De acordo com a realidade... escrita por maddiesmt


Capítulo 31
cap 28 - O casamento - parte 1


Notas iniciais do capítulo

desculpe a ausencia galera...so voltei agora d viajem..então ..sem mais mimimis..Espero q gostem!boa leitura!



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Juliana sentiu um certo alívio ao ouvir a campa bater e anunciar o fim das aulas do dia. Se despediu de cada aluno com o carinho de sempre e voltou a sentar na cadeira que a tornava senhora de toda a classe. Reuniu os trabalhos dos pequenos e resolveu corrigi-los logo para que não acumulasse. Era essa a sina de um professor...independentemente da matéria que leciona, da classe, do local e até mesmo do nível acadêmico...nunca teria folga após o tempo estipulado em sua carteira de trabalho. Passava de exercício a exercício identificando cada erro com o olhos clínicos e concentrados.
–Oi minha flor...como foi a aula?- Zelão estava ali como sempre...disposto a ser seu servo e companheiro...porém, desde o dia do almoço na casa da sogra, a moça andava com dúvidas e inseguranças que a lembravam do começo de qualquer relacionamento que teve até hoje.
Juliana continuou a se concentrar nas letras vacilantes de seus alunos. Não queria expor os questionamentos pessoais e nem dar um fim a algo sem ter certeza de nada. A única certeza que tinha no momento era que o amava...mas não sabia se apenas isso era o suficiente. Precisava de um tempo...um tempo para analisar a situação...e não fugir como sempre havia feito durante todos esses anos.
–Zelão... – Não conseguiu evitar o suspiro dolorido que acompanhou o nome do amado.
–Eu posso conversar com você? – O rapaz sabia que tinha algo errado e estava disposto a tudo para concertar qualquer que fosse o erro que havia cometido.
– Não! Eu to muito ocupada agora Zelão.
–Mas não tem nenhum minutinho?
–Infelizmente não. Me deixe aqui sozinha no meu canto. A gente não tem nada pra conversar.
– Como assim? Mas eu tenho...
–Mas eu não estou disposta a lhe ouvir. Por favor Zelão...vá embora.
–Eu posso lhe esperar la fora e lhe acompanhar até em casa?
–Eu gostaria muito...que você não fizesse isso. Eu não quero falar com ninguém hoje Zelão. Por favor vá embora.
–Então...até mais. – Ele não iria insistir ...sabia que ela precisava do tempo dela e pressionar poderia ser um erro fatal.
A professora o ouviu se afastar até que a porta da sala fosse fechada com um estrondo típico de alguém que não media forças quando estava irritado. Observou a sala vazia e lamentou-se em voz alta a fim de que o coração ouvisse o que a razão lhe orientava a fazer.
–Eu não posso....eu não posso...essa loucura não é possível...esse amor nunca ia dar certo...nunca.
Ela sabia que estava fugindo novamente. Como sempre fazia em todos os relacionamentos. Não aguentava os problemas futuros e decidia que era melhor ficar sozinha do que afundar em preocupações. Sempre foi independente e gostava de resolver qualquer dificuldade que fosse sem a ajuda de ninguém...talvez essa fosse sua maior falha...resolver problemas a dois como um só.
*
Dona Tereza caminhava apressadamente pelas ruas da cidade. O terço em uma mão e a bíblia em outra. Tinha arranjado um ótimo grupo de igreja em que a filha poderia a acompanhar todos os dias depois do trabalho.
Encontrou o marido na loja na companhia da filha e sem sinais do rapaz que desafiava sua fé.
–Ja acabaram por aqui?
–Oi mãe...eu vou ficar mais um tempinho aqui pra resolver umas coisas la do sitio...mas a Gina ja ta liberada por que ela disse que tinha um compromisso.
–A...mais ela tem sim...tem um compromisso com o senhor não é dona Gina?
–Na verdade não mãe...e antes que a senhora fale alguma coisa...o meu compromisso também não é com o Ferdinando.
–E posso saber com quem é esse seu compromisso?
–É comigo mesmo...resolvi entrar em uma academia perto de casa...Não da pra ficar correndo nesse frio ne?
