Como Tudo Continuou... escrita por Napoleônicas


Capítulo 2
Capítulo 2




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O primeiro dia do resto de suas vidas...

A viagem de trem era demorada e cansativa. Gina cochilava com a cabeça deitada no ombro de Nando, enquanto ele a abraçava pela cintura, fazendo carinho em sua mão e observando toda a paisagem do trajeto.
Quando finalmente chegam em Santa Fé, Nando acorda a esposa para sairem do trem, era muito provável que a família toda os tivesse esperando do lado de fora...
–Acorda, menininha! - dizia ele acariciando o rosto da esposa.
Gina abre os olhos, tentando se situar.
–Mai já chegamo, Frangotinho?
–Já sim, ocê dormiu o caminho todo!
–Mai é qui mi bateu uma lesera! - diz se espreguiçando toda espaçosa no banco - Ara mai que saudadi qui ieu to do pai i da mãe!Vamo descê, Nando! - pegando na mão do marido afoita, querendo sair do trem e ver quem estava ali a sua espera!
–Carma Gina, Carma. Assim ocê vai me derrubar! - rindo da empolgação dela.
Eles descem do trem, enquanto o ajudante da estação vinha lhes trazer a numerosa bagagem.
As famílias estavam a espera deles. Os amigos Juliana e Zelão também.
Gina corre para abraçar os pais, os dois ao mesmo tempo, como costumava fazer desde criança.
Ferdinando vai ao encontro do pai, mas é surpreendido por Pituca e Serelepe, que agarram-lhe pela cintura.
Dona Tê - Ain fia que sardade! Como ocê tá linda! - dizia dona Tê olhando Gina toda arrumada num lindo vestido verde com os cabelos semipresos e com o rosto iluminado de tão feliz.
Pedro - Ta linda memo fia, ta aparecenu um abacati di linda! - enrolando os cachinhos de Gina nos dedos.
Gina - Mai qui ieu tamém tava morrenu di sardade docêis. - nesse momento Gina vê sua amiga Professora. - Docê tamém Juliana! - agarrando-a num gostoso abraço.
–Minha amiga, que saudades! - Juliana passava as mãos nas costas de Gina. - Mas seus pais tem razão, você está linda demais!Hum, pelo jeito a viagem de lua de mel fez muito bem a você!
–Isso feiz mermo! - Gina concordava com as bochechas ruborizadas.
...
– Ferdinando, meu querido!Que sardade que nóis ficamo docêis! Foram bem de viajê? - falava em alto tom a madame enquanto mexia os dedinhos e observava o enteado abraçando calorosamente o pai.
–Como ocê tá, Nandinho?Que sardade, fio!
–Saudades também meu pai, Catarina a viagem foi perfeita, minha cara!
–Ocê trôxe presente prá nóis, mano? - perguntava Pituca, que junto com Lepe faziam carinhas de gatinhos pidões.
–Claro que trouxemos, aliás, trouxemos presentes para todo mundo!
O casal abraça todo mundo, família e amigos que ali estavam para recepcioná-los e seguem primeiro para casa dos pais de Gina, pois dona Tê havia preparado um almoço reforçado para eles. A noite seguiriam para casa grande, jantar com o coronel Epa.
Na casa dos Falão...
– Daí tinha tanta gente pai, que ocê não sabe pra donde olhá! - contava Gina, como era o centro da cidade de São Paulo - Mai ieu tumém não esqueci docê mãe, troxe esses vistidu que o Nando me ajudô a iscoiê i mais essa imagi aqui di Nossa Sinhora - dando os pacotes de presente para dona Tê.
–Deus dos Exército, fia! Mai num percisava tê gastado tanto cumigo não! - pegando os presentes empolgada.
–Mas nós fizemos questão, minha querida sogrinha! - sorria cheio de dentes, Nando, piscando repetidamente pra ela.
–Mai que genro que Deus me deu! - fazendo carinho no rosto dele.
–Vai prová os vistido, mãe! - sorrindo.
–E ieu vô mermo! - sai saltitante.
–Pro pai nóis também trouxe uns palitó, gravata e chapéu chique!-dando os pacotes pro seu Pedro.
–Ô fios carecia não, mai agradicido, viu! - pegando os presentes.
Dona Tê volta toda chique com um dos vestidos que ganhou. Entra na sala desfilando.
–Mais ói só que ocê parece uma rainha, Mãe! - elogia seu Pedro, encantado com o visual da mulher, colocando a gravata nova por cima da roupa que já estava e o chapéu, se fazendo galante. Pega na mão dela, beijando.
–Ain Pai!Num fala assim na frente dos minino, não! -fazendo charme.
Rola um clima e Gina e Ferdinando se olham, controlando para não cair na risada.
–Ow mãe, nós tamo cô estomago nas costa!Não tem armoço pra nóis, não? - tentando cortar o clima por hora.
–Craro fia, a mãe feiz um armoço nos trinque procêis. Vem, vem Nandinho!Alinháis a Juliana cô Zelão ficaram de vir armoçá mais nóis! Cadê eles, hein?
–Jajá eles tão estorando por aí, minha nega! - pisca seu Pedro, olhando dona Tê da cabeça aos pés.
Nesse momento, o casal citado chega.
–Com licença, estamos entrando! - avisa Juliana.
