Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse é mais um capitulo para que conheçam nossos personagens. Acho que ficou bom. Divirtam-se! Beijinhos.



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Pov's Samira

Olá, meu nome é Samira Parker, moro em São Francisco, tenho 16 anos e estou pensando seriamente em me matar. Isso mesmo que você ouviu - ou leu, tanto faz. A verdade é que não vou deixar o tédio fazer isso. Uma ova que vou dá esse gostinho a ele!

Você deve está pensando: “Nossa, quanto drama! Por que essa garota não vai dá uma volta por aí? Vai ler um livro? Assistir algo na TV?”

Quer saber, eu já tentei ir andar de bicicleta, mas minha bike está com o pneu furado. Já experimentei ir ler, só que percebi que já tinha decorado cada vírgula de todos os meus livros. Agora estou tentando ver TV, porém programação de hoje está uma grande porr.. Ops! Quer dizer, horrível! 

— Dá pra parar com isso? - pergunta meu irmão Peter, estendendo a mão para me tomar o controle - Não acha que já chega de trocar de canal a cada segundo? Isso é irritante!

— Você nem está assistindo TV comigo, Peter - digo na esperança que isso o faça calar a boca.

Ele revira os olhos e volta a se concentrar em seu livro de física. Peter é tão CDF que me estressa. Esse garoto não tem como ser normal. Será que ele não entende o significado de férias?

— Ele está certo, isso é irritante - grita mamãe da cozinha. - Se não quer ver TV por que não desliga logo isso? O que você tem?

— Tédio, mãe - grito de volta. - Estou entediada.

Ouço uma risada alta vinda da cozinha.

— Não seja por isso, Sami - mamãe diz ainda rindo, - venha me ajudar com o almoço.

Bufo irritada. Existe coisa mais irritante que mãe? Duvido.

Desligo a TV e levanto do sofá seguindo a passos pesados em direção a cozinha. Mamãe estava debruçada sob a pia descascando uma pilha de batatas.

— O que quer que eu faça? - pergunto de mal humor.

Mamãe me encara por alguns segundos e começa a rir baixinho. Ótimo! Agora sou sua palhaça.

— Sei quem poderia acabar com esse tédio - ela sussurra ainda rindo, opto por ignorar sua indireta e espero. - Você pode começar a preparar a salada - ela diz mais alto.

Começo a vasculhar a geladeira a procura de alface e as demais hortaliças. Mamãe continua com suas piadinhas bobas durante um período que mais me parece um século. Ela adora me deixar constrangida, mas isso não vai funcionar hoje. Miguel estava longe demais para ouvir suas brincadeiras sem graça, quando ele estava perto mamãe sempre se divertia como uma criança, ele ficava vermelho feito um tomate e eu morta de vergonha.

Por que será que as pessoas não podem acreditar em amizade entre sexos opostos? Por que sempre têm que ver tudo com maldade? Eu e Miguel juntos? Sem chance!

Preparar o almoço não foi realmente uma ocupação, eu fazia as coisas com rapidez e automaticamente. Quase não exigia nada dos meus neurônios surtados.

Depois do almoço as coisas realmente pioraram. Subi para o meu quarto e coloquei meu CD favorito na esperança que isso me distraísse. Quem disse que isso funcionou? Nada! Por fim cansei de contar quantas segundos eu conseguia ficar sem respirar e me sentei na minha minúscula varanda. Me encolhi como uma bola no chão, segurando os joelhos e comecei a bater minha cabeça - devagar porque eu ainda não pirei - na grade de proteção no mesmo compasso da bateria na música que tocava baixinho no quarto. Bizarro? Talvez.

— O que diabos você está fazendo, Sami? - ouço uma voz risonha falar. Não é possível.

Paro e olho para a casa ao lado. Miguel está debruçado sob a varanda de seu quarto, me olhando de sobrancelhas franzidas e um sorriso debochado no rosto.