–E o Ferdinando?
Gina nem precisou argumentar com a mãe...ja tinha o pai a seu favor...mesmo que esse nem desconfiasse do plano dos amantes.
–Ora essa mãe...a menina só que se manter em forma... ninguém aqui ta falando do rapaz não.
–Mas e o grupo da igreja?
–A senhora me desculpe mãe...mas hoje eu vou me ajudar...dá licença que eu ja to atrasada para a minha avaliação.
–A tudo bem ...mas ja que eu estou aqui...pode deixar que eu te acompanho minha filha.
Gina suspirou e seguiu com a mãe...apenas esperava que isso não se repetisse nos próximos dias.
*
A mansão ja se encontrava em completo breu. O cansaço do dia e o frio fizeram com que todos se recolhessem mais cedo.
Apenas os casal dono da casa permanecia conversando em seu quarto.
Estavam bem, com a paz reinando após a briga devastadora de algumas semanas atrás.
Entre um gole de sopa e outro Catarina procurou inserir um assunto difícil na conversa amistosa que tinha com o marido.
– Epaminondas...você pare implicar com esse namoro da Gina com o seu filho...pelo amor de Deus eu lhe peço...isso vai complicar demais as coisas...só vai atrapalhar.
–Mas por que que você diz isso Catarina?
–Por que eu sei que você tem as suas diferenças com o Pedro Falcão...tem seus assuntos mal resolvidos do passado mas...
–Ele apoiou o talzinho que agora é senador...me traiu vergonhosamente.
–A mais isso ja passou...
–Eu não tenho tanta certeza disso...eu sempre fui um homem leal com meus amigos...nunca tive duas caras.
–Eu imagino que não meu querido.
–É mais você devia ter mais certeza disso Catarina. Porque eu te digo também...que depois que te conheci...nunca mais que eu tive qualquer coisa com alguma mulher nessa vida.
–Ai Epaminondas...eu não sei por que...mas eu acredito nisso.
–E você pode acreditar Catarina...e olha...quantas brigas nós tivemos.
–Sim sim...
–E alguma vez eu falei que ia te largar? E quantas vezes você quis ir embora dessa casa...mas não foi com o meu consentimento....não é verdade.
–É eu vou ter que concordar com você...eu também...eu também ameacei ir ..mas eu não fui.
– É ta certo...mas se você fosse embora mesmo você ia ter que me deixar a Pituquinha.
–Aii Epaminondas...tudo é a Pituca...tudo é pituca...a não é por minha causa...é por causa de Pituca...é Pituca que tem que ficar..eu se eu não ficar não tem problema..
–Deixa de ser ciumenta mulher...e uma coisa diferente da outra...Pituca é minha filha e você é minha mulher!E vou te dizer uma coisa Catarina...eu só largo você nessa vida...depois que eu morrer. –O senhor envolveu a esposa em um forte abraça e espalhou alguns beijos breves em seu rosto.
–E se eu morrer primeiro?
–Não fala uma coisa dessa...nem em pensamento Catarina...por que se você morrer eu morro no dia seguinte. Eu não saberia mais viver sem a tua companhia Catarina.
–Ai Epaminondas... eu acho melhor a gente morrer juntinho então porque eu penso a mesma coisa.
–É mais nós estamos vivos! Estamos vivos Catarina! Então vamo viver!
E viveram.
*
Gina nunca pensou que ia gostar tanto de ir para a academia....ou não ir. Chegou em casa com um sorriso tão grande que era impossível não identificar o motivo de tanta felicidade.
– Oi Juliana!
–E ai minha amiga...muitos exercícios? – A moça esboçava um sorriso triste e os olhos vermelhos.
–Ahh..sim sim...teve uns exercícios novos por la...o meu personal trainer e muito bom.
–Gina...ta bom...não precisa mentir pra mim e acho melhor você melhorar nessas desculpas se quiser enrolar a sua mãe. –Ela foi direta...seria melhor se a amiga soubesse por ela...que não sabia mentir.
–Ué...mas do que você esta falando? –
–Gina...minha amiga...o Ferdinando deixou assinado no seu pescoço que andou passeando por ai.