–Não serviram a bóia sem nóis, né? - brinca Zelão, que desde o casamento vivia brincalhão e sorridente.
Ferdinando vai até o amigo - Meu amigo Zelão, como está a vida de casado? - batendo nas costas dele.
–Ta ó, maravilha dotô Nando!Tô cas caixa do peito exprodindo de tanta felicidade!
–Sem essa de doutor, amigo!A partir de agora sou só Ferdinando Napoleão! - indo sentar à mesa ao lado de Gina.
– Me conte Gina, como foi a viagem? - pergunta Juliana.
–Ara que foi bão demais, sô!O Nando me levou pra conhecê um monte de lugar, restaurante, teatro, loja, parque...Inté na ópera ieu fui! - contando e matando a saudades da comida da mãe.
–A ópera! - se surpreende Juliana.
–Mai foi bonita demais, Juliana ocê nem imagina!
Ferdinando observava Gina contar sobre a viagem e a experiência que lhe havia proporcionado.
Depois do almoço, todos vão para a sala enquanto os dois continuam a distribuição dos presentes a todos, e a contar sobre a viagem, a conversa seguia regada ao famoso cafézinho de dona Tê.
Mais a tarde, o casal resolve passear pelo sítio, para analisar os progressos das plantações e aproveitam para se curtirem sozinhos novamente e conversarem sobre a vida dali pra frente.
–Agora, a gente precisa resolver onde a gente vai ficar, Gina!
–Ara, mas por que Ferdinando?A gente pode ficar aqui na casa dos pais, ocê viu como a mãe arrumou o nosso quartinho?
–Mais acontece que a minha madrasta também arrumou um quarto pra gente, Gina! E não sei se você lembra, mas agora eu vou trabalhar nas terras do meu pai.
–Mais então ocê num vai mais trabaiá aqui no sitio cô pai? - coloca as mãos na cintura, brava.
Nando sorri com o jeito bravinho da esposa, pega-a pela cintura tranzendo-a pra junto do seu corpo.
–Claro que vou, Gina!Mas agora graças a Deus e ao nosso trabalho, o sitio do seu pai está muito bem, não precisa de grandes cuidados, agora as terras do meu pai estão pedindo socorro - roçando o seu nariz ao nariz dela.
– Socorro de um tar engeirinhu agrônomo? - rindo, olhando pra ele com sarcasmo.
–Alguma objeção, senhora Falcão Napoleão? - entrando na brincadeira dela.
–Claro que não, meu frangotinho!Esse engeirinho agrônomo já salvou as terras do meu pai e roubou o meu coração tuméim! - sorrindo
Nando se derrete completamente com o comentário da esposa.
–Ara menininha, assim você me mata de tanto amor! - segurando o corpo de Gina em seus braços, inclinando-a pra trás, beijando-a cinematograficamente.
Gina fica ereta, interrompendo o beijo de repente.
–Mas ieu quero que ocê saiba que ieu vô continuá trabaiando co pai aqui na roça.
–Como assim, Gina? Agora ocê não precisa mais trabalhar assim.
–Ah não, Ferdinando! Ieu sempre lidei cô pai aqui nas roça do sítio. E agora dispois di casada não pretendo virá madame não!Ou ocê vai senti vergonha de ter uma esposa roceira como ieu sempre fui, hein? - peitando o marido com a braveza que lhe era corriqueira, mas sem agressividade.
–É claro que não, menininha marrenta! E quer saber, minha cara? Ocê tem toda razão!
A feição de Gina muda, as sobrancelhas afrouxam.
–Tenho? - confusa.
–Mais é claro que tem! Eu sempre admirei o quanto você sempre trabalhou duro aqui nas terras de seu pai, você é uma das grandes responsáveis por fazer esse sítio ir pra frente Gina!Portanto, eu não vou nem sequer me impor contra isso!
–Ara, mas que ocê é o mió marido do mundo, frangotinho! - pulando e abraçando ele.
–Mas eu não volto atrás quando digo que quero que você estude e refine o seu vocabulário, meu amor! E quanto a isso, eu vou ficar no seu pé, ocê fique sabendo!- olhando-a sério.
–Tá bão, eu prometo que vou pedir pra Juliana me ajudá!
–Hum, assim é que eu gosto! - beijando a ponta do nariz de Gina.
Depois de "analisarem" as terras, os dois resolvem passear pela vila e rever todos, já que a noite, iriam jantar na casa grande.
Chegada essa hora...
–Ocêis entrem, entrem meus queridos!E já vamos pra mesa que eu preparei um jantar reforçado procêis como recepção e boas vindas!Mâaaaaaaaaaaaaaciaaaaaa... - Catarina gesticulava pra todas as direções, levando o casal pra mesa de jantar e chamando a empregada para servir o mesmo.
O Coronel Epaminondas já os esperava lá e as crianças chegam saltitantes logo em seguida.
No meio do jantar, conversa vai, conversa vem.
–Então fica tudo certo Nandinho! Amanhã mermo ocê começa a analisar as condições das terra da fazenda. Mai se prepara que tem muito trabaio!
– Com muito prazer, meu pai!
–E ocêis vão dormir aqui, né mermo? - pergunta Catarina.
–Sim! - Nando.
–Não! - Gina - dizem ao mesmo tempo. Eles se olham

