Deliver Us From Evil escrita por abyssiniana


Capítulo 1
Deliver Us From Evil




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Balder Hringhorni era um homem de fé. Como qualquer bom Cristão, tinha cruzes em casa, uma Bíblia junto à cabeceira da cama, e sempre se fazia acompanhar de um terço. Orava todos os dias e seguia os mandamentos do seu Senhor. Era um homem casto e humilde. Poder-se-ia até dizer que era um homem temente a Deus.

Era suposto ser um domingo igual a todos os outros. Balder dirigia-se para a igreja como qualquer crente, quando ouviu música. Parando e seguindo o som - pois por muito bom homem que fosse, continuava a ser jovem e curioso - deu de caras com uma cigana a dançar nas ruas por dinheiro.

Mas esta não era qualquer cigana. Não, não podia ser. Não tinha pele e cabelos escuros como os outros. A sua pele era branca como porcelana, e os seus cabelos compridos eram ruivos, cor de fogo. Ela dançava como chamas selvagens na rua, descalça, as várias bugigangas que lhe adornavam os braços e vestes a tilintar com os seus movimentos, ao ritmo que os músicos exóticos ditavam. Mas o que mais enfeitiçou Balder não foi a sua dança, não - foi os seus olhos. Dois diamantes brancos sedutores, olhando para ele por detrás daqueles véus semitransparentes. Por momentos, Balder sentiu-se uma serpente, enfeitiçada pelo seu encantador.

Sem se aperceber, deu por si a encontrá-la todos os dias. Ou talvez fossem os seus pés que se moviam sozinhos até a encontrar. Aquele corpo, aqueles movimentos, aqueles olhos... Foram o suficiente para o cativar eternamente.

Belle

C'est un mot qu'on dirait inventé pour elle

Quand elle danse et qu'elle met son corps à jour, tel

Un oiseau qui étend ses ailes pour s'envoler

Alors je sens l'enfer s'ouvrir sous mes pieds

Não muito tempo depois, houve um festival na vila onde Balder habitava, e a comunidade cigana aproveitou para se exibir um pouco mais. Ou pelo menos, para exibir as suas beldades.

E claro, Balder lá estava, como tantos outros, para ver só aquela cigana, aquela beleza única e rara. As suas vestes, vermelhas como o seu cabelo, e os acessórios dourados com que as adornava lembravam uma dança de fogo, talvez do Inferno. Mas o seu corpo, oh, o seu corpo invocava em qualquer humano o Jardim do Éden, o Paraíso... Não era um corpo tão curvilíneo como o das outras mulheres, talvez, mas o que lhe faltava em peito e ancas era compensado pela sensualidade dos seus movimentos.

Ela era como uma rosa no deserto, e cada um dos seus véus era uma sedutora promessa secreta. Nenhum outro perfume o encantava – ou torturava – tanto como o dela.

J'ai posé mes yeux sous sa robe de gitane

À quoi me sert encore de prier Notre-Dame

Quel

Est celui qui lui jettera la première pierre

Celui-là ne mérite pas d'être sur terre

Balder só conseguia olhar para ela, para a sua cintura, para os seus pés descalços, para as suas mãos delicadas, para a perfeição do seu rosto... Aquela cigana era divinal em todos os aspectos… E no entanto, sentia-se a pecar. Portanto fez o que achou que devia fazer – voltou à igreja, confessando-se. Certamente isto não passava de um teste, posto em prática pelo seu Senhor, para testar a sua pureza. Aqueles movimentos de fogo... Eram certamente obra do Diabo, um jogo para o deixar cair na tentação e roubar-lhe o lugar no Céu. Tinha que ser... Certo?

Belle

Est-ce le diable qui s'est incarné en elle

Pour détourner mes yeux du Dieu éternel

Qui a mis dans mon être ce désir charnel

Pour m'empêcher de regarder vers le Ciel

No entanto, Balder não se quis ficar só pelas aparências. Certamente aquela jovem fazia aquilo porque tinha de o fazer, não é verdade? Portanto, após a ver dançar um dia, aproximou-se dela.

M-menina? – Ela virou-se, o seu cabelo dançando com o vento, rodopiando em volta dela. O sorriso dela era absolutamente perfeito.

Sim?

A-Ahm…– Balder não sabia o que dizer, portanto estendeu-lhe a flor que tinha colhido do seu jardim; era vermelha, a sua cor. – A... A menina dança muito bem, e é muito bonita... É para si. – O sorriso dela apenas aumentou.