A ruiva conseguiu tingir a pele com uma cor mais vermelha do que a de seus cabelos. Tocou levemente o local sugerido pela amiga e riu do perigo que correu ao sair escondida para se encontrar com o namorado.
–Ai Juliana...o que eu posso fazer?! A mãe e o pai estão com marcação pra cima da gente...e bom...a gente fica com saudade né?!
–Eu lhe entendo minha amiga...mas no meu caso...eu terei que engolir a minha saudade por um tempo indeterminado.
–Ora essa o que aconteceu?- E pela primeira vez desde que chegara a moça de roupas de ginastica reparou na jovem de pijama de flanela e pantufas de porquinho...o uniforme do término.
– Ai Gina...- ela suspirou e continuou a relatar a conversa que havia tido com o segurança. – Doeu muito...mas... eu pedi um tempo pro Zelão.
–Ora essa mais por que você fez isso com o pobre? – Sentou –se ao lado da amiga e procurou entender a mente confusa por trás dos cachos coloridos.
– Foi muito difícil....foi muito difícil mais eu não tinha mais nada a fazer. E agora... agora eu tenho que esquecer esse amor.
–Mas você ja disse pra ele que ta tudo terminado entre vocês?
–Não...mas é como se eu tivesse falado...pra bom entendedor meia palavra basta...não é assim que diz o ditado?!
–E eu é que sei...?!
–O Zelão é inteligente o suficiente para entender o significado de um tempo...e o provável fim que o acompanha.
–Você acha mesmo que vai ser fácil se livrar dele?
–Por que haveria de ser difícil? Eu não quero mais nada...e pronto.
–Ai...isso é o que eu quero ver...
A moça deixou os cabelos rosas contrastarem com os cabelos vermelhos da amiga quando descansou a cabeça em seus ombros...e chorou silenciosamente.
*
Os dias foram se tornando mais frios e o termômetro marcava temperaturas nunca registradas.
Apesar do clima detestoso Gina saia da loja do pai com um sorriso nos lábios...e o pai se orgulhava da filha estar levando sua saúde a sério.
–O pai a Gina ja foi?- Dona Tereza parecia que tinha corrido pois lhe faltava o ar em cada palavra dita.
–O mãe...ela acabou de sair...mais uns 2 minutinhos você pegava ela aqui...mas por que?
–A então eu vou encontrar essa mocinha antes que ela entre na academia...precisamos ver o vestido pro casório da Milita que ta chegando.
–Ta certo... ta certo..va lá mãe que eu penso que com o tempo que tá fazendo hoje... não deve de ser bom mesmo essa menina ficar fazendo esses exercícios e depois sair para um frio desses.
–Ta bom pai...- Dona tê deu um rápido selinho no marido é seguiu na direção da academia...para infelicidade do casal que agora se encontrava.
–Eu...não aguento ...mais ficar...o dia ...todo te olhando e ...sem ...poder ...lhe dar um beijinho...meu amor..- Entre cada palavra dita um beijo era depositado no rosto da ruiva que agora ria sem parar.
–Ai frangotinho e você pensa que pra mim é fácil...eu passo o dia todo olhando pro relógio pra poder vir pra ca..e ficar coladinha com você. –Ela lhe depositou um beijo apaixonado e cheio de vontades.
–Então vamo indo que eu tenho uma nova serie de exercícios prontinha esperando a gente...- sussurrou em seu ouvido.
Ela riu da capacidade dele de ser convincente e tentador.
–Mas o que é isso? –A voz fez o coração dos jovens gelar. – Me digam o que esta acontecendo aqui?
–Calma dona Tê...a gente não ta fazendo nada demais.
–É mãe...e a senhora pare com isso... o Ferdinando é meu namorado!
–Sim eu sei...mas não precisa ficar de sem vergonhice no meio da rua. –A ruiva revirou os olhos...nunca entenderia a mãe.
– A senhora ta certa...me desculpe dona Te...mas agora acho melhor a gente entrar meu amor...
–Esperem um pouco...o doutor também ta fazendo essa tal de academia?
–A sim sim...a gente tem que cuidar da saúde...e essa é a única academia por perto.
