Íria: o desafio de Aurora escrita por M Nathalia


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal, tudo bem?

Aqui está o primeiro capítulo da história e espero muito que vocês gostem!
Ficou um pouco longo, mas os próximos ficarão menores.

Algumas informações virão com o decorrer dos capítulos.

Boa leitura!!



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Capítulo Um

O inverno havia chegado com muita intensidade na grande cidade de Londres e, pelas ruas, só se podiam ver pessoas agasalhadas dos pés à cabeça, andando encolhidas e com a cabeça baixa, tentando se proteger do vento forte e extremamente gelado que insistia em atacar a todos. Nessa época do ano era preferível ficar em casa e todos só realmente saiam para fazer suas obrigações. No meio dessas pessoas, estava Aurora. Uma garota jovem, com seus dezoito anos, cabelos ruivos ao vento; poucas e pequenas sardas nas maçãs das bochechas, que ficavam ainda mais rosadas no frio, dando um belo contraste com sua pele branca. Ela andava decidida, sendo que tudo que mais queria era chegar logo ao seu destino.

– Aurora, me espere! – e logo atrás vinha uma garotinha, Sophia, tentando acompanhar seus passos longos. A menina era bem diferente de Aurora; cabelos negros, sua pele era mais bronzeada; pequenina, ainda tinha dez anos. Aurora riu e parou, se virando para olhar a menina, toda desajeitada com sua mochila.

– Vamos, Soph, estamos atrasadas para o jantar! Além do que, está muito frio. Não podemos deixar você ficar doente, certo? – ela disse, arrumando a mochila nas costas da garota e, dessa vez, segurando uma de suas mãos.

– Certo, mas... Você está andando muito rápido! – Sophia estava praticamente ofegando e Aurora riu novamente.

– Ok, me desculpe. Vamos, o orfanato já está a três quadras daqui. Chegamos lá em um minuto.

Aurora e Sophia eram amigas desde sempre. E, desde sempre, moraram juntas, em um orfanato. Elas foram deixadas logo após o nascimento, não tiveram nenhum contato com seus pais verdadeiros e nem sequer sabem quem são. Aurora estava aflita, seus dias no orfanato estavam diminuindo, já que iria atingir uma idade em que não podiam mais ficar com ela e quem iria sofrer com isso era a pequena Sophia. Era um problema que ela não sabia como resolver, pois sabia, no fundo do seu coração, que nada podia ser feito. Ela iria embora e Sophia teria que ficar, e ponto final. Com seu pensamento longe, ao virar uma esquina, nem percebeu que outra pessoa estava caminhando bem na sua frente e... Pronto. Logo estava sentada no chão.

– Meu Deus, me desculpe! Onde eu estava com a cabeça... Perdoe-me. – ela logo se levantou e ajudou a mulher a se levantar também, que apenas murmurou um “tudo bem” e continuou seu caminho.

– Você está bem, Aurora? – Sophia perguntou enquanto as duas observavam a mulher desaparecer de vista.

– Estou bem. Só estava distraída. Acho que ela ficou brava... Não é para menos. Derrubei nós duas! – elas riram da situação. – Espere... Acho que perdi meu cachecol. Estava comigo até um minuto atrás...

– Pode ser que tenha caído no momento em que você esbarrou com aquela mulher... O vento está tão forte que pode ter levado.

– Que estranho... E eu não o vejo em nenhum lugar. Era meu cachecol preferido. – Aurora olhou em volta, mas não viu nada que lembrasse o intenso verde de seu cachecol. Dando de ombros, as duas continuaram a andar até o orfanato.

****

Do outro lado da rua um homem observava a cena com atenção, encostado em um poste de luz. Tinha uma expressão séria, talvez até um pouco preocupada. Seus olhos estavam fixos na garota ruiva que já havia se levantado e retomado seu caminho. Em suas mãos se encontrava um cachecol verde, aparentemente roubado pelo vento. Agora, a outra mulher vinha em sua direção. Ela era alta, magra e mantinha um cabelo longo, de um tom bem negro.

– A garota se tornou uma bela jovem. – disse a mulher, assim que estavam próximos o suficiente. – Vejo que conseguiu pegar o que queria. – disse se referindo ao cachecol.

– Sim. – o homem disse sem muita importância. – Precisamos acabar logo com isso e levá-la o quanto antes. Akira precisa começar a treiná-la.

– Bernardo. – a mulher o censurou, antes de prosseguir: – Não será somente Akira que irá treiná-la. Você sabe disso. Todos nós iremos ensiná-la algo. Ela precisa saber tudo.

O homem, Bernardo, bufou impacientemente.

– Além disso... Desconfio que ela não seja fácil de convencer. Você foi designado a trazê-la para esse mundo e agora terá que levá-la de volta ao seu reino. Todos nós precisamos dela em Íria.

