VII.

You doing that things you do.

Breaking my heart into a million pieces.

Like you always do.

The Wonders, That thing you do.

Eu fiquei no ônibus aquela noite. Eu realmente não queria ficar no hotel, porque não queria ver Ryan Ross ficando com outras pessoas. Por incrível que pareça, eu não quis que ele fizesse comigo, o que eu fazia com ele diariamente. Não queria atrapalhar, não queria ter que brigar de novo com ele por um motivo tão idiota.

Percebi que teria que reconquistar Ryan Ross pela amizade, com carinho, brincando novamente, mostrando para ele que eu continuava a ser o mesmo ser que ele supostamente amava. Ross me amava canalha, me amava quando eu estava divertido, quando o fazia rir. Afinal, eu não poderia perdê-lo sem mais nenhuma tentativa a mais.

Eu estava vivendo em função dele desde o acontecido, mas confesso que não estava apaixonado. Ele ficava indo e vindo em minha mente, em meus lábios, mas ainda não era para tanto. Eu sentia falta, realmente, de como éramos antes.

- Brendon? – O roadie entrou e deu duas pequenas batidas do lado de dentro do ônibus. Fiz sinal com a cabeça para que continuasse entrando enquanto eu me ajeitava na beliche.  – Só queria avisar a você e aos outros que vocês só tem mais três shows para o encerramento da turnê e um mês de férias.

- Um mês? – Arregalei os olhos – Eu achei que ia ser só uma semana ou menos.

- Vocês precisam de um tempo para pôr a cabeça no lugar. – Falou, se sentando na beliche em frente. – Depois daqui vocês vão para Dallas e de Dallas para Topanga...

- Dallas? Oh, poeira texana de novo. – Girei os olhos e sorri forçado, brincando.

- Até o fim dessa turnê, por favor,  tente amenizar as coisas com o Ryan. Alguns fãs já estão notando que vocês não se dão tão bem quanto antes. – Arqueei a sobrancelha, incrédulo. Como é que pessoas que estão tão longe de nós podem perceber nossas situações? Como é que eles nos descrevem tão perfeitamente? – Por favor, converse com o Ryan. Isso não é bom para a banda.

- Acredite, man. Eu tenho tentado, eu  realmente  tenho tentado, mas o Ross não está colaborando comigo. – Choraminguei.

- Conversa com ele, Brendon. – Suspirou – Diz que é pela banda, com certeza, ele vai parar para te ouvir.

- Eu não tinha tentado por esse ângulo. – Murmurei. – Vou ver o que eu posso fazer, dude, eu prometo.

O homem assentiu e depois de um tempo me fazendo companhia, saiu do ônibus. Fiquei pensativo com suas palavras e, acabei chegando a conclusão de que o roadie tinha dito ao Ryan para me tolerar, para me ajudar a ter aquela sintonia de antes fora dos palcos. Nem percebi quando Hayley chegou e se deitou por cima de mim. Confesso que fiquei feliz em vê-la e por isso a abracei também e depois de um longo tempo, já sem nossas roupas, dormimos.

Pela manhã, totalmente dormindo, abracei uma cintura – crente que era a de Hayley -, mas então percebi que era magra demais e um pouco mais larga para ser da menina. Com um pouco de relutância, abri meus olhos para confirmar minhas suspeitas de quem estava sentado em minha cama. Era mesmo ele, Ryan Ross.

- Ryan. – Sorri e tive que conter o maldito sorriso grande e bobo com uma mordidinha no canto dos lábios. – O que você faz aqui?

- Brendon. – Mexeu com a cabeça e pôs-se a acariciar de leve meu braço. Eu percebi o tamanho do esforço que ele fez para resistir a aquela vontade de me acariciar  e o quanto se repreendia por não ter obtido êxito.  – Eu estava esperando você acordar...

Sabe aquela sensação de que uma pessoa que te ama estava se declarando de uma forma que você gostaria de ouvir e você, simplesmente, não ouve porque está dormindo? Eu me sentia assim. Sua outra mão se fechava e abria repetidas vezes, a fim de me acariciar, mas sua mão se manteve encolhida.

- Pode me acariciar se quiser. – Murmurei, sem tirar meu braço dele que arqueou a sobrancelha. Eu tinha lido seus pensamentos e então, sua mão se abriu e tocou meu rosto, lentamente.  Chegou aos meus lábios com seu indicador e os contornou com cuidado, com devoção. Pela primeira vez eu notei o quão apaixonado Ryan Ross estava. – Cadê todo mundo?

- Ahm... É... A gente tem uma entrevista e... – A voz de Ryan saía falha e seu olhar continuava direcionado para meus lábios. Ele não queria parar e nem eu.  - ...Temos passagem de som daqui a pouco.

