Corri o mais rápido que pude até a praia. Se ela não estivesse lá, eu não sabia mais aonde procurar. Enxuguei as lágrimas que insistiam em escorrer pelo meu rosto.

Ao chegar na praia, vi Ana sentada em uma rocha, olhando para o mar. Aproximei-me com calma para perto dela, para ela não perceber que eu estava lá, pois parecia ainda com raiva. Ela estava com olheiras e os olhos inchados, provavelmente, como eu, não havia dormido a noite toda e havia chorado muito.

–O que você quer? – Ela fala ainda séria, sem desviar o olhar

–Eu posso explicar o que aconteceu ontem

–Eu não quero ouvir explicação nenhuma que venha de você – Ela falou ainda séria

Suas palavras soavam fracas, ela parecia querer chorar novamente, mais tentava esconder isto.

–Me escute, por favor...

–Sai daqui

–O que? – Perguntei um pouco surpresa

–Você sabe tudo que eu passei da última vez, sabe que odeio chorar e faz-me chorar por coisas idiotas – Ela virou-se para mim e percebi que estava chorando, pouco, mas estava

–Ana... – Eu não consegui falar mais nada além disso

Senti pontadas em meu coração. Em ver a Ana chorando e saber que o motivo daquilo era totalmente meu. Cada letra e cada palavra do que ela falava atingia-me como flechas sendo atiradas em meu corpo.

–Você... Eu nunca esperava isso de você...

–Se você pudesse me escutar...

–Não! – Ela falou levantando-se da rocha – Dá última vez que escutei alguém eu só levei pontadas no meu coração. Não quero ouvir isso de novo de ninguém, muito menos de você.

Ela saiu correndo, sem dizer mais nada. Eu queria correr atrás dela, mas minhas pernas não obedeciam-me mais. Minha vista estava ficando embasada devido as lágrimas. Sentei-me na areia, encostada em uma das barracas de praia, coloquei minhas pernas entre as minhas pernas e chorei. Chorei até sentir uma mão tocar meu ombro. Olhei assustada e vi que era apenas Alice.

Ela estava com olheiras, como eu e Ana. Percebi que ela sentia-se culpada pelo que havia acontecido no dia anterior.

–Bia, finalmente te encontrei! – Ela falou sentando-se em meu lado

–A-Alice? – Falei ainda surpresa – O que você está fazendo aqui?

–Vim te procurar

–M-Me procurar? Como você...

–Não consegui dormir depois do que aconteceu ontem, então fui na sua casa. Pela hora, eu sabia que sua mãe já estava acordada e sabia que você também não conseguiria dormir. Quando eu cheguei lá ela me falou que você e Ana haviam sumido. Fiquei preocupada e vim procura-las

Percebi uma expressão de culpa em seus olhos.

–Obrigada por vim – Falei enxugando algumas lágrimas que passavam pelo meu rosto

–Eu sei que foi errado ter te seguido, mesmo sabendo que vocês não estavam falando nada demais. Admito que a culpa foi minha e...

–Shhh – Falei abraçando-a – A culpa não foi sua, eu estava nervosa, coloquei a culpa na primeira pessoa presente naquele momento, e, no caso, era você.

–Claro que foi... – Ela disse retribuindo o abraço

–Cale-se! – Falei de uma forma um pouco agressiva, mas logo sorri, e ela entendeu que eu estava apenas

–Então – Ela falou quando nos desvencilhamos do abraço – Onde está a Ana?

–Não sei, ela saiu correndo há pouco tempo...

–Além da praia, que outro lugar ela mais gostou?

Pensei um pouco antes de responder.

–O parque

–O parque? – Ela perguntou surpresa

–Sim, sabe aquele lugar mais calmo de lá?

Ela assentiu e eu prossegui.

–Ela adorou aquele lugar. Provavelmente, está querendo ficar sozinha, então deve ter ido para lá

–E lá está bem mais calmo agora, as pessoas devem estar acordando agora, então não tem ninguém por lá agora.

Assenti, levantamo-nos e fomos até o parque. Quando cheguei lá, vi Ana com a cabeça entre as pernas, encostada na árvore. Aproximei-me com cuidado e pedi para Alice manter-se um pouco afastada. Respirei fundo e toquei-a.

–Ana?

Ela olhou-me, assustada, mas logo desviou o olhar.

–Sai daqui – Ela murmurou, em um tom que apenas eu pude ouvir

–Por favor – Falei sentando-me ao seu lado – Me escute, não vou falar as mesmas coisas que a Sophia...