– Faith, ela não irá acreditar em meras palavras. Como você disse, não será fácil. – ele disse, sem encará-la.

– Daremos um jeito. Agora vá. Irei voltar à Íria e espero vocês lá. – Faith já estava seguindo seu caminho, mas virou para olhar o homem novamente. – Bernardo... Seja paciente. Sei que não tem sido fácil para nós, mas ela é nossa esperança. Tudo irá se resolver assim que Aurora estiver conosco.

Bernardo assentiu com a cabeça e ambos foram em direção a caminhos opostos.

****

Na manhã seguinte, Aurora estava novamente fazendo aquele mesmo caminho. O frio havia dado uma trégua e já não havia aquele vento gelado batendo no rosto e dessa vez estava sozinha. Todos os dias, Aurora passava por uma ponte e logo do outro lado era questão de poucos minutos para chegar ao colégio. Estava entrando na ponte quando viu algo que a fez parar. Bem distante, no meio do caminho, ela viu um homem em pé, parado, com seu olhar vidrado nela e carregando algo em suas mãos. Um objeto verde. Um cachecol.

Aurora nem havia percebido que tinha prendido a respiração ao ver aquela cena. Tinha absoluta certeza de que aquele era seu cachecol. Mas, o que mais a assustava, era o olhar daquele homem, sua postura, sua feição. Ele era alto, tinha cabelos negros e lisos; a olhava com um olhar intenso, firme, como se já soubesse exatamente o que deveria fazer, como se já conhecesse a garota. Suas mãos estavam firmes no tecido, que dessa vez não iria escapar, era algo óbvio. Aurora pensou em fazer outro caminho, mas, dessa forma, iria chegar atrasada. Decidiu então seguir em frente. Simplesmente ignorar a situação e esquecer aquele estúpido cachecol.

Enquanto ela caminhava, da maneira mais natural que conseguia, percebia o olhar insistente em cima de si, e, cada vez mais, muito perturbador. Ela contava seus passos, colocava toda sua atenção em si e na sua respiração, mas era inevitável não olhar pra ele. “Bom, se ele fizer algum movimento suspeito, eu grito. Corro. Qualquer coisa.” Ela pensou nas possibilidades e aquilo só a deixou mais nervosa ainda. Estava chegando bem perto, quase passando reto, quando teve que parar subitamente, ao ver aquele corpo alto e forte na sua frente. Literalmente na sua frente, fechando sua passagem. Ela olhou pra ele, sua respiração travando bruscamente. Sentiu todos os músculos do seu corpo se enrijecerem, com o nervosismo e ansiedade da situação.

– Acredito que isso te pertença... Aurora. – a voz daquele homem condizia exatamente com sua postura. O tom era baixo, mas mostrava poder, uma autoridade impressionante. Ele parecia ter saboreado ao dizer seu nome, e nada daquilo fez um sentido sensato. Aurora soltou a respiração, por não ter outra opção e engoliu seco, antes de dizer:

– Não sei do que está falando. Por favor, me dê licença. – sua voz saiu falha, sua mente trabalhava a todo vapor. Tudo que conseguia pensar era que aquele homem era um maníaco, que a estava seguindo por sabe-se lá quanto tempo.

– Não vou te machucar. Só quero te entregar isso. – a voz dele amaciou, e, novamente, ele estendeu o cachecol pra ela.

– Por favor... Me dê licença. – ela pediu, mas, dessa vez, decidiu sair andando e desviar dele, mesmo assim.

– Espere. – uma mão segurou levemente o braço de Aurora, a impedindo de sair. Ela quis gritar, mas, por algum motivo que desconhecia, perdeu a voz e toda força.

O único movimento dos dois eram suas respirações, e seus olhares. Pela primeira vez ela pôde reparar em como seus olhos eram bonitos; eram verdes e com lindas faíscas amarelas, combinavam com seu cachecol. Em sua mente, ela não conseguia entender porque tudo aquilo estava acontecendo; aquele diálogo estranho, ele saber seu nome, suas atitudes seguras de si, como se conhecesse toda a situação. Ao voltar a realidade, desviou o olhar e puxou forte seu braço.

– Não toque em mim. Eu não te conheço, esse cachecol não é meu e, por favor, não fale novamente comigo, ou então chamarei a polícia.

– Aurora, eu posso explicar. Me desculpe se te assustei. Ontem estava perto quando vi você esbarrando naquela mulher e seu cachecol saiu voando bem na minha direção. Acabei pegando por instinto e voltei hoje, imaginando que passaria por aqui, por não ser muito distante do ocorrido. Pegue, por favor. – ele estendeu novamente o cachecol e a garota pegou, cansada da situação.

