O abajur está no chão, feito em pedaços. Corro na noite, há bicicletas entortadas por alguma força muito superior diante do beco, os tijolos são obras de arte com todo o sangue jorrado, corro como se não houvesse amanhã, minha vitalidade vai gradativamente sendo substituída por adrenalina.
Sinto, vejo. Ele está lá, sentado no seu catisma, com as pernas cruzadas, pensei que essa espécie havia sido extinta há muito tempo. Homens desfigurados por causa das trevas, um terno negro soldado na pele, a cabeça substituída por fumaça, a visão aérea durante a madrugada me lembra grandes charutos.
Corro até o carro, por detrás do meu ombro vejo círculos de fogo sendo formados, por ser uma memória ou um sonho quebradiço talvez eu esteja sendo caçado, talvez a escuridão quer substituir minha cabeça por uma dispersão negra, nesse mundo realmente distópico, onde os bons são presas, e os maus repousam em tronos, sou apenas um peão que deve sair do jogo.
Durante a corrida desesperado, eu não respiro, só sinto o ar frio engolfando minha pele, todavia sinto o suor gelado atravessando meus poros, tudo podia ser apenas um maldito pesadelo, porém sinto que vai muito além disso, minha morte sobre o clarão da Lua deveria significar o meu último inspirar no mundo real, portanto corro fazendo o papel de réu do carrasco.
Acordo assustado, uma mulher estranha, desconhecida, acudi-me, oh não, o que aconteceu?

FIM
25/07/14