Desperto. Esfrego os olhos 3 vezes. Cegamente procuro meus óculos em meu criado mudo. Os coloco em meu rosto e finalmente abro os olhos, vejo que lá fora o sol brilha em uma falha tentativa de fazer meu dia melhor. Sento em minha cama coloco meus chinelos pretos e finalmente me levanto, caminho a passos lentos em direção ao banheiro, me lavo, me olho no espelho e vejo novamente aquela garota vazia que havia me tornado, vou até a cozinha e vejo meu calendário, que peguei naquela padaria onde costumávamos ir juntos, risco mais um dia, 2 de agosto de 2014, mais um infeliz dia ao qual tenho o desprazer de viver sem sua presença, sem seus toques, seus carinhos, seus olhares, sem você aqui comigo, sem você...

Hoje fazem exatos 5 anos desde aquele maldito dia, desde o dia ao qual me vi sem você, aquele dia... De repente minha mente de vaga novamente e lembro o dia do nosso primeiro beijo onde tudo começou, onde toda a felicidade do momento se iniciou e toda a dor também, em que tento inutilmente esquecer, apagar de minha memória, deletar de minha vida, apenas tento pois as memórias de nós dois juntos sempre voltam para atazanar minha mente, persuadir meus sentimentos e afogar ainda mais meu coração sem vida, que só continua batendo de modo automático.

- SCORPIUS! - Grito para que ele me espere, quando ele se vira continuo - Não vai me explicar nada? Você fala um monte de coisas sem sentido, depois de atrapalhar meu beijo com o Lysander, da um soco nele e depois sai correndo? Merlim, o que eu está acontecendo com você? Até onde sei vocês são amigos, jogam quadribol pela nossa casa e de repente isso? Você pode beijar a vaca descerebrada da Emmeline, que realmente não se é uma garota que se possa ter uma conversa duradoura e interessante e... - Nunca pude terminar essa frase pois senti meus lábios pressionados por outros frios, mas que mesmo assim fazia descargas elétricas percorrerem meu corpo, uma sensação maravilhosa e quando o ar faltou separamos nossas bocas, mas continuamos com nossas testas colados, com ele segurando minha cintura como se a qualquer momento eu pudesse escapar. Agradeço internamente por isso, pois minhas pernas estavam moles e a qualquer momento poderia me desmanchar.

- Eu sempre quis fazer isso- disse Scorpius sorrindo, ainda com os olhos fechados - Eu te amo Rose e você fala demais mulher - e assim voltamos a nos beijar...

Pois o que sou sem ti? Apenas uma máquina, com suas funções automáticas ligadas por um botão pela manhã e que é desligada quando a noite chega, pois minha alma, minha vida, minha vontade de viver se foi junto a ti naquele dia, aquele maldito dia...

- Então vai embora? Por que está aqui ainda? - falei com os olhos marejados. Ele não falou mais nada simplesmente saiu, se eu soubesse que você nunca mais voltaria...

Vou até a mesa de centro de minha sala e pego o porta - retrato que ele me deu quando ainda tínhamos 11 anos, estávamos no 1º ano em Hogwards, nem sabíamos o que era o amor ou que um dia poderíamos descobrir o que é isto juntos. Antes daquele dia, aquele maldito dia.

Uma, duas, cinco horas se passaram e eu não conseguia encontrar Scorpius em lugar nenhum, procurei em todos os lugares possíveis e impossíveis, nada. De repente um patrono entra em minha sala e a voz conhecida de minha prima Lily fala:

- Rose é a Lily, estou de plantão no St. Mungus, não quero te alarmar, mas o Scorpius acabou de chegar aqui ele foi encontrado por Alvo, estava andando com aquela coisa trouxa acho que é "outamovel", ele já está sendo atendido, venha o mais rápido que puder!

E o cavalo prateado se desfez, demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Eu e Scorpius discutimos várias vezes por ele querer este "automóvel", disse para ele que era perigoso que não queria que ele usasse mas ele insistiu e ele adorava dirigir o brilho em seu olhar era lindo, ele sempre amou as coisas trouxas.

