Shiver escrita por Aurora


Capítulo 2
Rains Of Paradise


Notas iniciais do capítulo

Muito bem, com os últimos comentários me senti muito incentivada a continuar, e aqui está, o mais novo capítulo! Fiz o possível para que ficasse claro, mas se houver qualquer dúvida podem me falar e darei o meu melhor para esclarecer! Boa leitura!



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O som alto fazia batidas em pausas certas com pancadas de barulho. Rin havia conseguido alugar uma boate inteira pela noite de segunda-feira, mesmo que apenas metade das pessoas ali fossem realmente conhecidas de Miku.

Mesmo que aquela música não fosse a que ela estava acostumada a ouvir, ou aquelas pessoas não fossem as que Miku mais preferia ver, estava se divertindo.

– Miku! – uma voz familiar gritou sobre a música, quando alguém tocou-lhe o ombro.

Ela se virou e deu de caras com Gumi, sua chefe. Ambas trabalhavam numa lanchonete pequena, mas arrumada e agradável. O salário era o suficiente para Miku comprar o que queria, já que era sustentada pela mãe.

A aniversariante sorriu e abraçou a convidada. Gumi lhe entregou uma caixa com embrulho listrado, vermelho e branco.

– Aqui, pro seu aniversário! Só abra quando chegar em casa, hein! – Gumi riu e se esgueirou pela multidão. Miku sorriu só de imaginar o que era. Gumi não tinha muitos limites, então podia ser literalmente qualquer coisa.

Numa mesa onde estava colocando os presentes, Miku guardou o de Gumi, tendo certeza que ficasse seguro e não caísse.

– Irmã! – Luka apareceu entre a grande quantidade de pessoas, segurando a mão de seu namorado, Gakupo. Quando chegaram à América, Luka foi convidada a uma festa e quando voltou, já estavam namorando. Mesmo que repentino Miku os achava um casal gracioso. A não ser por Gakupo às vezes ser dono de uma personalidade excêntrica e estranha.

– Meus parabéns, Miku! – Gakupo sorriu e a abraçou. Ele deu uma longa olhada nela, de cima a baixo. Nada com malícia, só parecia estudá-la para ter certeza de algo – Curioso, você viu a lua lá fora? Cheia e brilhante.

– Ah, não preciso. – ela sorriu, tirando um pouco a franja dos olhos. – Sempre faço aniversário quando a lua está cheia. É uma coincidência estranha.

– De fato. – ele concordou. – Espero ter acertado no presente.

Gakupo lhe entregou uma caixinha de veludo pequena. Miku esperava um pingente ou brincos, mas quando abriu, não foi nada disso o que estava lá dentro.

Ela puxou para fora um medalhão dourado que se amarrava a um cordão de couro escuro. O medalhão era dourado, pesado, e tinha um desenho estranho esculpido.

Por ser pequeno e o lugar lúgubre, ela teve que fazer um esforço maior para conseguir ver o que estava entalhado.

O medalhão pequeno se dividia em três círculos, e começando de fora, havia desenhos de animais. O mais externo, era o urso. Vários ursos estavam esculpidos no círculo externo, na mesma posição. No segundo, uma ave de asas grandes. Poderia ser uma águia ou falcão, ela não tinha como saber. Seguia o mesmo padrão do urso, o desenho repetido algumas vezes, completando o perímetro do aro. E no círculo interno, havia um homem. A silhueta de um, pelo menos.

Luka pigarreou, e só então Miku percebeu que estava fazendo uma carranca enquanto observava o item.

– Ah... – ela ainda estava um pouco sem reação, mas forçou um sorriso agradecido e assentiu. – Obrigada, Gakupo. É muito bonito.

O homem não pareceu perceber que sua reação era falsa, e então sorriu.

– Aqui, deixe-me por em você. – ele tomou o medalhão de suas mãos e foi para suas costas. Enquanto ele amarrava as hastes de couro umas nas outras, Miku fez uma careta para Luka. A irmã riu, e cruzou os braços. – Pronto.

Mesmo que aquele medalhão esquisito não tivesse absolutamente nada a ver com sua roupa, Miku não protestou. Porém, quando Gakupo e Luka deram as costas, ela enfiou o colar dentro de seu decote. O pingente gelado se chocou contra sua pele aquecida e causou um arrepio que percorreu todo seu corpo.

Ouviu muitos gritos de animação mais recuados, e a voz de Rin se sobressaindo entre todos. Miku suspirou. Sabia que devia ter administrado melhor a bebida daquela festa, principalmente quando sabia que Rin estaria nela.

Em um movimento durante o sono, Miku caiu no chão. O baque a acordou como água fria, e sua sorte foi que ela estava dormindo num colchão, e a queda não havia sido grande.

