Your Hunger Games II - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 23
Nicholas Dussolier


Notas iniciais do capítulo

Então, povo, eu andei BEM afastada, não respondi a maioria dos reviws e tem minhas MP para responder ainda. Então me perdoem, mas agora estou DEFINITIVAMENTE de férias e poderei me dedicar 100% a YHG.



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NICHOLAS DUSSOLIER

– O LÍDER -

“Pode-se considerar a intuição como uma ciência que não foi à escola” – Vão Gogo

Discord – [The Living Trombstone] Eurobeat Brony

Eu não saberia dizer ao certo por onde comecei minha trilha em direção ao lugar nenhum. Era apenas um mato verdejante, sem mais ninguém além de mim. Sem insetos, sem flores, sem o Sol para esquentar a relva. Nada além de mim e da vegetação alta. Continuava caminhando pela trilha que fiz mentalmente, afinal não havia trilha alguma. Seguia o norte, e não me pergunte como descobri para onde ficava o norte. Estava já perto de uma falha no matagal, onde poderia haver uma pedra ou até um pequeno riacho, mas então tudo congelou. Ou melhor, tudo pegou fogo. Por cima do ombro, as labaredas lambiam-me, com línguas que saboreavam minha pele. Tropecei enquanto tentava sair de perto delas. Não senti calor, nem mesmo a dor das queimaduras, mas sabia que o fogo iria me consumir. Ele circundou-me, não dando espaço para fuga. Então o fogo me cobriu, por inteiro, chegando a minhas roupas e desintegrando-as. Meus cabelos estavam vivos e sentia o cheiro de queimada. O mato já estava preto e logo seria eu. Quando minhas roupas desapareceram por completo, arrisquei abrir os olhos, para ver minha carne fritando. Mas deparei-me apenas com meus pulsos brancos e meu peito nu. Minha pele não parecia querer queimar. Ao redor, o fogo me abraçava, mas o seu calor eu não sentia. Então mordi os lábios e raciocinei direito o que aquilo seria. E aos poucos, fui voltando ao normal. Agora não havia mais matagal, mas uma luz a frente de meus olhos.

– Nicholas? Nicholas! Fica comigo, Nicholas, consegue me ouvir? Nicholas... – era a voz de Haruka, e sentia suas mãos pressionando meu peito, fazendo a massagem cardíaca. Respirei fundo, entreabrindo os olhos com dificuldade. Ainda sentia todos os músculos do meu corpo travados, como se estivesse congelados ou virado ferro.

– Eu... – resmunguei, mas Haruka não entendeu. Nem mesmo eu consegui entender o que havia dito. O sonho, tudo aquilo... Respirei fundo. Ela exclamou chamando por ajuda, e ouvi os passos apressados. A sombra alta me cobriu, e pude ver em suas roupas chiques que se tratava de Axel.

– Vire-o, deixe-o deitado de lado. Não mexa na cabeça, proteja-a. Por favor, alguém pode trazer um pano? – como ninguém sabia onde encontrar um pano, Axel tirou sua camisa e enrolou-a. Seus dedos tentaram destravar minha mandíbula, enquanto enfiava o pano em minha boca. Percebi apenas agora que meus dentes estavam fortemente cerrados.

Haruka segurou meus braços, e quando, me tocou, notei que estava trêmulo. Mas não como se estivesse com frio, e sim sem controle de meu corpo. Meus músculos repuxavam o tempo todo, fortemente, causando-me dor. Algo fulminava em meu peito e quando já não agüentava, comecei a parar de me tremer e pude ouvir mais claramente a voz dos outros.

– Ajudem, segure-o! – era Axel. – Haruka, ele está ficando roxo... Nicholas, Nicholas, fica comigo, certo? Aqui, eu estou aqui, Nicholas. Nicholas...

Sua voz desaparecia, deixando apenas fiapos contorcidos. Aos poucos, senti a claridade fugir de meus olhos. Não havia fechado as pálpebras, mas não conseguia enxergar nada. E nem mesmo ouvir. Ou sentir. A dor em meu peito começou a subir para minha garganta, e então para minha cabeça, pressionando-a, como se houvesse ar comprimido lá dentro. E então nada.

O silêncio mortal cobriu-me. Era tudo negro e não havia nada ao meu redor, nem mesmo um corpo pequeno. Não precisava respirar ali e minha voz não saía. E, quando já estava tendo um vislumbre dos céus e do paraíso, o ar invadiu-me com fúria e senti minhas costas impulsionarem-me para frente, erguendo-me tão rápido que fez minha cabeça doer e a tontura me tomar.