Aparatei direto na entrada do St. Mungus. Fui até o balcão de atendimento e perguntei a secretária onde estava Scorpius Malfoy, ela me falou que ele estava no 5º andar. Chegando lá Lily estava a minha espera com uma expressão séria e triste no rosto.

- Rose, ele já chegou aqui... Desculpa... Fizemos tudo o que poderíamos, sentimos muito...- Meu mundo parou, não podia estar acontecendo, não, ele não podia... A menos de 24 horas atrás nós estávamos em nossa casa assistindo um seriado qualquer, estávamos rindo um do outro. Oh... seu sorriso como eu daria tudo para poder vê-lo só mais uma única vez, o som de sua gargalhada, seu sorrisinho de lado quando ficava sem jeito, seu cabelo rebelde, seus olhos cinzas como em um dia nublado, sua boca, sua pele tão fria e que me aquecia ao simples toque, sua voz rouca me chamando de Rosa, seu semblante tranquilo de manhã enquanto dorme, como queria ver o brilho novamente em seus olhos.

Deixo as lágrimas correrem soltas em minha face, como se assim minha dor diminuísse, pois nada mais adianta, nunca mais sentirei seus dedos gélidos limpando meu rosto e fazendo- as pararem de cair com um abraço apertado e um beijo em minha testa, nada mais importa, a culpa me consome a cada dia, hora, segundo desde que você me deixou, desde aquela briga, todo dia me torturo pensando que tudo foi culpa minha, se não tivéssemos brigado, se eu não tivesse sido tão tola, estúpida, ridícula e mesquinha não teria perdido você, meu amor, sempre meu amor, aquele maldito dia.

Penso em minha vida, em como mudei radicalmente desde que você se foi, mudei de país, atualmente moro no Brasil em uma cidade no interior no Paraná, me desliguei de todos os contatos com meus familiares ou pessoas em que conhecia antes daquele maldito dia, não usei mais magia, me formei em uma universidade trouxa e esta sou eu agora meu amor, diferente do que era á 5 anos atrás, me tornei uma pessoa amarga, triste, infeliz, e o pior é que além da minha infelicidade sei que causo a infelicidade da família a qual deixei, mais irei voltar para eles irei hoje mesmo, minhas passagens já estão compradas.

Consegui contado com minha prima Lily a 1 semana, ela me disse que minha mãe ficou muito doente depois que parti e que estava muito debilitada, fiquei ainda pior por saber que era a razão de mais dor e sofrimento, disse que iria voltar, então agora mantenho contato com eles e irei embarcar hoje para enfim encontrar minha família a qual amo tanto, pois sei meu amor que mesmo estando longe você iria querer que eu continuasse, nunca irei me perdoar, sei que tudo o que aconteceu foi por culpa minha, podem me dizer o contrario mas eu sei que eu sou a culpada, porém meus pais não merece isso, minha mãe não merece passar por isso, eu sou a única culpada a única a qual deve sofrer por isso...

Peguei minha mala e chamei um táxi, cheguei ao aeroporto fiz o check in e em uma hora e meia o avião partia em direção a Nova York. A viagem estava tranquila faltava apenas uma hora e alguns minutos para chegarmos quando começamos a ter algumas turbulências, as luzes do avião começaram a se apagar, sequer as aeromoças conseguiam levantar para acalmar os passageiros. A voz do piloto chegou baixa, era apenas um chiado distante. Aos poucos tremores passaram a tomar conta de meu corpo, triste ironia, quando decido retomar a vida ela é arrancada de mim.

Sinto o avião se inclinar cada vez mais para uma queda certeira. Será que alguém vai lembrar de mim? Poderia minha mãe me perdoar? O ar começa a me faltar, vejo Scorpius a minha frente, sua mão está estendida para mim e, ao invés de alcançá-la, pego a máscara de oxigênio a minha frente, abaixo meus braços e sorrio triste, se a vida quer que eu lhe encontre mais cedo não me oponho. E com as lembranças de nossas tardes em Hogwarts perco a consciência...