Demorou um pouco para que sua visão se adaptasse ao novo ambiente. Não estava em seu quarto, mas no quarto de Rin. A loura dormia na cama com as cobertas até a cabeça, respirando devagar.

Ah, Miku sabia. A amiga teria um terrível dia de ressaca, e cabia a ela a obrigação de ver se ela estava bem.

Ela permaneceu em seu colchão, e suas mãos tatearam o pingente em seu pescoço. Analisou tudo cuidadosamente, e só então percebeu, o medalhão tinha minúsculas dobradiças.

Tentou achar um jeito de abri-las, mas parecia impossível. Conseguia ver que o item não estava soldado ou nada do tipo, mas ainda assim, não iria abrir.

Sua atenção foi voltada para a cama de Rin quando um som gutural saiu de lá.

– Oh meu Deus, preciso vomitar! – Rin se jogou para fora da cama, e correu para o banheiro. Miku suspirou. Seria uma longa terça-feira, de fato.

Algumas visitas à farmácia foram necessárias, e ela sempre voltava com as sacolas cheias de remédios para dor de cabeça, azia, cólica, dor de garganta, entre muitos outros.

Rin passou grande parte do dia deitada em sua cama, luzes apagadas e cortinas abaixadas e nem um ruído sequer. Miku ficou na sala durante esse tempo, lendo um de seus livros que havia emprestado a Rin e que a loura nem se dera o trabalho de ler.

A Divina Comédia era e sempre seria seu livro favorito. Adorava as escrituras de Dante, e não importava quantas vezes lesse, ela sempre se surpreenderia com trechos em particular.

Quando a noite começava a cair, Miku deixou tudo que Rin fosse precisar ao alcance. Deixou um balde do lado de sua cama, alguns remédios e dois copos de água cheios em sua cômoda.

Ao sair porta a fora, lembrou de que não estava com seu carro. A noite assustadora normalmente serviria de motivo para desmotivá-la e fazê-la ficar em casa, mas não serviu. Ao olhar para a esquina da curta rua, viu um grupo de homens vindo à direção da casa de Rin. Do outro lado, a reserva florestal era densa e um atalho rápido para sua casa.

Ela não precisou pensar duas vezes.

Atravessou a rua e se enfiou no meio da mata de carvalhos e pinhos, deixando a civilização para trás.

A trilha rala de terra a guiava fracamente entre a escuridão da floresta, mas ela não estava com medo.

Um barulho nos arbustos fez com que ela parasse de andar e pegasse o celular do bolso. No meio da mata, ouvia algo andando ao seu redor, pisando nas folhas mortas e gravetos.

Ela ligou a lanterna do aparelho e olhou ao redor, iluminando a mata densa.

Ouviu um rosnado baixo, que parecia como pedras caindo de um desfiladeiro rochoso.

Oh, não... ela estremeceu, prendendo a respiração. Viu uma pelagem alta sobre um arbusto por um instante, e pensou ter sido um urso sobre as pernas traseiras Um urso não...

Mas não era um urso. Era algo muito pior.

Uma criatura animalesca saiu de trás dos arbustos, andando curvada e mostrando-lhe os grandes e afiados dentes. Na escuridão da noite, ela não conseguiu identificar o que era.

Via que era enorme, nas quatro patas era maior que um homem adulto. A pelagem mista de um negro com cinza cintilava na sua frente, e tinha olhos de um cinza claro e tempestuoso.

Parecia de certa forma um lobo, mesmo que de uma dimensão muito maior e assustadora.

Parte sua queria muito correr. Sabia que a besta lhe alcançaria em segundos, mas era o que seu raciocínio lhe mandava fazer. Já outra parte, uma muito pequena, queria reagir. Queria se fazer mais forte, mesmo que não fosse.

A lógica parecia melhor. Ela largou sua bolsa e começou a correr desesperadamente. Perdeu a trilha, se pondo entre arbustos.

O instinto era seu melhor amigo naquele momento. Seus olhos não viam nada, seus ouvidos só conseguiam ouvir as passadas pesadas do animal atrás dela, e o olfato só conseguia farejar o próprio medo.

Sentiu grandes garras travando-se em suas costas e um peso imenso a empurrando para baixo.

Seu corpo caiu desajeitado, e suas costas ardiam com o arranhão enorme das unhas daquela besta.

O enorme lobo foi para sua frente, e olhou bem em seus olhos.

Mesmo que parecesse besteira infantil, Miku não viu raiva em seus olhos. Não viu instinto, não viu selvageria. Viu simples olhos, que pareciam cansados. Viu simples obrigação.

O enorme lobo abriu a boca, e Miku fechou os olhos.

Sentiu uma dor lancinante, mas não durou muito. A escuridão e o frio a embraçaram, e não houve mais nada.


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Notas finais do capítulo

Ficou bom? Conseguiram entender tudo? Alguma dúvida? Sou toda ouvidos!