Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 11
Covardia


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos de volta.
Boa leitura.



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Pov's Samira

– Sami, o que faz aí menina? - minha mãe pergunta com os olhos arregalados como se não acreditasse no que eu estava fazendo.

– Estou terminando de pôr a mesa. - olho pra ela dando de ombros. - Você mandou eu fazer isso.

Ela arregala ainda mais os olhos. Acho que vão sacar das órbitas.

– Eu?

Apenas balanço a cabeça em confirmação e volto a distribuir os talheres.

– Acho que estou enlouquecendo. - ela fala sozinha.

Continuo calada.

– Sam! - Susanna grita. - Vai se arrumar logo. Já são quase sete.

Olho para o relógio na parede. Ela está certa.

– Mãe, relaxe! - digo a ela. - Vai dá tudo certo.

Mamãe avançou em minha direção e tomou meus talheres.

– Vá se arrumar agora, Sam. - ela diz terminando de pôr a mesa. - Tem farinha no seu cabelo.

Suspiro e começo a subir as escadas.

Entro no quarto e disparo para meu banheiro. Meu plano é tomar uma ducha rápida, mas quando ponho os olhos na banheira algo diferente me passa.

"Vem, Sam!" A banheira parece sussurrar. "Você não está tão atrasada assim. Só um banhozinho de espuma".

Meus pés parecem flutuar em direção a torneira que irá enchê-la. E como cronometrado, assim que tiro a última peça de roupa, a banheira termina de encher. Jogo uns sais de banho e entro na água.

Os minutos passam.

Susanna grita lá de baixo.

Não me mexo.

Ela grita de novo.

Fecho os olhos.

Ela ameaça espancar minha porta.

Mergulho por completo.

Ela diz que vai dá um fim em meu violão.

Levanto.

É. Minha mãe sabe ser persuasiva.

Começo a me arrumar. Opto por usar uma blusa verde com detalhes em renda nas mangas e no busto, saia rodada azul escuro e sandálias de salto plataforma. Começo a pentear meus cabelos. Ah, meus cabelos...

Depois que saí da escola, Megan me levou até o salão de sua tia e ela me deu o triste veredito. É claro que eu soube do corte assim que notei o chiclete grudado aos cachos, mas isso não diminuiu em nada minha tristeza quando ouvi a notícia. Termino de desembaraçar os fios que agora se encontram dois centímetros abaixo do ombro e me concentro em trançar duas mexas laterais com uma fita no mesmo tom de verde de minha blusa. Suspiro e passo uma leve camada de maquiagem no rosto. Desço.

Susanna fez um trabalho magnífico com a decoração. As cortinas brancas semi transparentes parecem dançar ao ritmo da música doce. Nossa sala sempre teve um clima leve e tranquilo por conta dos tons claros e alegres predominantes, mas mamãe conseguiu acentuar isso ainda mais. Flores foram distribuídas por vários cantos do cômodo, o que o deixou com um cheiro maravilhoso e fresco. É realmente uma pena que as flores de laranjeira me lembrem o cheiro cítrico levemente amadeirado de um certo alguém.

– Já não era sem tempo. - Ouço minha mãe. Ela está colocando um arranjo pequeno de lilases no centro da mesa de jantar.

Não posso negar que Susanna é linda, mesmo com seu visual meio rústico. E está especialmente bonita hoje em um tubinho amarelo e scarpins cinza. Seus cabelos estão presos em um coque onde alguns cachos insistem em escapar.

– Onde estão os outros? - pergunto.

– Aqui! - papai grita do alto da escada.

No exato momento, como se ensaiado, Alice e Peter saem da cozinha com as bocas cheias de petiscos.

– Alice! Olha o vestido! - mamãe grita. De quem foi a ideia de tascar um vestido branco nessa menina?

Enquanto mamãe limpa Alice e briga com Peter por não cuidar direito de sua irmãzinha mais nova, vou explicar a você o que está acontecendo. Desde que se casaram com seus respectivos maridos, Célia e Susanna promovem jantares uma vez ao mês em suas respectivas casas, - quem mais gosta de como soa a palavra respectivo? - e hoje é a vez dos Parkers meus amores. Daqui a mais ou menos cinco minutos os Johnsons vão atravessar aquela porta e comer o delicioso pato assado da minha mãe. Confesso que só não inventei uma dor de dente, ouvido e pâncreas em consideração aos adoráveis Diego e Célia, porque se dependesse daquele traste... Affs! Como eu odeio ele.

