Redrum escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 10
Capítulo 09 - O Plano




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Sarah estava no quarto de Harry, sentada sobre a cama, enquanto ele estava na cadeira do móvel do computador.

– Vocês já sabiam? – Perguntou ela, surpresa.

– Não todos nós, na verdade, apenas as crianças, mas eu os vi outro dia – Respondeu ele, com o medo estampado em sua face.

– Como assim?

– Foi tudo um plano.

– Um plano dos bonecos?

– Acho que não podemos chamar aquelas coisas de bonecos – Ele deu um sorriso nervoso e se encostou na cadeira giratória.

– Qual é o plano e como você sabe sobre ele, eles te contaram?

– Sim, eles me revelaram, eu fazia parte do plano.

– O que eles querem?

– Eles estavam se divertindo com as crianças enquanto as ameaçavam, mas não queriam ser descobertos, então precisaram de alguém para sugerir as sessões com um psicólogo, para que ele diagnosticasse que as crianças estavam com algum tipo de problema para superar a morte do meu irmão, assim nunca seriam descobertos, pois ninguém acreditaria nas crianças.

Sarah ficou em silêncio, tentando “digerir” as informações.

– Você não deveria ter vindo para cá – Disse ele – Está bem no lugar onde eles querem que você esteja... E agora que acham que você sabe demais, farão de tudo para te tirar do caminho.

– Eu não vou embora daqui.

– Então só nos resta destruir os bonecos.

– Hoje à noite todos dormirão juntos em um local, há algum espaço aqui que suporte todos?

– Podemos dormir no refeitório, é só tirar as mesas.

– Ótimo.

***

Já era noite, todos estavam dormindo em colchões espalhados pelo chão do amplo refeitório, crianças, adolescentes e adultos. Todos eles mergulhados em um profundo sono, envolvidos por colchas. As luzes estavam apagadas e, assim como em praticamente todos os outros lugares do orfanato, exceto os quartos, as cortinas estavam fechadas deixando passar uma fraca luz do luar.

Harry caminhava pelo meio dos colchões até a porta. Sarah o esperava do outro lado.

Ele abriu a porta com cautela para não acordar ninguém e a encontrou do outro lado, andando de um lado para o outro, aflita, segurando um galão vermelho.

– É gasolina? – Perguntou ele.

– Sim, e também tenho fósforos.

– Vamos acabar com isso de uma vez.

Eles cruzaram o hall de entrada do orfanato, onde ficava a escada, e caminharam por um grande corredor com altas janelas cobertas com cortinas, as quais também deixavam passar a luz do luar.

Viraram a direita e entraram no corredor onde ficava a sala de brinquedos. A porta estava entreaberta.

Eles se entreolharam e Harry sacou uma faca que tinha no bolso. Empurrou a porta, que abriu com um leve rangido.

Os dois olharam em direção ao local onde sempre ficavam os bonecos, mas eles não estavam lá.

– Eles não estão aqui – Disse Sarah, observando o resto da sala. Eles não estavam ali.

– Podem estar em qualquer lugar, esse orfanato é muito grande pra procurar.

– O que faremos?

Neste momento, eles ouviram uma batida em uma porta, mas não era na de entrada, onde os dois estavam parados, e sim na pequena porta de madeira a alguns metros dali, onde ficavam guardados alguns brinquedos.

– Acha que eles estão lá dentro? – Perguntou Harry.

O trinco da porta foi girado e ela ficou aberta, com apenas uma brecha que nada revelava, a não ser a escuridão lá dentro.

– Definitivamente – Concluiu ela.

Eles caminharam lentamente até a porta e ela tocou a maçaneta.

– Está pronto? – Perguntou ela, sem emitir nenhum som. Ele a entendeu, lendo seus lábios, e respondeu com um balanço de cabeça – Rasgue-os.

Ela abriu a porta bruscamente e uma pequena boneca saiu de lá às pressas, correndo com suas pequenas pernas de plástico enquanto gargalhava como uma criança.

Harry correu e a chutou. A boneca bateu na parede e ficou deitada no chão. Seus olhos se reviravam ferozmente, mas, exceto isso, ela nem se mexia.

Ele se aproximou e se abaixou para pegá-la, mas ela segurou seu tornozelo e voltou a gargalhar.

– Rasgue-a!

Ele não fez isso, pelo menos não naquele instante, mas a chutou novamente e começou a pisar na boneca, enquanto a risada dela acabava aos poucos. Em seguida, a pegou nas mãos e pôs a rasgá-la com a faca, deixando vários pedaços de algodão se espalharem pelo chão.

Quando ele acabou e jogou os restos da boneca no chão, olhou para Sarah e respirou fundo.

– Precisamos achar o de cabelos ruivos – Disse ela – Ele é a nossa verdadeira ameaça.

***

Assim que saíram da sala de brinquedos e entraram no corredor, viram uma luz amarelada passar rapidamente através das janelas. O farol de um carro.

– Quem pode ser a uma hora dessas? – Perguntou Harry.

Sarah se aproximou de uma janela e afastou um pouco a cortina para o lado. Viu um carro preto parado em frente à fonte. O portão havia sido deixado aberto.

