Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 7
O lago


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cheguei....
Boa leitura!



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Pov's Samira

Acordo hoje ainda mais animada que na quarta. Vamos ao lago!

Abro as portas da sacada sorridente esperando ver Miguel, mas a única coisa que vejo são portas duplas escuras. Urgh!

Suspiro e começo a me arrumar. Estou saltitando no banheiro de tão empolgada. Vamos ao lago!

Quando saio do banheiro com os cabelos ainda úmidos, coloco shorts jeans e uma blusa listrada de mangas longas por cima da regata verde, calço sapatilhas em um tom berrante de laranja e começo a arrumar minha mochila. Jogo o bronzeador feliz da vida e as demais coisas e desço cantarolando.

– Bom dia, Sami! - minha mãe me cumprimentou - Acordou cedo.

Olho para o relógio na parede. É verdade.

Dou de ombros.

– Bom dia mãe. O que tem pra comer? - perguntei me sentando.

Susanna revirou os olhos e encheu meu copo de suco de laranja.

– Omeletes, panquecas e bacon.

– Parece ótimo. - Começo a atacar os omeletes.

– Vai com calma. Você vai se engasgar desse jeito, menina!

Tomei um longo gole de suco.

– Onde está o papai?

– Teve que sair mais cedo. Aconteceu alguma coisa com um dos pacientes dele. Acho que enfarte. - mamãe disse. Sua voz parecia baixa e tensa.

Robert Parker era médico. Um dos bons. Era a celebridade do hospital San Juan. Meu orgulho por ele era sem precedentes. Para ele a medicina não era apenas uma forma de faturar uma boa grana ao fim do mês, era uma escolha, uma filosofia. Ele me dizia que um dom não pertencia unicamente a uma pessoa e sim ao coletivo e por isso jamais deveria ser usado para o egoísmo. Ele é uma pessoa boa. Boa, mesmo.

– E Alice e Peter?

– Alice saiu cedo para o balé e Peter ainda está no quarto.

– Ainda?

Minha mãe deu de ombros.

– Está cedo.

Termino meu omelete e ataco as panquecas.

– Mãe? - digo ainda de boca cheia.

– Sim?

– Vou sair com Miguel depois da aula.

– Vocês sempre foram ao cinema depois das 18:00. - Ela disse franzindo o cenho. - Vão assistir a mais de um filme?

– Não vamos ao cinema hoje. Estávamos pensando em ir à praia. - menti.

– Que praia?

– Santa Mônica.

Minha mãe franziu os lábios.

– Por que não no final de semana?

– Melinda está aí e parece que vão sair com ela.

– Ela não vai junto?

– Mãe, eu e Miguel já fomos milhares de vezes a praia sozinhos. Por que o interrogatório?

Minha mãe me analisou por alguns segundos.

– Nada de chegar muito tarde, heim?

Assenti.

– E leve o protetor solar.

Sorri para ela e peguei minha bolsa.

– Nos vemos mais tarde, mãe. - digo já saindo.

Ah, o dia está uma belezura. O sol está brilhando, o céu tem um azul resplandecente, os passarinhos cantam. Sinto como se nada pudesse atrapalhar o dia.

Os minutos passam e confiro meu relógio. Miguel está atrasado. Não atrasado de verdade, mas atrasado para seus padrões lunáticos.

Começo a andar de um lado a outro da calçada, impaciente. O que terá acontecido? Será que acordou doente? Caiu da cama e quebrou o pescoço? Diarréia? Catapora? Ou pior, Melinda o pegou?

Quando enfim decido bater na porta dele, vejo um BMW preto reluzente saindo da garagem ao lado. Respiro aliviada.

– Você está atrasado - reclamo batendo o pé.

– Alguém tinha que tomar as providências para nosso passeio. - Deu de ombros.

Puxei o ar com força e entrei no carro. Minha intenção era jogar minha bolsa no banco de trás como sempre, mas sou surpreendida por uma cesta grande de piquenique, uma mochila escura enorme e um violão. Meu violão.

