A História dos Selvagens - Parte 1 - Medo escrita por ShiroMachine


Capítulo 7
Lucas: Sonhos de fantasmas do futuro


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pelos dois dias sem postar. Tive que escrever os capítulos três vezes. Espero que gostem!



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Cheguei em casa mais ou menos as seis horas da noite. Encontrei minha mãe lavando louça.

Uma palavrinha sobre minha mãe. Seu nome é Sandra. Ela tem olhos castanhos. Tinha alguns fios de cabelo branco em meio aos cabelos pretos, mas eu não pensava nela como uma pessoa velha. Tinha 40 anos.

_Oi filho!_ Disse ela. _Demorou para chegar.
Havia contado a ela que eu fui numa praça pra jogar futebol com meus amigos.

_Bem, você sabe que meus amigos são meio incansáveis._ Disse.

Ela riu.

_Isso é verdade.

Ri um pouco também. Mas se tem uma coisa que minha mãe sabe é quando eu não estou bem.

Ela franziu a testa.

_Você está bem?_ Perguntou. _Aconteceu alguma coisa?

Os olhos dela procuraram a resposta no fundo da minha alma.

_Estou bem._ Respondi. _Nada aconteceu.

Ela olhou pra mim um pouco mais atentamente. Pensei que ela percebesse que eu estava mentindo. Porém ela sorriu, voltou ao que estava fazendo e mandou eu me arrumar pro jantar.

Depois do jantar, sentei na minha cama e ouvi a fita de novo. Não podia parar de pensar que estava deixando algo escapar. De novo, me lembrei de cada palavra. Fiquei ali sentado vários minutos, refletindo sobre tudo aquilo, até que senti sono. Deitei e me revirei várias vezes na cama, até que achei uma posição confortável e dormi. E sonhei mais uma vez.

Eu estava sentado no chão da quadra da minha escola. O cara do meu último sonho estava lá, olhando pra mim com uma expressão séria, como se ele fosse um professor e estivesse dando uma bronca em mim.

Lembranças embaçadas das aulas de educação física me vieram a mente. Consegui afastar elas e me focar apenas no governante.
Ele disse:

_Pelo visto, não se importa consigo mesmo. Ainda não levantou sequer um dedo para ajudar.

Devolvi o olhar dele.

_Eu já estou fazendo alguma coisa._ Falei. _Estou tentando entender tudo isso que está acontecendo.

Ele olhou pra mim com um pouco de raiva.

_Isso não é o suficiente._ Falou. _Você tem que fazer o que a fita diz.

Arqueei as sobrancelhas.

_Ah, claro!_ Falei, com meu melhor tom de sarcasmo. _Deixa eu pegar minha máscara de bode e minha espada e podemos partir.

Ele fechou os olhos, cerrou os punhos e suspirou. Essa é boa, pensei. Vou ser espancado por um cara do futuro.

_Você não entende, garoto._ Disse ele. _Se não fizer isso por você, faça pela sua família e pelo seus amigos.

E me deu um último olhar sério. E então o sonho escureceu.

Acordei, com as últimas palavras do governante ecoando na minha cabeça. Eu percebi que realmente estava deixando algo passar. Mas não sabia o quê.

"Você tem que fazer o que a fita diz", dissera ele.

A verdade me atingiu com um soco no estômago. Fernando e seus amigos encontram algo preocupante e se envolvem com o governo. Eu e meus amigos também. Eles viajam para encontrar uma solução. Nós tinhamos de fazer o mesmo.

Meia hora depois, eu estava na escola. Não tive tempo de ligar para meus amigos e dizer o que tinha descoberto. Farei isso assim que chegar em casa, pensava.

Infelizmente, a escola parecia saber que eu estava com pressa e estava fazendo de tudo para me manter lá. As aulas pareciam ainda mais tediantes e o tempo parecia se arrastar.

Antes do intervalo acabar, fui para a minha sala, organizar um pouco os pensamentos. Se tem um lugar e hora para se ficar sozinho naquela escola, era na sala de aula, durante o intervalo.

Abri a porta. Para a minha surpresa, minha professora de ciências estava na sala. Dei um passo pra trás. Aquela mulher me dava arrepios. Ela era misteriosa demais. Num dia, estava de bom humor. Deixava os alunos conversarem, andarem pela sala, mexer nos celulares, etc. No outro, passava dever até seu tempo acabar.

_Olá, Lucas._ Disse ela, sorrindo.

_Oi professora._ Forcei um sorriso.

Legal, pensei. Hoje ela está boazinha.

Sentei no meu lugar e esperei o tempo passar. Tentei organizar um pouco os pensamentos. A professora me surpreendeu e disse:

_Você tem que agir logo, Lucas.

Quase cai da cadeira.

_O quê?_ Engasguei.

_Você ouviu muito bem._ Ralhou. _Você tem que fazer o que está nela. Se não tudo se perderá.

Engoli em seco.Será que era possível que ela saiba?

_Eu não sei do que está falando._ Falei.

Quando ela ia responder, a turma entrou na sala. Suspirei aliviado.

Meu amigo sentou no lugar ao lado do meu. Olhou pra mim com um olhar preocupado e perguntou:

_Você tá bem cara?

Percebi que estava suando, mesmo sem estar com calor, e estava com a respiração pesada.

_Sim._ Menti.

Chegando em casa, peguei o telefone e liguei para Vitor. Contei para ele toda a história. Ele disse para conversarmos depois, pois estava ocupado. Quase dei uma bronca nele, mas me acalmei. Depois, disquei o número da Tatiane. Enquanto esperava que ela entendesse, pensei no que falar, já que tinha me enrolado todo ao falar com Vitor.

A voz de Tatiane interrompeu esse processo.

_Alô?_ Sua voz soava cansada.

_Oi, Tatiane._ Disse. _Olha, eu descobri uma coisa. Eu sonhei com o governante de novo.

_Você também teve sonhos?_ Sua voz soava assustada.

_Ahn, sim. Por quê?_ Franzi a testa.

_Nada._ Suspirou. _Conta a sua parte primeiro.

Foi a minha vez de suspirar. Contei a história de novo.

_Agora conta a sua parte da história._ Mudei de assunto, ansioso.

Ela suspirou algumas vezes antes de responder:

_Eu sonhei com a mãe dele, Lucas._ Ela parecia aterrorizada. _Eu sonhei com a mãe do Fernando. Ela conversou comigo. Mas ela não parecia viva, Lucas. Ela parecia um fantasma.


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