– Isso não explica porque você sabe meu nome. Por isso, estou sendo compreensiva em não gritar ou chamar por ajuda. Essas coisas simplesmente não acontecem...

– Seu nome está escrito na etiqueta. – ele disse como se fosse óbvio. E ela sentiu-se idiota por ter esquecido esse fato. – Mas, de qualquer forma, eu te conheço desde que você nasceu, Aurora. Também é por isso que sei seu nome. Aliás... Sei muitas coisas sobre você. – sua voz voltou a ficar rígida, sua feição se fechou e ele deu um passo para trás.

Na mente de Aurora tudo aquilo não podia ser real. Ela já ouviu a história um milhão de vezes, já viu o contrato do Orfanato sobre o compromisso de sempre dizer a verdade para os órfãos, e já chorou tanto sobre o assunto que não conseguia mais derramar uma única lágrima por seus pais. Na verdade, ela não os considerava pais. Hellen, a dona do Orfanato, sempre dizia: “Um homem te deixou conosco no mesmo mês em que você nasceu. Não disse o motivo, nem pra onde iria e nem um contato. Simplesmente foi embora e não demonstrou arrependimento.” Já estava cansada de saber disso e nunca ninguém a procurou.

– Me deixe em paz. Você não sabe nada sobre mim. Eu não te conheço e nem você me conhece. Suas mentiras não vão funcionar comigo, sinto muito. – ela sabia que estava correndo um grande risco conversando com aquele psicopata. Mas ele a havia deixado muito irritada e, nesses momentos, Aurora ficava um tanto cega quanto sua segurança. Não esperou mais e voltou a caminhar, mais firme e mais rápido, pensando que, se necessário, poderia correr.

– Deixe de ser medrosa e converse comigo! – ele começou a segui-la, falando mais alto. – Sei que você foi deixada aqui no Orfanato Rose, sei que você tem estado sozinha por todos esses anos, sei que não entende o motivo por qual seus pais te abandonaram. Mas a verdade, Aurora, é que estavam te protegendo!

– Seu monstro! Cale a sua boca e me deixe em paz! – ela se voltou a ele novamente, dessa vez gritando, chamando a atenção de alguns que passavam pela rua, o que ela achou positivo.

– Você sempre foi teimosa assim. Você definitivamente puxou sua mãe. – Aurora ficou furiosa com o comentário maldoso e tentou dar alguns socos no desconhecido, mas, obviamente, ele era muito mais forte que ela. Ele não fez nada, apenas se protegeu com os braços cruzados sob o peito. – Eu posso te provar. Sobre tudo isso que eu disse. Você precisa me dar uma chance. – sua voz era mais calma, e, pela sua feição, parecia estar se divertindo com a situação, o que a deixou ainda mais irritada. – Olha, eu trouxe algo pra você e vai ajudar.

De dentro do casaco, ele tirou um pequeno caderno, com aparência bem velha e gasta. O papel era grosso, amarelado, podia jurar que aquilo era pergaminho. Na capa, os dizeres: “diário de Annabeth.” Ele estendeu à garota e, ela não aguentou, começou a gargalhar. Já que ele queria brincar, iria bancar a louca.

– Você acha que um diário estúpido vai me provar que você diz a verdade? Você só pode ser muito ingênuo mesmo pra achar isso. Qualquer um pode ter escrito isso aqui. Até mesmo você! Sério que você engana garotinhas com isso? – ela continuava rindo, como se aquela fosse a piada mais engraçada que já tivesse escutado na vida.

– Não me trate como idiota, Aurora. Não estou aqui porque quero, ao contrário do que você pensa. – seus olhos e sua voz agora demonstravam raiva e impaciência. Por um instante, todo o corpo de Aurora enrijeceu novamente, com o medo a assombrando. – Leia. Amanhã estarei aqui esperando você para irmos.

– Irmos onde? Acha mesmo que iria a algum lugar com você? Vou levar o maldito caderno, mas não espere falar comigo novamente.

Aurora pegou o caderno e virou as costas, seguindo seu caminho. Com certeza já estava atrasada para pegar a documentação da escola, mas nada daquilo importava. Aliás, mal sabia se ia conseguir prestar atenção em alguma coisa, depois de tudo isso. Quando já estava a uns dez passos de distância, ouviu novamente um chamado:

– Aurora! Só pra você saber... Meu nome é Bernardo. – ela não parou e continuou a andar. O nome dele não era importante. O caderno não era importante. Mas algo dentro dela ficou balançado. E, pela primeira vez em alguns anos, ela quis chorar.


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Notas finais do capítulo

E aí, pessoal, o que acharam?

Estou ansiosa pra saber a opinião de vocês!