Entre dois Mundos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 15
Resgate - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Iai pessoinhas, tudo bem com vocês? Tiveram um bom natal? Espero que sim 'u'
Capítulo final da fic em si! Êeeeee! Ou, parte um dele; dividi em dois, pq tava mto grande. E ainda vai ter o epílogo curtinho, coisa curta, até dia 30 eu posto :D
Enfim, aqui vão dois capítulos no mesmo dia!!! Êeeeee!!! o/ (Ok, mentira, duas partes do mesmo capítulo kkk)
No começo eu tava meio sem inspiração, mas depois me empolguei um pouco, eu acho.
Espero que gostem :)
Ah, e qualquer erro, me avisem. Fiquei até bem tarde escrevendo algumas partes :P



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Stoico, ainda confuso com o que eu havia dito, não tentou me impedir quando irrompi porta afora. Merida me acompanhou. Não precisei andar muito até achar Astrid, que estava indo justamente na direção da casa do líder da aldeia.

– Ah, oi Dimi. - Disse ela, ao me ver - Pensei em perguntar se está tudo bem. - Pela voz dela, não estava tudo bem. Mesmo assim, decidi contar.

– É, e não está mesmo - Falei, com a voz ainda tremendo, assim como o resto do meu corpo. -Tive um sonho... Mas não foi bem um sonho. - Sacudi a cabeça. Aquilo soava no mínimo maluco - Soluço precisa de ajuda.

– Sonho? Que tipo de sonho? - Ela disse, com a voz estranhamente apreensiva.

– Um grito... - Eu disse, simplesmente - Ouvi Soluço gritando.

Astrid empalideceu e sussurrou para si mesma.

–Pensei que era só algo da minha cabeça...

– Então você também?... - Merida perguntou, mas antes que a garota viking respondesse, Stoico surgiu ao nosso lado.

– Esperem... Então, estão sugerindo que preparemos uma invasão?

Sacudi a cabeça.

– Stoico, tio, por favor... Confie em mim. Quero que mande barcos para lá, mas só para nos resgatar. Não invada.

– Nos resgatar? Como assim nos resgatar? - Perguntou Astrid, mas antes que eu respondesse, ela pareceu entender.

– Vamos para a Ilha dos Exilados agora. Não temos nem um segundo a perder. - Eu disse, começando a caminhar em direção ao Grande Salão, onde Sombra havia passado a noite, mas uma mão me impediu. Mão não, um gancho.

– Não tão rápido, espertinho. - Bocão disse, me puxando para trás - Não que eu não confie em você, é claro que confio... Mas olhe só seu estado! Acha mesmo que poderá ajudar Soluço assim?

Olhei para minhas roupas empapadas de suor, e minhas mãos tremendo debilmente com as lembranças dos sonhos daquela noite - dos que eu contara e dos que eu não contara aos outros. Realmente, eu não estava em estado de ajudar ninguém. Suspirando, assenti com a cabeça. Antes de ir tomar um banho para me acalmar, lembrei de falar com Astrid.

– Por favor, se puder evitar de comentar isso com os outros... Eu não sei o que sentiria se eles fossem tentar ajudar e fossem capturados. - Não levei em conta o fato de que eles poderiam mais atrapalhar que ajudar em nossa busca, mas Astrid pareceu entender.

Busquei uma muda de roupas na casa de Stoico antes de procurar por Sombra, e então voei até a cachoeira isolada mais próxima. Água corrente sempre ajudava a clarear meus pensamentos.

••

Pensei bastante durante o gelado e revigorante banho de cachoeira, e cheguei à conclusão de que, realmente, aquele era o melhor a se fazer. O que quer que os Exilados quisessem de Soluço, não estavam conseguindo tirar dele. E, por isso, eles o faziam sofrer. E quanto mais demorássemos para resgatá-lo, mais ele sofreria. Simples.

Enquanto me vestia, comecei a falar com Sombra. Era quase uma terapia falar com um dragão. Eles não podiam responder com palavras, mas eram suficientemente inteligentes para compreender o que dizíamos.

– É, amigo... Realmente não faço ideia do que pode acontecer... - Eu disse, pensando em como fora difícil a tentativa de resgate de Soluço no barco. Se fossemos vistos na ilha, seria dez vezes mais difícil... Será que eu teria de matar mais alguém? Não havia como saber. Ainda assim, algo me dizia que, se tivesse, eu o faria quantas vezes fossem necessárias. Sacudi a cabeça, tentando afastar aquele pensamento terrível. - Que tipo de monstro me tornei?...

À luz daquela pergunta dita sem intenção, Sombra se levantou e me deu aquilo que só podia ser considerado um abraço de dragão, me envolvendo em seu pescoço, como se dissesse para não me condenar tanto. Não importava o que viesse a acontecer, eu sabia que ele nunca me abandonaria.

Foi no mínimo reconfortante.

