Tão bonita a Lua iluminava aquela noite escura e fria, batia na janela de um quarto e entrava sem permissão a sua luz deixando tudo reluzente, tudo menos o par de olhos cor de mel. Deitado sobre a cama estava um corpo frágil e delicado com traços femininos e coxas farta, e aquele olhar penetrante admirava a bela lua tentando buscar nela um pouco de força para parar de chorar. Seu corpo não obedecia e as teimosas lágrimas continuavam escorregando pelo rosto pálido do rapaz. Parou de mirar a Lua e fixou seu olhar em objeto jogado no canto do quarto que lhe chamava atenção. Sentiu seu coração bater mais fraco e sua respiração ficar mais pesada, passou a se perguntar por que tinha que sofrer assim.

O vento cortava o céu e as estrelas brilhavam com maior intensidade, mas tudo isso passava despercebido pelo par de olhos negros que vagavam pela noite a procura de esperança. Passos lentos que caminhavam a esmo e uma cabeça cheia de pensamentos mórbidos tomavam conta daquele moreno sensual que se arriscava a ficar na rua naquela noite de inverno. E caminhando um pouco mais chegou a uma pracinha onde resolveu ficar um pouco para resfriar a cabeça. E foi num balanço vermelho que ele sentou e passou a fitar o céu e seu punhado de estrelas.  Foi ai que tudo ficou embaçado ele notou que estava chorando de novo.

Ambos os meninos, tanto o loiro quanto o moreno, tinham seus corações apertados e machucados, pois sofriam de algo muito comum e conhecido. É um sentimento que todo mundo um dia pelo menos sentira e apesar de ser comum é inexplicável. Esse sentimento é conhecido carinhosamente como amor.

Alguns minutos se passaram quem sabe horas e o loirinho tinha os olhos inchados e cabelo todo despenteado, mas não ligava para isso, sentia que tinha que fazer algo para não se arrepender depois e foi ai que tomou a atitude de se vestir e sair para rua. Parou na frente da porta já com a chave na mão quando se virou para traz e olhou novamente para o objeto que havia prendido sua atenção algum tempo antes. Sorriu fracamente e o pegou colocando no bolso direito do seu casaco, virou a chave e saiu de casa.

Cerrou os olhos por alguns instantes, seu corpo estava sendo tomado pelo cansaço e sua mente queria apenas um descanso de todas aquelas lembranças, mas elas eram piores que chiclete e fixaram não deixando um segundo de descanso. O moreno ainda escutava os gritos e as imagens da briga estavam bem frescas na sua cabeça, elas ainda doíam bastante. Lembrou-se do loiro gritando todas as palavras que ele nunca imaginou uma vez na vida que saíssem da boca daquele menino, mas o olhar de ódio foi o que mais o enfraqueceu. E num momento de revolta retirou sua aliança e jogou longe. O moreno suspirou e olhou para o céu novamente e a imagem do dia em que começaram a namorar penetrou nos seus pensamentos. A noite estava estrelada igual hoje sussurrou.

Andando calmamente o dono do par de olhos cor de mel buscava ao menos uma sombra de algo vivo naquela madrugada, mas nada tinha vida naquela madrugada. O loiro mesmo assim não desistiu, sentiu uma força lhe empurrando a continuar e buscar de volta seu amor. E assim foi caminhando e sentindo o toque do vento na sua pele deixando-a mais gélida e arrepiando toda sua espinha por mais que estivesse se aquecendo com o casaco o frio era maior.

Foi ai que ele olhou mais distante e notou um pequeno movimento no balanço da praça, no mesmo momento nada mais importava, não sentia mais o frio, não sentia mais dor e muito menos medo. Aproximou-se lentamente sentindo de longe o perfume que tanto adorava e conseguiu sorrir novamente. O moreno nem desconfiava da presença de outra pessoa, pois acabara adormecendo e só despertou com sentiu uns braços o envolvendo num abraço caloroso. Conhecia bem aquele toque e então deixou ser envolvido, mas não agüentou e virou-se para ver se não era apenas um sonho e se deparou com um loiro todo acabado.

Virou-se por completo ficando de frente para o outro rapaz esperando que ele falasse algo mais isso não veio, e o loiro apenas pegou aquele objeto no bolso do casaco e pegou a mão do moreno colocando de volta o que ele havia jogado fora. Ambos choravam novamente e sorriam feito bobo.

-Yuu, volta para mim. –pediu o loiro de forma carinhosa.

-Sim Shima, sempre que você pedir eu irei voltar. -sorriu o moreno.

-Yuu, eu te amo tanto. –abraçou o moreno.

-Shima, eu não vivo sem você. - retribuiu o abraço.

A lua que observava a prova de um amor verdadeiro resolveu presenteá-los e lançou sobre aqueles dois apaixonados uma fina chuva de neve deixando o clima mais romântico e apropriado para o próximo ato do moreno que foi agarrar ao cabelo do loiro e beijá-lo de forma tão intensa como nunca havia feito antes. E a noite se calou sendo possível ouvir apenas as batidas aceleradas e dois corações apaixonados.