Nem os mais distantes olhos me captam, estou entre os fantasmas do passado (esquecidos no futuro), entre esse obscuro pensamento está fisgado o peixe da dor, não tenho medo da dor, nem do amor, tenho do que sinto quando a última ação que me resta é escrever. Espasmos de dor aguda me forçam a mexer.
Afogado em águas profundas, minha voz rouca se mistura ao borbulhar, nemos, passademos e platinas enfeitam o caminho cheio de burburinhas. São eles, vieram me buscar, na antiga vala dos deuses, onde os panteões costumavam rezar.
“Afogada em palavras que nunca disse, se jogou... Na vala profunda de uma noite sem lembranças, largada entre os lobos, voltou liderando a matilha, viveu o suficiente para se tornar a vilã, preferiu usar os lobos para alimentar as ovelhas. Pasmada com a dor, obliterada pelo orgulho, lutou contra a cólera, preferiu o luar.
O melhor caçador não rastreia a presa pela dor, e sim pelo rosnar, são nas rajadas solitárias da noite igualitária que o lobisomem busca abrigo, a melhor armadilha, é aquela que não existe, planeada no ar, obstruída pelo mar.
Cortada ao meio, servida no jantar... Renascida nos estômagos, defecada pelos monstros, resplandecida pela luz, seduzida pelas trevas, concedida pelo caos, adestrada por cordeiros, morta pelo vício, salva pela virtude (de amar).”

FIM
21/06/14