Dona tê continuou com a cara desconfiada e tentava buscar no seu subconsciente uma restrição plausível.
–Bom mãe ...a gente vai entrando então.
–Mas eu posso saber o que que tanto atrasa vocês?
–E que a gente tem aula de dança hoje dona Tê...mas não se preocupe que é dança de salão...aquelas com instrutor e tudo.
–Sei...mas a dona Gina não vai poder comparecer hoje por que eu vim aqui justamente para busca-la...hoje não vai ter academia...hoje a senhorita vai comigo ver o vestido pro casamento da Milita.
–A....mãe...não carece não ...eu e a Juliana ja saímos pra comprar...a senhora pode ficar despreocupada. Agora deixa a gente ir ta? –Ela beijou o rosto da mãe e saiu puxando a mão do namorado até o interior da academia...na qual, pelo vidro fosco, puderam ver a senhora se sentar em um banco próximo...como um gato esperando um rato para dar o bote.
– É...acho que ela não vai sair dai tão cedo
–Aii Deus o que eu fiz pra merecer essa perseguição?!
–Bom...a gente podia aproveitar que ta aqui mesmo e fazer aquela aula de dança que eu comentei...acho que vi um anuncio uma vez.
–Nossa...restaurante no meio do nada, anuncio de uma academia que eu nunca tinha reparado até você falar...onde é que eu tava em todas essas horas?
–Ora essa...você tava pensando em mim...não perdeu seu tempo reparando em coisas bobas...
–Convencido –Ela lhe deu um leve tapa enquanto ria das besteiras do engenheiro.
–Então...vamos? –Ela fez uma cara de desgosto mais acabou aceitando o convite e se aventurando em um mundo que so havia entrado uma vez...e por causa da mesma pessoa que agora a conduzia para uma nova visita...
*
Os dias foram passando e o humor de Juliana se comparava ao clima da cidade, frio e apático com nuvens cinzentas no lugar do céu azul de seus olhos e uma chuva de lágrimas intermináveis que alagavam seu rosto.
–Juliana...eu não aguento mais te ver assim! – Gina ja estava irritada...não sabia se era pela cara tristonha da amiga que não mudava fazia tempo...ou se era a falta do próprio namorado que também ....fazia tempo....
–Eu nunca pensei que seria tão difícil minha amiga
–Então termine logo com esse tempo de vocês.
–Mas não é assim Gina...se ele pelo menos tivesse me procurado ou sei la...
–Mais Juliana...você se decida...você quer um tempo ou quer que o pobre a procure...não da pra viver dessa dúvida não.
–Ai eu não sei o que eu quero...
–Percebe-se.
–Mas Gina...o que ta acontecendo com você? Que falta de paciência é essa...? você realmente nunca foi a delicadeza em pessoa mas eu também nunca lhe vi assim...até parece que você vai explodir....
–A mais eu vou Juliana...eu vou! – A moça andava de um lado para o outro enquanto falava e tentava gastar a energia que gostaria de liberar de outra forma. – A mãe ta enchendo tanto as paciências...que eu nem tenho como encontrar com o Nando direito...a gente se ve o dia todo...mas o pai fica de olho...dai a gente vai la pra tal aula de dança e ela ta la esperando a gente entrar e continua plantada fazendo sei la o que até a gente sair...eu não to mais aguentando! E o pior é que nem da pra se aventurar na academia por que ela é cheia de câmeras e lotada...
Juliana riu do ultimo comentário ...percebendo até que ponto os amigos tinha chegado a pensar para que pudessem ter um pouco mais de privacidade.
–Tudo bem ela se preocupar mas... precisa ficar agindo que nem uma sombra do mal e seguir vocês para tudo o que é lugar?!
–Mas eu vou te dizer uma coisa Juliana...se a mãe continuar com essas historinhas dela eu vou começar realmente a pensar mais em como desligar as câmeras e fingir um alagamento no banheiro.
Juliana deu uma gargalhada rouca ja que a voz não estava mais acostumada com o som.
–Ai Gina...acho melhor você não fazer isso não.
–Ah...mas eu vou ficar sem ver ele o tempo todo agora?
