“Enquanto puder olhar sem medo para o céu, saberá que é puro por dentro, e encontrará a felicidade outra vez.” - O Diário de Anne Frank

Me virei para trás e vi Victória, percebi que tinha raiva nos olhos dela, provavelmente, como eu, ela já me considerava como sua pior inimiga.

–Você não é a riquinha da escola? – Falei com um tom de ironia – porque está em um ônibus escola cheio de “pessoas pobres”?

–Onde está sua amiguinha? – Victória falou ignorando minha pergunta

–Isso não é do seu interesse! – Falei me levantando e ficando na frente dela

–Se eu estou perguntando é claro que é, me responde agora, onde está a Alice?

Dessa vez não precisei falar nada, Nick se levantou da cadeira e foi andando até onde estávamos, ele me afastou um pouco dela e ficou na minha frente.

–Deixa ela em paz!

–Não se mete, Nick! Isso é entre eu e ela

Vi que mais uma pessoa estava entrando, quando virei para trás vi o Lucas. Meu coração começou a acelerar ao vê-lo. Ele estava com os fones de ouvido pretos, mas tirou eles quando me viu brigando com a Victória.

–Você não tem o direito de tratar ele assim! – Falei gritando

–Eu posso tratar ele como eu quiser, minha classe social é bem mais alta do que a de todos vocês juntos!

Victória me empurrou e eu caí para trás, mas o Lucas me segurou e me ajudou a ficar de pé novamente, depois foi até Victória e falou.

–Ninguém se importa se você é riquinha ou não, não se mete mais com a Bia, senão você vai estar se metendo comigo!

O ônibus começou a andar e Victória foi se sentar no lugar dela, eu e Nick se sentamos também, Nick se sentou perto da janela e eu do lado dele.

–A gente não precisava da sua ajuda, estávamos muito bem sozinhos. – Nick falou olhando para Lucas com uma cara de raiva

–Não é o que parecia – Lucas olhou rápido para mim, depois lançou um olhar de raiva para Nick.

–Obrigada, Lucas... – Falei tentando acabar com aquele clima tenso entre eles

–De nada, Bia, sempre que essa menina quiser arrumar briga com você é só me chamar que eu dou um jeito nela.

Lucas deu um sorriso e pude perceber que ele tinha covinhas. Seu sorriso era lindo, não era tão branco quando o do Nick, mas tinha um certo brilho. O ônibus parou no meu apartamento e eu desci, Lucas vinha atrás de mim, estranhei, pois não sabia que ele morava perto daqui.

–Você mora perto daqui? – Perguntei quando saí do ônibus

–Não muito, mas faço aula de violão em uma casa que tem na esquina.

–Você toca violão? – Perguntei surpresa

–Sim, ainda não sei tocar muito bem, mas já estou conseguindo tocar algumas músicas... Você toca algum instrumento?

–Não, só canto mesmo...

–Entendi... Preciso ir, se cuida, Bia

Nos abraçamos e na hora do abraço dei um beijo na bochecha dele. Devo ter ficado muito vermelha, pois ele riu um pouco da minha cara após o beijo.

Entrei, falei com o porteiro e subi pelo elevador até o 10° andar, onde ficava meu apartamento. Entrei em casa e fui no meu quarto, onde comecei a escrever outro poema.

Finalmente eu te encontrei...

Finalmente te encontrei
Não sei se foi coincidência
Ou simplesmente obra do destino
Mas mais uma vez te vejo aqui
Como se nunca tivesse sumido

Meu príncipe encantado
Que aparece todos os dias
Em meus sonhos
Que aparece sempre
Em meus pensamentos

Sonhei muitas vezes
Com o dia em que te encontraria
Mas agora que encontrei
Só quero a sua companhia

Esse dia finalmente chegou
E hoje te vejo aqui
Com um sorriso no rosto
E com uma flor em suas mãos

Não sei o que me fascina mais
Se são seus olhos ou sua boca
Se é teu carinho ou bom-humor
Finalmente te encontrei
E nunca mais te esquecerei
Bia

Depois de terminar o meu poema fui para a cozinha e fiz meu almoço, minha mãe tinha saído para trabalhar um pouco antes de eu chegar em casa. Ela vendia alguns produtos como perfumes, esmaltes, maquiagens, em uma banquinha que tinha no centro da cidade.

Fui para o meu quarto, tomei um banho e vesti uma blusa amarela de alças e um short um pouco curto.

Eu estava cansada depois do meu primeiro dia de aula e da discursão no ônibus, me deitei na cama e comecei a relembrar do meu dia e quando percebi eu tinha dormido.

Tive um sonho estranho, eu estava sozinha na escola, não tinha mais ninguém lá, então comecei a andar, tudo estava escuro, sombrio e todas as salas estavam trancadas e eu estava começando a ficar assustada, quando, de repente, aparecem a Victória, Isabella e Júlia.

