Ice Cream 2ª temporada. escrita por IsaChan


Capítulo 1
Reiniciando meus dias.


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta. Eeeeh o/ Gente, se eu disser que não aguentei ficar sem escrever essa fanfic, vocês acreditam em mim? Pois bem, é isso mesmo ;-; Eu estava num dia desses conversando sobre a história com a minha amiga, e eu comentei que gostaria de continuar a fic, e então ela disse "Não tem graça sem a Jaqueline." e eu respondi: "Quem lhe dá certeza que ela morreu? Por um acaso sua morte foi descrita?"Fica por aí -v- Enfim, estou sinceramente com um pouco de incerteza sobre reiniciar com uma continuação. Não sei se todos os meus leitores vão gostar da ideia, os que são extremamente importantes para mim. Bem, espero muito que vocês achem a notícia legal, e que fiquem felizes ;-; eu estava com saudades.



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"Quando você está cercado, e já não tem mais para onde ir, qual caminho você opta seguir?"

É essa a frase que encerra o livro que leio pela terceira vez nesta semana. Fico me perguntando o porquê de suas personagens complicarem tanto as coisas. É como se elas estivessem com a faca e o queijo na mão, e ao invés de usá-los, os jogassem fora. São duas pessoas que se amam incapazes de ficarem juntas. Fecho-o e na capa vejo a imagem de uma menina sentada numa pedra, encarando o céu. Observo-o por alguns segundos e logo o deposito sobre a pequena mesa que fica ao lado de minha cama. Estico minhas pernas e com a ponta dos dedos das mãos alcanço meus pés. Dou um bocejo e, ao reparar o relógio, ele me indica que meus pais já estão 40 minutos atrasados para a suposta "Reunião em família" que decidiram fazer. Eles foram ao mercado já se fazem duas horas, e ainda não retornaram. Me pergunto se não desviaram o caminho.

Desço de minha cama e calço meus chinelos. Caminho até o espelho e vejo minha face sendo refletida por todo ele. Gostaria de saber como traços vazios são capazes de serem visíveis. Trilho meus dedos sobre os fios de meus cabelos e solto-os do coque já antes feito. Eles se desmancham em cachos desalinhados. O meço e percebo que já quase chegam no cumprimento de meu quadril. Gostaria de cortá-los, acabar com isso tudo logo. Com as mãos um pouco fracas, alcanço minha gaveta e de dentro dela retiro uma tesoura afiada. Posso ver meu reflexo nela, o brilho refletindo direto em meus olhos, fazendo com que eu os estreite por um breve momento.

O que fazer?Pergunto-me enquanto observo aquele afiado instrumento em minhas mãos. Logo ao meu lado está um retrato de Jaqueline. Ela esta sentada num gramado, com seu tronco inclinado. Suas mãos apoiando seu corpo. Abaixo o retrato e um calor feroz toma conta de meu peito. Puxo profundamente o ar. Rapidamente sou capaz de captar algumas lágrimas acumulando-se no canto de meus olhos. Me sinto mal por saber que ela vai sempre continuar a mesma, incapaz de viver nem que seja um pouco mais. E me sinto culpada por isso.

Estreito novamente os olhos e sua cor fosca desmancha-se em lágrimas. Venho tentado ser forte, mas a minha barreira está caindo.

Analiso meu pescoço com meus dedos. Minha pele macia.Eu não posso conviver comigo mesma. Miro a tesoura para ele, e passo sua ponta afiada por toda a parte. Por onde ela passa, deixa leves marcas amareladas. Tombo-o levemente para o lado, e seguro a tesoura mais firmemente. Uma linha de sangue tremendamente avermelhada escorre e mancha minha roupa. O branco enfurecido do tecido é tomado pelo bravio sangue.Pare.

O local perfurado arde. Arde como um beliscão, ou até mesmo uma grampeada nos dedos. Mordo meu lábio inferior e deixo a tesoura cair. Ela transmite um som irritado quando se choca contra o piso.