–Não...mas não precisa exagerar né?!
–Ai Juliana...eu não consigo entender o que que tem demais a gente ficar namorando um pouquinho...poxa...
–Pode não ter nada demais...mas ...como é que a sua mãe fala mesmo...ah...sim...as vezes o diabo atenta.
–A..larga de ser besta Juliana!
–A larga de ser besta você....e vamo dormir logo é que é...
A manhã chegou rápida para Gina e demorada para uma Juliana com olheiras que denunciavam uma noite mal dormida....Nenhuma novidade.
–Juliana... – A ruiva a olhava com cara de dó...sabia que devia fazer alguma coisa para animar a amiga. - O que você acha da gente ir la no restaurante do seu Giaco...a gente podia visitar a Milita...ja que é amanhã o casório...ver se ela não precisa de alguma coisa...
–Ora essa...você preocupada com a Milita?...Não espera...você preocupada com alguém fora do seu circulo social e emocional.
–Que nada Juliana...a Milita se tornou uma pessoa bem admirável ao meu ver...e ela também é a noiva de um dos meus grandes amigos.
–E....
–E eu preciso tirar a minha atenção de alguma coisa que não seja essa vontade que eu to de agarrar o Ferdinando e...
–Ok...ok...ja entendi...vamos almoçar por la... ja que hoje é sexta e eu tenho um horário mais flexível.
–Ta certo então...
*
Ferdinando estava a caminho do trabalho quando ouviu o amigo de longa data o chamar.
–Ora essa doutor engenheiro...pra que tanta pressa.
–Ai amigo...preciso chegar logo no trabalho e me ocupar...
–Ja sei do que você vai se ocupar...de uma certa ruiva filha do patrão...
–Quem dera fosse meu amigo...mas nem me fale nessa história que ela ja ta me dando um trabalho danado..
–Ora essa mais por que?
–Por que Renato...por que eu gosto demais da Gina mas gosto de menos da mãe dela.
–Não...agora você ta brincando comigo.
–Não to brincando não...to falando sério...nossa...ela fala demais...ela me enche a paciência... me da uma preguiça.
–E eu posso saber o que a Gina tem a ver com isso?
–Ora essa...por que a mãe dela não deixa eu me aproximar da filha dela...e ela fica la...com aquele uniformezinho ...inocentemente me provocando todos os dias...e eu tenho que chegar em casa sozinho e tomar um banho gelado.
–Ah...você quer me dizer que a mãe dela ta deixando vocês no freezer...
–É...bem por esse caminho...mas vamos mudar de assunto... que eu preciso manter a minha cabeça fria.
–Claro...claro...então você vai no casamento de amanhã?
–Sim sim claro...e você?
–Eu vou sim...e...você sabe se a Juliana vai?
–Tava demorando...
–Ai mais eu gosto demais da Juliana meu amigo...Eu aprendi a admirar aquela moça Ferdinando...mas as vezes eu fico me perguntando...por que diabos ela não se abre mais comigo...nos éramos amigos ora essa...
–Talvez por que você brigou na frente dos alunos dela com o ex namorado dela...
–Ah...mas aquilo foi uma burrada sem tamanho...- o médico parou de andar e fez com que o amigo parasse também.- Você disse ex – namorado?
–Mas não vá se animando não doutor...pelo o que eu sei...eles estão dando um tempo.
–Mas eu ainda posso ter uma chance....
–Renato...Renato...você vai acabar se machucando de novo...
–Eu preciso tentar meu amigo...uma ultima tentativa que seja...
–Mas meu amigo o que vai mudar agora? Você ja falou que gosta dela não falou?
–Eu to cansado de falar isso meu amigo...eu nunca sei exatamente o que ela quer...ela vive jogando o corpo fora...e você sabe...eu sou um rapaz tímido. Eu sempre fui...sempre fui...ao contrário de você.
–É aquela história Renato...faça a fama e deite-se na cama...eu também sou tímido meu amigo...mas a minha maneira.- Ferdinando começou a chutar uma latinha vazia e abandonada na rua.
–Você conseguiu dobrar a Gina... meu amigo...
