Saiba Que Eu Me Importo escrita por Enchantriz


Capítulo 1
Capítulo 1: Saiba Que Eu Me Importo




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Cego pela escuridão, Zed vagava em sua mente. Livre de quaisquer pensamentos. Existia apenas uma onda sonora, ecoando cada vez mais alto. Uma voz, baixa, abafada, que por um longo tempo se silenciou. E de repente, aquela voz suave se transformou em um grito estridente, chamando o seu nome.

Os olhos âmbar se abriram, piscando por diversas vezes até enxergar à sua frente a beleza do rosto jovial de Syndra sendo iluminada pela luz fria da lua. Ela parecia ser mais uma imagem da sua imaginação do que presente na realidade.

— Eu já estou morto? – Zed perguntou com a voz falha, respirando com dificuldade.

Syndra sorriu.

— Não. Ainda não. 

Ela ajudou ele a se sentar apoiando as costas na parede. Ele mal lembrava como tinha conseguido chegar no quarto de Syndra. 

— Eu devo perguntar o que aconteceu?

— Você não vai querer saber.

Zed tossiu intensamente, engasgando com o próprio sangue subindo pela garganta, transbordando por seus lábios. O espesso líquido escorreu através das frestas da máscara de ferro e Syndra se apressou para removê-la do seu rosto pálido. Asfixiado, Zed se esforçou para trazer o ar aos pulmões. Seu coração batia dolorosamente contra o peito. Ele abaixou a cabeça ouvindo um alto zumbido. Tudo começou a se mover diante dos seus olhos. Estava prestes a perder o controle do seu corpo. Mas as mãos de Syndra alcançaram o seu rosto, e subitamente, a dor foi absorvida pelos delicados dedos acariciando a sua pele suada e suja de terra.

— Sinto muito pelo que estou fazendo com você. – ele lamentou. – Eu te avisei quando nos conhecemos. – afastou as mãos de seu rosto. – Você devia ter ficado longe de mim.

— Avisou tarde demais.

A maga ignorou o sermão e livrou o ninja da armadura pesada em seu corpo, depois puxou a camisa preta encharcada de sangue. Lá estava os músculos inchados. As lesões espalhadas pela marca das sombras tatuada sobre o peito. Só que foi a profundidade da ferida no ombro esquerdo que chamou a sua atenção. Seus dedos foram atraídos para a pele rompida, imersos no sangue, sentindo algo parecido com a ponta de uma lâmina. Então, ela concentrou toda a sua magia na mente de modo que pudesse dissipar o objeto. Os seus olhos brilhavam em um tom roxo enegrecido, cada vez mais intenso. No entanto, não importava o quanto emanasse poder, a lâmina permanecia intacta no mesmo lugar.

— Impossível! – murmurou indignada. – Porque não está funcionando!?

— É a espada espiritual do Shen. – explicou. – A lâmina absorve magia. Principalmente a sua magia negra. – ele entregou para ela uma faca. – Faça o que tem que ser feito.

— Zed... 

— Apenas tire isso.

Syndra hesitou, respirou fundo, reunindo toda a sua coragem antes de pegar a faca e introduzir a ponta afiada abaixo da fissura na pele, movimentando cuidadosamente a lâmina. Hora ou outra, ela levantava os olhos, preocupada com Zed agonizando em silencio enquanto segurava cada vez mais forte os seus braços.

Quando Syndra conseguiu remover a lâmina quebrada, Zed finalmente respirou aliviado. Porém, aquela sensação de êxtase só durou um minuto. Zed ouviu Syndra arquejar e os seus olhos se moveram para baixo, para a mão dela que segurava a lâmina, reparando na delicada pele em carne viva, queimada grosseiramente por entre os finos dedos manchados de preto, endurecidos igual pedra. Syndra estava paralisada. A respiração dela era curta e ofegante. Os olhos prateados transbordavam a dor e o medo através de lágrimas vermelhas deslizando pelas bochechas até o queixo, misturando-se com o sangue escorrendo descontroladamente de sua mão.

