Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 3
Parabéns Sami, agora você conseguiu ferrar com tudo ou talvez quase tudo.


Notas iniciais do capítulo

O que eu faço comigo? Estou cada vez pior com títulos. Esqueçam isso e leiam logo. Amei o resultado desse.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/532992/chapter/3

Pov's Samira

Continuei estupefata por mais alguns segundos ainda parada perto do carro dele, olhando para a porta da casa dele. Ainda não conseguia entender o que diabos tinha acontecido.

Balancei a cabeça e andei os poucos passos até minha porta. Entrei com tudo e disparei pelas escadas. Tudo que eu queria agora era colocar meus fones de ouvido, colocar minha música no último volume e tentar esquecer aquele garoto.

Estava em busca da chave do meu quarto, quando minha mãe passou pela porta.

– O que aconteceu?

– Boa tarde para você também mãe - disse de mau humor novamente.

Minha mãe levantou as sobrancelhas e esperou. Respirei fundo e tentei não enxotar ela do meu quarto - como eu queria.

– Você brigou com Miguel? - ela perguntou com as mãos na cintura. Aquilo era uma cena estranha.

– Por favor não diga mais esse nome na minha presença - eu disse. Minha irritação parecia fazer minha cabeça pulsar.

– Ouvi seus gritos daqui. Qual o motivo da briga? O que você fez? - ela perguntou me acusando.

Aquilo só podia ser uma piada!

– Eu? Era só o que me faltava. Eu não fiz nada! Miguel é o idiota aqui!

Minha mãe me olhou por alguns segundos. A expressão ponderando sobre meu escândalo. Ela sabia que eu perdia o controle com facilidade e sabia como lidar com aquilo. Miguel também sabia.

Respirei fundo tentando voltar ao normal.

– Mãe? Pode me deixar sozinha por favor? - pedi conseguindo deixar minha voz em seu tom habitual.

Mamãe me avaliou por alguns segundos e então assentiu saindo do quarto e fechando a porta.

Deixei meu corpo cair encima da cama, conseguindo finalmente colocar meus fones.

O exercício fracassou impiedosamente. Eu ainda conseguia ouvir meus pensamentos assassinos. Foi preciso muita força de vontade para não levantar daquela cama e ir bater na porta da casa dele com minhas botas de couro e pisar na cabeça dele como a baratinha que ele era como aquela loura psicopata.

A loura psicopata! Era tudo culpa dela.

A antipática queria tudo que era meu desde criança. Até que demorou para que ela cobiçasse Miguel. Mas se ele achava que eu devia só levar na cara enquanto aquela garota aprontava comigo, que ficasse com ela. Que ficasse bem longe de mim.

Lá em baixo minha mãe me mandou me aprontar para o jantar aos berros. Era estranho minha mãe ter como melhor amiga tia Célia. Elas eram o contrário. Como água e vinho. Quer dizer, nem tudo, elas tinham a mesma doçura e a mesma bondade refletidos nos olhos. Mas o resto? Nada!

Mamãe é o tipo de pessoa simples, não que Célia Johnson não seja. Só que titia tem aquele porte altivo, nobre que minha mãe nunca vai ter. Veja bem:

Tia Célia estava sempre bem arrumada, bem maquiada, usava roupas elegantes e saltos altos mesmo em casa e só pisava na cozinha pra pegar alguma coisa. Mamãe estava sempre de jeans, blusas leves e soltas, só usava maquiagem em eventos de gala e quase não saia daquela cozinha. Papai nos oferecia conforto o suficiente para que ela não precisasse se cansar tanto, mas ela era teimosa como uma mula. Pra você ter uma idéia ela cortava o próprio cabelo! Deus, o que é isso?

Saí, por fim, da cama e fui em direção ao meu mini banheiro tirando as roupas pelo caminho e as jogando no chão. Quando abri a porta já estava só de calcinha e sutiã. Tomei uma ducha rápida tomando o cuidado para não molhar os cabelos e peguei os primeiros shorts e camiseta que vi no closet. Desci as escadas aos pulos e dei de cara com minha família já sentada à mesa. Dei um beijo na testa do meu pai e sentei em meu lugar.