Procuro em meu armário um pedaço de algodão, e o fixo com uma fita no local atingido. Chuto a tesoura para debaixo do guarda-roupas para que ninguém a encontre.

Tranco a porta de meu quarto para tomar banho, pois não me sentiria a vontade com ela aberta com as chances de meus pais chegarem. Tem um pano amarelo tampando o espelho do banheiro, então decido que já é hora dele sair de cena, e o jogo na cesta de roupas sujas. Pego de cima da prateleira um de meus remédios, o coloco sobre a língua, e o engulo a seco. Entro no box e giro o registro. A água esta muito quente, mas eu não ligo. O vapor faz com que o banheiro todo fique embaçado. Há algumas palavras que tomam forma novamente, e que logo voltarão a desaparecer, escorrendo em forma d'água.

Visto uma calça de moletom cinza e uma blusa de manga longa fina. Já nem sei mais em que estação estamos, e nem mesmo como se encontra o clima lá fora. Me apego apenas em minha zona de conforto.

Apago o abajur que usava para clarear as palavras do livro, e assim o escuro toma conta de meu quarto. Destranco a porta e subo até o dormitório de meus pais. Bato para confirmar se eles realmente estão fora, e ninguém se manifesta. Desço até a cozinha para pegar algo para comer, e percebo que eles acabam de chegar.

–Você tem certeza que devemos? -Pergunta minha mãe. Ela está encostada na pia, enquanto meu pai guarda as compras mais pesadas no armário.

Aprendi quando criança que é proibido espiar os adultos conversarem, mas é inevitável, e então eu subo mais alguns degraus da escada para que eles não possam me notar ali.

–É necessário. É nosso dever. E é pro bem dela, você sabe. -Murmura ele em resposta.

–Nós não seremos capazes de esconder dela para sempre. A menina está crescendo, um dia vai descobrir.

–Quando isso chegar, não estaremos aqui para ver.

–Isso o quê? -Eu digo intervindo.

Minha mãe se assusta, assim como meu pai, que deixa cair um pacote de arroz no chão. Logo me arrependo, pois se não tivesse agido por impulso, poderia obter mais alguma informação.

–Você não deve espiar a discussão de seus pais. -Argumenta meu pai.

–Lesly, querida, nós precisamos conversar.

Reviro os olhos e cruzo meus braços.

–Ah, sério? Acho que vocês já estão... -Desvio o olhar ao relógio para conferir o horário. -quase duas horas atrasados.

Meu pai esbofa e puxa uma cadeira para eu me sentar. Assim que o faço, centralizo meu olhar a eles. A relação com meus pais não vêm sendo a das melhores ultimamente. E a culpa não é minha.

Minha mãe chega perto de mim e percebe o curativo em meu pescoço, e o analisa com os dedos.

–Lesly, você não pode ter feito de novo...

–Não, mãe. -Respondo tirando sua mão.

Meu pai faz um gesto para que minha mãe também se sente. Ambos estão com os olhos baixos, e eu gostaria de saber o porquê.

–Lesly... -começa minha mãe. - Nós teremos de nos mudar...

–Nós, no caso, eu e sua mãe. -Interrompe meu pai.

–O quê? -Pergunto, confusa.

–Sua avó está doente, e nós vamos ter de cuidar das coisas por lá. Pelo menos por um tempo. E você sabe, seu pai não tem conseguido muitos casos aqui, contudo não podemos ficar sem dinheiro numa hora dessas.

–Ah, que ótimo, então eu vou junto. -Digo convencida, e me levanto da cadeira.

–Sente-se! -Diz meu pai. -Você não entende, não é? Acha que as coisas são do jeito que você quer? Pois não são. Nós estamos pagando uma escola extremamente cara para você, e ainda diz que quer sair daqui? Ah, por favor, né, Lesly.

Minha mãe o olha com tristeza.

–Nós não queríamos ter de fazer isso, filha. Mas... - Minha mãe tenta.