Horrorizado, Zed pegou a lâmina e a jogou para a outra extremidade do quarto. Em seguida, ele puxou Syndra para mais perto de si, a abraçando fortemente contra o seu peito, rezando para conseguir amenizar o sofrimento dela. Se sentia tão idiota! Como ele não tinha pensado nisso antes? Era óbvio que aquela arma iria machucá-la.

—  Me desculpe. Eu não sabia. 

Já era tarde demais para se desculpar.

Zed se amaldiçoou amargamente no momento em que percebeu Syndra desacordada em seus braços. Ele segurava o corpo dela tão forte que a ferida aberta em seu ombro esquerdo começou a latejar, e logo, aquilo se transformou em uma incessante dor aguda. Pequenas contrações involuntárias dominaram todos os seus músculos. A sua pele ficou fria e eriçada. Gotículas de suor surgiram na superfície de sua testa. De repente, ele ouviu um baixo zumbido. A sua visão se tornou opaca, tendo a percepção irreal de que as coisas no quarto estavam rodando. Cada vez mais, as pálpebras pesavam acima dos olhos piscando excessivamente. Ele se esforçou para se manter lucido e acordado. Ainda assim, sem perceber, ele abaixou a cabeça enterrando o rosto no cabelo de Syndra. E lentamente, a sua consciência despareceu.

Ao amanhecer, os raios do sol surgiram iluminando a fortaleza de Fae’lor.

Zed acordou com a intensa claridade em seus olhos. Sonolento, ele escondeu o rosto no braço que envolvia os seus ombros, sentindo a pele macia exalar um sutil cheiro doce. Estava quase adormecendo novamente, até que o seu cérebro reconheceu há quem pertencia àquele perfume e ele rapidamente despertou se afastando assustado, empurrando o corpo de Syndra contra a parede.

— Mas o que é que você está fazendo?! – Syndra questionou acordando mau humorada, retirando as mãos pesadas de si. – Não me acorde desse jeito, seu idiota!

— Desculpe. Não pensei que fosse estar tão... perto.

— Vou me lembrar disso para da próxima vez te deixar no chão sangrando até a morte.

Naquele momento, Zed recordou da luta contra Shen na noite passada. Seus dedos tatearam pelo ombro onde tinha sido atingido, procurando por alguma cicatriz, mas a sua pele estava intacta! O seu corpo inteiro não emitia sinal de dor ou cansaço.

Syndra arfou impaciente, cruzando os braços, esperando o homem terminar de avaliar o próprio corpo, como se estivesse procurando por alguma falha nas suas habilidades de cura.

— Então, está se sentindo melhor? 

— Sim. Obrigado. Isso não vai se repetir. – garantiu.

A jovem tentou colocar um sorriso gentil em seu rosto. Sabia que era apenas uma questão de tempo para tudo aquilo se repetir, embora ela nunca tivesse pensado que algo assim fosse realmente acontecer. Zed não era de pedir ajuda... de pedir a sua ajuda.  

— Você está bem?

Foi a vez de Zed perguntar, reparando nas marcas dos seus dedos gravados em tom vermelho no braço de Syndra. 

— Eu não quis machucá-la. 

— Está tudo bem. Eu sei que não.

Syndra pegou a máscara de ferro que estava ao lado. O reflexo do seu rosto era apenas uma mancha escura na armadura desgastada. Silenciosamente, ela usou os seus poderes para devolver o brilho à prataria antes de entregá-la para Zed. Assim que ele aproximou a mão pegando o objeto, os olhos dela se moveram em direção aos dedos dele manchados de sangue. Era o mesmo sangue que estava impregnado no piso de madeira, na cortina rasgada em frente a janela, e na superfície da escrivaninha caída no canto do quarto. Na noite passada, Zed tinha entrado ali feito um temporal.

— Ah... – os lábios dela emitiram um longo suspiro. – É melhor você tomar um banho antes de ir. Capaz dos seus soldados falarem que eu quase o matei.