A campainha toca e minha mãe corre para atender. É claro que são eles. Tio Diego está um charme como sempre em seu terno, os traços latinos e a pele morena são seus destaques. Tia Célia, bem ela é ela. Simples assim, nada a acrescentar. E então eis que ele surge, o vilão em forma de anjo. Mais parecendo um deus grego vestindo blaser preto, camisa branca e jeans que um garoto do colegial. Desvio os olhos assim que ele me dirige um sorriso. Cara de pau!

Aproveito os breves cumprimentos para desacelerar meus batimentos e acalmar minha respiração. Como pode alguém me afetar tanto com um olhar? Não é justo!

– Sam, você cortou o cabelo! - Tia Célia diz ao me abraçar. - Está tão bonita.

– Obrigada. - digo timidamente.

– Oh! - minha mãe diz despertando minha curiosidade. - Não precisava, querido.

– Não foi nenhum trabalho. - O imbecil diz risonho.

Levanto os olhos e vejo minha mãe com os olhos brilhando segurando um buquê de margaridas. Só agora percebo as flores que o Traste tem nas mãos. Se ele pelo menos pensar em me entregar um buquê daqueles, juro que vou esmagá-lo em sua cabeça.

– Onde está a minha pequena? - Miguel pergunta ao que Alice se joga em seus braços. Ele a abraça e depois lhe entrega um buquê bem menor que o de Susanna. - Este é seu princesa.

Alice fica radiante.

O Traste olha para mim novamente. Espero está transmitindo todo o meu ódio e repúdio com os olhos. Ele não se detém e me estende um buquê. Lírios brancos e azuis. Meu juramento vai pras cucuias. Aquilo foi trapassa. Como eu poderia destruir algo tão bonito?

Pego os lírios.

– Espero que goste. - ele diz roçando os dedos nas minhas mãos. Um choque transcorre minha pele. Panaca!

– Obrigada. - sussurro sem fôlego.

Ele assente.

Minha mãe engata em uma conversa animada com todos. Falam sobre trabalho, economia, política e sei lá mais o quê. Estou totalmente alheia, até que meu nome é posto no meio.

– O quê? - pergunto.

Tia Célia sorri com doçura.

– Eu estava dizendo a Susanna que faz tempo que não ouvimos você tocar, querida.

– Não seja por isso, Célia. - minha mãe diz se levantando e me puxando do sofá. - Vá em frente Sam!

Não estou com clima para tocar nada hoje. Mas me viro para eles e forço um sorriso.

– O que vai ser? - pergunto deixando a voz animada. - Violão, violino, flauta ou piano?

– Pode ser o piano? - tio Diego pergunta.

Apenas assinto e me dirijo ao piano de calda preto perto das janelas de vidro no lado direito da sala. Meu lindo piano reluzente, meu xodó.

Sento na banqueta, descubro o teclado e retiro o veludo de cima. Em instantes meus dedos começam a dançar pelas teclas, tocando uma de minhas composições favoritas. Uma melodia forte e vibrante. Todos fazem um silêncio espantoso e por um período de tempo que parece infinito o único som é o das minhas músicas. Me permito esquecer toda a minha raiva, frustração e mágoa por um momento. Acho que só a música pode fazer isso por mim. Quando a última nota reverbera pelo ar, um novo som toma conta. Então levanto os olhos do teclado e vejo todos de pé batendo palmas incessantes. Os olhos de Miguel estão repletos de orgulho e um sorriso glorioso repousa em seus lábios. Desvio o olhar e sei que o Modo Tomate entrou em ação. Será mesmo que não posso ficar um dia sequer sem virar uma lagosta? Fala sério!

Espero as ovações terminarem e faço questão de ignorar os elogios que se seguem. Não tenho paciência para isso.

Continuo a tamborilar no piano enquanto eles conversam, bebem, riem e fazem o que adultos fazem.

– Tenho um pedido.