–Não toque no nome dela – Ana falou interrompendo-me

–Tudo bem... Mas, eu juro que se você escutar-me você vai entender e ver que tudo foi um mal-entendido.

Ela olhou para Alice, que estava em uma pequena distância de nós.

–Pode deixar-nos a sós, por favor? – Ela perguntou séria para Alice

–Claro... – Alice falou indo para o outro lugar do parque

Ana levantou-se, enxugou suas lágrimas e sentou-se em um banco. Fiz o mesmo e tornei a olhá-la.

–Pode falar – Ela falou com o mesmo tom de seriedade

–Primeiramente, eu menti, eu não estava falando com Alice naquela manhã.

Ela me olhou surpresa, e, ao mesmo tempo, decepcionada.

–De noite, eu fui conversar com ele exatamente para conversar sobre isso, mas Alice nos seguiu e esbarrou no Nick, fazendo-o derrubar os colares.

Percebi por sua expressão que ela estava tentando “processar” tudo que eu estava falando. Apesar disto, sua expressão ainda mostrava um pouco de raiva. Fiquei um tempo calada, para saber se ela entendia tudo que eu estava falando naquele momento.

–Prossiga – Ela falou quando percebeu que eu estava esperando ela falar algo

–A Alice foi pegar os colares – Continuei a falar – E eu também...

–E ela pegou dois, você pegou os outros dois e ela apenas estava te devolvendo-os, é isso? – Ela falou interrompendo-me

–Sim, é isso.

Ela deu um suspiro e levantou-se, ainda séria.

–Aonde vai? – Perguntei

–Para casa, você também deveria ir, daqui a pouco é a hora da sua escola, não é?

–É sim – Respondi – Então, você desculpa-me?

Ela apenas deu um pequeno sorriso e saiu andando, com as mãos nos bolsos da calça. Interpretei aquilo como um sim e segui-a. Quando chegamos no parque, vi que estava um pouco movimentado, com pessoas passando por lá para trabalhar ou ir para a escola. Alice também estava lá, sentada em um dos bancos.

–Então, como foi? – Ela cochichou levantando-se do banco

–Acho que ela perdoou-me – Cochichei

–Que bom... – Ela falou dando um pequeno sorriso

Alice foi para casa dela e depois eu e Ana voltamos para a minha. Meus pais estavam na sala, juntos com Mandi e Pedro quando chegamos.

–Meninas! – Minha mãe falou levantando-se do sofá – Onde vocês estavam? Deixaram todos nós preocupados

–Isso mesmo, maninha – Pedro falou abraçando-me por trás – Vocês tinham sumido quando acordamos, onde vocês estavam?

–Desculpem-nos – Ana falou – Apenas fomos na praia, lembram que tínhamos combinado de ver o nascer do sol na praia ontem? – Ela olhou para Mandi e Pedro e deu um pequeno sorriso

–Claro – Mandi olhou-a e retribuiu o sorriso

–Então, quer dizer que já está tudo bem entre vocês? – Meu pai falou surpreso

Ana não falou nada, apenas afirmou com a cabeça e foi para o quarto. Eu e Mandi fomos atrás dela.

–Onde vocês foram, exatamente? – Mandi falou quando entramos no quarto

–A Ana tinha saído quando acordei e fui atrás dela.

–E está tudo bem mesmo?

–Sim – Ana respondeu – Agora, vai logo pro banheiro, Bia, senão você vai chegar atrasada na escola.

–Ainda vai dar seis da manhã – Falei sentando-me na cama

–Então eu vou primeiro – Ela disse entrando no banheiro

Ela entrou e Mandi sentou-se ao meu lado, ela parecia cansada, provavelmente não havia dormido.

–Como foi a conversa de vocês?

–Primeiro, eu encontrei-a na praia e ela não quis me ouvir. Depois, a Alice apareceu, nós conversamos...

–Você perdoou ela? – Mandi perguntou interrompendo-me

–Sim... – Falei com a cabeça baixa – Depois eu e a Alice fomos atrás da Ana no parque. E, não sei direito porque, ela decidiu me ouvir

–É bom saber que está tudo bem agora – Ela falou abraçando-me

–É... É sim – Falei retribuindo o abraço

Logo Ana saiu do banheiro e eu entrei, Nick ligou-me na mesma hora de sempre e, enquanto me arrumava conversei com ele e falei que estava tudo bem agora. Depois disso, levei Pedro, Ana e Mandi para conhecer minha escola. Logo eles iam embora, e eu queria aproveitar o máximo aquele pouco tempo com eles.