Olho para Miguel com uma sobrancelha erguida. Minha pergunta era óbvia. Ele deu de ombros novamente.

– Achei que seria apropriado levar algo para comermos durante a tarde. A mochila é para o trabalho e o violão... Bem, achei que ia gostar de tê-lo.

– Obrigada. - Me arrumei no banco.

Miguel sempre se lembrava de tudo. Inclusive foi ele que havia me dado de presente o violão no banco de trás. Eu tinha vários instrumentos em casa. Tocava piano, guitarra, violino e violão é claro. Miguel achou que seria mais cômodo se eu tivesse um em sua casa, já que os Johnsons adoravam me ouvir tocar. É o que acontece quando se é muito boa.

– Você avisou seus pais? - perguntou enquanto dava partida.

Ele parecia mais sério que o normal.

– Sim - respondi.

– O que disse a eles?

– Que íamos à praia.

– É por isso que você está quase sem roupa?

– O quê?

Miguel encarava a estrada franzindo os lábios.

– Seu short.

– O que tem ele?

– Parece que você esqueceu de colocar o resto.

Revirei os olhos.

– Não é tão curto. - falei avaliando o comprimento da peça. Eu precisava mesmo de um sol, minha pele era muito clara. Quem diria que sou Californiana?

– É curto. Muito curto.

Me irritei. Quem ele pensava que era? Eu não dava palpites em suas roupas.

– E o que você tem a ver com isso?

Miguel me fulminou com os olhos. O sinal estava vermelho.

– Nada. - falou entredentes.

Seus olhos negros eram intensos e sua mandíbula estava travada. Ele estava muito sério, sustentei seu olhar, me recusei a desviar os olhos. Miguel levantou uma sobrancelha e deu um sorriso de canto desviando os olhos logo em seguida, voltando imediatamente a dirigir. Eu odiava aquele sorriso torto, era impossível não notar sua beleza e o contorno dos lábios cheios era tão... Sexy. Era atordoante, as vezes eu simplesmente me esquecia de que ele era meu melhor amigo. Isso era tão errado, eu jamais deveria vê-lo dessa forma.

Não voltamos a nos falar durante o breve percurso. Ele parecia distante e concentrado. As aulas se seguiram de maneira semelhante. Se sentou ao meu lado, mas nao me dirigiu mais que duas palavras. Não ouse contar para ninguém, mas confesso que foi uma tortura tê-lo tão perto e ao mesmo tempo tão longe.

No fim das contas admito que não foi uma idéia assim tão boa ir de shorts à escola. Mesmo nada bronzeadas minhas pernas foram o destaque do dia, por onde eu passava a atenção dos rapazes era garantida. Não vou dizer que foi de todo ruim, quer dizer, foi incrível para minha autoestima, mas por outro lado pensei que Miguel fosse ter um colapso a qualquer momento. Nunca tinha o visto mais vermelho. O que significava aquilo?

Sacudi a cabeça e tentei me concentrar em nosso passeio, assim que estivéssemos a sós Miguel voltaria ao normal. Estávamos perto do BMW preto quando as coisas começaram a ficar estranhas.

Sean Kane era o capitão do time de basquete. Moreno, olhos verdes, alto, atlético e lindo. Costumava me arrancar suspiros durante toda minha estadia na Wisdom, mas agora que eu me sentia mais madura nem tanto. Ele não tinha uma fama muito boa quando se tratava de namoro. Talvez ótimo para uma ficada, mas só.

Andando pelo estacionamento, parecia mais um modelo de passarela desfilando. Seus olhos pareciam ler cada centímetro de mim, eu me sentia quase sem roupa agora. Não é certo olhar para as pessoas desse jeito!

– Olá, Samira. - Quem diria que Sean Kane sabe o meu nome?

– Oi, Sean. - eu disse sem jeito.

Sean sorriu e passou os dedos pelo cabelo preto.