–Ai...nem me lembre dela que eu preciso de muita concentração para trabalhar com ela todos os dias...Mas eu lhe digo uma coisa meu amigo...se o Seu Pedro e a dona Tê bobiarem eu sou inté capaz de roubar a filha deles - Ferdinando pegou a latinha e mirou em uma lata de lixo ligeiramente próxima...a lata bateu no metal e voltou na direção dos pés do jovem médico.
–Isso eu vou pagar pra ver...- Renato riu, mirou e acertou em cheio.
A cara de espanto de Ferdinando foi o suficiente para fazer com que o médico soltasse uma gargalhada. O engenheiro seguiu até a lixeira para verificar se a pontaria do amigo realmente tinha sido certeira.
–É ...sorte no jogo...azar no amor...- Renato revirou os olhos em sinal de reprovação mas continuou a rir e a caminhar com o amigo.
*
O bar do italiano estava estranhamente vazio...tirando alguns casais espalhados pelas mesas de canto...o lugar até parecia anunciar um futuro próximo.
Nem acredito que conseguimos uma mesa hoje...e sem reserva.
–Ora professora Juliana...vocês sabem que não precisam de reserva...vocês são amigos da família. –Milita era só sorrisos e o seu jeito doce ja fazia com que o coração da moça de cabelos rosas amolecesse para a vida.
–Pois saiba que viemos aqui justamente para lhe oferecer ajuda ....sabemos que casamento não é algo fácil de lidar...então...como estão os preparativos?
Milita olhou a volta e sentou-se para uma conversa rápida.
–Ai está tudo muito bem...os pais do Vira fizeram questão de arrumar tudo...o lugar, a comida, a banda...só fiquei de arranjar a igreja e o meu vestido mesmo.
–E hoje a noite...você vai fazer o que?
–Descansar?
–Não Milita! Sua despedida de solteira...como vai ser?
–Eu não tinha pensado nisso não...
–Mas pode começar a pensar que eu e a Gina aqui vamos te levar pra sair hoje!
–Vamos?
–Vamos! E chame suas amigas...
–Mas são elas que estão fazendo a festa- Milita confessou o carinho de uma forma tão tímida e tão dela que Juliana não pode evitar de abraça-la como podia da cadeira em que estava.
–Pois nos vamos! E que ninguém nos segure! Apenas não esqueçam que despedida de solteira é uma festa para meninas...então nada de namoradinho ou noivinho hoje...a noite é nossa!
As três riram com a possibilidade de uma noite totalmente inesquecível.
*
Ao final do dia, Seu Pedro liberou os empregados e seguiu para o restaurante do amigo italino. Sentou-se no bar a lado do jovem médico, que ja estava tendo seu dedo de prosa diário com o senhor de bigodes finos, e entre um aperitivo e outro a conversa diversificou e convergiu para o casamento da filha do senhor de sotaque forte.
– É mais, se o amigo me permite, é bom ouvir que está tudo bem...a Milita é uma bela de uma moça e ela merece coisa boa.
–Eu também concordo filho – Seu Pedro mostrou que compartilhava do mesmo desejo – Mas por falar em...namorico...os senhores ja estão sabendo que a professorinha Juliana botou o Zelão para cantar em outra freguesia?
Para Giacomo...a informação fora um choque...para Renato...era apenas a confirmação que precisava.
– O senhor está falando sério Seu Pedro?
–Você tá olhando bem pra minha cara? Eu to rindo? Não to rindo! Então é serio!
–Então é por isso que não os vejo mais por aqui... – O italiano tentava se lembrar da ultima vez que viu o ex casal junto em seu restaurante.
–É por que ela não quer mais a companhia dele não...
–Então quer dizer que acabou mesmo – Renato olhava incrédulo e esperançoso para o senhor de barbas ruivas. –Mas isso é uma bela de uma notícia.
–Mas e o Zelão? O amigo sabe a reação dele?- O tom preocupante na voz do dono do restaurante denunciava que algo lamentável poderia acontecer.
–Ainda não...mas coisa boa não pode ser pode?
Giacomo preferiu se abster da opnião e Renato aproveitou a pausa para sondar a localização da amada.
