Música para beber e brigar escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 1
MÚSICA PARA BEBER E BRIGAR




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É até engraçado meu amigo, só me resta você, lembre-se do meu conselho, você pode ter o mundo aos seus pés, mas quando ver que o quintal só tem mulheres deitadas, entorpecidas por histórias e bebidas estrangeiras, o que te resta é ver o passado um desperdício de vida. Do que vale ter diversas e no fim nenhuma delas ler com fervor nos olhos e na voz? As tabernas estão cheias porque os homens e mulheres estão vazios. Agora percebo porque não escrevia, eu era feliz e não sabia, agora com a decadência fluindo, o gráfico despencando, percebo que as letras apenas grafam o papel quando minha mente repudia o mundo, repudia o prazer.
Minha mulher me trocou por um banqueiro, minha filha foi embora grávida, penetrada por um garoto que está mais longe que o oásis. O que me resta agora? Uma viola e uma fogueira para dias frios? Meus livros relidos e destruídos em templos? O que me resta é lutar contra o vício, não posso negar, sou o culpado de toda essa odisseica inglória. Troquei uma carreira, vivendo da glória do passado, um best-seller e o resto preenchido, na verdade esvaziado pelo sexo compulsivo, doses repetidas de tequilas envenenadas, minha iconoclastia foi feita de fluídos corporais.
Talvez eu mereça isso, talvez eu deva acreditar que mereço sofrer, dizem que a fama e o dinheiro são as provações mais difíceis que alguém teria que passar, junte um pouco de proeminência, eloquência... O coquetel é mortal, e o cheiro forte que vem se tornar odor está impregnado na roupa e no corpo.
Não vejo saída, sempre estive maravilhado com o terror que causei aos meus personagens e personificações mais horrendas possíveis, agora sou um deles, posto em um livro de drama, tendo suas vísceras postas em provas, em um jogo que não sairei vivo.
Você ainda pode ser alguém, eu continuo aqui, no meu trono de mentiras, feito de corpo e esqueletos naufragados, sei que não posso reparar o que fiz, a tentação parece tão circense que só percebemos o terror em nossa pele, quebrando o copo do que resta de sanidade, quando na sua solitude, só há tiros no escuro e abraços apertados ao travesseiro.


FIM
28/07/14


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