–O problema é que nada tem sido do jeito que eu quero. Nada. Vocês mandam, e eu faço, como um fantoche. Tudo isso é porque eu fiquei doente, não é? Vocês não querem conviver com uma menina que fica o dia todo no quarto a base de remédios, não é mesmo? Pois bem, eu sabia que esse dia ia chegar. - Falo num tom alto, e o espaço faz com que minha voz ecoe. Bato minhas mãos na mesa, e vou em direção ao meu quarto. -É bom que saibam que isso tudo é culpa de vocês. -Digo por uma última vez.

Minha mãe tenta me segurar, mas meu pai a impede. Ouço seu choro pelo resto da noite. Ouço seus passos vagando em frente ao cômodo, e são infinitas as vezes em que ela bate em minha porta. Coloco meus fones e adormeço.

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Acordo com o tormento de meus pensamentos. Olho para o relógio e noto que ainda são quatro da madrugada. Recordo que não tomei meu remédio na noite passada.

Deu a entender que minha mãe já foi dormir, ou pelo menos está tentando, pois não ouço mais nenhum movimento em frente ao meu quarto .Vou até o banheiro, pego meu medicamento e o engulo. Na volta, tropeço num pequeno monte de roupas e me agarro na parede para não cair. Me abaixo para enxergar a tesoura que joguei debaixo do armário ontem, e estico meus braços para poder pegá-la. A capturo e vou com ela em mãos novamente até o banheiro.

Ascendo a luz e fico em frente ao espelho. Junto todos os fios de meus cabelos e os jogo para frente. Fecho meus olhos e respiro fundo. Solto o ar levemente e já com coragem os corto. Os fios se espalham feito areia pelo chão. De primeira, eles ficam na altura dos ombros, e então os corto um pouco mais até ficarem bem curtos. Ajeito a franja e confiro o resultado.

–Oh, ficou bom. -Digo com um sorriso no rosto, e tal ato me surpreende. Eu estou tentando muito, de verdade, seguir em frente.

Me esforço para tentar esquecer todo o meu passado, afinal, ele já não me pertence mais. Preciso construir meu futuro, e concertar meu presente. E isso tudo é muito complicado.

Lembro-me que hoje é meu primeiro dia em uma nova escola. Perdi um ano inteiro de ensino, e é necessidade suprir esse tempo perdido.

Vou até o computador para conferir o e-mail que recebi da escola semana passada. Digito o endereço do local num mecanismo de pesquisa e descubro que de ônibus, fica a quase uma hora de distância de minha casa.

Tomo um banho e visto meu uniforme. Ele é um pouco parecido com o da minha antiga escola: uma saia, camisa branca, e gravata. Opto por usar uma calça e mais um casaco. Tudo indica que fará frio.

Escrevo um bilhete informando que vou de ônibus e o deixo sobre a mesa para que meus pais não surtem. Poderia piorar ainda mais as coisas, e não é o que eu quero.

Caminho até o ponto de ônibus e aguardo até que ele chegue. Fito o relógio. Se passam cinco minutos. Logo uma imagem do passado me acerta.

Olho para frente e vejo aquela garotinha acenando para mim. Lembro-me da forma ríspida que agi com ela, e agora já não tem mais ninguém para fazer eu me sentir como antes, e nem mesmo me perguntar se pode se sentar ao meu lado num ônibus com todos os assentos lotados. Sinto meus olhos marejarem, e passo meu antebraço sobre eles para limpá-los. Isso é triste, cruel, mas preciso esquecer.

O veículo finalmente chega.

–Esse ônibus vai até a escola do bairro Jardim Vitoriano? -Pergunto ao motorista.

Ele assente e então eu subo. Todos os assentos estão vazios. Não há mais ninguém além de mim.

Abro novamente o livro que lia até essa semana. Preciso entendê-lo, pois parece ser tão complicado quanto eu. No entanto os sentimentos de confusão e carinho estão fixados, logo não posso me livrar dele.