–E vocês, por um acaso sabem se a professora esta em casa?
–A não...ela mais a Gina e minha filha saíram ainda agora daqui...foram para um tal de Cabaret...um clube de dança pra tal de despedida de solteira da Milita.
Os olhos do médico brilharam...sabia onde encontra-la.
*
–Juliana você tem certeza? – Gina tentava andar com as roupas emprestadas da amiga e com uma faixa rosa fúcsia que dizia em letras purpurinadas “Amiga da Noiva”.
A professora, que estava com uma faixa igual, apenas riu e ajeitou, mais uma vez, o véu de mentira que havia colocado na noiva.
–Vamos logo que o nosso nome ta na lista.
Gina estava feliz por ver a amiga, pela primeira vez em muito tempo, animada assim...mesmo que tivesse que pagar um mico para ve-la sorrir.
O local estava lotado...a música alta e as luzes piscavam freneticamente.
–Mas pra que tanta informação?
–O que? – Juliana tentava entender o que a amiga dizia porém estava mais interessada em escolher os drinks.
–Eu perguntei pra que tanto exagero nas luzes e no volume da música.
–Gina ...eu não to te ouvindo...apenas se divirta minha amiga! Vem vamos dançar!
A ruiva tentou mas não sabia dançar aquilo que Juliana chamava de música e ela de barulho. Tentou lembrar das aulas de dança e percebeu que nenhum passo que havia aprendido se encaixava no ritmo da música sem letra e sem foco.
Resolveu que iria voltar para o bar...apenas para trocar mensagens com o namorado sem os olhares reprovadores de Juliana.
Milita se divertia ao som do dj que gostava e arriscava passos que sempre havia treinado na frente do espelho...ja que nunca havia lhe sobrado muito tempo para diversões assim.
Já a dona dessa ideia segurava em suas mãos o quinto drinque seguido. Sabia que a primeira coisa que se fazia ao chegar em uma festa era comprar os tickets e aproveitar que o lugar não estava insuportavelmente lotado para conseguir logo suas bebidas. A moça fechava os olhos e deixava a musica leva-la para um mundo longe do seu sem amor. Movia o corpo seguindo o ritmo da batida e percebia as cores mudarem mesmo com os olhos fechados. Sentia-se solta...sentia-se livre...e repetia para si mesma que todo esse sentimento de liberdade era mais bem vindo do que a realidade de sentir-se sozinha.
Não percebeu quando um certo conhecido seu se aproximou, a rondando com olhos ferozes. Renato estava vislumbrado...Juliana havia abandonado as roupas que a faziam tão menina e adotado um look de mulher perfeita. Esperou a hora adequada...uma amiga ja estava no bar e sorriu quando constatou que a outra também se encaminhava para o local a fim de matar a sede.
Renato aproximou-se ainda mais e aventurou-se ao colocar as mãos na cintura fina da moça e sussurrou em seu ouvido.
–Sozinha?
Juliana se virou um pouco rápido de mais e deixou –se segurar pela médico que a amparava.
–O que você ta fazendo aqui?- Ah..o álcool...grande inimigo da sanidade em tempos necessários.
–Apenas me divertindo...não posso?
–Claro que pode...apenas acho que é muita coincidência .
Ele se aproximou ainda mais para se fazer entender.
–Pois eu acho isso uma bela de uma coincidência.
–Eu acho que você deve ir.
–Ora essa mais por que? Suas amigas foram se divertir também...por que você não pode se divertir comigo?
–Por que você sempre leva as coisas a sério Renato...não suportava nem as piadas que o Ferdinando fazia de você.
–Eu mudei Juliana...deixa eu te provar que eu mudei.
A visão ja estava embaçada...e ela não sabia se era da fumaça, da bebida ou das lágrimas que agora ameaçavam cair.
Lembrou –se de como o “Tempo” estava sendo difícil...e quanta falta lhe fazia ser amada...ser admirada...ser desejada.
A verdade era que brincar com egos era sua diversão...desde que o ego afetado não fosse o seu. Precisava resistir aos impulsos que a faziam tomar decisões imaturas....mas não conseguiu evitar que os olhos fechassem ao notar a aproximação dos lábios do médico.