Logo começamos a comer. Todos pareciam animados demais para o meu gosto. Falavam de seus dias e gargalhavam a toa. Peter estava em êxtase, completamente deslumbrado com a escola nova para super dotados. Alice também parecia animada com a escola. Meu pai falava sobre como as coisas no trabalho iam bem e minha mãe sorria com tudo e apoiava como se não soubesse fazer outra coisa. E eu olhava para meu prato de mau humor, meu frango parecia incrivelmente sem graça.

– Sam? Seu pai lhe fez uma pergunta - minha mãe disse, me olhando com a testa franzida.

Levantei os olhos do prato e olhei para meu pai. Ele me olhava daquele jeito que eu já conhecia mais que bem. Os olhos azuis dentro dos meus como se tentasse com toda as suas forças ler meus pensamentos. Eu odiava aquilo.

– O que? - perguntei de testa franzida.

– Você ainda está chateada com Miguel - ele declarou.

Olhei para minha mãe frustrada. A cumplicidade dela com meu pai era mais que irritante.

– Isso não foi uma pergunta. - Voltei novamente minha atenção para meu prato. Minha coxa de frango descorada parecia muito mais interessante agora.

– O que você fez? - papai repetiu a pergunta da minha mãe. O fuzilei com os olhos.

– Eu não fiz N-A-D-A - soltei.

– Miguel está chateado? - Alice perguntou olhando-me preocupada, sua voz adquirindo um tom de emergência. - Ele não vem mais aqui? Ele não vem mais me ver?

Bufei irritada. Não dava a mínima se ele não viesse mais.

– Querida acalme-se - mamãe disse calmamente. - Claro que ele vai voltar aqui, senão for pra ver Sami, virá para ver você.

Alice me olhou com os olhos em brasa. O rostinho vermelho de raiva. Ótimo.

– Se Miguel ficar zangado comigo por sua causa você vai ver só! - ela ameaçou apontando o indicador em minha direção.

Revirei os olhos e espetei o frango levando-o a boca. Já estava de saco cheio daquela conversa, do fascínio revoltante de Alice, da nerdice (não sei se essa palavra existe e não dou a mínima) de Peter, da complacência de minha mãe e principalmente do olhar inquisitivo do meu pai, mas mais que tudo eu estava de saco cheio daquele frango com gosto de areia.

Tomei um longo gole de meu suco e me levantei.

– Com licença - disse educadamente. É, eu conseguia fazer isso de vez em quando. - Vou me retirar, estou um pouco cansada.

Meu pai apenas assentiu franzindo levemente as sobrancelhas. Subi as escadas rapidamente e me joguei em minha cama o mais rápido que consegui.

Aquele tinha sido um dia definitivamente péssimo!

O dia seguinte não foi melhor. Tive que pedi ao meu pai que me desse uma carona até a escola e fui obrigada a ouvir um discurso terrivelmente chato durante todo o percurso sobre a importância de aprender a controlar os impulsos. Quando por fim chegamos eu já podia sentir a irritação fervilhar dentro de mim. Respirei fundo algumas vezes, me despedi de meu pai e saí do carro.

Amber e Megan me encontraram quase que de imediato no corredor dos armários.

– Bom dia Sami! - disseram juntas em perfeita sincronia. Algo que eu sabia que elas estavam treinando um tempao, mas não era lá tão impressionante assim.

– Oi - disse simplesmente ainda olhando de mau humor para os livros de história que retirava daquela maldita caixa de metal minúscula que não servia para nada a não ser ser completamente insignificante. Não entendeu o que eu quis dizer? Eu também não. Esquece!

Megan se encostou no armário ao lado e me olhou de testa franzida.

– O que aconteceu? - ela perguntou me avaliando.

– Nada - eu disse desviando dos seus olhos oliva.

– Onde está Miguel? - Amber perguntou parecendo só neste instante notar sua ausência. Seus olhos vagaram por todo o corredor.