Muito obrigado, senhor...? – Aceitou a bela tulipa e cheirou-a, aguardando resposta do loiro.

Hringhorni. Balder Hringhorni. Mas pode tratar-me por Balder…

Nesse caso, muito obrigado, Balder. Diga-me, não é a primeira vez que o vejo, pois não? – Perguntou ela. – Tem-me observado estes últimos dias, não é verdade?

Balder sentiu-se corar.

– É que... É que...

Ela soltou uma risadinha inocente.

Não tem qualquer problema, Balder. É sempre bom ter um admirador!– Comentou ela, piscando-lhe o olho. Balder reparou nos três pequenos sinais que ela tinha debaixo do olho direito; estavam posicionados como reticências. Ocorreu-lhe que seria uma metáfora para como o deixava sem palavras. - Por favor, volte. Será sempre bem-vindo!

Foram as últimas palavras dela, antes de regressar, o seu cabelo como uma cascata vermelha, baloiçando atrás dela.

Não, não podia ser obra do Diabo. Era demasiado inocente, demasiado jovial. Será que ainda era virgem? Não, não, não, Balder, não deves ter este tipo de pensamentos impuros!, castigou-se a si próprio, benzendo-se. Não. Tinha que ser o Diabo encarnado nela. Porque outra razão ela o fazia sentir-se assim, e acordar incomodado tantas e tantas noites porque sonhou com ela? Balder sonhava com o fogo na forma do corpo dançante da bailarina, na forma do seu desejo.

Por muito que pensasse assim, Balder não se conseguiu afastar dela. Pelo contrário, só se aproximou mais. O seu nome era Loki, e não tinha nascido cigana, mas tinha sido encontrada quando era bebé por uma família de itinerantes nómadas que a tinham acolhido. Balder já a tinha trazido a casa várias vezes, não fosse ser visto na rua com ela. Toda a gente a tomava a ela e às outras ciganas que dançavam na rua como putas, e um homem de fé como ele ser visto com alguém como ela seria uma vergonha. Mas quando mais ele a conhecia, mais duvidava destas conclusões. Aliás, ela parecia muito mais humana do que tantas outras que andavam aí. Certamente... Certamente desejá-la não era um pecado...

Elle porte en elle le péché originel

La désirer fait-il de moi un criminel?

Celle

Qu'on prenait pour une fille de joie une fille de rien

Semble soudain porter la croix du genre humain

–x-

Loki suspirou quando regressou à sua caravana após um dia de dança nas ruas. Desapertou a faixa de tecido que lhe cobria o peito e deixou-a cair levemente ao chão, expondo o peito que era demasiado masculino para ser de uma mulher, e trocou a saia por umas calças mais confortáveis, os genitais masculinos perceptíveis debaixo da sua roupa interior. Uma risada alertou para a presença de mais alguém, e o ruivo empunhou uma adaga para se defender, até que a natureza daquela risada denunciou a identidade de quem se aproximava.

Ah… Não me assustes assim, Thor... – Disse. O intruso era um homem bastante alto, de curtos cabelos esverdeados e com uma cicatriz na zona lateral da cabeça em forma de relâmpago. Este revelou-se das sombras, sentando-se num banco improvisado de braços cruzados sobre o peito desnudo.

Mil perdões, querida. Então, como correu o teu dia?

Cansativo, como de costume. Para a próxima levo um balde para segurar a baba daqueles aldeões, senão ainda escorrego nela enquanto danço. – Brincou. - E o teu?

Diz-me. Estiveste com Balder outra vez, não foi?

N-não…

Podes-me dizer a verdade… Tendo em conta que eu já sei a resposta.– Thor era o vidente da comunidade. Desde há muitos anos que se havia provado que os seus conselhos e premonições estavam certos. Assim, ele também adivinhava uma mentira ou uma verdade oculta tão facilmente com um simples olhar analítico.

... Está bem, está bem. Estive com ele. E então?– Perguntou Loki, obviamente jogando na defensiva.

Nada, nada! – Falou o outro, erguendo as mãos, mostrando que não desejava nada de mal. – Só me pergunto quando, e se, lhe vais contar a verdade sobre ti. Ele ainda acha que o teu corpo é o de uma mulher, não é mesmo?

... – Loki ficou a pensar durante uns longos momentos, para depois voltar os olhos preocupados para Thor. – E… E se ele me rejeita?