— Você voltou? - Foi uma pergunta idiota, eu sei. Ah! Mas dá um desconto o.k? Eu estava confusa.

Miguel ri.

— Acho que sim - ele diz risonho. - Deixe-me ver. - Ele dá uma voltinha pela varanda - É oficial. Voltei!

Reviro os olhos e me levanto.

— Pensei que você só estaria de volta amanhã - eu digo.

— Eu também pensei. Mas o que seria de você sem mim amanhã? Fiquei preocupado.

Reviro os olhos novamente.

— Aposto que sei ir à escola sozinha, Miguel.

— Aposto que você não sabe - ele diz sério.

— Fala a verdade - desafio - Diz que você voltou porque não quer perder um segundo de aula.

— Quer saber de uma coisa? - ele pergunta de bom humor - Talvez você tenha razão.

Soltei uma gargalhada sem querer.

— Eu sabia - disse entre risos.

— Eu disse talvez - Miguel protestou.

— Se você diz... - Dei de ombros.

— Você não me respondeu - ele disse mudando de assunto.

— Respondi o quê?

— Bom, quero que me explique por que estava batendo a cabeça na grade. Eu passo um mês fora e você enlouquece?

Mostrei a língua pra ele como uma criança birrenta antes de responder.

— Isso não tem nada a ver com você - respondi seca. - Só estou entendiada.

— Desconheço esta tática de diversão. Funciona?

— Quer experimentar? - perguntei com malícia - Posso te ajudar.

— Dispenso - ele disse ainda me avaliando de testa franzida.

— Uma pena - disse fazendo um muxuxo.

— Você ia amar bater minha cabeça no batente, né? Esqueça! Não vou te dá esse gostinho.

— Por favor! - implorei, minha voz ficando baixa e chorosa.

Miguel pareceu parar pra pensar. Sua cabeça pendendo para o lado.

— Deixe-me pensar - ele disse pondo a mão no queixo.

— Por favor! - repeti ainda chorosa.

— Pronto! Já pensei. E a resposta é... - ele fez suspense - Não.

— Você é um estraga prazeres - reclamei.

— E você uma sádica.

Começamos a rir feito dois idiotas, as coisas não precisavam fazer sentido pra gente se divertir. Era tão natural quanto respirar.

— Já chega de loucuras, - Miguel disse com a mão na barriga, tentando respirar - vá se arrumar. Vamos tomar um sorvete.

— Você paga? - perguntei descaradamente como sempre.

— Sou um cavalheiro senhorita Parker. - Miguel disse fingindo-se ofendido.

— Own! Isso foi tão fofo.

— Já chega de curtir com a minha cara. Vá se arrumar, você está parecendo um trapo.

— Retiro o que disse. Você não é nada fofo.

Miguel sorriu satisfeito e eu saí da varanda fechando as portas duplas.

— Dez minutos Samira - ele gritou. - Não se atrase!

Me enfiei em meu banheiro afim de ver como estava minha aparência. Céus! Eu não estou um trapo, estou um cesto cheio deles. Meu cabelo estava um ninho de ratos e que idéia mais idiota essa de ir cozinhar de blusa branca. Havia respingos de molho de tomate por todos os lados. Por que será que isso não me surpreende heim?

— É a sua cara destruir sua blusa favorita, Sami - reclamei comigo mesma em frente ao espelho. - Parabéns!

Tomei um banho rápido e passei um tempo de qualidade tentando desfazer os nós de meu cabelo. Cabelo cacheado é um saco quando você está com pressa.

Coloquei shorts, uma blusa leve de algodão e sandálias de dedo. Desci as escadas correndo, quase atropelando Alice que tentava subir. Minha irmã mais nova fez cara feia pra mim, quer dizer tentou, aquela peste continuava bonita e fofinha mesmo quando tentava o contrário. Como eu odiava não conseguir odiá-la.

