer, porque pega a arma que está em sua cintura e confere as balas. – Talvez haja uma chance.

Eu sei que não há. Nossas roupas estão úmidas, frias e rasgadas. Estamos isolados, exaustos mentalmente e feridos em um país estrangeiro, com uma máfia atrás de nós. Até chegarmos à cidade, provavelmente já teremos sido abatidos.

Pouco tempo depois, nós nos preparamos para sair de nosso esconderijo. Ficamos de mãos dadas encarando a porta, sabendo que abriríamos para um futuro incerto e desagradável.

- Se você pudesse estar em qualquer lugar, onde você estaria agora, Molly?

- Talvez transando com você na suíte presidencial do Savoy, mas não acho que isso seja possível. Vamos.

Curiosamente nós sorrimos antes de abrir a porta e nos lançar para a morte.

--- --- ---

Nós sorríamos.

Estávamos frente a frente no helicóptero que nos capturou. Ficamos desesperados quando fomos rendidos, até que a voz de Mycroft se fez ouvida em um celular que me foi entregue.

Nos encaramos enquanto o helicóptero sobrevoava o que seria nosso túmulo. “Savoy” vejo Molly gesticular com os lábios, fazendo-me balançar a cabeça e rir.

Sim, Savoy. Era um bom plano.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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