Sentiu o hálito fresco dele se aproximando mas virou levemente o rosto. Não poderia deixar sua fraqueza falar mais alto.
O médico suspirou frustrado ao constatar que a moça o tinha rejeitado...mas seria maduro o suficiente para acatar qualquer que fosse a decisão dela.
–Desculpe Renato...mas ...eu não quero magoa-lo novamente...eu estou aqui pra me divertir...e é isso que eu vou fazer.
–Eu entendo...e lhe peço desculpas se a pressionei.
Admirada...Juliana estava completamente surpresa com a atitude do ex namorado que um dia fora tão egoísta a ponto de fazer dela sua propriedade.
A lembrança a fez engolir a ultima dose de veneno presente em seu copo. Depositou o mesmo em uma bancada perto do local em que estava e voltou-se para o moço a sua frente.
–Eu acho melhor você tomar cuidado com os excessos.
–E por que você não vai cuidar de algum doente? eu não sou sua paciente doutor Renato....
O rapaz a olhou com reprovação e ela sabia que ele estava certo.
–Olha me desculpe...eu não estou legal hoje.
–Eu ja percebi...bom espero que tenha uma boa noite...eu estarei no bar se precisar de alguma coisa....apenas...tome cuidado.
Ele se retirou e ela sentiu uma pontada de culpa que não deveria estar ali.
O resto da noite se passou com cantadas que ela ignorava, danças desengonçadas por parte da noiva, e uma Gina inquieta por ter acabado a bateria do celular.
Ao final as três saíram rindo...rindo da noite que tinha tudo para ser perfeita mas foi apenas divertida.
Gina e Milita iam na frente falando sobre o Cd que o noivo da segunda iria lançar. Enquanto isso Juliana observava contente a forma como as duas se davam tão bem. Se não estivesse meio alta poderia até ter ficado com um leve ciúme dessa cumplicidade. As acompanhou em silencio apenas sorrindo de toda a ironia do destino... a pessoa que mais procurava o amor...era a única solteira do local.
Parou um pouco e resolveu que daria um espaço para as amigas...não precisa ouvir suas conversas sobre lua de mel e declarações de amor...ou no caso da Gina...da falta que ela sentia do “frangotinho”.
Respirou fundo, retirou os sapatos e os segurou firmemente em uma das mãos. Sentiu os pé pequenos tremerem em contato com o chão frio, fechou os olhos e pediu para que o frio também congelasse o seu coração.
–Clinicamente falando...você pode vir a ser minha paciente em breve se continuar exposta a essa friagem.
Ela riu e lançou o olhar na direção da voz.
–Então eu tenho que começar a ouvir o meu médico e me apressar para sair dessa temperatura.
–Mas você sabe...que com um médico do seu lado...fica tudo mais fácil...
Ela riu e o notou mais leve do que antigamente.
–E antes que você fale alguma coisa Juliana...eu apenas estou seguindo a direção da minha casa.
–Eu não ia comentar nada.
Seguiram em silencio até que um cartaz de filme antigo, estampado em um velho galpão, os fez relembrar estórias e engatar uma conversa animada sobre o passado.
A moça tinha esquecido de como o rapaz podia ser tão agradável e ele lembrava-se perfeitamente de como ela era extremamente cativante.
Chegaram rapidamente na divisa das ruas que separavam suas casas e desacelerou os passos deixando com que as amigas continuasse o caminho para que ela pudesse se despedir do médico.
–Obrigada pela companhia Renato...sem dúvidas nenhuma...foi um dos pontos altos da noite
– Que isso Juliana...eu ..só espero que não esqueça...que eu sempre estarei aqui...a sua espera.
Ele se aproximou e ela fechou os olhos...esperou o contato que nunca chegou no destino esperado por ela. Ele escolheu depositar um beijo longo em sua bochecha.
–Boa noite Juliana.
– Boa noite Renato.
Ela seguiu o caminho cabisbaixa...sentiu o orgulho ferir e o ego doer e ele seguiu o caminho com a certeza de que ela não deixaria por isso mesmo...ela voltaria.


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