–O que você está fazendo aqui? – Victória perguntava com uma voz estranha, rouca

–Fasso a mesma pergunta a vocês

–Um passarinho nos contou, que seu amiguinho, Lucas, estava aqui – Júlia falou com uma voz sinistra

–E o que vocês querem com ele? – Falei um pouco assustada

–Nós vamos fazer ele pagar por tudo que ele falou no ônibus hoje – Victória falou

–O que vocês vão fazer com ele? – Perguntei assustada

–Isso não é da sua conta!

Isabella me empurrou me fazendo cair e bater a cabeça no chão, dessa vez não tinha ninguém para me segurar. Fiquei caída no chão, desacordada, mas comecei a ouvir vozes do Nick.

–O que vocês fizeram com ela?!

–Demos o que ela mereceu – Isabella falou

De repente elas seguraram ele pelas costas e fizeram um grande buraco negro e puxaram ele para lá. Eu estava me levantando quando Victória me empurrou para dentro do buraco negro, mas ouvi uma voz gritando meu nome.

–Bia! Segura minha mão!

Era o Lucas, segurei sua mão e ele me puxou para fora do buraco e tudo começou a sumir, a ficar escuro.

Acordei assustada com batidas na porta do meu quarto, era minha mãe. Depois que ela entrou colocou um pacote de biscoitos com suco de maracujá perto da minha cama.

–Você está bem? – Minha mãe perguntou com um tom preocupado

–Sim – Tentei tranquiliza-la – Não se preocupe

–Como foi o primeiro dia de aula? Conheceu muitos meninos por lá?

Me assustei com a pergunta, pois minha mãe nunca tinha falado sobre meninos comigo antes, depois vi que o poema que eu tinha escrito ainda estava em cima de minha escrivania.

–Não... Só conheci dois meninos lá...

–E o que significa aquele poema ali em cima? – Minha mãe aponta para o poema que eu escrevi quando cheguei da escola

–Ah... Isso? Bem... Isso foi um poema que eu escrevi só por escrever mesmo... – Falei tentando inventar uma desculpa – A senhora sabe que eu adoro escrever, não é?

–Sei... E como sei... – Ela falou com sarcasmo – Daqui a pouco você vai fazer um livro romântico com esses textos e poemas que você escreve.

Ri do jeito que ela falou, depois ela saiu do meu quarto e foi para a sala. Comi meus biscoitos e tomei o suco e fui ler o livro O Morro dos Ventos Uivantes.

Quando terminei de ler fui tomar um banho, vestir meu pijama lilás e pantufas rosa, e dormir, sem sonhos estranhos dessa vez, na verdade, não me lembro de ter sonhado essa noite.

Depois que acordei, exatamente às seis da manhã, fui tomar banho e vestir minha roupa para a escola. Vesti uma blusa vermelha de mangas longas, um casaco verde, pois estava fazendo um pouco de frio lá fora e uma calça jeans, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, tomei café da manhã e fui pegar o ônibus para a escola.

Quando cheguei lá vi Rebeca e Lua conversando no portão do colégio.

–Olá!

–Oi Bia, tudo bem? – Lua perguntou

–Tudo sim, e com você

–Tudo

–Oi Bia – Rebeca falou – O que está achando da nova escola?

–Aqui é bem legal e algumas pessoas também

–Que bom que está gostando – Lua falou

–Somente algumas pessoas? – Rebeca perguntou, percebi que queria saber quem eram essas pessoas.

Antes que eu pudesse responder, Lua falou.

–Acho que já sei quem são... São aquelas patricinhas da sua sala, não é?

–Isso mesmo

–Ninguém aguenta essas patricinhas, elas são ricas e se acham superiores a todo mundo – Rebeca falou – O que elas fizeram para você?

–Ficaram me chamando de pobre, falando das minhas roupas e no ônibus a Victória me empurrou e eu quase caí no chão.

–Elas são insuportáveis! – Percebi que Rebeca estava perdendo a paciência

–Eu sei disso, mas não se preocupe, se elas se meterem comigo de novo vão se arrepender

O sinal tocou e fui para a sala. A primeira aula foi da Martha, como no dia anterior, ela era a professora de história.

–Bom dia turma! Hoje vou fazer um sorteio para um trabalho sobre as pirâmides do Egito, podem pesquisar sobre elas em livros, na internet, onde quiserem.

Ninguém gostou da ideia de ter que fazer um trabalho logo no segundo dia de aula. Martha explicou como deveria ser feito o trabalho e depois colocou nomes de cada uma das pessoas da sala em uma caixinha, para fazer um sorteio.

–Vamos começar... – Ela disse pegando dois papéis – E a primeira dupla vai ser Beatriz e...