Quase caio do banco.

– Você não deveria se aproximar dessa forma das pessoas. - Coloco a mão no peito como se isso fosse de alguma forma ajudar a regular meus batimentos.

– Desculpe. - Miguel diz. - Não pensei que estivesse tão distraída.

Assim que o susto passa volto a tocar o piano. É uma forma muito prática de desestrassar e evitar assassinatos.

– Não está curiosa quanto ao meu pedido?

Finjo que não ouvi a pergunta. Estou em minha parte predileta de uma das versões acústicas que fiz de Valentines Day.

– Ninguém disse a você que é falta de educação fazer o que está fazendo?

Será que ele ainda não entendeu que não é bem vindo em minha banqueta? Cara inconveniente.

Estalo a língua.

– Por que ela insiste em me provocar? - resmunga. - Já não é nada fácil sem isso.

– Heim? - Paro de tocar.

– Resolveu falar comigo? - ele pergunta com um sorriso torto.

– Não. - Volto a tocar.

Ele suspira.

– Toca a Canção da Primavera pra mim. - ele pede com uma voz suave.

Ignoro-o. Como ele pode imaginar que eu atenderia um pedido dele assim fácil?

– Sami, por quanto tempo você vai ficar zangada comigo?

Suspiro também. Essa voz não. Era difícil resistir quando ele suplicava com essa voz.

– Sam, por favor.

Engulo em seco e mudo para a Canção da Primavera. Sou uma fraca.

A música é suave e alegre. Compus essa aos dez anos. Minha primeira composição realmente boa, repleta de significados. Um dos nossos muito marcos. Lembro-me toda vez que toco a Canção da Primavera do rosto fincado de concentração de Miguel me ajudando a escolher as notas certas.

– Você está quase! - ele disse com os olhos brilhantes.

Curvei-me sobre o piano e tentei novamente trocando um "Si" por um "Lá".

Ele sorriu.

– Perfeito!

Suspirei aliviada, sentindo um sorriso imenso rasgar meu rosto.

A música preenchia a sala, olhávamos para o pôr do sol na janela, o mais lindo que eu já tinha visto. Miguel gargalhava e balançava os pés que não alcançavam o chão, o banco era muito alto.

– Vamos, Sami. - ele disse animado. Os olhos negros firmes nos meus, porém um sorriso travesso no rosto. - É nossa música.

Revirei os olhos, - como se não desse a mínima - no entanto acabei por começar a balançar as pernas também dentro do espaço permitido. Eu havia conseguido.

– Vai se chamar Canção da Primavera. - declarou.

Bufei.

– Por que é você que escolhe o nome quando foi eu que fiz?

Miguel suspirou daquele jeito dramático. Ele só tinha dez anos, era apenas alguns meses mais velho, como podia ser tão... Tão... Tão velho?

– Porque você não a fez sozinha e porque não tem um nome melhor.

Convencido.

– Como sabe que não tenho um nome melhor?

Ele sorriu de canto, revelando as covinhas nas bochechas.

– Porque você não tem. Ou tem?

Estalei a língua, um costume que mamãe ainda não tinha desistido de me tirar. O garotinho ao meu lado sorriu satisfeito. Me concentrei na música.

– Um dia todos vão ouvir você tocar, Samira. O mundo todo vai saber o quanto você é boa.

Corei.

– Como você sabe? - perguntei. - Nem sou tão boa assim.

Ele tirou os olhos do crepúsculo e sorriu para mim. Aquele sorriso típico que desde muito cedo me acalmava e me enchia de fé.

– Eu simplesmente sei. - ele deu de ombros. - Todos vão aplaudir você de pé e eu estarei lá para dizer "eu te disse".

Revirei os olhos. As últimas notas soavam pela casa.

– E se não acontecer? - desafiei.

Ele sorriu de canto.

– Ainda assim, estarei ao seu lado para aplaudir você.

Assenti. Bastava. Sempre bastou.

– Vinte dólares pelo que você está pensando. - Uma voz de veludo sibila ao meu lado. Estremeço.

Pisco algumas vezes, a lembrança ainda parece muito sólida.

– Dá pra parar de me assustar? - resmungo.