Eu estava prestes a lhe dá uma bela resposta estilo Samira irritada, mas no exato momento em que abri minha boca Miguel surgiu no corredor. Tinha uma expressão séria no rosto e os olhos negros pareciam indecifráveis. Ele encostou em seu armário que ficava a distância de uns noventa centímetros do meu e tirou seus livros de lá sem olhar uma única vez em minha direção. As cabeças de Amber e Megan giravam sem parar tentando gravar ambas as expressões e pareceram entender o ocorrido.

– Bom dia Miguel - Megan disse com um sorriso simpático no rosto.

Miguel retribuiu seu sorriso embora seus olhos não tenham imitado seu gesto. Ele apenas acenou com a cabeça na direção de Amber e Megan, e então se foi, entrando mais profundamente no colégio.

– Tudo bem, tem uma coisa muito errada aqui. - Amber disse me olhando de testa franzida. Ignorei seu olhar inquisitivo.

– O que você fez Sam? - Megan perguntou com aquele olhar de mãe que repreende o filho.

Suspirei e esfreguei as têmporas repetidas vezes tentando controlar minha respiração.

– Isso só pode ser combinado. Um acordo com o objetivo de promover um ataque cardíaco na pobre da Sami. - sussurrei comigo mesma.

– E então? - pressionou Amber.

– Nós brigamos - eu disse simplesmente.

– Por quê?

– Porque parece que eu sou um pouco mané de menos para o gosto dele. - eu disse ainda dando de ombros.

Amber e Megan franziram o cenho sem parecer entender nada.

Suspirei e disse uma única palavra.

– Lana. - Seus olhos se iluminaram devido a compreensão.

– Ah! - Amber exclamou - Mas o que aconteceu?

– Vamos! - eu disse me desencostando do armário, mantendo os livros junto ao peito - Melhor irmos andando, eu conto no caminho.

E foi o que eu fiz, um pequeno resumo de nossa estranha briga no dia anterior. As meninas pareciam está ansiosas para saberem cada detalhe, queriam que eu explicasse tudo, mas eu não tinha nem mesmo um terço das respostas.

– Acho que você devia pedir desculpas - Megan disse quando terminei de contar.

– Por que? Ele me chamou de infantil primeiro. - me esquivei de seu comentário, não tinha nenhuma intenção de fazer aquilo.

– Sami, já parou para pensar que talvez ele tenha razão? Essa história com Lana já parece ter ido longe demais - ela insistiu.

Amber assentiu, concordando.

– Ah! Vocês bem que se divertiram me ajudando com todas aquelas pegadinhas - acusei.

– Não vamos negar que algumas vezes foi divertido. - Megan concordou.

– E a Lana é uma vaca - acrescentou Amber.

– Mas não vale a pena ficar brigando com seu melhor amigo por um motivo fútil como aquela baratinha.

– Tudo bem - disse dando de ombros. - Se ele pedir eu também peço.

Amber e Megan reviraram os olhos ao mesmo tempo. Foi bizarro.

– Desisto! - Amber exclamou - Você já é bem grandinha.

– Também acho. Agora vamos. Temos um encontro com aquele professor mala de história - falei.

O resto do dia foi meio estranho. Miguel não se sentou ao meu lado em nenhuma das aulas e me ignorou durante o almoço. Ele era um cabeça dura!

A educação física chegou e lá estávamos novamente. O professor tinha nos preparado um jogo de tênis, colocando redes pela quadra gigante pra que várias duplas pudessem jogar simultaneamente. Para nosso azar ele mesmo estava escalando nossos oponentes.

– Caroline Angeles você fica com Brad Cooper - disse o treinador Clark - Elizabeth Matheson com Susan Andersen, Samira Parker com Miguel Johnson...

Não sei dizer o que ele disse depois. Minha cabeça pesava, era muita falta de sorte. Mas isso não era previsível Sami? Todo mundo sabia que você sempre fazia tudo com aquele garoto.

Quando o treinador Clark terminou de anunciar as primeiras duplas vi Miguel se afastar de Jake e pegar uma bola e um par de raquetes depois vindo em minha direção sem me olhar nos olhos. Ele me entregou uma raquete e caminhou até a mini quadra improvisada mais próxima.