– Cuidado, Nicholas, por favor me ajudem a colocá-lo sentado. – Axel novamente. As mãos dele e de mais alguma pessoa se encontraram em meus braços e juntos me colocaram sentado contra uma parede. Arqueado para frente, abracei meus joelhos.

Nada parecia se conectar. Hoje eu sei o que aconteceu, mas no momento eu estava avoado, não conseguia ligar os pontos. Sabia que estava vivo, mas não sabia meu nome, nem quem eram as pessoas ali.

– É comum ele ficar encarando um ponto, sem se desviar. – Axel comentou, sentando-se. – Ele não sabe quem é, nem onde está, então tenham paciência. Por favor, voltem aos seus afazeres, está tudo bem.

Notei que encarava o chão após alguns minutos. Um fio de saliva escorria meu queixo, e limpei-o. Minhas mãos estavam bambas e assim que as levantei, senti fraqueza. O cansaço era grande e não conseguia nem imaginar me levantar sozinho. Aos poucos, minha consciência voltou e pude identificar as pessoas ao meu redor, que abanavam revistas e colchonetes em minha direção, para me trazer ar.

– Eu qu... – resmunguei, mas eles não entenderam. Nem mesmo eu entendi. – Eu quero ág...

– Água? – Haruka se ajoelhou, com um copo de água cheio. Aquilo me seduzia.

– Não, Haruka. – Axel se colocou a frente. – Pegue um outro copo, vazio.

– Mas...

– Pegue, agora.

Ela obedeceu, e voltou com um copo menor, vazio. Axel colocou um pouco de água dentro do primeiro copo e me entregou. Segurei com pouca firmeza, mas consegui levar aos lábios. Engoli, sentindo uma grossa camada de saliva em minha língua.

– Temos de dar de pouco em pouco, para que ele não engasgue.

– Entendi – Haruka sussurrou, me entregando mais um pouco de água, novamente no copo menor.

Tomei, mas ainda sentia sede, e bebi até que o primeiro copo estivesse vazio. Quando já me sentia pronto para dormir, deixe-me escorregar pela parede, em direção ao chão. Mas perdi o controle.

– Não, Nicholas! – a mão forte de Axel agarrou meu braço e me puxou para cima. – Você não deve deitar assim. Sua cabeça está frágil, se receber algum impacto pode ser que nunca mais volte para nós. Sei que está cansado e desorientado, mas calma. – sua voz era tranqüilizadora. Ele se levantou a minha frente e me tirou do chão, como se fosse uma criança, e me levou calmamente em direção ao elevador. Atrás, vinha Haruka, com a camiseta de Axel em mãos, aquela que eu mordi. Quando as portas se fecharam, eles apertaram o número Oito, do meu apartamento, e me levaram até meu quarto, colocando-me confortavelmente na cama. Ajeitaram meu travesseiro e me cobriram. – Você pode voltar ao seu treinamento, Haru, eu fico aqui com o Nich.

– Não, eu fico também. – ela se negou. – E se você precisar de ajuda, se precisar ir buscar alguma coisa e ele tiver de ficar aqui sozinho?

– Bem... Eu chamo algumas Avox para me ajudar, certo? Você tem uma sessão individual agora, o que significa que vale a sua nota diante dos Patrocinadores. Vá.

Ela, relutante, se levantou e foi. O quarto me envolveu com seu silêncio. Não sei o que Axel fazia, mas era um mestre na arte do silêncio, e por isso logo dormi, sem ouvir mais nada além de minha respiração pesada.

O fogo ainda me envolvia, com mais fúria agora. Não estava totalmente dentro do sonho, mas agora tinha noção do que me acontecia. Levantei, e as labaredas se ergueram comigo. Elas dançavam em meu corpo, sem me tocar. Caminhei entre a relva queimada e cheguei até um pequeno riacho, onde entrei e eliminei as chamas que me envolviam. Minha pele estava normalmente branca e sem queimadura alguma. Engoli em seco, sentindo-me estranhamente... Invulnerável? Aos poucos, consegui raciocinar. Toquei minha pele, mas ela estava mole e flexível. Belisquei-me e senti a dor, mas não consegui abrir uma ferida com minhas unhas. Apertei com mais força, mas novamente senti apenas dor e nada mais. Minha pele não estava se abrindo, não havia se queimado. Coloquei as mãos na cabeça, onde os cabelos haviam queimado até virar chumaços negros. O cheiro de queimado foi eliminado quando mergulhei no riacho. Ao redor, apenas relva e fumaça.