Oh, minha jóia, tenho um pressentimento que não será isso que o irá dissuadir.– Thor sorriu, e Loki acompanhou-o. Se ele o dizia, é porque era verdade.

– Falarei, então. Obrigado, amigo.

Hehehe... De nada. Só quero o melhor para ti. – Levantou-se, traçando caminho até se ver atrás do ruivo. Contornou a cintura deste com os braços fortes. – E se, por ventura, ele te rejeitar, posso ter-te só para mim outra vez?

Os dois riram.

–x-

No dia seguinte, lá estava ele. No meio de tantos homens rudes que a pareciam devorar com o olhar, estavam os límpidos e tímidos olhos azuis de Balder. Loki sorria para ele com uma doçura que não entregava aos outros. Pouco tempo depois de ele chegar, ela arrumou as coisas e juntou-se a ele, caminhando um pouco atrás dele - não fosse alguém pensar que estavam juntos - em direcção a sua casa. Com cada passo, Loki ficava mais e mais nervoso. E se Thor estivesse errado desta vez? Nem todos os dardos acertavam no alvo, mesmo sendo o jogador com mais pontaria…

Balder?... Tenho uma coisa para te contar.– Disse ele por fim, já em casa dele, com um prato de biscoitos de manteiga e uma chávena de chá verde à sua frente, como o loiro sempre o servia.

Hm?– Loki sentia os olhos do outro homem pousados nele, mas não se atrevia a estabelecer contacto visual.

Acho que devias saber...– Era agora ou nunca. A sua campa já tinha sido cavada há muito tempo, de qualquer maneira. - Eu não sou o que tu pensas...

Como assim? – Balder não entendera de todo o significado das suas palavras. Pudera, eram demasiado crípticas.

Eu... – Respirou fundo e pousou a chávena com as mãos trémulas e nervosas. Fosse o que Deus quisesse. - ... Eu não sou uma mulher. – O silêncio que se instalou entre eles era de cortar à faca.

C...Como?

Deixa-me explicar, por favor.– Disse, finalmente voltando os olhos para o cristão. – Foi a condição que me foi proposta para continuar na caravana… Tinha de trabalhar com eles, e eu não sabia fazer mais nada a não ser dançar! Claro que mais escandaloso do que um homem vestido de mulher, é um homem a fazer dança do ventre… Balder... Tinhas que saber mais tarde ou mais cedo… Desculpa…

And as she turns

This way she moves in the logic of all my dreams

This fire burns

I realize that nothing's as it seems

... Sai daqui. – O tom de Balder era calmo e controlado. – Agora.

Bal-, por favor... – Mal notou que a sua voz quebrava a cada sílaba.

SAI!– Gritou ele, batendo com os punhos cerrados na mesa e atirando ao chão o prato e as chávenas de porcelana. - SAI DAQUI, PUTA DO INFERNO! SAI DESTA CASA!

Levantando-se apressadamente, Loki fugiu da casa de Balder o mais rápido que os seus pés descalços o levavam.

De todas as vezes que Thor podia se enganar, tinha que ser esta. Porquê, Deus?, perguntou Loki para si próprio. Imaginou que se ele próprio fosse Deus, faria um melhor trabalho a traçar destinos.

Correu para o acampamento cigano, e Thor não precisou de explicações quando o ruivo entrou na sua caravana lavado em lágrimas. Apenas o segurou no seu colo enquanto este chorava, afagando-lhe o cabelo e dizendo-lhe que ia ficar tudo bem, apesar de se sentir miserável por indirectamente ter causado o seu sofrimento.

–x-

Balder deixou-se cair na cadeira e afundou a cabeça nas mãos quando Loki saiu, suspirando. O primeiro amor da sua vida era... Um homem? Mas parecia tanto uma mulher... Talvez não tivesse tanto peito ou ancas, mas... Agora tudo fazia sentido. Tinha, tinha que ser obra do Diabo, sim. Dirigindo-se para o quarto, ajoelhou-se junto à cama, voltando os olhos para a cruz na parede e pedindo perdão a Deus por ter cometido o nojento pecado de ter desejado um outro homem.

As orações foram longas, mas assim que foram concluídas, Balder sentou-se na cama, ficando a olhar para a lareira acesa. As chamas serpenteantes do fogo lembravam-lhe o corpo de Loki, esguio e sedutor, adornado pelo fogo e pelos seus véus, o crepitar das chamas vagamente invocando o som das suas pulseiras a chocalhar nos seus braços. Tudo nele eram véus, promessas, perfumes, sedução, fogo... Véus adornando-lhe o corpo, belo e perfeito em todas as suas imperfeições, promessas de mundos distantes dentro desse corpo, perfume de incenso adornando-o, fogo no seu cabelo, nas suas vestes... Línguas de fogo lambendo-lhe o corpo, afeminando mas masculino, línguas de homens, a língua de Balder, as mãos, os dedos de Balder explorando-lhe o corpo despido, acariciando-o, beijando-o...