– Vamos acabar logo com isso. - ele disse baixinho quase como se fosse só para si o comentário.

Me posicionei do outro lado da rede e me preparei. Assim que o professor deu a ordem Miguel jogou a bola para cima e bateu nela com a raquete. Rebati sem muita força. Estava usando só metade da minha concentração. Quando tinha sido mesmo a última vez que tinha ficado sem falar com Miguel? Na sexta série?

Miguel por sua vez parecia mais atento que nunca. Ele nunca tinha sido realmente bom nos esportes. Eu costumava ganhar dele em todos. Menos em um. Natação. Ele nadava muito melhor que eu.

A bola passou a meio centímetro de mim, mas minha mente não foi rápida o suficiente para que meu corpo pudesse executar o movimento correto.

– Preste atenção. - Miguel disse sério. Aquilo era tão a cara dele. Ele queria ganhar por seus méritos.

– Ponto para você - eu disse pegando a bola e a devolvendo ao jogo.

Continuamos a jogar. Miguel estava de fato empenhado em me derrotar. Acho que ainda não tinha visto uma disputa tão acirrada naquela quadra. Mesmo assim, eu agia puramente por reflexo. Não estava com humor para aquilo. Queria ir para casa, e ainda assim, não conseguia suportar a idéia de simplesmente deixá-lo ganhar.

Ele usava todo a sua concentração, era ágil e sempre rebatia com força. Ele realmente não queria que eu ganhasse e isso só me dava mais animo pra impedi-lo de me derrotar. Numa segunda jogada rebateu com tanta força que não tive a menor chance.

Miguel começou a rir da minha cara confusa.

– Desde quando você sabe jogar tênis? - perguntei enquanto recolhia a bola.

Miguel deu de ombros.

– Você não pode ser a única a se dá bem nos esportes. Acho que você vai perder.

– Nunca. - disse enquanto reiniciava o jogo. Jogando a bola quase no fim da quadra. Miguel conseguindo rebater a tempo novamente. - Você está começando a me irritar.

– Sério? Novidade seria se não a irritasse. - disse em meio a uma jogada.

– Desculpe se não sou tão doce como sua amiguinha ali - disse irônica.

Miguel parou de correr para alcançar a bola e ficou me fitando sério. Repreensivo.

– Ponto pra mim - eu disse quando a bola tocou o chão. Miguel continuou parado me olhando.

– O que você tem com isso? - ele perguntou sério.

Não consegui pensar em uma resposta. Senti meu rosto pegar fogo. Miguel nunca tinha falado assim comigo. Respirei fundo e fechei os olhos, tentando pensar no que dizer.

– Ei vocês dois - gritou o treinador Clark - o que estão fazendo? Por que pararam? Tem gente esperando pra jogar.

Miguel deu de ombros e foi pegar a bola. Voltando a jogá-la em minha direção. Meus reflexos assumiram o controle, o que foi a única coisa que impediu que eu perdesse logo. Minha cabeça estava aérea, como se longe do corpo.

– Você gosta dela né? - disse finalmente entendendo tudo.

Miguel deixou a bola tocar o chão. E me olhou surpreso.

– O quê?

– Você é agora um dos seguidores babões dela? - perguntei. Minha voz soou esquisita.

Ele me olhou por alguns segundos. Seus olhos negros pareciam confusos, mas eu tinha certeza que esse era o ponto. Que outra explicação teria?

– Francamente Miguel jamais pensei que você fosse tão burro - disse, a irritação lá em cima.

– Johnson, Parker! Mas o que diabos estão fazendo? - gritou novamente o treinador.

Miguel se voltou para o fim da quadra e pegou de novo a bola.

– Não aja como se soubesse tudo sobre mim - ele disse enquanto batia com força na bola.

– Não estou fazendo isso - rebati. - Pra falar a verdade estou muito surpresa.

– Surpresa com o quê? Pensei que você fosse especialista nos meus sentimentos - ele disse seco.

Pensei no que ele disse.