– Não tenho culpa se você está no mundo da lua hoje. - rebate.

Respiro fundo. Estou nas últimas notas da Canção da Primavera. Logo vou expulsá-lo de minha banqueta.

– Não vai me dizer em que estava pensando?

– Não é da sua conta. - disparo.

– Só queria saber o porquê daquele sorriso. - diz com uma voz de cachorrinho.

– Que sorriso?

– Não sei dizer ao certo. Um sorriso diferente. Doce e... feliz.

– Não sei que sorriso é esse. - digo finalizando a canção.

– Tudo bem. Eu sei que sorriso é.

Coro.

– Sami quando é que você vai entender que nunca quis fazer nada para magoar você? - ele pergunta suplicante. Seus olhos são intensos demais.

Sei que ele é sincero. Contudo não esqueço do que ele fez. Doeu quando ele preferiu acreditar nela. Quando claramente a defendeu. Doeu mais do que eu gostaria de admitir.

Umideço os lábios. Não quero brigar, mas também não quero perdoá-lo.

– Sam, Miguel? Vamos! - minha mãe chamou.

Olhei para ela assustada. É fácil me prender em minha bolha particular quando estou com ele.

– Já estamos indo, tia. - Miguel se levanta, minha mãe segue para a sala de jantar.

Ele estende a mão para mim.

– Vem. - Hesito. - Não vou morder você.

Reviro os olhos e pego sua mão. É claro que não vai.

Seguimos para a sala de jantar e a poucos passos antes de chegarmos solto meus dedos dos seus. Ele suspira, mas me acompanha.

O jantar segue de forma animada a nossa volta, mas sinto que hoje realmente não é um bom dia. Pra falar a verdade o que aquela baratinha me disse ainda ressoa em minha mente.

Mal dormi pensando naquele sorriso cínico daquela imbecil quando ele a defendeu. Como ele pôde defender ela de novo?

Passei a maior parte do dia fugindo dele na escola. Amber me deu uma carona na ida e Megan me trouxe. Elas foram muito úteis, acho que perceberam que eu não estava muito bem, e não deixaram que ele se aproximasse demais.

Mas na hora da educação física, quando eu pedi ao treinador para não participar, ela me cercou. Eu estava no vestiário, queria ficar sozinha, nem que fosse por poucos minutos, quando Lana entrou.

– Oi, Sami. - ela cumprimentou. - Como você está?

Fiz questão de ignorar. Estava sem animo até para surrar pessoas desprezíveis.

– Seu cabelo ficou legal. Mas legal do que pensei que ficaria.

Puxei o ar com força. Ela estava pedindo.

– Então está confessando que foi você?

Lana balançou a cabeça minimamente enquanto arrumava o cabelo já impecável em frente ao espelho.

– Não fui eu tá bom? - ela disse nada convincente. - Acho que realmente está na hora de acabarmos com essa rixa boba.

– Se eu fingir que acredito você some da minha frente antes que eu arrebente a sua cara? Não estou afim de levar suspensão.

Lana se vira para me olhar frente a frente.

– É sério. Não vou dizer que gosto de você porque não gosto, mas Miguel e vocês são amigos então acho que vou ter que te aturar.

Fiquei confusa.

– O que quer dizer com isso?

Lana deu de ombros.

– Eu gosto dele.

– Você nem o conhece - disparei.

– Conheço o suficiente para saber que o quero.

– Ele não é um objeto!

– Não. Ele não é. - ela suspirou. - O fato é que é apenas questão de tempo para ficarmos juntos e não quero que nada nos atrapalhe.

Questão de tempo? Como se fosse dela que ele gostasse.

– Como pode ter tanta certeza de que vão ficar juntos? - questionei.

Ela me lançou um sorriso cheio de significados.

– Eu sei.

Minha mão coçou.

– Você. Não. Sabe. De. Nada.

Lana arqueou uma sobrancelha e sorriu, maliciosa.

– Sei do essencial.

– O que quer dizer?

Lana se virou novamente para o espelho e retocou o gloss rosa.

– Sei como ele gosta de ser beijado.

Engoli em seco.

– O que você disse? - minha voz saiu sufocada. Eu realmente sentia como se não conseguisse respirar.