– Obrigado, amigo... - Eu disse retribuindo o abraço. - Agora vamos. Soluço precisa da gente. - E Banguela precisava dele. Só então eu me dei conta de que estava apenas começando a entender a profundidade da ligação entre uma pessoa e seu dragão - ou entre um dragão e seu humano.

••

Merida, Astrid, Tempestade e Banguela me esperavam próximas ao pequeno porto da ilha, onde alguns barcos já se preparavam para sair; uma comitiva pequena, de um único barco, que iria para a Ilha dos Exilados apenas para que pudéssemos descer e evitar as possíveis catapultas ou balistas aéreas.

– Conseguiu despistar os outros? - Perguntei à Astrid, e ela respondeu simplesmente com um aceno de cabeça. A tensão no ar já era suficientemente forte para ser sentida; Astrid remexia nervosamente o cabo de seu machado, e Merida dedilhava nervosamente a corda do arco. - Ok... Onde está Stoico? - Perguntei, mas assim que o fiz, uma mão conhecida se apoiou em meu ombro.

– Que os deuses os ajudem... - Desejou Stoico - Confio em vocês. Sei que trarão Soluço de volta em segurança.

– Obrigado, tio. Nos encontramos lá.

Ele assentiu silenciosamente, e então se virou para Astrid e Merida.

– Meninas, não deixem que ele e o primo façam alguma bobagem. Até logo. - Aquele tom de despedida era enervante. Mesmo assim, ainda havia alguém a se despedir.

– Banguela... - Chamei, acariciando sua cabeça - Você vai com Stoico, tudo bem? Não sabemos se Soluço vai estar em condições de voar...

O dragão protestou um pouco, com um barulho decepcionado do fundo de sua garganta, mas entendeu. Soluço estava vivo, mas ainda não sabíamos em que estado. Não muito grave, visto que ele só estava com os Exilados há uma noite.

Depois de me despedir do dragão de Soluço, me juntei à Merida e Astrid - Astrid já montada em Tempestade e Merida me esperando para subir em Sombra.

– Então aqui vamos nós - Disse Merida, quando finalmente levantamos voo.

••

Estávamos tão tensos que não dissemos uma palavra enquanto cortávamos os céus em direção à Ilha dos Exilados. Durante o caminho, não pude deixar de pensar se eu realmente teria de matar mais alguém. Sim, eles poderiam ser assassinos sádicos, exilados por crimes gravíssimos, mas, se eu os matasse a sangue frio, o que me tornaria diferente deles?

Perdido naqueles pensamentos, remexi minhas adagas e a aljava de flechas; objetos que, por muito tempo, eu havia visto apenas como ferramentas, objetos esportivos, para competir... E que agora eu via como as armas letais que eram.

Após algum tempo voando, uma mancha surgiu no horizonte; uma ilha de rocha negra envolta em bruma, com uma vegetação rasteira e retorcida, típica de um solo pobre num clima mais pobre ainda. O engraçado era que aquela era uma ilha vulcânica, e o solo de lugares do tipo geralmente era fértil. Estranho.

Logo, os detalhes da ilha se tornaram mais evidentes; poucas construções da madeira escura eram visíveis, em contraste com as muitas cavernas do local. Provavelmente, haviam preferido escavar um lugar na pedra ao invés de fazer alguma coisa sobre a superfície. Alguns guardas caminhavam de um lado ao outro, próximos a estacas pontiagudas de madeira cravadas no chão. Em algumas, havia ossos de dragão, e até esqueletos inteiros. Estremeci ao ver aquela atrocidade.

– Faz alguma ideia de onde Soluço pode estar? - Perguntei para Astrid, que voava próxima.

– Não, nenhuma. - Respondeu ela, e assenti com a cabeça. Não seria muito inteligente ficar gritando por ali.

– Mas onde podemos descer?... - Me perguntei, e ouvi Merida responder, baixinho:

– Que tal ali?

Ela apontou para uma fenda entre duas partes da ilha precisaríamos escalar um pouco para chegar à entrada dos túneis cavados na pedra, mas oferecia uma boa cobertura da visão dos guardas. Aliás, achei incrível não ter guardas cuidando dali, mas assim que chegamos ainda mais perto, descobri o motivo: Dragões. Muitos deles. E nem ligaram para nossa presença ali.

– Olha só... - Comentei, quase num sussurro enquanto passeávamos por entre os dragões - Eles... Realmente não tentam atacar... - Falei, maravilhado. - Pensava que os de Berk eram mansos só por serem domesticados... - Claro que Sombra também não havia me atacado quando o conheci, mas aquela vez não contava. Havia sido um choque muito grande na hora.

– Sim... E Soluço sabia desde muito antes de todo o resto... - Astrid comentou, com certo saudosismo na voz. - Mas, e agora? - Perguntou ela, incerta.

– E agora escalamos, certo? - Perguntou Merida, me lançando um olhar desafiador. Até mesmo naquele tipo de situação ela gostava de competir. Mas, fazer o que, né? Era o jeito dela. Um jeito que eu estava aprendendo a gostar cada vez mais.