– Não. Não sou especialista nos seus sentimentos. Mas não tenho outra explicação. Pra ser sincera, estou decepcionada - disse com sinceridade. Até demais.

– Você está decepcionada? - ele perguntou cético enquanto batia na bolinha.

– Sim. Pensei que tivesse um gosto um pouco melhor.

– Mesmo? - ele disse irônico - Me surpreende que você esteja surpresa. Não é o que se espera de um frouxo?

Eu não tinha resposta para aquilo. Sério, o que eu poderia dizer?

Tá, você quer que eu seja sincera? O.k. Eu estava arrependida. Não devia ter sido tão impulsiva ontem. Mas me entenda, eu não poderia simplesmente admitir isso, não. Então continuei sendo uma idiota sem noção.

– É. Acho que sim - concordei com ele, rebatendo com rapidez - Mas ainda não entendo o que você vê nela.

Miguel não respondeu. Depois de quase cinco minutos correndo de um lado para o outro pensei que não me responderia mais, mas me enganei.

– Talvez ela seja bonita o suficiente para chamar minha atenção. - Miguel disse pensativo, mas com um ar irritado na expressão.

– Beleza? É isso? - disse. O som da raquete tocando a bola parecia quase insudecerdor.

– E por que não? Ela é linda. - ele disse confirmando. - A mais linda que já vi.

Aquilo não foi legal de ouvir. Senti minha visão embacar.

Que droga de reação é essa Sami?

– E além de linda, é agradável ficar perto dela. Ela é doce, nunca se exalta. É fácil conviver com ela.

Agradável? Doce? Então, você não a conhece seu tonto.

– Ela é inteligente, carismática, talentosa - ele continuou com a enxurrada de elogios.

Até aquele ponto eu já estava no auge da minha irritação.

– Por que não teria motivos para não gostar dela? - ele indagou - É muito mais fácil está perto dela do que de outras pessoas.

Aquilo foi a quota da água.

Sem pensar mirei em Miguel e rebati com toda a minha força. Me arrependi no exato momento em que a bola chocou-se com o rosto dele. Miguel não teve a mínima chance de se defender. Minha cabeça girou quando vi o fluxo intenso de sangue jorrar de seu nariz. O que eu tinha feito?

Os jogos ao nosso redor pararam. Miguel colocou a mão no nariz tentando estancar o sangue, mas seus dedos ficaram excessivamente vermelhos imediatamente. Me assustei ao ouvir um grito agudo a minha esquerda, seguido de um vulto dourado se aproximando de Miguel.

Lana olhava para o sangramento com os olhos arregalados. Ela tentou aproximar a mão, mas Miguel não permitiu. Sua expressão era corajosa, mas eu o conhecia o suficiente para saber que ele estava mascarando a dor.

– Temos que parar esse sangramento - Lana disse o óbvio.

Com o rabo do olho vi o treinador Clark se aproximar. Por que aquele pateta estava demorando tanto para pedir ajuda?

Lana me surpreendeu ao tirar sua camiseta, deixando seu sutiã rosa rendado a mostra, e a colocando sobre o nariz de Miguel. Ele a olhou assustado, para logo depois desviar os olhos, determinado a não olhar para seus seios. Mesmo constrangido ele aceitou sua camiseta, o tecido branco ficando logo manchado por seu sangue.

– É melhor irmos a enfermaria senhor Johnson. - O treinador Clark finalmente apareceu para dar o ar de sua estúpida graça.

Miguel obviamente concordou e Lana colocou seu braço ao redor da cintura dele como se ele precisasse de apoio. Aquela baratinha estava se aproveitando.

– A aula está terminada. Estão liberados. - O treinador Clark disse de mau humor e voltou a acompanhar Miguel e Lana em direção da saída.

Fiquei olhando lá parada. A culpa parecia sufocante. Baixei os olhos e vi pequenas gotas de sangue manchando o chão e me senti pior ainda. Será que eu nunca ia parar de pisar na bola com aquele garoto?

– Lembre-me de nunca inventar de jogar tênis com você garota - Jake disse sorridente ao meu lado.

Quase o acertei com a raquete. Aquele imbecil não deveria ficar se aproximando como um fantasma.

