Nosso lugar de refúgio escrita por TheQueen


Capítulo 2
Agosto - 2ª Semana


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!



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Agosto

2ª Semana...

A temporada de chuva começou a partir daquele dia...

Ainda tenho as vagas lembranças da mulher desconhecida sentada ao meu lado, em uma curta distancia, deliciando-se em uma bebida que pareceu ser feita exclusivamente para ela, somente para ela saborear o tamanho gosto que aquela bebida poderia proporcionar.

Ela bebida de uma forma tão sensual...

A mulher bebia como se não se importasse com nada em sua volta. Como se não se importasse com o que pensariam dela, ou com as conseqüências que isso poderia se tornar em seguida. Que tipo de problema será que ela possui? Quais são os seus pensamentos sem relação á esse lugar em que chamamos de nosso mundo? Quais são os sentimentos que se apoderam dentro de si? Na verdade, eu não faço à mínima ideia. Mas, de qualquer forma, eu gostaria de entender os motivos dessa mulher que tem me feito criar tantas perguntas em relação a si. Eu gostaria de poder ao menos tentar entender os meus próprios motivos...

Aquela frase que ela me disse no outro dia ainda permanece ecoando em minha mente repentinas vezes:

O nosso lugar de refúgio...

Seja lá o que ela quis dizer com isso, mas eu tenho uma leve sensação de que isso é uma coisa boa. É algo em que nós duas poderíamos compartilhar juntas, de uma forma com que poderemos sempre nos encontrar e passar a entender os motivos uma da outra... E eu gostaria que isso acontecesse.

Durante esses dias eu havia me encontrado novamente com a mulher desconhecida. Sempre que chovia, eu caminhava na mesma direção do meu jardim pensando se ela estaria lá, e bem, em todos os dias ela estava, e a mais bela possível. Em todas às vezes conversávamos de forma animada, ela me contava histórias sobre a chuva, tomávamos alguma bebida que não fosse alcoólica (já que ela não tinha tomado durante esses dias), era mais algo como um café, ou algum tipo de suco delicioso. Outras vezes eu continuava a minha leitura sobre Astronomia e ela escrevia algo de forma concentrada em sua pequena agenda... Ou então ela lia um bocado de papéis que tinha sob seu colo, enquanto eu colocava meu conhecimento e minhas teorias sobre a Astronomia no papel em branco... Em momento algum a chuva ousou parar de cair lá de cima, e quando parou - dando inicio á um dia ensolarado - eu tinha que acordar e tomar meu caminho para a escola de StoryBrooke, onde eu continuava com as minhas teorias astrônomas, em um lugar isolado dos demais. Mas dai quando voltava a chover novamente meu peito se enchia de alegria só de pensar em rever aquela mulher e seus misteriosos pensamentos... Então quando nos víamos nós conversávamos sobre coisas aleatórias.

Em um dos dias chuvosos tivemos uma conversa sobre, o meu provável, futuro:

– Astrônoma? – ela havia me perguntado surpresa. Estávamos em um canto aberto do jardim.

– Sim... Sei que é algo difícil e estranho, mas eu sempre gostei de saber sobre aqueles pontinhos iluminados que ficavam no céu à noite... Não só as estrelas, mas também os planetas, as galáxias... Tudo. Eu sei que ainda não tenho o total conhecimento, e tenho muito que aprender, mas eu quero fazer disso o meu futuro.

Ele apenas havia olhado para cima, e sorrido de forma compreensiva.

Não sei o que ela pensava a respeito desse meu sonho. Não sei se ela realmente compreendeu os meus desejos... Mas eu não me importo muito com isso. Na verdade, talvez eu me importasse um pouco sim.

Ela deve achar que, primeiro: Uma adolescente de dezessete anos, como eu, ainda não tem maturidade o suficiente para realizar um sonho como aquele. Segundo: Ser astrônoma é a coisa mais idiota que alguém, como eu, poderia ser.

Ela realmente deve pensar dessa forma.

Outro dia ensolarado havia dado lugar á chuva. Naquela manhã eu fui para a escola e em seguida para casa. Contei como havia sido meu dia na escola para os meus pais e fomos ter um momento ‘’família’’ fora de casa.

Mas o que eu queria mesmo... Era que chovesse.