– Eu estava pensando se você não está afim de sair comigo hoje. - Sean disse prendendo meus olhos nos seus. Seu olhar era penetrante demais. Suas íris pareciam duas esmeraldas.

– Hoje? - gaguejei. Céus, como eu deveria parecer uma estúpida!

Ele sorriu, malicioso, dando um passo a frente para ficar ainda mais próximo. Minha respiração ficou fraca.

– Pra falar a verdade, agora. Poderíamos ir ao cinema ou onde você quisesse.

– Agora?

Eu me sentia tão lenta. O que diabos estava acontecendo comigo? Quero bater minha cabeça na parede mais próxima.

Ele sorriu mais ainda e estendeu a mão para tocar meu rosto. Me senti sendo puxada pelo braço e em um segundo eu me encontrava atrás de Miguel.

– Ela já tem compromisso, Kane. - E pela primeira vez na vida vi ele ser ríspido com alguém. Quem diria que Miguel seria capaz disso.

– Eu estava falando com Samira, Johnson. Ela não me disse, não. - Sean encarava Miguel sem um pingo de animosidade.

– Não precisa. Ela vai sair comigo agora. Você está atrasando nosso passeio. - Era impressão minha ou tinha um leve toque de deboche na voz dele?

Sean olhou de mim para Miguel diversas vezes como se tentasse processar algo. Depois de alguns segundos seus olhos se arregalaram levemente.

– Vocês estão... Bem, me desculpe, cara. Eu não sabia que vocês eram...

– Espera, não estamos namorando. Somos amigos. - intervi.

O sorriso de Sean voltou e instantaneamente o de Miguel sumiu. O que estava acontecendo com esses dois?

– Que bom. É difícil encontrar garotas tão lindas como você sozinhas. - Ele estava me cantando? Deus, Sean Kane está afim de mim!

Sorri sem jeito, o Modo Tomate com certeza tinha sido acionado. Miguel bufou ao meu lado.

– Sam, é melhor irmos. Temos um longo caminho pela frente.

– O que vão fazer? - Sean perguntou interessado.

Miguel me lançou um olhar de alerta. Eu não poderia contar para ele sobre o lago. Como se eu precisasse de aviso.

– Vamos à praia - dei a mesma desculpa que dei a minha mãe.

– Eu poderia ir junto? - falou com os olhos pidões.

Eu não precisava olhar para a cara de Miguel para saber o que ele pensava.

– Desculpe, Sean. Quem sabe em um outro dia? - falei com um sorriso.

Sean fez um muxuxo.

– Promete? - pediu.

– Claro. - Eu não poderia está mais sem jeito.

Sean sorriu e lentamente beijou meu rosto.

– Vou cobrar. - sussurrou em meu ouvido. Engoli em seco.

– Já chega. Temos que ir. - Miguel disse entredentes. Por que ele tinha que ser tão rude?

Sean o fuzilou com os olhos, Miguel deu de ombros.

– Tchau, gatinha. Bom passeio. - Sean pegou minha mão e a beijou ternamente. - A gente se ver por aí, Johnson.

Miguel o ignorou e entrou dentro do carro. Acenei para Sean quando ele se afastou e entrei também.

– Cara de pau, desgraçado. - Miguel parecia furioso enquanto arrancava com o carro.

– Você está xingando? - perguntei estarrecida.

– Coloca a droga do cinto. Estamos atrasados. - Obedeci.

Miguel dirigia como um suicida. Seus olhos pareciam incendiários e ele continuava xingando.

– Filho de uma...

– Ei! - gritei - O que é isso?

– Não estou afim de brigar com você, Samira. É melhor você deixar eu me acalmar primeiro.

– Acho que vai nos matar antes.

Miguel bufou e pisou com mais força no acelerador só para provar que eu estava certa.

– Se você continuar a acelerar e me transformar em geléia de Samira eu prometo que vou te matar e depois te espancar até você dizer: Chega!

– Precisava parecer tão fácil?

– O quê?

– Você!

– O quê?