– Cuidado com isso Sami. É uma arma de destruição em massa nas suas mãos - ele disse fazendo piada.

A raquete escorregou por meus dedos com um baque surdo. Achei melhor soltá-la antes que ela acabasse se espatifando de propósito na cabeça de um certo Jake Sullivan.

– Não enche Jake - eu disse seria. - Você acha que foi sério?

Jake balançou a cabeça descontraído.

– Não. Duvido. - Ele fez pouco caso - Ele só quebrou o nariz.

Megan e Amber também se aproximaram. O resto dos alunos se dirigia para os vestiários, alguns não antes de me lançarem olhares de reprovação. Ótimo, eu era a vilã da história.

– Relaxa Sami. - Megan disse docemente tentando me tranquilizar - Tenho certeza que ele sabe que não foi de propósito.

Engoli em seco.

– Não foi não é? - Amber perguntou. Droga! Minha expressão deve ter me entregado.

Não respondi. Não consegui.

– Ah Sami! - Amber lamentou-se. - O que a gente faz com você?

Também não tinha resposta para essa pergunta.

– Ele me provocou. - Tentei me defender. Não pareceu suficiente.

Jake sorriu.

– Não consigo imaginar o que ele disse de tão ruim para merecer aquela bolada na cara.

Suspirei derrotada.

– Vocês acham que devo esperar ele sair da enfermaria pra pedir desculpas?

– Melhor não Sami. Acho que você deve esperar. Ir para casa. - Amber disse.

– Ela tem razão. Depois você fala com ele com mais calma - Megan concordou.

– Vem lindinha, - Jake disse colocando seu braço sobre meus ombros - te dou uma carona até sua casa.

Me despedi das meninas e aceitei a carona de Jake. Ele fez piadinhas sem graça durante todo o percurso. Em outro dia eu teria rido e tirado uma com a cara dele, mas hoje por muito pouco não lhe soquei a cara.

– Sami, eu já disse que ele está bem, o.k? - ele disse me olhando sério enquanto parava em frente a minha casa - Você parece tensa demais. Affs! Ele já deve até ter esquecido que você quase mutilou o nariz dele com uma bola de tênis.

Me encolhi.

– Ele já estava chateado comigo antes disso. Agora não vai mais querer olhar na minha cara - choraminguei. O que é isso Sami? Não estou te reconhecendo.

Jake jogou a cabeça para trás e começou a rir.

– Não ria de mim - disse, mas minha voz não tinha firmeza alguma.

– Fala sério Sami! - Ele continuou rindo - Você acha mesmo que ele consegue ficar longe de você?

Senti minhas bochechas se incendiarem. Como ele podia ter tanta certeza?

– Ah! Você ainda não tinha percebido isso? - Jake me olhou reprovador.

Continuei calada. A essa hora minhas bochechas deviam estar mais vermelhas que pimenta.

– Acho que talvez você nunca tenha realmente prestado atenção a esse aspecto. - Jake disse pensativo.

– Talvez - disse desconfortável colocando a mochila nas costas e abrindo a porta do carro. - Já vou indo. Nos vemos amanhã Jake. Obrigada pela carona.

– Disponha. - ele disse já dando partida.

Eu já estava a ponto de enlouquecer no meu quarto. Andava de um lado a outro em frente a varanda do quarto dele. Obviamente as portas de vidro fume que davam para a varanda do quarto dele estavam fechadas desde ontem, quando brigamos. Mas eu estava a espera de algum sinal que ele estivesse de volta. Algum som, qualquer coisa. Já fazia quase uma hora que eu estava nessa ansiedade esperando-o voltar pra casa. Sentia que só conseguiria voltar a respirar normalmente quando o visse bem. Inteiro.

Já tinha considerado ir até a casa dele, mas desisti quase que de imediato. O que eu diria a mãe dele?

Oi tia Célia! Desculpe incomodar, mas será que posso ficar aqui esperando seu filho chegar? É que eu propositadamente amassei o nariz dele num jogo de tênis.

Não! Sem chance! Mas como eu saberia se ele estava bem?