Quando o dia se ia, nas noites antes de dormir... Assim que eu abria os olhos toda manhã... Percebi que estava implorando aos céus para que chovesse.

Notei que os dias ensolarados não combinavam comigo. Eu me sentia deslocada no lugar em que eu vivia... Cercada por pessoas horríveis, de mau caráter. Mas os dias de chuva combinavam comigo perfeitamente. Nos dias ensolarados eu não tinha nada. Nos dias de chuva eu tinha ela, a mulher. Para mim ela representava nada mais e nada menos que os próprios mistérios mal solucionados do mundo.

Os meus próprios mistérios.

~*~

Os meus dias são tediosos...

Na verdade, nem todos são.

Os dias de chuvas não são entediantes. Pelo contrario, são os dias em que eu mais me sinto bem comigo mesma... Agora tendo uma acompanhante para estar no mesmo lugar que eu, era de fato o que eu precisava.

Eu sempre soube da existência daquele jardim, por mais que quase nunca – quase nunca mesmo – alguém aparece por lá. É apenas em dias ensolarados que algumas pessoas resolvem dar as caras naquele jardim, fora isso... Eu tenho aquele lugar totalmente para mim.

Tenho vinte e nove anos, porém não me sinto diferente de quando eu tinha cinco anos a menos. Eu me sinto totalmente... Incompleta. Como se faltasse algo em mim. Não é só como se eu precisasse da companhia de um outro alguém. É como se eu necessitasse de algo válido em minha vida, já que tudo está um mar de negatividade. Também não vou dizer que sou o tipo de pessoa que tem bastantes amizades, de forma alguma, eu acho que sou mesmo uma completa isolada. Tenho como refúgio esse jardim, o único lugar no qual eu posso ficar livre das pessoas em meu redor me dizendo o que eu devo ou não fazer, o que eu preciso ou não fazer, ou cuidando da minha vida como sempre fazem. Por isso, eu sempre estive presa nesse mesmo lugar que denominei de meu refúgio, e não me importo com isso eu até que me sinto muito melhor... Sinto-me em um direito meu ter essa liberdade.

Até um tempo atrás eu achava que estaria sempre sozinha nesse meu ‘abrigo’, algo que definitivamente passou a mudar quando eu a vi pela primeira vez. Ela é simplesmente linda e encantadora. Os seus cabelos loiros me lembravam muito o brilho do sol, por mais que eu não goste muito dele... Mas os seus fios loiros são verdadeiramente dignos da palavra perfeição.

Durante uma semana eu tive ‘encontros’ e conversas agradáveis com a garota dos cabelos loiros. Ela era fabulosa, e conseguia me fazer esquecer-se dos tantos problemas que me assombravam, e eu sei que essa chuva é só mais uma desculpa para nós duas nos refugiarmos juntas no nosso jardim.

Para que nos encontrássemos.

Caminho pelas ruas de StoryBrooke em meio aos pingos gelados da chuva que caíam em meu braço.

Suspirei e abaixei a cabeça, olhando para o chão conforme eu caminhava.

Sei que ela estaria lá quando eu chegasse então isso me deixou muito mais contente do que o normal. Eu me sinto bem com ela próxima, mesmo que seja só sentada ao meu lado... Mesmo que ela fique sem trocar uma única palavra comigo. Só de ter a presença dela ali já era o suficiente. Aquela garota me fazia sentir algo que nem eu mesma soube que poderia sentir.

Para falar a verdade, eu deveria brigar com ela por faltar tanto assim á escola... Afinal, isso é errado. Porém, eu precisava dela em dias de chuvas, assim como eu tenho absoluta certeza que ela também precisava de mim.

Atravessei a ponte do lago e andei até o lugar em que eu provavelmente a encontraria.

– Oi – ela acenou. – Bom dia.

– Bom dia.

– Você demorou hoje, já ia pensando que você não viria. – fez cara de tristeza.

Ri baixinho.

– E te deixar aqui sozinha? Nem pensar.

Dessa vez foi ela quem riu.

Caminhei-me até ela e sentei do outro lado.

– Como ainda não foi demitida no seu trabalho? – perguntou.

Se ela soubesse...

– Como seus pais ainda não sabem que você falta todo dia que chove? – perguntei.

Ela olhou para o lado e depois olhou para mim.

– Tenho meus truques! – cochichou.

– Só tome cuidado para não ser reprovada!