– Que merda, Sami! Você estava parecendo uma imbecil gaguejando e corando.

Sinto meus olhos se arregalarem de surpresa. Depois raiva.

– Não estava não. Você...

– Ele é um idiota, garota. Só quer exibir você para os amiguinhos estúpidos dele, depois vai... Depois vai... Minha vontade é esmagar a cabeça dele com um soco.

E parecia capaz disso mesmo. Eu nunca tinha o visto mais irritado com algo. Minha raiva se dissipa e uma vontade de tranquilizá-lo surge. Não gosto desse Miguel irado e psicótico.

– Eu não estou interessada nele. - falei rapidamente.

– Mesmo? - perguntou confuso.

– Ele não é pra mim. - sussurro com a voz mais tranquila que posso.

Miguel ficou quieto por um tempo. Parecia pensar sobre o que eu disse. Não relaxei um segundo sequer esperando que ele explodisse de novo. Não quero que se repita.

– Chegamos. - Miguel solta e olha para mim. Sua expressão voltou ao normal, parece calmo.

Me mexo com cuidado e sinto os músculos latejarem, efeito de tanto tempo parada. Abro a porta e saio. Temos algum tempo de trilha. Miguel pega a mochila enorme para o trabalho e a cesta de comida, eu me encarrego de minha bolsa e o violão.

Estamos no Parque Nacional de Yosemite, um lugar enorme, bonito e fácil de se perder. Nossas famílias vieram aqui quando tínhamos quatorze anos e sem querer enquanto brincávamos de pique-esconde encontramos o lago, desde então ele tem sido nosso segredo, nosso porto-seguro.

– Desculpe pela cena no carro - Miguel sussurra depois que nos embrenhamos na floresta. Me sinto tensa por um motivo que desconheço.

– Deixa pra lá. - digo querendo que o assunto se encerre.

– Sei que ficou assustada. Não vou me perdoar por isso.

– Não fiquei assustada. - menti.

Miguel bufou.

– Você está pálida, Sam.

– Isso não significa nada.

– Eu nunca machucaria você.

– Eu sei disso.

Miguel puxou o ar com força.

– Não estou zangado com você. Quero que saiba disso.

Não mais, penso, mas não digo.

– É só que a forma como ele olhava para você... - Ele parecia ter problemas para explicar. - Argh! Tenho vontade de lhe dá uma surra quando chegar amanhã na escola.

Nunca vi Miguel como uma pessoa violenta, ele irradia passividade. Mesmo com todos seus músculos novos, eu não queria nem imaginar uma luta entre ele e Sean.

– Está tudo bem. - digo tocando em seu braço.

Ele volta o rosto para o meu, abre um sorriso mínimo e entrelaça os dedos nos meus.

– É melhor começar a andar mais rápido se quisermos chegar ao lago antes do pôr do sol. Você é meio lento. - digo tentando aliviar a tensão.

Funciona. Miguel rola os olhos e volta a caminhar sem nenhum momento soltar minha mão. Sigo seus passos distraída. O que o levou a agir daquela maneira?

Caminhamos por volta de uma hora e meia, estou exausta, suada e minhas sapatilhas estão imundas. Vou ter que arrumar uma desculpa bem convincente para explicar a lama a minha mãe.

– Estamos perto.

– Eu sei. - Suspiro. - Agora é a pior parte.

O lago fica em uma parte isolada da floresta. A passagem é íngreme e cheia de obstáculos. Como um ladeira da morte cheia de espinhos e ervas daninhas. Miguel segura minha mão com força quando passamos pela última sequóia em direção a passagem do terror. Descemos com cuidado extra, não ia ser nada legal descer rolando. O processo é lento, melequento, escorregadio e irritante. Se o lago não fosse tão lindo eu jamais passaria por aquilo novamente. Depois de quase mais meia hora de sofrimento, avisto uma caverna pequena, cercada por mato e mais erva e espinhos. Suspiro aliviada porque sei que não se trata de uma caverna do mal e sim de um túnel do bem. Miguel abre a mochila e tira uma faca grande de dentro, com cuidado ele começa a afastar os espinhos e as ervas da entrada. Me pergunto aonde estava essa faca quando eu estava me atrapalhando com todas as raízes, samambaias e urtigas. Affs.