Lana piscou para mim do espelho.

– Acho que você entendeu, Sami. Não preciso ser mais clara né?

Naquele momento eu senti meu corpo esfriar. Minha mente esvaziou-se e minha pulsação triplicou. Trinquei o maxilar e pisquei algumas vezes tentando me recompor.

– Você está bem, Samira? - ela perguntou se virando. - Parece pálida.

Balancei a cabeça.

– Faça bom proveito dele. - E saí do vestiário.

Não queria ficar remoendo aquele assunto. Definitivamente já havia perdido tempo demais. Se ele queria ficar com ela que ficasse, eu não tinha nada com aquilo. Mas então por que eu me sentia tão mal por isso? Por que eu sentia meu coração encolher, o pulmão inchar e os olhos arderem?

A culpa é dele. É claro que é. Foi ele que começou com aquele papinho de não-quero-mais-ser-só-seu-amigo. A única coisa que não entendo é o porquê de tudo isso. Por que complicar? Estávamos bem antes.

Olho para a comida em meu prato. Sei que devo comer antes que alguém desconfie e me questione. Não quero dá nenhuma explicação por isso me obrigo a cortar um pedaço do Pato e o colocar na boca. Quem diria, Samira Elizabeth Parker sem apetite.

Concentro todas as minhas energias no ato primitivo de me alimentar. Me sinto quase uma mongolóide.

Como o máximo que meu estômago enjoado permite. Quero muito que esse jantar termine logo. Estou realmente cansada desse clima feliz.

Quando todos terminam de comer nos dirigimos novamente para a sala e Alice se põe a recitar sua coleção de poemas bobos, mas fofinhos. Não sei se sou capaz de suportar muito tempo disso, por isso fujo para meu quarto quando penso que ninguém está olhando.

Me arrependo segundos depois de não ter trancado a porta.

– O que você quer, Miguel? - pergunto o fuzilando com os olhos. - Você deveria está lá embaixo. Vão dá pela sua falta.

– Preciso conversar com você.

– Não quero conversar com você.

Ele passou as mãos pelos cabelos avermelhados.

– Por favor, Sami. Não aguento você me ignorando dessa forma.

Então agora ele é a vítima?

Giro o corpo e caminho em direção a minha sacada minúscula. Ele me seguiu.

– Sei que chateie você. - ele diz. Estamos encarando a árvore que separa nossas varandas. Eu estou, pelo menos.

Sinto que não preciso dizer nada a ele. Estou magoada. Não há dúvidas quanto a isso.

Ele respira fundo.

– Odeio isso. Você não faz ideia do quanto odeio isso. - Ele bate com força em minha grade de proteção. - Quero que saiba que tudo que eu queria ontem era livrar você de mais problemas.

Olho para ele.

– Problemas? Me livrar de problemas? - pergunto sem acreditar. - Tudo que pareceu era que você estava tentando livrar a cara daquela psicopata! Por que diabos você se preocupa tanto com ela?

Ele sustenta meu olhar.

– Eu me preocupo com você. Só com você. - ele fala dando um passo à frente.

Dou um passo atrás.

– Você realmente acredita que ela é culpada? - ele pergunta, depois de um suspiro.

– Você realmente acredita que ela é inocente? - devolvo.

Ele desvia os olhos e encara a árvore.

– Importa para você o que acredito?

Penso no que ele disse.

– É claro que eu me importo.

Ele se vira novamente em minha direção.

– O que falta para você entender que sou louco por você?

Isso é demais para mim. Sei que vou me arrepender, mas não consigo me conter. Parte de mim grita que não tenho nada a ver com isso e a outra parte concorda, mas não consigo me conter.

– Você ficou com a Lana? -

Só entao me lembro de suas ultimas palavras, isso tem sim a ver comigo. O que me resta é esperar a confirmação.

Miguel parece atônito.

– De onde você tirou isso?

– Isso não tem importância. - rebato. - Ficou ou não ficou?

– Não! Mas é claro que não! - ele diz passando as mãos pelos cabelos, os bagunçando.

– Mesmo? - pergunto o fitando.

Ele retribui meu olhar por poucos segundos.

– Mesmo. - confirma.