- Você esteve com alguém essa noite? – Perguntei, traído pelo meu próprio sono e minha leseira. Me encolhi mais perto dele e rocei o nariz por sua camiseta, ali não tinha o cheiro do Ryan; aquele cheirinho sóbrio que me embriagava. Confesso que meu corpo corroeu por ele não precisar me responder. Eu tinha minha resposta.

- Estive... – Murmurou – Mas eu confesso que queria você... Pra me ouvir. – Falhou, Ryan. Você não me queria lá para isso. Queria que eu fosse o seu alguém. – Vai tomar banho, Brendon.

- Essa cama é muito desagradável. – Reclamei. – Próximo ônibus vamos pôr umas camas decentes. Merecemos descansar melhor.

- Whatever. – Encolheu os ombros. – Essas camas são pequenas e você está com outra pessoa nela, por isso é tão desagradável.

Com esforço, Ryan apontou Hayley que se cobria com um lençol fino, virada de costas para mim. Sorri, acariciando a cintura do homem que estava comigo e ele discordou com a cabeça, como se dissesse que eu estava errado em acariciá-lo.

- Desculpe. – Murmurei e Ryan girou os olhos.

- Você tem que tomar banho. – Suspirou, tirando minha mão de sua cintura ao se levantar – Estamos atrasados por sua culpa.

- Oh. – Cocei os olhos devagar enquanto me levantava, sem me importar muito com o fato de eu estar completamente sem roupas. Ross mordeu o canto do lábio e virou-se de costas para mim. – Eu tenho que falar com você.

- Banho, Urie.  – Ordenou, sem me dar ouvidos – E não demora ou eu juro que vou cortar o seu mini-melhor-amigo fora.

- Mini? – Arqueei a sobrancelha – Você ainda não viu o que ele é capaz de fazer, Ryan Ross.

- Não me importa mesmo. – Encolheu os ombros. – Quem sabe você se comporta mais se perder o seu mini-melhor-amigo que não serve pra muita coisa.

- Ryan Ross! – Bati o pé no chão do ônibus, contrariado. Ele riu baixinho e apontou em direção do banheiro.

- Cala a boca e vai pro banho. – Rosnou.

- Vem me calar, Ryan Ross, vem... – Chamei e ele deu alguns passos até mim. Juntou nossos rostos e deixou um pequeno espaço apenas que eu tentei quebrar, mas ele me empurrou fortemente contra a porta do banheiro e disse:

- Cala a boca e vai pro banho, Brendon Urie.  – Até fingi que tive medo dele, mas o mais importante dizer é que eu fiquei com vontade de beijá-lo. Muita vontade. Fui para o banho antes que o Ross desse um surto louco de raiva e realmente cortasse meu amiguinho fora.

Quando eu saí do banheiro, Hayley não estava mais lá. Confesso que ouvi alguns gritinhos entre ela e Ryan, mas não deu para entender. Talvez fosse por isso que ele não notou o tamanho da minha demora no banheiro. Ele não me deixou perguntar aonde ela tinha ido e, como eu já estava vestido, me puxou para fora do ônibus e fomos dar a tal entrevista.

Sinceramente, eu respondi pouco. Estava com um sorriso tosco nos lábios porque, depois de muito tempo, Ryan tinha agido comigo como agia antigamente, antes de eu tê-lo ‘forçado’ a ter relações comigo. Agia como um amigo protetor. Eu queria que a entrevista acabasse e no tempo entre a passagem de som e a entrevista, ia conversar com ele sobre nós dois apesar de não ter palavras. Queria falar sobre a banda, sobre ele, sobre como ele tem passado sem mim, confessar que sinto sua falta o tempo todo e mostrar-lhe o quanto estava feliz por não ter sido arredio comigo.

Ao oposto do que eu pensava, não nos falamos muito depois da entrevista, passagem de som ou o resto da turnê. Quando esta terminou, cada um de nós, membros da banda, fomos para um lado: Spencer voltou para Vegas, queria ver Haley, Jon foi para Chicago, também querendo rever Cassie e eu não tenho noção de para onde Ryan Ross foi passar as férias. Eu, entretanto, segui viagem com o Paramore, só para ter o luxo de não ficar sozinho.

Seriam minhas primeiras férias sem o Ryan em muitos e muitos anos. Eu costumava dividir tudo com ele nas férias; íamos para cabanas longe a civilização, montanhas, Disney... Nunca ficávamos em Vegas, porque Vegas era nosso lar e quem é que passa férias em seu lar? [n/a: eu o] Aliás, eram tirar férias do próprio Ryan Ross e eu precisava saber até que ponto eu chegaria sem ele.