– Damas primeiro. - Miguel aponta a entrada - agora livre de todo o mal - e sorri com gentileza.

Dou de ombros e começo a penetrar no túnel. Não dá para passar em pé, por isso somos obrigados a engatinhar. É estreito, molhado e escuro. Percorremos cerca de quatro metros e então a luz começa a nos atingir de leve. Sinto um sorriso enorme começar a rasgar meu rosto e aperto o passo. Quero chegar logo ao fim. Afasto uma camada desconhecida de mato com a mão mesmo e saio para a luz.

A paisagem que vejo é a mais linda e reconfortante.

A grama se estende por meus pés pontilhada de flores mínimas e coloridas como se alguém as tivesse posto ali, imensas pedras cinzentas e lisas se estendem mais a frente como se para esconder algo, e realmente escondem, elas ocultam um lago pequeno, de água verde e cristalina, lindo e intocado.

– Parece que faz séculos que não viemos aqui, não é? - Miguel pergunta sorridente. Ele parece tão maravilhado quanto eu.

Apenas assinto com a cabeça. Me sinto incapaz de falar agora. Miguel me puxa e caminhamos com cuidado pela grama, não queremos estragar as flores, em direção ao lago. Escalamos algumas pedras e olhamos o lugar de cima, é pequeno, cercado por imensas paredes de pedra como um fosso ou cratera, as maior parte das paredes está coberta por musgo ou trepadeiras, o que as deixa com um aspecto... Bem, verde. Estamos em uma espécie de buraco verde esquecido. Um buraco bonito pra caramba.

Vi de rabo de olho que Miguel começava a tirar os sapatos e depois a puxar a camisa. O que significava que ele provavelmente estava pensando em se jogar no lago. Usei a pedra como escorregador e comecei a arrumar as coisas para o trabalho. Quanto mais rápido começamos isso, mas rápido terminaremos. Ouço um splash e sei que Miguel está nadando. Pego uma toalha de dentro da cesta e jogo em cima da grama em uma parte livre de pedras gigantes, disponho os vários frascos de vidro sobre a toalha e começo a enchê-los de água. Estou faminta, mas resolvo esperar Miguel para comer. Tiro os shorts, mas mantenho a blusa que é comprida o bastante para esconder meu biquíni.

Após alguns minutos Miguel emerge e nada em minha direção, ele me entrega um troço verde. Minha tarefa é colocar essas coisinhas frágeis e gosmentas dentro dos frascos enquanto ele as cata no fundo do lago. Fácil.

Repetimos isso até enchermos os dez frascos e então ele sai da água e coloca algumas gotas de um líquido transparente na água com as plantas, depois os guarda na mochila com um cuidado exagerado.

Miguel usava apenas uma bermuda preta. O cabelo molhado louro-avermelhado dele parecia reluzir a luz do sol, seu corpo estava pontilhado de água o que o tornava brilhante por inteiro. Vi uma gota cair do nariz reto, percorrer a curvatura dos lábios, descer pelo queixo quadrado, alcançar sua garganta, atingir o peitoral definido e repousar em sua barriga, indo de encontro aos músculos quadrados e fortes. Meus dentes apertam com força o lábio inferior.

– Você está me secando? - Ouço uma voz divertida perguntar.

Paro de morder o lábio e vejo Miguel me encarando com uma expressão divertida.

MERDA, MERDA, MERDA.

Fico perdida sem saber o que dizer porque tecnicamente era exatamente isto que eu estava fazendo.

– É claro que não. - sussurro. Não consigo olhar para ele.

– Sei. - diz ironicamente.

Modo Tomate em ação!