Começamos a escalada. Eu, é claro, fiquei para trás. Astrid era quase tão competitiva quanto Merida, e as duas dispararam na subida, Merida ganhando apenas por um deslize de Astrid. Comparado as duas, eu havia levado uma eternidade para subir.

– Algum guarda à vista? - Sussurrei, chegando perto delas. Pela falta de resposta, sim, havia. Um só guarda, de costas para o pequeno abismo, e mais nenhum à vista. Aquela era nossa chance de descobrir onde estava Soluço.

Vendo a inquietação em meus olhos, Merida começou a protestar, mas era tarde demais. Subi ao nível do chão, logo atrás do homem e saquei uma adaga. Ele fez menção de se virar com o barulho, mas parou ao sentir o frio do metal em sua garganta.

– Um movimento e você morre. - Eu disse, quase num sussurro. Ao ver sua mão se movendo em direção a uma espada que ele trazia presa no cinto, apertei um pouco mais a ponta da adaga em seu pescoço. - Já fiz isso antes. A vida é uma coisa tão frágil... Matar é tão fácil. Não hesitarei em fazê-lo de novo. - Só eu sabia o quanto me sentia mal dizendo aquilo. - Me diga onde está Soluço. O prisioneiro, treinador de dragões. Agora.

– Na arena de dragões. - Respondeu ele, com a voz tremendo. - É um lugar aberto, com umas correntes no teto. Basta entrar ali - Seus olhos se voltaram para a caverna mais próxima. - seguir até o final, virar à direita e subir. De lá você vai achar a arena, sem erro. - Certamente, ele não havia notado que, agora, se tornara descartável. Um movimento e eu o silenciaria. Para sempre. Afinal, eu já havia matado. Eu já era um monstro, como ele.

– Dimi, não. - Merida falou, atrás de mim, antevendo o que aconteceria. - Você é melhor que isso.

– Não sou... - Respondi, amargurado.

– É sim, Dimi. Você é muito melhor que ele. Naquela vez, você não teve escolha; era ele ou você. Agora, pode escolher entre ser o que teme se tornar ou continuar sendo quem você é.

– Mas... - Ela tinha razão. Naquela vez, eu havia matado por puro instinto; havia feito o necessário para proteger minha própria vida e a de Merida. Ali, naquele tão pequeno e precioso momento, eu podia escolher; escolher tirar uma vida e garantir que ninguém ali soubesse que estávamos ali, ou escolher preservá-la, com a certeza de que isso poderia nos trazer dificuldades mais tarde.

Afrouxei o aperto da lâmina na garganta do homem, e ele pensou que poderia me desarmar. O que quer que ele tenha tentado fazer, não conseguiu; eu fui mais rápido, apertando os dedos na parte abaixo de sua nuca e fazendo-o perder a consciência. Ele era muito pesado para que eu evitasse uma queda, e sua cabeça fez um ruído desagradável ao se chocar no chão.

Merida olhava para o homem desfalecido no chão, receosa.

– Ele está?...

– Desacordado. - Respondi Merida antes que ela terminasse a pergunta. - E com uma enxaqueca de moderada a forte, provavelmente.

Merida suspirou, aliviada.

– Você fez o certo... - Ela deu um sorriso fraco. - Como disse, a violência nunca é a resposta. - Agora...

– Onde ele falou para entrarmos? - Apressou-se Astrid, com uma ansiedade clara em sua voz.

Apontei a entrada com a cabeça, e, sem pensar, Astrid quase correu direto para lá; quase, pois Merida a segurou.

– E se for uma armadilha? - Perguntou à garota viking, preocupada.

– E se não for? Merida, não temos escolha... Soluço precisa da gente. - Havia dor em sua voz. Ela precisava ver Soluço novamente.

Merida assentiu, soltando o braço de Astrid. Só então ela notara o quanto a viking estava arrasada por saber que Soluço estava ali. Após uma rápida conversa silenciosa entre meninas, as duas finalmente decidiram ir pra o lugar apontado.

Não paramos para apreciar a vista - de fato, não havia muito mais além de pedras negras e barras malfeitas de metal retorcido para ver. Andamos rapidamente por todo o caminho, um pouco maior que o imaginado, já que os túneis viravam em ângulos no mínimo estranhos. Após duas bifurcações e uma escada, finalmente vimos a suave iluminação do céu nublado entrando por uma passagem...

A passagem dava para uma sala circular gigantesca, um círculo cavado na pedra, onde o único teto era uma rede feita de correntes. A Arena. Igualzinha à de Berk, exceto pela sujeira e pelas manchas com aspecto suspeito no chão. E, no outro canto, ao lado de uma passagem idêntica, uma forma se movia no chão. Soluço, com as mãos acorrentadas na parede de pedra.


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Notas finais do capítulo

Mistério? Não tanto, já que o próximo capítulo é, na verdade, parte desse.
Bom, espero que estejam gostando :D