Mundo Quebrado escrita por ShoutOut


Capítulo 1
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Tivera que voltar. Sabia que a viagem fora somente um a tentativa de lhe trazer felicidade e calma. Falhou.

Realmente, a solidão lhe tinha certa afeição, sempre tivera.

Permitiram que dormisse no outro quarto, mas preferiu o antigo. Ele ainda estava do jeito que deixara, com toda a bagunça, não só a sua. Olhou para o beliche. As duas camas que antes eram propriedades de pessoas diferentes, agora eram suas.

“Agora você pode dormir aonde quiser”, ainda conseguia ouvir as vozes que lhe falaram isso em tom de brincadeira tentando lhe alegrar.

Todavia, a única coisa que pensou era que, dessa vez, ficaria somente com a escuridão, seu telescópio e consigo à noite.

Quando o céu foi delicadamente pintado de preto com pontos brilhosos, de pés descalços, caminhou até a janela de seu quarto onde seu telescópio estaria lhe esperando.

Em sua alma sabia que poderia ficar ali observando as estrelas até que a manhã seguinte chegasse, contudo seu olhar recaiu sobre o velho balanço azul no quintal de sua casa. Ele ficava um pouco fantasmagórico sendo iluminado pela luz de um poste velho.

Ali havia dois assentos, e só uma pessoa para sentar neles.

Mordeu o lábio com força e se virou de lado. Assim conseguira ter uma visão perfeita d’a ideia ainda estava onde a largara quando chegou.

Sentou-se na cama segurando aquela maldita ideia, e então olhou novamente para as estrelas.

- Hey. – um leve sorriso apareceu em seu rosto. – Conseguiu ir lá pra cima? – e então sua mão direita envolveu o pingente no seu colar e seu olhar caiu sobre a ideia. – Eu lembro o que eu prometi, ok?

Olhou para a ideia novamente. E pensou que devia sair de casa um pouco.

___

Luke venceu os degraus graças à sua reserva de energias particular para fugir de socialização, já que estava bêbado de sono – ele sempre estava bêbado de sono. Deixara Percy jogando Bomberman ao pé da escada por alguns minutos, pois sabia que o outro não era muito fã de alturas.

Colocou-se no limite desprotegido do prédio residencial onde vivia. De lá conseguia vislumbrar uma parte de toda a monstruosidade do tudo onde fora colocado sem escolha.

Sentou-se com as pernas soltas no ar, e olhou para baixo – para onde tinha de viver – pedindo algo que ele próprio não sabia como denominar.

Desceu. Chegou embaixo completamente cansado. Talvez estivesse ficando velho para aquele gosto por lugares altos.

Luke tinha um plano. Um plano vitalício que envolvia poucas coisas.

Era tudo muito simples, seguir a linha do “amanhã” e “ontem” - que são convenções idiotas - até que tudo parecesse uma página sempre em branco. Como se um “foda-se” pairasse sempre por cima de sua cabeça já que nada parecia nem remotamente interessante.

Podia morrer numa cadeira de balanço sendo uma biruta humana.

Chamou Percy para dar uma das milhões de voltas que eles já deram na vida. Era uma mania que eles adquiriram quando crianças, quando andavam de bicicleta pelo bairro.

- Quer jogar? – perguntou vendo que Percy parou em frente ao fliperama aonde sempre iam. Era dentro da Across the Universe.

O garoto assentiu com um aceno tímido e Luke deu de ombros. Jogar videogame em um fliperama até vê-se, de repente, falido era uma das prioridades de Luke, principalmente se fosse jogar com Percy.

Entraram sem hesitar, compraram as fichas e foram direto para os seus jogos preferidos.

Um rapaz fora jogar contra Percy. Não seria nada demais, entretanto Percy não gostou dele - barulhento e agitado demais - simplesmente saiu andando com o jogo ainda no meio.

- Hey! – o outro garoto gritou. – O que pensa que está fazendo?

- Não quero mais jogar. – Percy falou normalmente encostando-se a uma das paredes.

- Tem que terminar o jogo para sair, imbecil! – o outro fora em sua direção. – Tá querendo tirar sarro com a minha cara?

- Não quero mais jogar. – Percy não desviou o olhar dele, entretanto começou a escorregar contra parede e sussurrando coisas inteligíveis.

- Qual é a sua garoto? Tá maluco?

- Ele é autista. – Luke apareceu com as mãos nos bolsos pensando o quanto queria enforcar aquele desgraçado.

- Isso que dá deixar um maluco fora do hospício. – o outro rapaz falou quase cuspindo em Percy.

___

A discursão podia ser ouvida de fora do Across the Universe.

Só estava passando, com o capuz sobre a cabeça lhe dando uma leve sensação de proteção e escutando abafadamente os sons do mundo exterior.

- Ele é autista. – alguém falara.

Aquilo atraiu sua atenção. Entrou no estabelecimento e se juntou a pequena multidão que começava a se aglomerar do lado esquerdo do estabelecimento, um pouco longe de todas as máquinas de jogos que – em alguns casos – exibiam jogos inacabados ou por começar.

Eram três rapazes. Um se encolhia contra a parede, apavorado, o outro estava em pé indo em direção ao garoto, e o último estava em pé logo atrás dos outros.

O rapaz que ia em direção ao apavorado chegou perto o suficiente para fazê-lo gritar de tanto medo e então disse:

- Isso que dá deixar um maluco fora do hospício.

O outro, que só ficara atrás, fora rápido demais, jogara-o no chão com força o suficiente para que o baque fosse ouvido por todos no lugar. E então a briga começou. Pessoas pensaram em separar a briga, era óbvio, mas havia algo no rapaz que defendia o autista. Algo que percebera depois de alguns minutos de briga quando o dono do estabelecimento, um homem gordo e forte, os separou.

- Acha mesmo que Percy é o maluco aqui? – o amigo do garoto apavorado falou entre os dentes.

Os observadores remanescentes olharam para o fim da cena, o garoto que incitara a briga saiu machucado, de verdade, e com raiva; o outro, o que defendera o autista, ficou ali, e foi assustador perceber o quão pouco ele estava machucado. Um filete de sangue caía pelo lado direito de seu rosto graças a um ferimento na testa e só. Ele foi até o garoto apavorado e segurou o rosto dele.

- Percy, Percy, sou eu, o Luke. – ele se agachou em frente ao amigo. – Game Over, Game over.

Ficou ali observando. O olhar de Luke – decorara logo o nome dele – parecia sempre preguiçoso, mas havia algo mais naquele momento, algo... bonito e assustador em proporções iguais. Ele não parecia ser alguém que entrava em brigas e ganhava, mas ele entrou sem pensar duas vezes, só porque seu amigo estava em perigo.

Ficou ali, até que ele passasse por si e sumisse na noite. Ficou ali, e começou a pensar em jeito de como, diabos, iria conseguir fazer aquilo.

- Eu acho que encontrei. – falou baixinho enquanto voltava para a rua olhando para cima. – Ele serve.


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