Porém tudo ocorreu bem, não sei como acordei com uma máscara de oxigênio no rosto, o avião estava estável e sarcásticamente, chegamos no aeroporto no horário previsto. Como havia combinado, Lily estava a minha espera ela me deu um abraço apertado, um sermão novamente por ter sumido sem dar explicações e depois me perguntou sobre minha vida fui contando a ela tudo o que ela queria saber, somente ela sabia de minha vinda pois queria fazer uma surpresa ao restante. Todos estavam reunidos N'a Toca para o tradicional almoço de domingo. Quando cheguei todos pararam e me olharam por um tempo até que um por um foram indo me abraçar, dar- me boas vindas e matar as saudades, depois de muitos sermões e muitos abraços, almoçamos e ficamos conversando o resto da tarde, mas ainda tinha uma coisa que eu precisava fazer então pedi o carro de Lily emprestado.

Passei em uma floricultura e comprei algumas tulipas vermelhas, você sempre me dava tulipas vermelhas, dizia que rosas eram muito clichês, fui em direção ao cemitério, nunca tinha ido em sua lápide, foi um pouco difícil achá-la em meio a tantas. Finalmente achei, coloquei as tulipas, passei meus dedos delicadamente em sua foto na lápide.

Meu amor espero que não tenha ficado zangado por demorar tanto para vir aqui, para poder me despedir de ti, sei que errei naquele dia, não devíamos ter brigado, se eu pudesse voltar ao tempo e consertar tudo o que aconteceu, ter você de volta, se eu pudesse ir em seu lugar ou até ir com você... Oh meu amor cada dia minha alma morre um pouquinho, sou como um ovo de páscoa, somente a casca, um ovo oco. A falta que você me faz é extrema, sinto que a qualquer momento você aparecerá de repente me pedindo para fazer o bolo de laranja que você tanto gostava, ou pedindo pra fazer o nó da gravata que você odiava usar. Ainda é tão estranho falar de você no passado, você ainda faz parte do meu presente, na verdade acho que você sempre irá fazer, pois você Scorpius Malfoy é o meu passado, presente e futuro.

Observei que já tinha escurecido então me levantei e voltei ao carro, coloquei o CD que costumávamos ouvir juntos e parei em um sinaleiro qualquer, ao notar onde estava notei que era o mesmo lugar que tudo aconteceu no mesmo lugar em que naquele dia tudo se transformou em meu inferno particular. No mesmo sinaleiro em que você se foi... Notei que o sinal já estava verde e dei a partida e assim que dei a partida uma luz forte tomou minha visão, senti uma buzina alta, um baque ensurdecedor e meu corpo sacudir para frente e para trás, de repente um silêncio e a escuridão a única luz era a do alerta que ligara com a batida, pois até a lua estava encoberta pelas nuvens. Levantei minha mão em uma última força e levei a cabeça, estava molhada, vejo pela luz do alerta um líquido vermelho, então percebo ser meu próprio sangue ali escorrendo, pela minha testa, minha vida se esvaindo neste líquido tão lentamente. Começo a me lembrar das pessoas que amo de minha família, minha mãe, meu pai, meu irmão, Lily, vovó, vovô meus primos, primas, tios, tias, sobrinhos todos que fizeram parte de minha vida e me fizeram sorrir mesmo que não merecendo. E a última coisa que lembro são aqueles olhos cinzas a qual me aquecia com um simples olhar, aquele menino a qual me apaixonei loucamente, que amei e amo como nunca amei ninguém, como me arrependo que minha última lembrança de ti seja uma briga e não um beijo, sinto lágrimas queimando minha face enquanto, enquanto um grito é contido em minha garganta, tento mas não consigo, as forças já abandonam meu pobre corpo que agora já quase sem vida jaz neste monte de ferro que um dia foi um carro. Ouço ao longe uma sirene, mas sei que já é tarde. Meu último pensamento: "Eu te amo Scorpius, perdoe- me " Ouço a voz que me faz ficar leve de repente e que leva toda a dor e angustia que sinto e junto leva minha alma para um lugar onde sei que você está. Pois é a sua voz que ouço é a sua voz que me diz:

- Venha minha Rosa nunca mais iremos nos separar. E assim eu vou, deixo este mundo de vez, mais leve, mais tranquila e sei que este momento devia ter acontecido a 5 anos atrás naquele dia...
Aquele maldito dia.