E diz-me, Maria, porque ao vê-la a dançar

Sinto o meu corpo a pecar

Eu vejo-a, e sinto

O meu desejo a incendiar

Se era assim tão imoral... Porque é que Balder continuava a amá-la... A amá-lo?

É fogo do inferno, na minha carne a arder

Secreto, desejo, vou ceder ao prazer

Eu sou humano, não resisto à tentação

–x-

No dia seguinte, os movimentos de Loki não tinham atraído tantos homens. Eram mais pesados, mais desprovidos de vida, mais desanimados. Quase enferrujados. Ele não queria dançar. Mas tinha que o fazer. Bebeu um copo de água quase de embute, antes de regressar ao tapete.

Ver Balder de novo foi uma surpresa para ele. O loiro fez-lhe sinal com a cabeça para que este o seguisse, e assim que o dançarino terminou o seu número correu pelo beco, dobrou a esquina e subiu os pequenos degraus da casa do outro homem. Hesitou um pouco, mas a porta entreaberta era um convite irrecusável. Atravessou-a.

P-Porque me trouxeste aqui? Fiquei longe do teu caminho para que não me tivesses de ver...– Explicou Loki, os seus braços abraçando o próprio corpo, parecendo muito mais frágil do que realmente era; ou então Balder é que nunca tinha reparado na sua fragilidade.

Queria desculpar-me por ontem. Não te devia ter tratado daquela maneira.

Não te preocupes. Reagiste como qualquer outro teria reagido. Não te culpo. – Encolheu os ombros e preparava-se para regressar, internamente desiludido. Foi parado por um par de mãos fortes nos seus ombros, que o voltaram para o loiro.

Não é só isso. Loki... Mulher ou não... Apaixonei-me por ti. Quero-te... Não soube como reagir ontem, mas... Mas sei que o que sinto por ti não é apenas físico, ou sentir-me-ia enojado só de te tocar assim. No entanto, não sinto isso. Muito pelo contrário, quero é tocar-te mais... Loki..."– O tom de voz de Balder baixou e ele aproximou a cara da de Loki. - Amo-te...– Murmurou, fechando o espaço entre eles, pressionando os seus lábios contra os do seu amor.

Tout l'or qui dort encore
Sous le lit de la terre
J'en couvrirais ton corps
Que tu m'auras offert

Dentro de momentos estavam no quarto do loiro, as mãos de Balder explorando o corpo seminu de Loki como se tinha imaginado a fazer a noite anterior. E como fazia nos seus sonhos, desde que o conhecera. O seu corpo era muito mais belo do que o de qualquer mulher... Fazia o seu coração bater descompassadamente; ou assim parecia, mas a verdade era que batia ao exacto ritmo do coração do ruivo, criando uma melodia surda entre os dois.

O maior tomou-lhe os lábios com vontade, sentindo o sabor a especiarias picantes, que derretiam e o provocavam no baixo-ventre com um ardor excitante. Sentiu a língua do outro insistir para entrar na sua boca. Abriu-a, permitindo aquela investida exploradora. Todo o seu corpo tremeu quando a mão de Loki adentrou dentro da sua camisola, para a remover e logo tocar o seu peito. Os beijos espalharam-se pelo seu pescoço, enfim, pelo seu peito, enquanto o dançarino se acomodava no seu colo. Lentamente, rebolou, recebendo carícias e gemidos de aprovação por parte do loiro.

As carícias, inevitavelmente, tornaram-se mais íntimas, mais pessoais, e dentro em breve Balder estava a descobrir interior do corpo do ruivo com dois dedos longos. Era quente como o Inferno mas muito, muito mais agradável do que a Bíblia fizera acreditar.

Movia os dedos lentamente, deliciando-se com o prazer que Loki suspirava, com doces gemidos e o arquear das suas costas.

N-Nya! B-Balder…

Removeu as suas próprias calças, um empecilho entre os corpos, e acariciou a entrada do ruivo com a glande, enquanto este mordiscava e lambia a cartilagem da sua orelha.