– Você vai mesmo ficar a tarde toda empacotada? - Ele se senta ao meu lado e começa a colocar nossa comida sob a toalha.

Ainda estou constrangida demais para falar.

– Não quer comer?

Será que quero? Estou com fome de outra coisa agora.

– Sam, qual é o problema? Você não parou de reclamar desde que começamos o trabalho. Pensei que quisesse comer.

Cato uma maçã e começo a mordiscá-la.

– Você está vermelha. - Ele diz. Sinto seu olhar em mim.

Que droga, Sam! Você precisa reagir.

– O que foi? - Miguel pega meu queixo e o levanta. Nossos olhos se cruzam.

Não sei o que responder. Não posso dizer que estou encabulada por ter sido pega no flagra.

Seus olhos exigem uma resposta. O que vou responder? Abro a boca mas não sai nada. Vejo Miguel descer a ponta da língua lentamente pelo lábio inferior. O que estará pensando? Minha maçã escorrega de meus dedos. Seu rosto está muito perto do meu. Perto demais. A proximidade me deixa nervosa, meu estômago se contorce como se milhões de mariposas voassem contra suas paredes. Não consigo respirar.

Miguel puxa o ar com força.

– Minha maçã caiu - digo como uma idiota. Minha voz soa ridiculamente fraca.

Miguel força um sorriso.

– Eu trouxe outras. - Seus olhos se recusam a soltar os meus.

– Será que não dá pra aproveitar?

– Aproveitar o que?

Sua boca se contorce naquele sorriso torto estupidamente sexy. Consigo desviar os olhos antes de fazer uma besteira.

– A maçã. - gaguejo.

Meus olhos vasculham a toalha e encontro minha maçã pela metade. Respiro fundo algumas vezes e resolvo relaxar. Não é como se... Quer dizer Miguel é apenas Miguel, nada mais que isso.

Ele me observa sem dizer nada.

– Você não vai comer?

Ele dá de ombros e pega uma pêra.

– Você está menos vermelha.

– Você está mesmo reparando nisso?

– Estou. Quero saber o motivo.

– E se eu não quiser contar?

– Você não quer contar?

– Não.

– Continuo querendo saber.

– Problema seu. Não vou dizer nada.

– E se...

– E se?

– E se eu te obrigar.

Olhei para ele com as sobrancelhas arqueadas. Já sabia onde isso ia parar.

– Tente. - desafiei.

Foi o que bastou. Miguel se atirou em cima de mim, seu corpo prendia o meu ao chão e suas mãos seguravam as minhas. Gritei.

– Que inferno! Sai de cima de mim, Miguel.

– Me diz por que estava corando. O que a deixou constrangida?

– Vou fazer purê de você quando eu sair daqui.

– Você não está em condições de fazer ameaças agora. Só tem um jeito de sair.

O miserável tinha razão. Minha respiração começou a acelerar e meu coração resolveu acompanhar. As mariposas voltaram e resolveram convidar suas amigas abelhas e borboletas, a festa estava feita. Comecei a ofegar. Não estava acostumada com aquele tipo de contato. Mesmo molhado, Miguel era quente e sua pele roçando a minha fazia meus pelos se eriçarem. Meu peito parecia a ponto de explodir.

– Sai de cima de mim! - gritei.

– Depois que você me contar.

Tentei respirar. O cheiro cítrico de Miguel estava por toda parte. Era inebriante e só piorava as coisas. Eu não podia ficar mais um segundo naquela posição.

Concentro toda a minha força no joelho e em um movimento desesperado atinjo a coxa dele. Não foi em cheio, mas o suficiente para que ele afrouxe um pouco a postura e eu consiga escapar.

– Ai. - Ele acaricia a coxa por cima da bermuda. - Isso era mesmo necessário?

– Você não queria soltar. - Ainda estou arfando.

– Você não vai me dizer nada né?

– Não.

– Vem nadar comigo então. - E estende a mão para mim.

Olho para sua mão por alguns segundos. Não é segredo algum que sou uma péssima nadadora. Exito.