Quando o veículo foi desligado, uma mulher saiu de dentro. Era uma mulher idosa de cabelos grisalhos, toda coberta com agasalhos.

– É Carrietta White – Disse Sarah, surpresa.

– Quem?

– Ela quem doou os bonecos.

Harry se aproximou e viu a mulher caminhando pela passarela do jardim.

Sarah correu até a porta, acompanhada do garoto, e abriu, dando um susto na mulher.

– Oh meu deus, srta. Ives – Ela disse, sorrindo, enquanto colocava a mão no peito – Que susto... Eu pensei que teria que tocar a campainha.

– Desculpe-me a grosseria, mas o que faz aqui? – Perguntou Sarah.

– Eu estou aqui para ajudá-los.

– Como assim?

– Os bonecos não querem machucar ninguém, apenas um quer, eu estou aqui para levá-los para casa.

Sarah já sabia daquilo. Era o de cabelos ruivos, foi sempre ele, o malvado.

***

Harry conversava com Sarah em um canto afastado, enquanto, à frente, a senhora caminhava pelos cômodos, procurando pelos bonecos.

– Você está louca? – Perguntou ele.

– O que?

– Quer deixar ela levar os bonecos para casa? Nós temos que destruí-los!

– Não adianta destruí-los – Disse a mulher, revelando que havia ouvido a conversa. Ela nem sequer se virou, continuou andando, de costas para eles – E ao contrário do que você pensa, apenas um é o culpado das mortes, os outros apenas têm medo dele.

– E por que você os doou para cá?

– Eu não sabia que Dolly estava aqui, eu doei apenas os outros, eles prometeram se comportar.

– Dolly?

Ela virou-se, encarando os dois.

– Cabelos ruivos, roupas de mecânico, você o conhece, eu sei.

Harry ficou em silêncio. É óbvio que conhecia, já sentira o corte de uma faca pelas pequenas mãos de plástico dele.

– Garotos, venham aqui – Disse a mulher, como uma mãe fala com seus filhos – Sou eu, a mamãe.

***

Minutos depois eles estavam na cozinha. Grande e iluminada.

Sarah e Harry observavam de longe enquanto Carrietta chamava seus filhos. Era estranho, realmente assustador.

De repente, de trás de um balcão, foi possível uma pequena cabeça. Um rosto de plástico sem expressão. Uma boneca.

– Sou eu, querida, a mamãe, não tenha medo – Disse a mulher, ficando de cócoras.

A boneca saiu de trás do balcão, parecendo desconfiada, e caminhou lentamente até ela, que a segurou em seus braços.

Sarah e Harry estavam surpresos. Pareciam mãe e filha.

Depois disso, outros bonecos começaram a sair de seus esconderijos. Todos andavam em direção à mãe.

Ela segurou alguns nos braços e outros a seguiram caminhando mesmo.

– Vou levá-los para casa, não iremos mais perturbá-los – Disse Carrietta.

– Obrigada.

– Não precisa me agradecer, querida, apenas procure Dolly e lembre-se, não tente destruí-lo.

***

O carro já havia ido embora, só havia três pessoas acordadas no orfanato, e uma delas, na verdade, era feita de plástico.

Sarah e Harry estavam caminhando por um corredor do primeiro andar, em direção à uma grande varanda com cadeiras e redes de pano, quando ouviram uma risada sapeca seguida de sons de passos no piso de madeira. Vinha de trás.

Eles se viraram e não enxergaram nada, a não ser uma sombra que sumia aos poucos em um corredor à direita.

Correram e entraram no tal corredor, vendo a pequena silhueta do boneco descendo as escadas.

– É ele! – Disse Harry.

Os dois desceram as escadas e entraram no corredor amplo com grandes janelas perto da entrada do orfanato.

Caminharam até a sala de brinquedos, cuja porta estava aberta, e notaram que não havia ninguém. Tudo estava do mesmo jeito de antes, exceto pela janela aberta, que deixava o vento entrar, esvoaçando as cortinas.

– Ele saiu – Concluiu Sarah.

– Você sai por aqui e eu vou pelo outro lado. Ele pode entrar novamente, vamos cercá-lo.

– Ok.

– É melhor você ficar com isso – Ele disse, entregando a faca à ela.

– Mas e você?

– Eu arranjo outro, agora vá.

Harry saiu da sala pela porta e Sarah, pela janela. A noite estava extremamente gelada, dona de uma grande lua cheia, que iluminava a grande extensão de grama da lateral do prédio. O boneco havia sumido, provavelmente correra para o quintal.

Ela caminhou pelo gramado em direção aos fundos do orfanato, onde ficava o quintal e um pequeno bosque cheio de árvores.

Ao chegar lá, viu o boneco rapidamente, mas o perdeu de vista quando ele correu para dentro do bosque pelo pequeno portão de ferro que estava aberto.

Ela correu até o portão e o boneco não estava mais visível, já havia sumido no meio das árvores. Seria perigoso procurá-lo por ali, mas ela precisava correr riscos, ou senão todos os outros correriam.

Adentou o interior do bosque. Era escuro e úmido, com pequenas árvores, algumas até floridas. Lindo.