H-Hgn! – Loki manifestou as suas sensações fincando as unhas nas costas brancas de Balder, sentindo-o tocar a sua próstata.

Com q-quantos homens já fizeste isto? – Perguntou ele, penetrando mais dentro daquele orifício proibido no corpo de Loki.

S-só um, para além de ti. – Murmurou o ruivo entre suspiros mistos de dor e prazer. - Estávamos praticamente noivos, mas ele leu nas suas cartas que não era a nossa hora.– A confissão surpreendeu Balder. Tinha a vaga sensação que Loki era muito mais promíscuo, mas tinha-se enganado. Aliás, tinha-se enganado sobre muita coisa a respeito do outro homem.

Amo-te. Serás só meu.

Tous les mots de l'amour
Tous les mots du désir
Tu sauras me les dire

Em breve estavam os dois entrelaçados na cama, recuperando o fôlego, o ruivo enroscado em volta de Balder. O momento não durou muito, pois Loki olhou pela janela e reparou que já era noite, levantou-se e vestiu-se.

Raios! Tenho de voltar, já é tarde, e se me apanham aqui...– Balder sentou-se na borda da cama, compreendendo perfeitamente.

Vemo-nos amanhã?– Perguntou a Loki. O outro assentiu com a cabeça, fazendo Balder sorrir. O dançarino voltou para ele depois de se vestir, beijando-o levemente. - Amo-te.

Ne cherche plus l'amour
(Il est là)
Il est là pour toujours
(Je le crois)
Ce sera un beau jour
Que le jour où l'on se mariera

–x-

Era suposto eles terem-se encontrado no dia seguinte. No entanto, a vila estava num alvoroço, e Balder não percebia porquê. Interceptando um homem que se dirigia para a praça, o coração de Balder parou.

"Não ouviste? Uma das "ciganas" afinal é um gajo. Vai ser julgado de sodomia. Anda ver, a fogueira já está montada."

Não... Não, não podia ser. Balder correu para a praça, pedindo a Deus que fosse mentira.

Our Father who art in heaven

Hallowed be thy name

Infelizmente, não era. A fogueira já estava montada, sim, e a vila em peso estava lá para assistir, aplaudindo aquele procedimento cruel. Balder observou, petrificado, enquanto Loki era arrastado para a pira.

Thy kingdom come

Estamos hoje aqui reunidos para julgar este homem...– Balder só conseguia ouvir partes do discurso. Os seus olhos estavam pousados em Loki, que chorava compulsivamente. - ... Heresia e sodomia...

Thy will be done

On earth as it is in heaven

Do outro lado da praça, Thor também chorava. Começava a duvidar das leituras das suas cartas; o posicionamento das estrelas ditava que ia ser um bom dia… Amaldiçoou-se em silêncio.

Give us this day our daily bread

Loki estava a ser amarrado à pira. Os seus olhos procuravam Thor e Balder, pedindo-lhes perdão através das lágrimas que derramavam. Mas essas lágrimas não eram o suficiente para apagar o fogo que lhe tinha sido ateado junto aos pés descalços.

And forgive us our trespasses

As chamas erguiam-se à sua volta, e o coração de Loki batia cada vez mais rápido. Medo. Medo da morte, medo do fogo... Mas acima de tudo, lamento, por não poder voltar a ver Balder.

As we forgive those who trespass against us

Oh, Balder não conseguia ver mais. Não conseguia ver as línguas de fogo devorar o corpo de Loki, língua essa que não era a dele. Não conseguia ver o fogo a queimar-lhe a pele alva e etérea. Não conseguia ouvir os seus gritos.

And lead us not into temptation

Afastando-se da praça, Balder tomou a pequena adaga que trazia consigo por segurança. Com o alvoroço da multidão e os gritos de Loki como melodia de fundo, o bom homem cristão benzeu-se e pediu perdão ao seu Senhor, não só por si mas por Loki também, antes de mergulhar a adaga no próprio peito. Ele não ia perder o amor da sua vida assim tão rápido. Que se encontrassem ambos no Céu - ou no Inferno.

O fogo do dançarino apagou-se juntamente com o fogo da vida de Balder, da sua paixão. O único fogo que agora restava era o que lentamente devorava o corpo do ruivo. A última coisa que Balder ouviu foram os gritos lancinantes de Loki, pedindo perdão a Deus pelos seus pecados, antes da Morte o acolher a ele também.

But deliver us from evil

Amen.


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Notas finais do capítulo

Não me odeies, bae. ♥



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