Sem perceber me vi diante da maçaneta do meu quarto pronta para bater na porta da casa de Miguel, não aguentaria mais um segundo daquela angústia. E então, ouvi o som de vozes seguidas de uma porta se fechando ao lado. Ele voltou.

Mas como eu falaria com ele? Como saberia como ele estava? Gritaria por ele? Certamente não. Ele poderia me ignorar.

Foi aí que tive uma idéia totalmente sem noção e arriscada. Você tem uma idéia melhor Sami? Pergunta minha consciência.

Me aproximei de minha varanda.

– É. Se não tem tu, vai tu mesmo. - sussurrei pra mim.

Me apoiei na grade de proteção e tentei manter o equilíbrio ao me içar em direção ao galho mais largo da árvore que tínhamos entre nossas casas. Acho que você já saco o que eu estava tentando fazer né? É, meu amigo, é isso que acontece com os desesperados. Sorte que eu tinha prática com subidas em árvores.

Com um pouco de concentração e cuidado eu já me encontrava em pé no extenso galho da cerejeira, caminhando lentamente com os braços estendidos tentando permanecer equilibrada. Poucos segundos depois aterrissei com um baque surdo na varanda de Miguel. Me aproximei das portas duplas e como previ as encontrei destrancadas. Entrei no quarto e me deparei com um Miguel de olhos arregalados, nariz vermelho e esfolado, expressão zangada e sem camisa.

– O que você está fazendo?

Senti meu corpo se encolher espontaneamente com o tom de sua voz.

– Precisava ver se você estava bem.

Miguel me encarou por alguns segundos. Seus olhos pareciam mais penetrantes que antes. Tão intimidadores que não consegui manter os olhos nos seus, abaixando o olhar por instinto. Um erro, devo dizer. Miguel provavelmente tinha acabado de chegar e deveria está voltando de um banho, sua camisa jogada em cima da cama, o único resquício de bagunça no quarto impecável. Até aí tudo bem, o único problema é que fiquei uns bons segundos fitando seu corpo. Eu sabia que ele tinha ficado mais forte nos últimos meses, era visível mesmo com todas as roupas. Mas é que eu não o tinha visto sem camisa desde o verão passado quando tínhamos ido pela última vez ao nosso lago - uma longa história - e meio que fiquei surpresa. O peitoral estava bem mais definido, os músculos dos braços mais proeminentes, a barriga lisa como mármore e a pele levemente bronzeada. Fiquei completamente confusa quando senti meu corpo esquentar e minha mente perder o foco.

– Como você acaba de ver, estou bem. Agora você pode ir embora. - Miguel disse me fazendo voltar a realidade.

Respirei fundo. Eu ainda não estava acostumada com Miguel falando daquele jeito comigo.

– Desculpe Miguel - eu disse o olhando nos olhos. - por tudo.

Ele me olhou confuso.

– Está mesmo pedindo desculpas?

Revirei os olhos.

– Estou. Desculpe pelo seu nariz e pela briga de ontem. Eu não sei o que me deu.

Miguel me olhou por alguns instantes a mais. Aquilo era torturante.

– Você me perdoa? - perguntei fazendo um muxuxo. Aquilo sempre funcionava.

Ele se aproximou de mim ainda sério.

– Você é uma grande idiota... - Ou talvez nem sempre.

E então era isso? Eu tinha perdido meu melhor amigo?

– Pena que também sou um - Miguel disse me puxando para um abraço. Eu não disse? Sempre funcionava!

Sorri com a cabeça escondida em seu peito. Seus braços se fecharam com força em torno de minha cintura, ele era quente e tinha um cheiro levemente cítrico, me senti completamente confortável assim.

– Me diga o que faço com você. - Miguel pediu se afastando um pouco para me olhar, mas ainda com os braços ao meu redor - Por que você tem que ser tão complicada?

– Que graça teria se eu não fosse? Seria entediante. - devolvi.

– Talvez sim, ou talvez não. - Ele suspirou - Devo confessar que também não fui dos mais fáceis ultimamente. Desculpe.

