Entre dois Mundos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 13
Atos e Consequências


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, desculpem o atraso de dois dias pra postar esse capítulo. Foi procrastinação pura mesmo, admito. Agora... Foi mal pelo nome do capítulo, não tinha ideia de qual título queria huahahahhahah
Ah, e peço perdão desde já, pelo final do capítulo.



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A ideia original era voarmos direto para onde quer que Soluço estivesse e resgatá-lo furtivamente, junto com Banguela. Infelizmente, não fazíamos ideia de em qual barco estavam, ou mesmo se estavam em um daqueles barcos. Precisávamos pegar quem quer que os estivesse liderando na ausência de Alvin. Ele certamente saberia onde estavam meu primo e seu dragão...

Assim que tentamos invadir um dos barcos, fomos avistados; Imediatamente, soltei as rédeas e deixei que Sombra decidisse por onde seguir.

Machados e redes passavam muito próximos a nós, mas o Fúria da Noite desviava com maestria, aproveitando as brechas para incendiar os navios enquanto eu e Merida distribuíamos flechas pelos atacantes.

Eu me sentia mal em ter de usar o arco contra pessoas; cada flecha que atingia o alvo machucava mais um pouquinho a minha alma. Mesmo assim, o instinto de sobrevivência falava mais alto, e cada viking que se aproximava tinha os pés cravados no chão de madeira ou as mãos fixadas dolorosamente na arma que carregavam.

Por cima dos barulhos da batalha, uma conversa em particular me chamou atenção.

– ELE FUGIU!

– Mas como chegou aqui? Ele não sabia o caminho dos outros barcos, sabia?

– Sei lá! Só derrube o dragão e pegue-o!

Estavam falando de Soluço. Só podiam estar falando dele. Mas eu não tinha ideia de onde a conversa tinha vindo. Merida tinha. Ela mirou uma flecha no grandalhão que havia dado a ordem de derrubar Sombra, e o tempo pareceu desacelerar. Quase pude ver a flecha voando sobre a amurada e atingindo a coxa do homem alto e ligeiramente mais magro que a maioria dos vikings. Ele urrou de dor, largando o machado que levava para pressionar o ferimento na perna.

– Vamos! - Gritei, colocando o arco no ombro e incitando Sombra a subir. Merida se abaixou, evitando um último projétil - uma tábua em chamas - antes de Sombra ganhar altitude. Lá em baixo, vikings ainda atiravam redes às cegas, ofuscados pela luz do fogo que ardia em algumas embarcações; um presentinho de Sombra para eles. Com sorte, quando os combatentes da cidade vissem o fogo nos barcos se acovardariam e bateriam em retirada.

– O que vai fazer, Dimi? - Sussurrou Merida, enquanto Sombra dava voltas em torno dos barcos.

– Espero que não uma burrada... Sombra, pega! - Gritei, apontando para o homem que eu tinha quase certeza que era o líder nomeado por Alvin. Machados se ergueram e redes foram lançadas, mas, mesmo assim, o dragão agarrou o casaco do homem com as patas dianteiras e alçou voo, como uma grande ave - ou réptil, no caso - de rapina.

– AAAAAH! ME SOLTA! - Gritou o homem. Ainda por cima era covarde, o maldito.

– Só quando me disser onde estão Soluço e Banguela!

– Você já tá aqui, pirralho! Agora faça esse dragão me soltar! Ou eu...

– Ou?... - Repliquei. Ele não estava em posição de fazer ameaças. - Sombra, solte-o. - Pedi. Estávamos voando em volta de Dumbroch, sobre um gramado que certamente não era exatamente macio numa queda de trinta metros... Centímetros antes de o viking chegar no chão, Sombra o interceptou novamente. Agora ele estava completamente branco.

– Ao norte! Eles... Vocês. Estavam ao norte daqui, indo para nossa ilha! O barco deve estar à milhas daqui agora! - Ele gritou histericamente. Sombra olhou para baixo e arrotou na cara dele, fazendo-o soltar mais um grito. Estava se borrando de medo. E Sombra achava super engraçado.

