Agora...

Naquela noite, Ashley e Katherine, fizeram as malas e partiram.  Apenas uma mensagem foi deixada no celular de Mia, dizendo à irmã que não se preocupasse.

O sol surgia no horizonte e os longos feixes de luz ganhavam espaço entre as nuvens da noite anterior.  No banco do passageiro, Katherine dormia tranquilamente e a única coisa que a denunciava eram os cílios ainda úmidos.

O carro voava pela rodovia sem nenhum destino. Depois de ter escutado parte da conversa entre a irmã e Sam Winchester, Ashley tinha tido a ideia das duas se afastarem da casa de Bobby Singer por um tempo.

            - Você vai ficar bem Kath. Tudo vai ficar bem.  – A ruiva sussurrou para a irmã adormecida.

            Porém ainda que tentasse enxergar além da neblina que havia se instalado na sua vida, que buscasse encontrar esperança, a sensitiva sabia que sua ruína era iminente. Não conseguia viver num mundo onde Castiel não existia, não se conformava em permitir que aquele sentimento que vivera tão brevemente se tornasse apenas lembranças.

***
            Mia acordou sentindo a cama vazia no lado de Dean. Os dois tinham escolhido um lugar para dormirem no início da manhã, embora ambos se sentissem bem para seguirem até o destino, queriam retomar a rotina e, dormir nos motéis baratos disponíveis à beira da estrada, era o que consideravam normal.
            A garota pegou o celular  e verificou que já passava das 14 horas, em seguida abriu a mensagem encaminhado pela irmã.

“Mia, espero que esteja indo tudo bem na sua caçada com Dean... Se é que é isso mesmo que vocês foram fazer hehe. Eu e Kath estamos indo para um passeio, te explico melhor quando der. Mande notícias, beijos!”

            A loira encarou a mensagem com desconfiança por alguns instantes, mas decidiu que iria ligar para as irmãs mais tarde. Resolveu tomar banho enquanto esperava Dean retornar para o quarto.

(sugestão de música: Here Without You - 3 Doors Down)

            Mia sorriu vendo seu reflexo no pequeno espelho do banheiro, não podia negar que há tempos não se sentia tão feliz quanto estava agora. Parecia que agora as coisas finalmente estavam entrando nos eixos, Dean estava vivo e sua relação com as irmãs na melhor fase em anos, ainda assim uma sombra ainda permanecia em seus pensamentos, Dean não conseguia compartilhar o que tinha vivido no Purgatório e a loira sabia que o silêncio dele estava cobrando um preço caro, além disso Ashley seguia se esforçando para parecer bem, mas ela a conhecia o suficiente para saber que apesar dos esforços era só uma questão de tempo para ela voltar a desabar. Mia sabia que estava vivendo no limite até que uma das bombas, ou as duas, explodissem.

            Suspirou resignada largando a escova de cabelos sobre a bancada e entrando no banho, não queria que seus pensamentos tomassem aquele caminho, porém parecia inevitável, precisava resolver a situação.

            - Ok, Mia, você precisa conversar com Dean, ele sabe que pode contar com você, certo? Então... chega de mistérios! – disse a si mesma.

            Dean retornava da lanchonete com um pacote de donuts para a loira, ainda que já estivesse de volta à vida há alguns dias, a simples e descomplicada atividade de ir buscar o café da manhã ainda lhe parecia estranho, como se estivesse sonhando.

            O caçador tinha certeza que a namorada percebia que ele estava fora de órbita, porém toda vez que tentava compartilhar o que vivera no Purgatório as palavras faltavam, não havia como ele descrever aquilo, como falar de Castiel, o amigo que abandonou... Não queria preocupar a loira, mas tão pouco conseguia dividir tudo aquilo. O relacionamento com Mia deveria ser fácil, simples e leve como era antes de terem explodido os leviatãs, mas nada estava sendo exatamente “simples” deste que voltara.

            Dean fez uma pausa, um suspiro instável antes de abrir a porta e encontrar a loira apenas de toalha pelo quarto, ela não demorou para reparar ele parado a observando e quando o fez deu um sorriso malicioso.

            - Eu já estava pensando por onde andava meu namorado fujão... – sugeriu ela com um sorriso.

            - Fui buscar o café da manhã! -  Respondeu o loiro erguendo o pacote de donuts até a altura dos olhos. – Mas te vendo assim, acho que esse plano vai ter que ficar para depois... – Sugeriu deixando o pacote sobre a cama e a abraçando.

            Mia sentiu os braços do rapaz a tomando num abraço, braços fortes se fechando ao seu redor, tornado os músculos ainda mais evidentes, fazendo ela se sentir segura, como se realmente não existisse nenhum problema, só aquele momento, as mãos calejadas de combater tantos maus contra sua pele... Ela sabia que faria qualquer coisa para ter ele em sua vida para sempre.

            - Eu te amo! – confidenciou ela, olhando diretamente dentro dos olhos verdes do caçador.

            -  Eu te amo, Mia! E eu lamento que eu nunca vou conseguir encontrar as palavras para te dizer o quanto. – Ele afirmou antes de a tomar num beijo apaixonado, ambos de olhos fechados, desfrutando de mais um milagroso momento na presença um do outro.

            - E quem diria que o Winchester mais velho é romântico... – a loira ironizou antes de roubar mais um beijo.

            - Bom, achei que você merecia saber. – respondeu com um sorriso quase tímido, o que a caçadora achou encantador.

            - Você é tudo que eu sempre quis, Dean Winchester. – declarou ela com o mais singelo sorriso que o caçador já havia visto e, embora seu impulso foi beijá-la no mesmo instante que ouviu à estas palavras, tirou um minuto para a observar na tentativa de decorar cada expressão da amada, aquele rosto que havia feito tanta falta, o sorriso que só ela podia oferecer, que fazia evidente sua covinha, suas bochechas se erguiam diminuindo um pouco os olhos da caçadora, mas que os tornavam ainda mais brilhantes e inesquecíveis.

            Dean a tomou nos braços a levando para cama, se desfazendo das roupas que eram as únicas coisas que os separavam. Estava disposto a amá-la como nunca desde que voltara, disposto a não permitir que Mia duvidasse nem por um instante que ela era tudo que ele precisava.

            Mia agarrou-se ao homem que além de seu parceiro de trabalho, também tinha sido seu salvador, seu confidente e melhor amigo, sentindo cada toque querendo guardar aquele momento para sempre, disposta a fazê-lo entender que ele era tudo que ela precisava.

            Ambos escutaram quando os celulares dos dois começaram a tocar, porém nenhum disposto a interromper aquele momento. Mia sentiu quando suas costas finalmente atingiram o colchão, estava totalmente entregue ao caçador e ele a ela.

***

            Na rodovia, o carro ganhava velocidade, cobrindo a distância para desfazer aquele sentimento que tomava conta, culpa.  Pelo computador ao lado o caçador rastreava o número de Katherine, precisava encontrá-la.