— Ai - ela soltou um gritinho fininho que me obrigou a tapar os ouvidos.

— Cale-se Alice, você vai quebrar todas as janelas. - eu disse em tom repreensivo, o que saiu bem falso.

Alice me avaliou com os olhinhos azuis escuros iguais aos meus.

— Você vai sair? - ela perguntou com um ar inocente mais que suspeito.

— Não é da sua conta - me virei e fui em direção a porta.

— Sami? - minha mãe chamou assim que coloquei a mão na maçaneta - Aonde você vai?

— Dá uma volta por aí - Dei de ombros, - não demoro.

E abri a porta.

— Sozinha? Já vai escurecer.

Meu Deus, quanto exagero! Eram no máximo quatro horas da tarde.

—Ela vai comigo, tia. - Miguel colocou a cara dentro da minha sala, justo quando eu tinha colocado meu pé na calçada.

— Miguel? - minha mãe perguntou feito uma bobona. Quem mais poderia ser mãe? O Justin Bieber?

Miguel entrou por completo, esbarrando em mim e abraçou minha mãe, girando-a pela sala, ela ficou vermelha e alguns cachos escaparam de seu coque.

— Também senti sua falta querido - ela disse sem ar. Ri de sua cara de pimenta malagueta. Quem é que está constrangido agora, heim?

Miguel piscou pra mim.

Ouvimos passos apressados. O chão parecia estar sendo espancado. Uma Alice descabelada e sem ar apareceu praticamente se atirando do topo da escada.

—MIGUEL! - ela gritou jogando-se nos braços dele. Ele a segurou gargalhando. Ela se atracava com tanta força em seu pescoço que tive medo que ela o matasse por asfixia.

— Por que você demorou tanto? - ela choramingou quando ele a colocou no chão.

— Desculpe, querida - Miguel disse acariciando-lhe as bochechas rosadas - Prometo que teremos tempo para matar a saudade.

— Verdade? - ela perguntou com os olhos safira brilhando.

Miguel assentiu.

Alice só tinha sete anos, mas declarava pra quem quisesse - e não quisesse - ouvir que estava completamente apaixonada por Miguel. Em sua cabeça eram namorados e em um dia quando ela fizesse quinze anos eles casariam e viveriam em um palácio de cristal felizes para sempre.

— Agora, é melhor irmos - Miguel disse olhando pra mim. - Quero devolvê-la a tempo para o jantar.

Minha mãe sorriu satisfeita. Miguel era o rapaz perfeito em sua visão. Responsável, esforçado e centrado. Meus pais o amavam. As vezes eu me perguntava quantas vezes eles tinham tentado trocar com os Johnson quando ainda éramos bebês. Na verdade eu não podia culpá-los. Miguel era o filho dos sonhos.

Saímos da casa e caminhamos pela calçada. Não vi o carro de Miguel em nenhum canto, o que eu sabia que não era necessário. Estávamos indo provavelmente a uma sorveteria ali perto, há dois quarteirões. Só que o carro de Miguel era lindo, caro, confortável e... Quer saber? Eu morria de inveja dele! Claro que ele não era nenhuma novidade, mas mesmo assim...

— No que está pensando? - Miguel perguntou enquanto dobrávamos a esquina.

— No seu carro -respondi com sinceridade, eu não tinha nenhum motivo pra mentir, ele me conhecia se duvidar melhor que eu mesma, então não tinha motivos para ficar constrangida e tals.

Miguel me olhou confuso.

— No meu carro? O que tem meu carro?

— Nada. Só estou com saudades dele. - Dei um risinho no final.

— Você é uma nata Maria Gasolina. Devia se envergonhar.

— Ora, Miguel, que bobagem! - exclamei.

— Não precisamos de carro para ir a uma sorveteria a algumas quadras de casa. - Ele deu de ombros - Além do mais você terá amanhã para matar as saudades do meu carro.