– Muito bem... - Murmurei, deixando que o dragão o soltasse. Desta vez, à apenas dois metros do chão.

– Parece que estão fugindo... - Merida disse, enquanto Sombra fazia uma curva, voltando para a direção norte.

Realmente, ao longe era visível a movimentação de vários homens saindo em direção aos barcos, acuados principalmente por arqueiros e guerreiros da Guarda Real de Dumbroch, a julgar pela cor das armaduras. Só para completar, Sombra olhou para os barcos e urrou em tom de aviso, como se dissesse: Isso mesmo. Vaza daqui!

Quase sorri com este pensamento. Quase... Pois Soluço e Banguela ainda estavam em apuros. Não seria tão simples resgatar alguém de dentro de um barco sem sermos vistos.

– Vamos logo... - Murmurei. - Eles ainda precisam de nós.

••

Após duas horas voando, pensei que chegaríamos em Berk antes de encontrar o barco com Soluço e Banguela. Cheguei a cogitar a possibilidade de ir direto para lá e pedir ajuda para Stoico e o resto da vila, mesmo sabendo que até lá, Soluço provavelmente já estaria na Ilha dos Exilados.

– Dimi. - Merida interrompeu meus pensamentos. Quando me virei para ela, não pude deixar de reparar como sua pele clara ficava bonita sob a luz das estrelas... Seus olhos azuis refletiam a pouca claridade do céu de uma maneira fascinante, e seus cabelos pareciam uma brasa morna, agitando-se ao vento. Notando que minha boca estava entreaberta, pigarreei e arrumei a postura antes que ela notasse. - Será que é aquele barco?

Ao longe, uma luz se refletia na água escura do mar. Àquela distância de qualquer terra - apenas com as tochas de Berk brilhando a quilômetros, no horizonte - era certo que a iluminação só podia ser de um barco.

– Precisamos olhar mais de perto... - Eu disse, tanto para Merida quanto para Sombra, que pareceu inclusive assentir com um movimento de cabeça.

O dragão voou rápida e silenciosamente em direção ao barco, que logo ficou próximo o suficiente para que notássemos os detalhes... A figura de proa era uma cabeça de dragão mal esculpida na madeira. No convés, meia dúzia de homens montava guarda enquanto o resto da tripulação provavelmente dormia. E, bem no meio da embarcação, uma sombra se movia fracamente; como se um pedaço da própria escuridão tivesse tomado a forma de um grande lagarto aprisionado.

Sombra fez um ruído surdo, e Banguela se moveu lá em baixo; pude ver seus grandes olhos cor de esmeralda brilhando com a luz das tochas enquanto ele analisava os céus à procura da origem do som inaudível a humanos.

Quando seus olhos encontraram Sombra, ele se aquietou e fingiu dormir, evitando a atenção dos guardas.

– Vamos, amigo... - Sussurrei para Sombra. Ele fechou as asas e mergulhou mais silenciosamente que eu pensava ser possível, agarrando-se na amurada no navio, que balançou um pouco com a adição repentina de peso. Nenhum dos guardas pareceu notar, apesar disso.

Me pendurei na amurada e, vendo que não havia ninguém próximo, ajudei Merida a subir. Com um sinal, indiquei que ela trabalhasse em soltar a cauda e as patas traseiras de Banguela, enquanto eu tirava a mordaça e liberava suas asas e patas dianteiras.

Foi um trabalho lento e complicado, mas conseguimos livrar Banguela sem o mínimo barulho. Ainda assim, um dos guardas nos viu soltando Banguela, e gritou por ajuda. Soluço estava com as mãos amarradas ao mastro, virado para o outro lado e provavelmente não entendeu nada quando uma adaga atirada por mim rompeu as amarras. Guardas foram arremessados ao mar por Sombra e Banguela, e alguns deles tiveram os pés perfurados por flechas certeiras de Merida.

