Therapy escrita por Ammy Lockhart


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores :D Bem, essa fic se passa após o final da 6° temporada, então se você não assistiu ainda, sinta-se avisado que para você haverão alguns spoilers. Muito obrigada por virem e não deixem de comentar! :*



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- Você sabe como é... Morrer um pouco a cada dia? É algo como... Estar deitado em uma cova, tendo a certeza do que virá. Seu coração ainda bate e seus pulmões continuam enchendo de ar, mas os punhados de terra vão caindo lentamente sobre o seu corpo e você sabe que em breve será sufocado.

- Você precisa superar isso, Katherine. Já faz quase dois anos.

- E é como se fosse ontem. Eu fico revivendo tudo a cada momento. Simplesmente não consigo esquecer. Não quero esquecer.

- O que você revive exatamente? Diga para mim.

- Céus! Você já deve estar cansado de ouvir essa história. Eu mesma já perdi as contas de quantas vezes eu a repeti dentro dessas quatro paredes.

- Não importa. Conte-a mais uma vez. Externar os sentimentos, verbalizar as dores e as perdas, ajuda a superar o trauma.

- Espero que esteja certo, ou vou enlouquecê-lo com isso tudo.

- Está tudo bem, Katherine. Apenas diga. Aqui não há segredos, não há julgamentos, não há censuras. Tente ficar à vontade e comece quando quiser.

- Ok...

A mulher hesita por alguns instantes, decidindo se devia prosseguir com aquilo ou não. Falar sobre seus problemas, demonstrar seus sentimentos, expor suas fraquezas... Isso nunca fora fácil para ela. No entanto, se havia um lugar propício para isso, era ali.

Respira fundo e ajeita-se desconfortavelmente na bonita poltrona azul. Uma a uma, as palavras vão se formando em sua boca, como que por vontade própria, e pelo que parece ser a milésima vez, ecoam pela sala fria.

- Eu ia me casar. Estava pronta para isso. Tudo deu errado até aquele momento, como uma premonição desagradável do que estava por vir, mas jamais poderíamos imaginar. Por um instante, tudo estava onde deveria estar. As flores, os convidados, o vestido, os padrinhos... Nós nos falamos pelo celular. Não lembro ao certo se fui eu ou ele quem ligou. Estava tentando contatá-lo a um tempo já e quando nos falamos, estava eufórica demais para prestar atenção em detalhes desse tipo. Eles realmente não importavam.

Nossas palavras foram breves, ele estava dirigindo. Não é permitido falar ao telefone enquanto dirige. É perigoso demais. Por um tempo, fiquei me perguntando se não seria isso que teria causado o acidente.

A detetive sente os olhos marejarem, mas não se permite chorar. Torna a respirar fundo e então prossegue:

- No final das contas, conclui que não podia ser esse o motivo, eu já havia desligado a algum tempo. Acho que estava apenas tentando arrumar uma justificativa que me ajudasse a entender e aceitar melhor o que aconteceu.

Quando o telefone tocou novamente, eu pensei que ele faria uma espécie de brincadeira sobre o noivo atrasar no lugar da noiva. Atendi sem olhar na tela, afinal, se não fosse ele quem mais seria? Todos os nossos amigos e familiares estavam ali, não precisariam me ligar. Antes que eu pudesse ouvir a voz do outro lado da linha, esbravejei por ele já estar atrasado demais. Foi quando a mulher se pronunciou. Não reconheci a voz e só nesse momento finalmente olhei a tela do celular. Era o número dele. Então eu simplesmente soube que algo estava terrivelmente errado. “Você é a parceira dele, não é?” – A voz perguntou. “Seu número está marcado como contato de emergência.”

Antes que ela terminasse, eu já estava correndo pelos jardins, procurando desesperadamente o meu carro em meio a tantos outros dos nossos convidados. Parceira dele... Isso tudo começou como uma brincadeira idiota, mas logo nos tornamos parceiros de verdade. Castle provou inúmeras vezes que mataria e morreria por mim e eu também daria minha vida por ele sem pensar duas vezes. É isso que os parceiros fazem.

Quando eu cheguei lá e vi o carro dele naquele estado eu... Simplesmente não sabia o que fazer. Me senti completamente impotente. Eu precisava vê-lo. Os bombeiros ainda não haviam o encontrado. Não existe momento mais terrível do que esse, enquanto ainda não encontraram a vítima. É como dizem no meu trabalho: Se não há corpo, não há crime. É estupidamente terrível porque enquanto você não vê o corpo, a esperança de que tudo tenha sido um engano e que de alguma forma vá terminar bem permanece viva dentro de você. Enquanto você não comprova por si mesmo que a vida do outro simplesmente se extinguiu, acredita que ele pode estar a salvo de alguma maneira. Não demorou muito até que a paramédica me chamasse para reconhecê-lo. E então vi com meus próprios olhos e senti com meus próprios dedos que tudo estava perdido.

Kate se ajeita novamente na poltrona, lutando com sua garganta que teima em querer fechar. Espera alguns segundos antes de prosseguir, tentando em vão se acalmar. Em seu íntimo sabia que jamais conseguiria tocar nesse assunto sem sentir-se dessa maneira.

- Eu quase não fui ao seu enterro. Pensei que não conseguiria. Mas eu precisava, devia isso a ele. E devia também à Martha e Alexis. Elas me acolheram e me apoiaram incondicionalmente durante todos os momentos. Se para mim foi doloroso perder um futuro marido, para elas doeu ainda mais perder um filho e um pai.