— Eu não permitiria que eles falassem algo tão absurdo assim depois de você ter se machucado me ajudando. – avisou se levantando, colocando a máscara no rosto. – Aproposito, eu vou levar aquilo embora comigo. – apontou para a lâmina quebrada perto da porta.

— Não! Por quê?

— Como assim por quê? – o tom de voz dele se tornou ríspido. – Não lembra o que essa coisa te fez?

Zed agarrou o pulso de Syndra e lhe mostrou a mão que ainda estava extremamente ferida. 

— Acha mesmo que eu vou deixar você ficar com aquilo?

— Eu pensei que pudesse ficar. – disse desapontada.

— Por qual motivo?

— Para encontrar uma maneira de me tornar imune a essa energia e isso não acontecer de novo. – explicou como se fosse óbvio. – Não é algo tão complicado. Só preciso tocar na arma mais algumas vezes para entender como realmente funciona.

— Porque não pede logo para o Shen atravessar a espada em você? Ele tem duas dessa, sabia? Realizaria muito mais rápido o seu plano estúpido de suicídio tardio e doentio. 

Syndra revirou os olhos, desinteressada no sermão. Quando ela voltou os seus olhos para Zed, uma expressão preocupada estampava o rosto dele.

Zed esfregava os seus dedos largos na palma da mão de Syndra que estava ferida, parecia procurar por algo, que por mais que se esforçasse, não conseguia encontrar. Ele franzia a testa e marcava a mandíbula ao apertar os dentes, se sentindo extremamente incomodado. Não importava o quanto ele tocasse a mão dela, ali não possuía qualquer resquício de magia, era apenas uma carcaça vazia. 

— A sua mão, – Zed fez uma breve pausa, procurando as palavras. – por quanto tempo vai ficar assim?

Esse tempo todo, Syndra estava apenas ignorando o incidente enquanto Zed insistia em relembrar. Por quê? Por que alguém como ele se preocuparia com ela? Um homem de presença opressiva e assustadora, tão afiado e pesado quanto a lâmina que carregava consigo. Um homem persistente e meticuloso com o seu trabalho, entrosado em cada pequeno detalhe. Com certeza ele estava apenas sendo cordial com ela. Não existia a possibilidade de ele desperdiçar tempo com algo tão banal.

— Pelo resto da minha vida. 

A resposta saiu séria e rápida. 

E no segundo seguinte, a mão de Syndra escorregou dos dedos de Zed. Os olhos dele encararam incrédulos a serenidade dentro dos olhos dela. Parecia até que ela tinha acabado de lançar uma maldição nele.

— Ora, vamos... – Syndra riu, se divertindo. – Não me faça essa cara! Eu estou apenas brincando. Vai demorar um pouco, mas eu consigo reverter isso.

Zed não respondeu. Não porque subestimava os poderes dela, mas porque o assustava saber que existia a possibilidade daquela ferida se tornar uma cicatriz irreversível nela. Afinal, ela era a última pessoa no mundo com quem ele poderia ser descuidado. Pois sabia que ela possuía uma tristeza inexplicável enraizada em volta do coração. Ele sempre tratava ela como se fosse uma joia, propensa a quebrar pela mínima pressão. E ter visto ela invulnerável arriscando a sua própria vida para manter a segurança dele, o deixava ainda mais com raiva de si mesmo. 

O silencio no quarto se tornou tão profundo que, Syndra conseguia ouvir todos os pensamentos Zed. Ela respirou fundo e se levantou do chão, em seguida, estendeu o braço para a sua mão afastar um pouco a máscara de ferro que encobria o rosto do homem. 

— Ei, já chega. – ela chamou inclinando a cabeça para o lado, encarando diretamente os olhos âmbar. – Eu estou bem. Não precisa se preocupar. 

Zed emitiu um som de desaprovação e deu um passo para trás ajeitando a máscara, voltando a esconder o rosto.

— Eu não estou preocupado. 

— Aham. – Syndra cruzou os braços, sorrindo convencida. – Claro que não. 


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Notas finais do capítulo

Mais uma fic para a coleção, ♥ ... espero que gostem, =)