Despertei pela segunda vez do sonho e ainda estava no quarto. As janelas estavam escuras, o que me indicava que já era noite. Axel dormia em sua poltrona, ao lado da cama, com uma revista aberta no colo. Estiquei-me e consegui pegá-la sem acordá-lo. A capa já dizia tudo “A Capital – Saiba tudo sobre os tributos deste ano”. Passei as páginas rapidamente, até chegar aos tributos do Oito, eu e Lua. Ela estava numa pose bonita e até mesmo minha foto, tirada no Desfile, me parecia boa. Era uma edição de hoje, ou seja, as notícias foram dadas hoje. Havia uma coluna inteira falando sobre o que Lua havia feito do treinamento e sobre a opinião de alguns Patrocinadores em relação a ela, mas cobrindo todas as duas páginas estava uma foto minha, inconsciente e deitado no chão, com uma poça de baba perto de minha boca. O texto começava com “O tributo que sabe balançar os esqueletos”. Narrava vividamente o meu ataque epilético, dizendo o que eu havia sentido e pensado durante, embora eu nem mesmo tenha dado uma entrevista. Tudo remetia ao pensamento de que: eu era um tributo inconstantemente enfermo e na Arena não seria mais nada que um petisco de outros tributos mais fortes. “Nicholas Dussolier passa bem e está sobre os cuidados de um Patrocinador, este diz que Nicholas nunca sofreu um ataque antes, mas quem pode nos garantir? Quer arriscar apostando num garoto que pode cair e tremer em meio a um ataque Carreirista ou em um tributo que está correndo atrás de Nicholas?”.

Respirei fundo. Eles não sabem nada, tive de me convencer disto.

Hoje era a Sessão Individual, o que queria dizer que eu a havia perdido. Sorri para mim mesmo. O que aconteceu comigo para faltar a uma coisa tão importante? Duvido que a Capital me permitirá fazer a apresentação agora que já é tarde. Mas quem precisa de Patrocinadores que se tem a aliada do Distrito Dois? Sorrio, tristonho.

– Olá...? – ouço ao pé da porta e viro os olhos para lá. Uma menina loura e de corpo pequeno como o meu esgueira-se para dentro do quarto. É frágil e parece muito assustada, mas assim que chega até minha cama, noto que está com medo de Axel e não de mim.

– Olá. Posso saber seu nome...?

– Sophie.

– Assim como a filosofia. – comentei, levantando-me no travesseiro.

– Não, não precisa, não faça esforços! – ela me segurou pelos braços, depois de correr até mim, ignorando Axel. – Você não precisa.

– Eu quero – resmunguei – Coloque-me sentado.

Ela obedeceu, com muita gentileza, e me colocou apoiado contra o travesseiro macio. Senti minhas roupas amassadas. Quando já estava bem à vontade, ela se sentou a minha frente e me encarou fixamente, esperando algo.

– Não sente dor? O que aconteceu?

– Tive um ataque epilético. Não me pergunte como, simplesmente perdi o controle do corpo e cai.

Ela riu baixinho, unindo as mãos sobre as pernas e murmurando uma melodia bonita. Havia um pouco de tinta em seu cabelo.

– O que é isso? – perguntei.

– Eu gosto de pintar – ela deu de ombros. – Eu me camuflei na Sessão Individual. E você?

– Não participei – dei de ombros, enquanto ela me encarava fixamente. – O que foi?

– Você vai ficar com zero, não sabe?

– Sim.

Ela abriu um sorriso largo.

– Você quer uma aliança comigo? Meu companheiro não parece se importar comigo, e eu queria saber se estava tudo bem, e notei que você não se importaria se sou mesmo útil ou não.

Encarei-a. Se ela era útil? Veio do Distrito Um, provavelmente sabia alguma coisa de combate, e mesmo que não parecesse, ela ainda podia me ajudar com a camuflagem na Arena. E era uma menina legal, não parecia que iria me condenar caso tivesse um ataque durante os Jogos. Abri um sorriso largo, do mesmo modo que ela, e notei como aquilo me era estranho.

– Tudo bem, Sophie.

Ela sorriu novamente, e tive de sorrir de volta.


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Notas finais do capítulo

Sim, um amigo meu teve um ataque epilético ontem e eu tive de passar por tudo isso... Foi muito diferente e pude aprender muita coisa. :3 Quis passar isso para o capítulo. Beijos!