– Ah! Tudo bem. Deixa pra lá - disse desviando o olhar do seu. - Não vou mais me meter no seu relacionamento com... com aquela baratinha.

Miguel sorriu e se afastou. Fiquei surpresa ao notar como me incomodei excessivamente com a distância.

– Você acreditou? - ele perguntou rindo - Sério?

Simplesmente confirmei confusa.

– Eu não tenho nada com a Lana. Foi só pra te provocar.

– Mas você disse que...

– Não. - Miguel me cortou - Eu estava zangado. Só queria revidar.

– Então você não acha ela agradável, doce e linda? - perguntei com um sorrisinho.

Miguel se aproximou novamente.

– Ela é legalzinha - ele deu de ombros.

– Ela não é a garota mais linda que você já viu? - continuei.

Ele deu um sorriso de canto.

– Nem chega perto... - ele brincou e tocou meu rosto. Seus dedos deslizaram com delicadeza por minha bochecha, contornando os traços da minha face. Ele estava tão perto, o calor de seu corpo parecia flutuar ao meu redor. Ele ainda tinha o sorriso de canto nos lábios, mas seus olhos estavam nos meus, sérios. Dessa vez eu não poderia desviar nem se quisesse, e eu não queria. Suas íris eram negras como obsidiana e o leve tom púrpura ali só a tornavam mais lindas.

– Eu senti sua falta - disse sussurrando, ainda presa em seus olhos. - Muita mesmo.

Senti minhas bochechas arderem sob a mão de Miguel. Estúpido? Talvez. Eu não era o tipo de pessoa que saía por aí falando dos sentimentos. Aquilo não era algo simples pra mim.

Miguel me olhava atentamente. Seus dedos alcançaram a curvatura dos meus lábios e se demoraram ali. A forma que ele me olhava fez minhas bochechas arderem com mais intensidade, mas eu queria que ele continuasse. Ele voltou a se aproximar até seu corpo encostar no meu completamente. Senti um arrepio percorrer meu corpo assim que sua pele tocou a minha. O calor que vinha dele se intensificou, como se agora não flutuasse mais ao meu redor, mas sim como se tivesse grudado em minha pele, me queimando. Foi então que percebi com espanto que dessa vez o calor não vinha de Miguel. Ele estava dentro de mim, como fogo lambendo minhas veias e fazendo cada artéria do meu corpo pulsar com mais intensidade. Céus! O que era aquilo? Eu estava queimando!

Os dedos dele ainda permaneciam nos meus lábios. Toda a minha pele parecia formigar com seu corpo tão colado no meu da forma que estava. Ele ainda me olhava daquele jeito, eu não saberia dizer como. Ele humideceu os lábios e me fitou por mais alguns segundos até, balançar a cabeça num movimento minúsculo e rápido e fechar os olhos com força como se para se concentrar, quando voltou a abri-los novamente deu um sorriso mínimo e me abraçou do mesmo modo como da última vez.

– Eu também senti sua falta - ele disse me imitando. - Muita mesmo.

Eu e Miguel ficamos assim por mais alguns minutos, calados. Ouvindo apenas o coração um do outro, curtindo aquele breve momento de paz.

– E então? O que faremos agora? - Miguel perguntou se afastando e me segurando os ombros.

Coloquei a mão no queixo e tentei fazer "o pensador de pé", ele esperou pacientemente.

– O que acha de vermos um filme aqui mesmo enquanto comemos aqueles deliciosos sanduíches de queijo quente que você faz maravilhosamente bem? - falei num àtimo.

Miguel sorriu e se direcionou ao closet, quando voltou estava vestindo uma camisa branca com os seguintes dizeres: Beije o cozinheiro.

Revirei os olhos e me joguei em sua cama já pegando o controle e ligando a TV. Miguel saiu do quarto e eu comecei a procurar por um filme. Por fim, optei por uma comédia romântica. Fiquei ali esperando Miguel voltar e, mesmo sem querer, pensando no que estava escrito na camisa dele. Será?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Faça uma pobre autora feliz e diz um oizinho pra mim, estou meio carente hoje.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Give Me Love" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.