Nenhum sinal do boneco ali. Sarah caminhava lentamente com a faca em mão, atenta a qualquer movimento no meio das árvores.

Em um instante ela pôde ouvir uma risadinha como a outra. Era ele. Estava ali, no meio das árvores, provavelmente a observava.

Viu algumas folhas se mexerem à sua esquerda e percebeu a pequena silhueta do boneco se movendo na escuridão daquele local, que era iluminado apenas pelo luar que atravessava as folhas das árvores mais altas.

Continuou andando pela trilha de pedras que parecia não ter fim.

Quando chegou à um ponto onde já podia se ver o muro de grades de ferro – mais adiante era a praia – ela parou. Olhou para os lados, procurando o maldito boneco, quando, na verdade, deveria ter olhado para trás, onde ele estava.

Dolly, com seus cabelos ruivos e rosto angelical, segurando uma faca, estava a alguns centímetros de distância atrás dela.

Quando Sarah finalmente se virou, deparou-se com a sinistra fugira ali à sua frente.

– Surpresa! – Exclamou ele, correndo em direção à ela, com a faca erguida no ar.

Ela correu ao se assustar e tropeçou em algumas pedras, caindo nas pedras frias.

O boneco gargalhou.

– Isso mesmo, fique paradinha aí mesmo – Disse ele, enquanto se aproximava com a faca em mãos.

Antes que ele cravasse a lâmina nela, Sarah o chutou para longe, fazendo sua faca cair no gramado, enquanto ele ficou jogado no trilho de pedra.

Ela esfregou as têmporas e se levantou lentamente, sentindo uma ardência nos joelhos. Estavam machucados com alguns arranhões.

Ao olhar em direção ao local onde o boneco estava jogado, ela percebeu que ele havia sumido. Entrara na floresta novamente.

– Merda! – Exclamou ela.

– Nunca vai me pegar, vadia! – Gritou o maldito, do interior da floresta.

Ela estava parada, odiando-se por ter perdido a chance de rasgar aquele cretino. Agora já era.

Sarah resolveu adentar a floresta escura em busca do boneco. Ele não deveria ter isso longe demais.

Amaldiçoou a si mesma por estar usando salto enquanto pisava na terra parcialmente molhada. A cada passo que dava ficava o bosque ficava mais denso.

Nenhum sinal do boneco ainda.

Caminhou tanto que chegou a se perguntar onde seria o final do bosque. Olhou para o chão, para onde pisava, e só então percebeu algo estranho no solo molhado. Pegadas muito pequenas. As pegadas do boneco.

Sarah começou a seguir as pequenas marcas dos pés dele. Seguiu por alguns metros até que elas acabaram.

Olhou ao redor para ver se continuavam para algum dos lados, mas não havia nenhuma pegada. Elas terminavam ali, perto de uma árvore. Era como se o boneco houvesse sumido, ou... Ou... Subido em alguma árvore.

Olhou para cima rapidamente, deparando-se com dois olhos de plástico em cima de um grande galho na árvore acima dela. Ele tinha uma expressão angelical no rosto, como sempre.

Antes que ela pudesse reagir, ele pulou em seus ombros. Agarrou seu pescoço e apertou, tentando estrangulá-la. Sarah tentou reagir, segurando as mãos dele, mas ele era estranhamente forte para um objeto de brinquedo.

Ela, então, pegou a faca de seu bolso, sem que ele visse e preparou-se para atacá-lo, mas com cuidado, pois qualquer erro poderia resultar em sua própria morte.

– Vadia, vadia, vadia, vadia, vadia! – Ele repetia, furiosamente, enquanto apertava mais e mais o pescoço dela.

Ela impulsionou seu braço para trás, acertando a faca em cheio no tronco do boneco, que gritou de dor.

Sarah se virou para olhar o estrago. Ele gritava de dor mas não havia sangue.

Ela se aproximou e pisou em sua cabeça.

– Não! – Ele gritou, tentando – em vão – se mover.

Ela se ajoelhou na terra úmida e pegou a faca. Em seguida começou a rasgar os membros do boneco, que gritava de dor e raiva.

– Você não pode me matar, eu vou voltar e matá-los!

Ela não disse nada, apenas continuou a desmembrá-lo em silêncio, aproveitando aquele momento. A vingança era realmente gratificante.

***

Horas depois, na madrugada iluminada pela luz do luar, Sarah e Harry estavam no quintal, em frente a um buraco fundo que ele havia cavado. Ao lado dos pés dela havia um saco de pano com os pedaços de Dolly dentro. Ainda era possível ouví-lo gritando, apesar dela o ter esmagado e rasgado.

Harry pegou o saco e jogou dentro do buraco. Em seguida, ela derramou o líquido inflamável que havia no galão em cima dele e acendeu um fósforo. Olhou bem para a pequena chama e deixou o pequeno palito cair, transformando aquela pequena chama em grandes labaredas, que causavam os gritos histéricos do boneco.

Quando o fogo se apagou, Harry pegou uma pá que estava jogada no chão a alguns centímetros e começou a jogar terra no buraco.

Enterrava aquele mal para sempre.


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