...

–Sim! - Gina.

–Não! - Nando - novamente.

Todos se olham sem entender.
–Nando, Gina, pelo amor de Deus, eu preparei um quarto lindo procêis dois. - diz Catarina toda carinhosa.
–Ah, agradecida Madame Catarina, mai é que a mãe tumém preparou um quarto pra gente... - Gina dizia sem graça.
Todos se olham novamente.
–Gina, mas ocêis não vão fazer essa desfeita cum nóis, né fio? - passava a bola pra Ferdinando, o coronel.
– Bom, é... Vamos fazer assim, essa noite, dormimos aqui, amanhã dormimos lá na casa do seu Pedro... né Gina? - tentando ser salvo pela esposa.
– É uma boa idéia! - dizia ela cheia de dentes.
Depois do jantar, todos vão pra sala, o casal distribui os presentes para todos. Mais tarde, resolvem subir para o quarto que Catarina havia preparado para eles. Era amplo, confortavel e colorido. Com uma decoração delicada detalhadamente pensada para um casal de recém casados.
A cama era espaçosa e convidativa, a janela deixava a luz da lua entrar sem timidez.
Gina vai até a janela, era possivel ver quase toda a vila de Santa Fé naquela vista. Estava uma noite linda de primavera. A lua redonda e prateada no céu, muitas estrelas desenhavam o conjunto envolta, uma brisa suave batia em seu rosto, fazendo alguns cachinhos voar.
Nando vê a silhueta dela na janela, sorri calado e se aproxima devagar, abraçando-a por trás, beijando-lhe o ombro.
–No que está pensando, meu amor?
–Em como seria voltar pra casa...
–E como está sendo pra você?-diz roçando seu rosto pelo ombro e pescoço de Gina.
–Eu ainda não sei... Por que me dei conta só agora que não temos casa! - diz com a voz um pouco mais rígida, mas não brava - Como vai ser, Ferdinando? A mãe co pai querem a gente por lá e a sua madrasta mais seu pai querem a gente por cá! Ocê vai lidá co seu pai aqui nas terra e ieu nas terra do pai, afinar o que a gente faiz? - o tom de voz era tomado agora por uma pequena aflição e ela segurava os braços do marido envoltos em sua cintura.
Nando apoia o queixo no ombro de Gina - É mesmo, ocê ta certa!Eu não tinha pensado nisso tudo. Com o passar dos dias esse vai e vem de lá pra cá, de cá pra lá vai ficar cansativo pra gente! - dizia com o olhar longe - Mas não vamos pensar nisso agora, meu amor! Vamos dormir e tentar descansar um pouco, porque hoje o dia foi cheio demais.
Gina respira fundo e resolve atender o pedido do marido, afinal estavam esgotados da viagem. Eles se deitam abraçados, conversando calmamente, observando a lua ali da cama mesmo. Nando fazendo cafuné nos cachos ruivos de Gina e ela deitada em seu peito, até que os dois adormecem a espera que o sol peça licença para nascer e ver o que o dia seguinte teria para eles reservado.

Continua...


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