– Não vou deixar você se afogar - ele diz como se tivesse lido meus pensamentos.

Confio nele. Sei que é sincero. Tiro a blusa e entrelaço meus dedos nos seus. Escalamos a maior pedra e juntos pulamos de mãos dadas.

A água está morna e a sensação é agradável na pele. Sigo os movimentos de Miguel, a água é tão transparente que o vejo nitidamente. Nossas mãos ainda estão unidas e aos poucos nossos corpos se misturam enquanto nadamos cada vez mais ao fundo. Giramos, mergulhamos e seguimos peixes brilhantes. Quando emergimos sorrio como uma boba.

– Foi incrível! - grito e o abraço. Ele retribui e aperta minha cintura.

As mariposas insistem em retornar. Sou tomada pelo nervosismo novamente. Minhas pele está na sua e nossas pernas se confundem no lago, batendo em sincronia para nos manter suspensos. Inspiro seu cheiro maravilhoso e me obrigo a me afastar, mas continuo segurando sua mão. Forço um sorriso.

– Vamos repetir?

Miguel pensa por alguns segundos.

– Você precisa comer um pouco antes. Está meio pálida.

– Não estou com fome.

Miguel arregalou os olhos e colocou a mão livre em minha testa.

– Está doente?

Revirei os olhos e tirei sua mão da minha testa.

– Vai pentear macacos! - disse e nadei em direção a margem. Sinto Miguel me acompanhando.

Saio da água e procuro minha blusa, sinto frio agora que estou molhada. Mas não consigo encontrar a maldita blusa.

– Miguel você viu a minha... - mas não consigo completar a frase.

Miguel está paralisado a dois passos de mim. Seus olhos estão fixos em meu corpo e sua boca está ligeiramente aberta. Me delicio com a imagem.

– Você está me secando? - pergunto tentando imitar seu sorriso sexy.

Miguel desvia os olhos e vejo o rubor se formar em suas bochechas. Ah, o doce sabor da vingança.

O resto da tarde passa em um rompante. Miguel me obriga a comer. Estranho né? Também achei.

Voltamos a nadar juntos e quando minhas pernas começam a tremer percebo que a natação não é realmente meu esporte, deito em uma pedra e deixo o sol tingir minha pele. Peguei Miguel me olhando mais algumas vezes, o que foi esquisito, mas, de uma forma que não consigo entender, tremendamente prazeroso. Acabei dormindo uns poucos minutos, Miguel ficou me enchendo pra tocar pra ele.

– Vou ensinar você a tocar - resmunguei.

– Você sabe que não tenho jeito e você não tem paciência. Já tentamos.

– Então vou convencer tia Célia a contratar um professor particular. - Bocejo.

– Anda logo. - diz e me entrega o violão.

Me alongo e pego o violão.

– O quer você quer? - pergunto fingindo mal-humor.

Ele sorri.

– Você escolhe.

Dou de ombros e começo a tocar uma música que ambos gostamos do Ed Sheeran. Adoro cantar para Miguel, adoro sua cara de bobo, seus olhos apertados, seu sorriso de covinhas e sua mão no queixo. Sinto-me uma artista de verdade, talentosa e prestigiada. Não existe nada no mundo que me deixe mais feliz. Quando finalizo a última nota sou saudada por uma salva de palmas e sei que estou ruborizando embora revire os olhos.

– Canta outra? - ele pergunta com os olhos pidões enormes.

E canto outra e mais outra e outra de novo. Na verdade sinto que poderia cantar mais um milhão de canções se ele quisesse.

– Temos que ir - ele diz quando termino a quinta música. Sua expressão parece destroçada.

– Já?

Ele apenas confirma com a cabeça e começa a vestir sua camisa, sua bermuda já secou. Coloco meu violão em sua capa e me visto também. Não quero mesmo ter que deixar meu paraíso.

– Prometo que voltamos o mais rápido possível - Miguel diz depois que arrumamos o que sobrou da comida na cesta.