— Você parece chateado - eu disse, ele me olhou por alguns segundos e eu tive certeza que não era só aparência. Nos conhecíamos tão bem.

— Bom, é que passei um mês fora e você diz que está com saudades do meu carro. Isso não é muito legal de ouvir da minha melhor amiga, sabe? Quer dizer... Tudo bem você sentir saudades do carro, é só que... Bem, você não disse nada a respeito de... mim.

— Ah! Entendi. Você está chateado porque pensa que não senti saudades suas.

Comecei a rir, Miguel ficou mais vermelho que seu cabelo louro avermelhado. Continuei rindo quando entramos na sorveteria e sentamos em uma mesa no fundo. Os minutos foram passando e as pessoas começaram a reparar, o que só deixava Miguel mais vermelho. Quando ele ficava constrangido era tão engraçado e em situações assim, eu conseguia entender porque mamãe gostava de deixá-lo vermelho, o que não suportava era sua insistência em me envolver em suas ceninhas.

—O que é tão engraçado? - Miguel perguntou, sua expressão deixava claro que ele já estava ficando de saco cheio.

— Você - disse ainda rindo.

— Você está rindo de mim? - ele perguntou, eu amava Miguel constrangido, só que vê-lo irritado era ainda mais divertido.

Respirei fundo algumas vezes, agora muitas pessoas já voltavam sua atenção para nós. Quanta gente fofoqueira existe no mundo!

— Desculpe - eu disse mais controlada. - É que, não dá pra te levar a sério quando você faz essa cara de cachorrinho abandonado.

Miguel revirou os olhos incrivelmente negros e suspirou. Segurei uma risada, ele só tinha dezesseis como eu, mas quando fazia isso parecia meu avô Todd com sua bengalinha enquanto corríamos por sua casa. Ele costumava ter a mesma expressão. O que ele dizia mesmo? "Essas crianças... "?

— Com licença - disse uma garçonete se aproximando de nós, mordi os lábios me segurando novamente, era a mesma garçonete que sempre nos atendia, não que eu não visse como todas as garçonetes só faltavam se estapiar para irem nos atender - nos não, atender Miguel - sempre que chegávamos. Era uma cena engraçada, Miguel nunca reparava e era legal ver o quanto algumas garotas estavam dispostas a se humilhar por apenas alguns beijos de um cara bonito. Claro que como ele nunca percebia era apenas perca de tempo, o divertido mesmo era que elas nunca desistiam.

— Boa tarde! - ela disse numa boa tentativa de voz sedutora, seus olhos castanhos focados no rosto de Miguel como se para decorar cada detalhe. - Meu nome é Tânia. Posso ajudá-los?

— Olá! - Miguel disse desviando os olhos zangados de meu rosto e encarando cordialmente a garota a nossa frente - Vamos querer o de sempre. Um de morango e chocolate com calda de caramelo pra garota e outro de coco pra mim.

A garota sorriu quando ouviu Miguel me chamar de "garota”. Talvez ela pensasse que estávamos brigando. Mas fala sério! Quem é que vai pensar que eu e Miguel tínhamos alguma coisa? Ela continuou o olhando como uma idiota, mas Miguel desviou sua atenção pra mim assim que fez o pedido. Aquilo era impagável.

Ela era bonita, o cabelo louro tingido repicado de forma moderna e os lábios carnudos pintados de vermelho cereja a faziam parecer sexy. Mas Miguel nem notou a forma como ela admirava seu rosto e devorava seu corpo. Eu não podia negar que ele merecia cada olhar daquele, era completamente compreensivo as garotas suspirarem ao verem. Ele era bonito, bonito mesmo, isso eu não podia negar.

Depois que ela saiu relutante, Miguel voltou a me encarar com seu olhar "mortal" ultra engraçado. Era difícil levá-lo a sério dessa forma.

— Vai continuar rindo de mim? - ele perguntou sério quando viu que eu continuava a morder os lábios.