Às vezes me pego achando que tudo esta regredindo em minha vida. Mas talvez seja apenas a junção de vários problemas, e que assim, logo tudo fica bem. Preciso me enganar desta forma.

Quando finalmente chega próximo à escola, o motorista me avisa. Agradeço-o e presto bem atenção onde é o local de parada. Não posso depender dele amanhã.

Pego de minha mochila um papel com o endereço anotado, e com uma fotografia do prédio para que não ocorra erros. Ele é grande, de cor marrom, e tem algumas figuras que se parecem mais com aquelas espirituais que há em igrejas . Ando por uns 10 minutos e logo a encontro. Já são 06:40.

Vou até a secretária para obter as devidas informações, e uma moça de cabelos pretos me atende com um telefone em mãos.

–Bom dia. -Diz ela pelo interfone.

–Oi. Eu sou uma aluna nova, e gostaria de saber em qual sala estou, e quais matérias vou ficar.

–Me diz seu primeiro nome e idade, por favor?

–Lesly. 19 anos.

Então ouço o som da liberação do portão. Entro e me acômodo em uma pequena mureta que divide a sala da secretaria entre a de espera.

A moça vem até mim com uma pasta debaixo do braço.

–Tudo bem? -Pergunta ela estendendo sua mão direita.

–Ah, claro. -Correspondo ao seu comprimento.

–Então, você vai ficar na parte de recuperação, certo?

–Isso.

–Pois bem. Você vai ficar na terceira sala do corredor a direita. -Ela faz um gesto com o dedo para me indicar o caminho. -E quanto às aulas, não sei se já te avisaram, mas há uma prova que você faz para ver as matérias das quais tem mais dificuldade. As que você se sair melhor, será liberada das aulas da mesma. Entretanto, há um limite de erros. Com isso, deve passar no mínimo em três disciplinas, ou corre o risco de perder a vaga.

Esqueci de ler o e-mail completo. Deve haver essa informação por lá.

–Ah, entendi. Sem problemas. Mas, como funciona, há necessidade de fazer algum cadastro, ou algo parecido?

–Bem, seu professor temporário vai te auxiliar com isso em todos os detalhes em sala de aula. Mas em todo caso... -Ela me entrega uns papeis que retira da pasta. -Aqui também tem essas explicações.

–Ah, obrigada. -Recolho os papeis e lhe dou um sorriso.

–Disponha. -Ela então volta à sua sala de trabalho.

Assim que saio de perto da mulher, me esqueço completamente das instruções que ela passou de como chegar na sala de aula. Olho ao redor mas não consigo achar nada. São 06:59. As aulas começam às 07. E essa escola, pelo jeito, não é assim tão tolerante.

Apresso meu passo e esbarro em alguém. Ouço o barulho de vários cadernos se chocando contra o chão.

–Ei, garota. Você não olha por onde... - A menina olha para mim e logo pausa sua fala.

–Oh, me desculpe... - Olho para ela e me recordo de seu rosto já visto anteriormente. Só não lembro quando nem onde.

Ela se levanta e recolhe suas coisas.

–Não se preocupe, ta tudo bem. -Diz ela num tom simpático, e se afasta.

Ela é alta e seu olhar demonstra irrelevância. Seus cabelos são longos, e ela parece ser forte. Tem um piercing em sua orelha, e uma pulseira de aço em sua mão esquerda. Observando, percebo que ela é um pouco mais alta que eu.

Antes dela se afastar completamente, eu a chamo.

–Ei, nós já nos conhecemos de algum lugar? -Pergunto, curiosa.

Ela para por um tempo,abre um sorriso perverso, e responde:

–Bem, eu acho que não.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e entendido esse primeiro capítulo o/ . Bem, quero destacar o final, a menina que ela esbarra e... façam suas apostas! Quem será ela? Um beijinho e até a próxima '3'E quero agradecer solenemente as MP's que venho recebido de vocês o/ me anima pra caramba. Obrigada ♥