Assinto. Sinto como se o peso do céu tivesse saído dos meus ombros. Aquela baratinha mentirosa me paga.

Respiro fundo. O vento gelado golpeia meu rosto e trás meus cabelos para a frente. Afasto-os.

– Você ainda está chateada comigo. - Não era uma pergunta.

– Estou bem. - E estou de fato.

– Mesmo assim, você é capaz de me perdoar? - Ele não possui a cara de cachorrinho que pensei que teria quando me faz a pergunta. Seus olhos são sérios.

Apenas concordo com a cabeça. Miguel sorri e se aproxima lentamente. Ele estende os braços, sei o que ele quer.

Hesito por alguns segundos. Eu deveria me valorizar. Mordo os lábios ainda pensativa.

Ah, dane-se! Me jogo em seus braços. Miguel me aperta junto ao seu corpo, a sensação é revigorante.

– Você nem imagina o quanto é difícil pra mim ficar longe de você. - Ele acaricia meus cabelos. Me aconchego melhor em seu peito.

– Se é assim por que você insiste em me irritar? - Minha risada sai abafada por sua camisa.

Ele dá de ombros.

– Não sei. Talvez você seja fácil demais de irritar.

Faço uma careta que ele não vê.

– Isso significa que você tem que fazer um esforcinho então.

Miguel me afasta e imediatamente penso se fiz alguma coisa de errado. Procuro em seu rosto qualquer vestígio de raiva, mas só encontro a mesma tranquilidade e o humor sarcástico de sempre.

Ele sorri de canto e afaga meu rosto.

– Qualquer coisa por você.

Quando ele me beija sinto que a gravidade se vai juntamente com todo o meu juízo. É simplesmente inevitável, meu cérebro não tem mais controle algum sobre meu corpo. Enlaço seu pescoço e o trago para mais perto de mim, ele retribui meu abraço e aperta ainda mais minha cintura. Percebo que não estou mais apoiada na grade e sim encostada na parede. Seu corpo pressiona por completo o meu, nossas pernas, quadris e troncos. Não me lembro de melhor sensação do que sua boca na minha. Nossos lábios e línguas travam uma batalha deliciosa, onde não importa realmente quem será o vencedor. Cada célula do meu corpo parece está em combustão.

Miguel liberta meus lábios quando nossos pulmões suplicam por oxigênio e passa a concentrar suas energias em meu pescoço. Seus lábios sobem e descem por minha pele, atingem meu maxilar, distribuem beijos molhados e quentes por minha garganta e encontram minha clavícula. Todos os pelos do meu corpo estão eriçados. Aquela sensação de está queimando retorna, o fogo percorre toda a extensão do meu corpo, sem deixar uma única molécula escapar.

Voltamos a nos beijar e percebo que estou longe de ser saciada. O ar volta a nos faltar e Miguel deposita beijos suaves e carinhosos por cada centímetro do meu rosto, minhas bochechas, testa, queixo, olhos, ponta do nariz e por último meus lábios, onde coloca apenas um selinho.

Ele se afasta minimamente, seus olhos parecem líquidos. Ainda mais maravilhosos que antes. Sinto um sorriso bobo repuxar os cantos da minha boca.

– Pensei que tivesse dito que ia esperar. - digo arqueando uma sobrancelha e deixando um sorriso irônico surgir.

– E estou. - Ele mantém os braços enroscados em minha cintura. - Se você não complicasse tanto o meu lado...

Sorrio.

– Que culpa eu tenho de ser tão irresistível? - brinco.

Ele também sorri e afaga meu rosto. Não consigo simplesmente não inclinar a cabeça em direção ao seu carinho

– Você tem razão. Eu que deveria ter mais controle. - ele entra na minha. - Como você consegue ser tão incrível?

– Dom? - pergunto tentando imitar seu sorriso torto.

Ele pega minha mão e beija a palma.

– Não vejo outra explicação.

Dessa vez quem o puxa para mais um beijo sou eu. Estou na ponta dos pés para que ele não precise se curvar tanto. Suas mãos passeiam por minha cintura e costas, me ajudando a me manter equilibrada e sustentando a maior parte do meu peso. Entrelaço os dedos em seus cabelos macios e depois desço as mãos para seus ombros e braços, tão musculosos quanto pensei que fossem. Quero muito que o momento dure mais do que provavelmente durará por isso aproveito o máximo que consigo. Quando minha razão finalmente vence meu desejo, separo nossos lábios.