Durante as semanas seguintes, tudo era um mar de dor e devastação. Eu não conseguia comer, não conseguia dormir, apenas chorava. Até que eu desmaiei. Não sei por quanto tempo fiquei desacordada ou o que aconteceu em seguida. A única coisa que me lembro é de estar conversando com Lanie em um momento e depois acordar em uma cama de hospital, com várias agulhas espetadas nos braços um médico grosseiro praticamente gritando comigo e me chamando de irresponsável. “Se você quiser abortar, existem métodos legais para isso! Não precisa ficar sem comer nada, como uma adolescente imatura com medo dos pais! Você é uma mulher adulta! Pelo amor do Santo Cristo! Podia ter morrido também, sua inconsequente! Chegou aqui desidratada e anêmica. Era isso o que você queria?! Morrer?! Porque essa não é uma das melhores maneiras de se fazer isso!” E foi assim que eu fiquei sabendo da existência do meu bebê. Devia ter sido especial, mas não foi. E se não fosse por Lanie ter entrado no quarto e gritado furiosamente com o babaca do médico, dizendo que eu estava de luto pelo meu noivo que morreu no dia do nosso casamento e que não sabia da gravidez, aquele homem teria continuado a me dizer coisas horríveis. E eu não consegui nem sequer ficar furiosa ou feliz. Apenas fiquei lá, quieta e muda, como em todos os outros dias desde que ele partiu. Sem expressar nenhuma espécie de reação esperada. Sem me alterar e gritar com o médico. Sem comemorar a notícia que havia acabado de receber. Era como se estivesse em stand by.

No dia em que ele nasceu eu... Não sei direito como explicar o que eu senti. Não sabia seu sexo, preferi não saber até o conhecer. Eu quis chorar. Mas não era de medo ou dor. Pelo menos, não dor física. Sou bem tolerante a ela. Policiais são treinados para isso. Eu já levei um tiro uma vez e se suportei aquilo, poderia suportar as dores do parto também. O que machucava de verdade era saber que Castle não estaria ali para segurar a minha mão. Não era justo que ele perdesse o nascimento do filho e mais injusto ainda é o fato de que meu bebê jamais conhecerá o pai. Martha e Alexis estavam lá. Elas são maravilhosas. Estamos lidando com tudo isso juntas. Independente do que aconteceu, somos uma família agora. Alguns dizem que ele nos acompanha em espírito, seja lá onde estiver. O senhor acredita nisso? Que os espíritos protegem aqueles que amaram em vida ou atormentam os que lhe fizeram mal?

- Não importa o que eu acredito, Katherine. O que você pensa sobre isso?

- Não acho que seja verdade. Minha mãe morreu quando eu era muito jovem. Foi assassinada. No começo eu realmente imaginava que ela continuava comigo, me vigiando, me protegendo, cuidando de mim. No fim de tudo, talvez seja apenas algo em que gostamos de acreditar, porque essa possibilidade faz doer menos. Por mais que eu quisesse que ele estivesse aqui, ele não está.

Quando eu olhei meu filho pela primeira vez, eu o enxerguei nitidamente. Não conseguia ver nada meu, apenas os traços dele. Os olhos azuis, o cabelinho castanho, a boquinha perfeita. Eu lhe dei o nome do pai: Richard Alexander Castle Junior. Costumo chama-lo de Alex. Isso me força a continuar lembrando que eles não são a mesma pessoa. O engraçado é que até na personalidade ele puxou ao pai. É muito divertido, sorridente e brincalhão.

- E como você se sente hoje? A respeito disso tudo?

- Alex é tudo o que importa agora. Por ele todas as coisas valem a pena. Castle é uma parte de mim e sempre será. Ele me ensinou a rir novamente, me fez sentir o que é um amor verdadeiro e me deu o maior presente que eu poderia ter, que é a vida do meu filho. Rick está em minhas veias, tanto quanto o sangue que corre por elas e é vital a mim da mesma maneira. Sei que ele não vai voltar, mas eu jamais vou esquecê-lo. Ele é parte de mim. Hoje eu consigo ver os meus traços também quando olho para o nosso filho. São mais sutis, mas estão lá. Eles se dariam muito bem. Se tem uma coisa que eu sempre admirei em Castle era a relação que ele tinha com a Alexis. Era um pai sensacional. Meu bebê saberá o tipo de homem que ele era. Eu faço questão de lhe contar coisas sobre Richard sempre, para que de algum modo, ele o conheça.

- Devo admitir que você apresentou uma melhora bastante significativa, Katherine. Durante os últimos meses, vem progredindo bastante. Na primeira vez que entrou aqui, mal disse uma dúzia de palavras e hoje já consegue contar a historia toda sem desabar em lágrimas e sair correndo. Você está superando. E faço questão de evidenciar algo que tenho dito desde o nosso primeiro encontro: Superar não significa esquecer. Ele continuará vivo dentro de você, nas lembranças felizes, nas fotos e até mesmo no seu filho. Mas você deve seguir em frente e creio que está quase pronta para fazer isso sozinha. Logo eu já não serei mais necessário.

- Fico feliz em ouvir isso, doutor. Muito obrigada.

- Está liberada. A não ser que queira dizer mais alguma coisa.

- Não. Estou bem agora. – Diz, levantando-se da poltrona azul. Oferece a mão ao médico, que a aperta e sorri amigavelmente.

- Adeus, Katherine. Te vejo na próxima quinta.

- Adeus, doutor.

A mulher sai do consultório e caminha pelos corredores da clínica, rumo à saída, sentindo-se mais leve, mais livre. Conclui que está realmente superando o sofrimento. Mas leva consigo uma única certeza: Por mais que a dor amenizasse, jamais desapareceria totalmente. Ela Jamais seria capaz de esquecê-lo. E mesmo que pudesse, jamais quereria.

~~cCc~~


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Notas finais do capítulo

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