–Dmitrei?! - Gritou Soluço, tentando desamarrar o pé da perna de pau sem muito sucesso.

– Soluço! - Respondi, sacando outra adaga e correndo para cortar as cordas que ainda o prendiam... Foi então que tudo deu errado; mais Exilados, acordados pela gritaria no convés superior, apareceram pela passagem no chão, ao lado de Soluço. No começo, pareceram confusos pela minha semelhança com o outro garoto, mas o atordoamento logo passou, e, mesmo com a ajuda dos dragões, eu e Merida não conseguiríamos derrotá-los... Também não dava para incendiar o barco sem oferecer um grande risco a Soluço, e os dragões pareceram entender isto.

O primeiro homem a sair da escotilha de madeira levou uma flechada de Merida no pé, mas um segundo conseguiu se aproximar com um machado em punho. Consegui me desviar com facilidade do golpe, e por um centésimo de segundo, hesitei... Se ele continuasse de pé, provavelmente me mataria sem pensar duas vezes... E então Merida e Soluço não teriam mais chances de escapar. Sentindo meu estomago revirar com a decisão, deixei que minha mão que segurava a adaga se mexer em velocidade assombrosa pelo ar. A lâmina assoviou, e com um fraco tum, atingiu a lateral do corpo do viking. O homem arfou, e eu gritei, usando o espaço entre duas de suas costelas como um caminho para minha adaga antes de finalmente, retirá-la do corpo do homem... Ele caiu devagar, com as mãos tentando estancar o sangramento, mas era inútil. O corte havia sido profundo, e naquele momento seu pulmão devia estar se enchendo de sangue. Eu vi o olhar de puro ódio que ele me deu antes de, finalmente, a luz deixar seus olhos. Sangue ainda escorria do corte, formando uma poça aos meus pés, em volta do corpo já sem vida daquele homem... "Eu matei... Assassinei um homem..." Era tudo o que eu conseguia pensar, abismado com minha própria selvageria.

Mais homens surgiram, gritando para que amarrassem o prisioneiro e matassem os invasores. Ouvi Soluço protestar, e vi Merida montar em Sombra, me chamando para sair dali. Também pude ouvir Soluço, pedindo para que eu levasse sombra, antes de ele ser silenciado por um bruto golpe na cabeça.

Saindo de meu estado de estupor, montei em Banguela, rezando para que os deuses me perdoassem e me ajudassem. O dragão protestou, olhando para seu amigo desfalecido no chão.

– Vamos Banguela! - Gritei, ajustando sua cauda mecânica com um moimento de pé, e o dragão entendeu que teria mais chances de resgatar Soluço estando livre. Machados foram arremessados, mas os Fúrias da Noite foram, como sempre, mais rápidos... Em poucos segundos, o barco era novamente apenas um ponto de luz no oceano.

Eu suspirei, e, sem querer, desajustei um pouco a cauda de Banguela, que deu um solavanco. Mas ele não pareceu bravo. Apenas... Triste.

– E agora, Dimi?... - Ouvi Merida falando, montada em Sombra, ao meu lado.

Eu não sabia. As únicas coisas que passavam pela minha cabeça eram as imagens do homem agonizando e morrendo aos meus pés, pelas minhas mãos, e a imagem de Soluço desacordado, indefeso no meio de todos aqueles que não hesitariam como eu em matar... Sacudi a cabeça, mas não consegui me livrar daqueles pensamentos.

Me debrucei em Banguela e chorei.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo. Gostaram? Espero que sim, pq eu adorei escrever esse capítulo. Pois é, eu gosto de ver os personagens sofrendo :3
Agora nem eu sei o que fazer. Mentira, já tenho uma boa ideia, sim. Se acharam esse capítulo mto forte, me perdoem, e avisem, q não faço mais isso. Na verdade, to pretendendo algo um pouco pior pro próximo >:D Muahahahahh!!!
Mas não farei, se não quiserem.
Ou talvez faça, sei lá.
Enfim, boa semana ^-^