Ela sorriu e acenou, voltando sua atenção para o livro de Astronomia.

Ela gostava mesmo da Astronomia. Assim como um dia eu também gostei.

Peguei minha bolsa e busquei nela algo que eu tinha preparado hoje mais cedo.

– Eu fiz torta de maçã, você quer?

– Você cozinha? – perguntou surpresa.

– Por que a surpresa? Eu sei cozinhar viu... - entreguei-a um pedaço. – Só não sei se cozinho o bastante para a comida ficar gostosa...

Ela abocanhou a torta e mastigou.

– Uaau! Isso está esplêndido! – ela disse de boca cheia, um ato que com certeza me fez corar de imediato.

– Nem está tão bom assim vai... – abaixei o olhar.

– Está brincando?! Isso está perfeito!

– Já que você está dizendo... – murmurei mordendo um pedaço da torta.

Não sou uma expert na cozinha, mas confesso que sim, eu até que sei cozinhar... Até por que uma mulher que vive sozinha como eu tem que se virar sozinha.

A garota sentada ao meu lado sorria e ria para mim conforme eu falava alguma de minhas besteiras para ela. Mais riamos do que conversávamos, e eu nem faço ideia do por que de estarmos rindo tanto.

Só apreciávamos aquele momento.

Ela me contou uma de suas histórias bobas e eu contei uma das minhas.

Aquela garota era mais agradável do que eu imaginei. Ela conseguia fazer com que eu esquecesse que existiam pessoas lá fora, que existiam deveres a serem cumpridos...

~*~

– Bem eu preciso ir agora. – eu falei.

– Ah tudo bem, eu já estou de saída também... – disse a loira. – Nos veremos em breve.

– Sim, até mais! – acenei, tomando meu caminho.

– Até a próxima chuva! – ela gritou, também acenando.

Sorri assim que sai de sua vista.

Eu espero que amanhã, assim que eu acordar esteja chovendo.

Peguei meu caminho para casa em momento algum sem parar de ‘rezar’ para que amanhã chovesse. Seria pedir demais que chovesse novamente? Seria egoísmo?

Eu não quero saber.

Cerca de quinze minutos depois eu avistei a porta 108 da minha casa. Fechei meu guarda chuva e entrei. Eu só queria deitar um pouco. Tenho dormido muito mal.

Assim que entrei no meu quarto joguei-me sob a cama, fechando os olhos por alguns segundos. Segundos o suficiente para que em seguida meu celular vibrasse ao meu lado.

– Alô.

– Ei, sou eu liguei para saber como você está...

– Eu estou bem, Daniel.

Daniel era meu ex-marido.

Como anda seu problema com a comida? Tem se alimentado?

– Não era nada grave assim... Eu estou comendo sim.

Você vive bebendo bebida alcoólica e não se alimenta, ainda assim diz que não era nada grave? O melhor que você fez mesmo foi sair daquele cargo. Era muita estresse para alguém como você.

É... Talvez.

Daniel falava comigo de forma preocupante, de forma gentil... Como se apenas uma palavra dita de forma errada pudesse me quebrar ao meio.

Não se esforce muito, querida. Eu estou contente que tenha melhorado os seus problemas.

Na verdade, eles não tinham melhorado tanto assim.

– Obrigada, Daniel, e me desculpe por fazer você se preocupar com meus problemas mesmo depois da nossa separação. Eu te agradeço muito.

Ele riu do outro lado da linha.

– Não diga besteiras. Nossa separação não tem nada a ver com isso. Somos amigos além de tudo.

É... Bem, eu vou descansar um pouco. Até mais.

Tudo bem, até mais.

Encerrei a chamada e larguei o celular na cama, abraçando as minhas pernas.

Eu só tenho causado problemas e preocupações para as pessoas... Eu sempre faço isso.

Eu nunca vou poder mudar isso.

Nem mesmo se eu quisesse.

Eu gostaria que aquela garota, cujo nem mesmo a idade direito eu sei, entendesse os meus problemas e compreendesse os meus motivos... Toda via, eu acho que é uma ‘’responsabilidade’’ muito grande para alguém que nem eu mesma faço ideia de quais são os seus próprios problemas.

Cada um deve cuidar de seus problemas, afinal.


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Notas finais do capítulo

Me deem suas opiniões! Beijos.