Num daqueles dias solitários a insônia bateu mais forte, fiz cafuné em mim mesmo até pegar no sono. Ninguém é sozinho no mundo.
Estava naqueles dias bem desamparados, queria atravessar alguma idosa ou gritar “pega ladrão” só queria ser ouvido, acordei pedindo para que os raios de Sol me abraçassem.
Fiquei sentado a manhã inteira na cozinha olhando para a parede verde procurando algum traço fora do normal ou apenas imaginando a imensidão do oceano com uma chuva mansa.
Queria sair com alguém num carro, estrada afora e sentir uma leve brisa esquentando a minha nuca, queria conversar com os céus e agradecer a minha vida.
É difícil manter os pés no chão enquanto a mente voa, até o meu suspiro estava mais fundo e menos entediante, uma coisa era certa, momentos de ócio eram frequentes à tarde.
Eu não me importava com a ventania que mexia as minhas plantas e nem com os pássaros matinais migrando, estava relaxado, olhando ao céu com certo pudor, as músicas eram leves e a respiração profunda e calma.
A textura mudou naquele dia, eu sentia minha pele e não queria criticar ninguém, podia rotular aquele dia de perfeito onde a quietude das coisas tinha sentido.
Eu estava em uma barca de fantasia, só faltou o arrebol para fechar o dia, mas eu me sustentei com o Sol dizendo tchau no fim de tudo, estava tão atraente.
Estava simplesmente puro sem pensamentos conturbados e irreais, conversei comigo mesmo, não como nos outros dias, foi diferente, amigável, sem tortura emocional.
Ninguém me disse para falar mais baixo , as cadeiras pareciam tronos e o chão repleto de algodão, parecia que eu estava no céu, levado por anjos da minha própria criação.
Ninguém tinha me dito que a felicidade estava tão longe, fui lá e busquei.
Não tinha enigmas as paredes e nem os meus olhos, não tive dor de cabeça e nem câimbras no dia que teve seu término de forma inesperada, deitei a minha cabeça no travesseiro sem preocupações e nem vozes e hibernei como nunca antes, numa cama que parecia repleta de pluma.
Até o clima estava diferente, fresco de uma forma incrivelmente agradável, dormi de tarde com a janela aberta e com o Sol sobre minhas pálpebras.
Não liguei televisão e nem computador, foi como viver longe da civilização de uma forma nova sem contato externo bruto, eu não precisava de mais nada, a minha mente me levava a onde eu quisesse.
Gritos não existiam mais para mim, meus ouvidos ouviam até o andar da formiga em uma dimensão paralela, mas não o grito dos tolos, ouvia sim o silêncio do sábio da esquina.
No meu quarto pequeno eu não falei palavras em vão e nem ouvi os latidos do meu cachorro, palavras meigas ecoavam no interior da minha alma enquanto eu eliminava os pesares dos dias anteriores.
Na imensidão de um dia diferente eu me encontrei no ápice da calma e da quietude que acalma de forma inesperada.

FIM

10/07/13