É minha vez de confirmar com a cabeça. Me sinto pesada, mas não apenas porque terei que sair de meu refúgio, estou triste porque sei que meu tempo com ele está acabando. Me surpreendo com a dor em meu peito só de pensar na separação. O que é isso? TPM?

O tempo na trilha parece curto agora, e as horas parecem minutos durante a viagem de carro, me assusto quando percebo que já atravessamos a ponte Golden Gate. Estamos muito perto de casa.

– Vocês vão sair com Melinda? - pergunto só por perguntar. Quero ouvi o tom de sua voz rouca antes de chegarmos.

– Sim. Ela quer ir em um restaurante na orla. - Ele dá de ombros.

– Ahãn. - Suspiro. - O que vai fazer amanhã?

– Vamos sair cedo. Melinda quer passar o fim de semana na casa de praia.

Meu estômago se contorce em nervosismo.

– O fim de semana todo? - pergunto. Minha voz soa quase chorosa.

– É. Até papai vai. - Ele parece maravilhado.

Não consigo falar mais nada, o que é uma pena porque percebo tarde demais que não o verei durante dois dias inteiros. Entro em casa desolada.

– Como foi o passeio, querida? Se divertiu? - minha mãe pergunta assim que coloco os pés em solo Parkeriano.

– Legal. - Minha voz parece a da Mortiça Adams. Estou deprimida.

– Mesmo? - ela pergunta franzindo as sobrancelhas.

Assinto.

–Vou tomar um banho. - E começo a subir as escadas.

Corro em direção à sacada assim que entro no quarto na esperança de pegar Miguel antes de entrar no banho. Quero muito me despedir.

Minha depressão triplica quando vejo Melinda circulando por seu quarto, mal tenho tempo de lhe dar as costas quando ela me chama.

– Oi, Melinda. - digo contrariada.

Ela sorri e se debruça na grade de proteção.

– Como foi a praia? - ela pergunta sorridente soltando purpurina.

– Ótima!

– Acho que sim. Você está menos pálida.

– Obrigada. - Sou toda ironia. - Onde está Miguel?

– No banho. Estamos arrasados.

Dou de ombros.

– Vamos a um restaurante francês na orla. Soube que eles tem o melhor caviar de toda a São Francisco.

Quem te perguntou?

– E a vista? Dizem que é a mais linda. Você não sabe o quanto foi difícil conseguir as reservas.

– Imagino.

– Estou tão animada, Sami! - Ela saltita e alisa o vestido.

A Princesa Pink está ainda mais bonita em seu vestido caro, obviamente rosa, de apenas um ombro com caimento perfeito e sandálias de tiras prateadas. Seu cabelo vermelho está preso em um coque despojado e sua franja cobre quase completamente a testa. A maquiagem é bem feita e destaca os olhos verdes brilhantes. A antipática está realmente incrível.

– Imagino. - digo novamente de mal-humor.

– Dizem que o lugar é chiquerrímo e que tem uma réplica de gelo da torre Eifel!

Juro que se ela disser mais uma vez a palavra "Dizem" vou separar sua cabeça do corpo.

– Legal.

– Você já foi em um restaurante francês?

– Não.

– Por que?

– Prefiro hambúrguer a ova de peixe. - Curta e grossa meus amores. Essa sou eu.

Melinda me olhou de cima a baixo.

– É. Acho que combina mais com você mesmo.

O QUÊ? ELA TÁ PEDINDO!

– Com licença. - digo e fecho as portas duplas.

Se ela pensa que vai ficar por isso mesmo, está enganada. Melinda me aguarde. Entro no closet. Vou mostrar a essa garota com o que combino realmente. Afinal de contas, também tenho vestidos caros.


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Notas finais do capítulo

Peço mil perdões pela demora gigantesca... Minha rotina não é das mais fáceis, tive um bloqueio e ainda fiquei sem internet... O próximo vai sair mais rápido, está quase pronto.
Beijinhos.



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