– Era uma vez uma garota...

– Que garota?

– A que eu amava. Eu a adorava. Idolatrava. A que mudou minha vida. Ela era, simplesmente, o amor da minha vida. Uma vadia que me fez viver, me fez ver e me fez sonhar. Me fez acreditar em algo. Tudo era para ela, meus pensamentos, meus sonhos, escritos, poesias e canções...

– Como ela era?

– Ela?... Ela era viva. Ela era luz. Ela era tudo aquilo que eu nunca fui e jamais serei. Ela me completava. Ela não tinha medo de ser feliz, de viver. Me fazia respirar, me fazia sorrir. Conseguia me fazer sentir amor e me sentir viva, coisa que ninguém conseguiu, só ela. Era tão minha... Tão linda. Os longos cabelos se prendiam em meus dedos quando eu a beijava. Os olhos grandes e verdes, assustadores e fascinantes... Me hipnotizavam. Os lábios, avermelhados, carnudos, perfeitos... Beijá-los era a melhor coisa do mundo. O corpo... Encaixava-se perfeitamente no meu. Ela cabia em meus braços, ali eu a fazia dormir, cantava para ela as canções que só nós conhecíamos, nossas canções. E o amor dela?!... Tão puro, tão belo, tão meu. Ela dizia coisas para mim. Fazia promessas, ela jamais as cumpriu e jamais cumprirá. Consigo sentir o cheiro daquela menina em todos os cantos, na nossa cama, nas minhas roupas, na minha pele... Ele não sai e eu não quero que ele saia... Não quero me esquecer. E tocá-la? Senti-la? E as sensações que ela me provocava? Que só nós sentíamos. Só ela fazia eu sentir aquilo...

– E o que aconteceu com ela?

– Não sei. Ela se foi, me deixou... Muitos dizem que ela se perdeu. Saiu por aí, sem rumo. Foi tentar ser alguém, foi tentar ser feliz, não reclamo disso, ela jamais seria feliz ao meu lado. Ela vivia me dizendo que precisava fazer algo de útil com a vida dela... E eu não estava incluída nos planos dela, eu nunca a deixaria ir, eu não a deixava viver. A prendia, minha obsessão a prendia. O meu jeito estupido... Outros dizem que a morte finalmente a encontrou. Não duvido, mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, as drogas e a insanidade a consumiriam. Talvez eu a mataria, eu a amava demais para deixá-la por aí, para um ou uma qualquer. Ver ela com outro alguém seria insuportável. Depois, tirava minha vida... Poderíamos ser felizes, então. Viveríamos a eternidade juntas, nos amando, nos entregando uma à outra, enlouquecendo juntas. Ela era minha, só minha. Eu a faria minha para sempre. Todo o sempre.