– Precisamos descer. - Minha voz soa carregada de lamento.

– Não precisamos não. - ele diz com os olhos em minha boca, sem fazer o mínimo esforço para esconder. Meu estômago se enche de mariposas.

Enxoto todas elas.

– Precisamos sim. É bem provável que já tenham notado a nossa falta, logo vão vir nos procurar.

Miguel levanta a mão e começa a contornar os traços do meu rosto com a pontas dos dedos longos. A mão esquerda desliza lentamente por meu pescoço, afastando meus cabelos, mais focada em minha nuca. Até aí estou bem, a coisa se complica quando seus dedos são substituídos por sua boca em meu pescoço. Meus olhos reviram brevemente nas órbitas. Logo estou ofegando.

– V-Vão vir atrás de nós. - gaguejo totalmente entregue. Sou uma fraca.

Ele sorri. Seu hálito faz cócegas em minha nuca.

– Pois que venham. Assim poderei te apresentar aos meus pais.

Fico confusa. Ele enlouqueceu?

– Seus pais já me conhecem.

Ele sobe os lábios para meu maxilar e depois volta beijar toda extensão do meu pescoço até a clavícula, antes de responder. Não imagino o que fiz a ele para merecer essa doce tortura

– Vou apresentá-la como minha namorada. - ele sussurra próximo ao meu ouvido.

O QUE? Namorada? Eu ouvi direito?

Meu peito incha como um balão.

– Miguel espera. - digo tentando clarear a mente o que era extremamente difícil com seu corpo tão junto ao meu e sua boca passeando por minha pele.

– Shiiiiiiiii! - ele sussurra. - Você tem um cheiro tão bom.

Ele morde o lóbulo da minha orelha e escorrega sua boca até a minha. Sei que se recomeçamos com aquilo não vai demorar muito para alguém nos flagrar por isso faço força para escapar de seu abraço de aço.

– Miguel, por favor. - peço quando vejo que não estou tendo tanto sucesso quanto pensei que teria.

Miguel suspira mas me deixa passar.

– Temos que descer. - repito. Não sou tão fraca assim.

Começo a me dirigir a porta. Estou me sentindo uma guerreira por ter resistido a tentação. Estou prestes a pegar na maçaneta quando braços prendem minha cintura e me encostam novamente na parede.

– Miguel, o que você...

– Do que você tem tanto medo Sami?

Pensei de início que ele ia me beijar novamente, mas agora olhando para sua expressão séria percebo que estava enganada. Nem namoramos ainda e já estamos tendo DR mesmo? Ah, fala sério!

Mordo o lábio inferior, tentando bolar uma resposta para sua pergunta.

Ele começa a ficar impaciente. Suas sobrancelhas se unem e seus olhos parecem buscar todos os meus segredos, me sinto exposta. Não tenho resposta, não faço ideia do que responder.

– E então? - ele pressiona.

Engulo em seco e desvio os olhos.

– Não sei. - confesso.

– Você não precisa ter medo de nada - ele diz com uma voz suave. - Nunca vou magoar você.

Não sei o que responder. E se eu magoá-lo?

– Acho que não é o melhor momento, Miguel. - sussurro querendo muito escapar dessa conversa. - Precisamos mesmo descer.

Ele suspira claramente decepcionado. Me sinto culpada, mas não retiro minhas palavras.

Miguel me liberta e dessa vez permite que eu saia do quarto. Ele me segue em silêncio, sei que está chateado.

Não posso ficar protelando para sempre. Sei que tenho que tomar uma atitude mas ao mesmo tempo a garotinha que existe dentro de mim quer sair correndo e gritando apavorada. Eu gosto dele, não gosto?

Ah, por que eu tenho que ser assim?


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Notas finais do capítulo

Bem, só um aviso:
O próximo capítulo ainda não está pronto então é provável que demore um pouquinho.
Digam o que acharam desse.
Adoro vocês.
beijinhos.