Respirei fundo e abandei o rosto.

— Desculpe - repeti. - Não foi a intenção constranger.

— Você está mentindo - ele disse ainda sério.

— Bem... É, estou - confessei.

Miguel suspirou de novo.

— Você é a pessoa mais irritante do mundo - ele disse pausadamente como se eu fosse uma criança ou talvez uma retardada.

— Se isso é verdade por que você ainda anda comigo? - perguntei.

— Ainda não consegui me livrar - ele disse, ainda, como se eu fosse louca.

Eu o fuzilei com os olhos e ele sorriu satisfeito. Mas quando eu estava prestes a lhe dá uma resposta a altura, Tânia apareceu com duas enormes taças de sorvete. Ela colocou as taças na mesa com um enorme sorriso, debruçando-se na direção de Miguel propositadamente para que ele pudesse ver ser seu decote. Patetico! Ele não viu, estava muito ocupado me olhando de cara feia. Tânia ficou ainda mais radiante enquanto se afastava, agora ela não tinha dúvida, estávamos brigando. Aquilo de alguma forma não pareceu muito legal, senti vontade de levantar e encher ela de tapas. Quem ela estava pensando que era?

— O que houve? - Miguel perguntou desviando sua atenção pra a garçonete que se afastava, sem perceber eu havia me virado na direção da garota e não devia carregar uma das expressões mais amigáveis.

— Nada - respondi seca.

— Você é maluca - ele disse.

— Você sempre soube disso e nunca reclamou. Você está muito chato hoje, eu deveria ir embora - disparei.

— E por que não vai?

— Simples. Porque esse sorvete está com uma cara ótima - brinquei e peguei a colher.

Miguel sorriu mais relaxado. Ele também começou a tomar seu sorvete.

— Eu senti saudades - disse baixinho olhando para a taça meio cheia de sorvete e mesmo sem olhá-lo nos olhos foi difícil não corar.

— O que você disse? - Ele perguntou risonho, eu sabia - mesmo sem olhar - que ele exibia um sorriso debochado no rosto.

— Você ouviu - declarei ainda de cabeça baixa.

— Não - ele disse mentindo, tenho certeza. O nojento queria era me deixar mais envergonhada - Você poderia repetir?

— Não - disse simplesmente. Ainda não conseguia levantar a cabeça.

— Por favor - ele disse delicadamente. Levantei a cabeça e me deparei com os olhos negros  com o fundo púrpura de Miguel me fitando, um sorriso mínimo dançava em seus lábios, mas seu olhar estava sério.

— Eu senti... - respirei fundo - Senti sua falta.

Foi a vez de Miguel de curtir com a minha cara. Ria abertamente de mim.

— Se não quiser terminar todo sujo de sorvete é melhor você parar de rir de mim - ameacei.

Funcionou, Miguel parou com seu showzinho particular.

— Eu sabia! - ele disse irritantemente de bom humor.

— Convencido! - soltei.

— Também senti sua falta Samira - ele disse sem nenhuma vergonha. As vezes eu me achava tão tola.

Me concentrei no sorvete e tentei dá impressão de que não me importava, mas sentia minhas bochechas pegando fogo.

— E então, - comecei - você não vai me contar como foi a viagem?

Os olhos de Miguel se incendiaram de uma luz conhecida. Ele estava mais que empolgado.

— Incrível. Não há outra palavra. - o que eu disse? Empolgadérrimo.

— Sério? - tentei parecer entediada, ainda estava magoada por ele não ter me levado.

— O Brasil é lindo. Um ecossistema tão diversificado - ele disse sonhador - Você não tem noção de como Fernando de Noronha é... Não sei descrever.

— Um paraíso natural - eu disse recitando as palavras do panfleto que ele me levou quando me disse para onde viajaria.

Miguel sorriu descontraído.

— Vamos lá! - eu disse tentando imitar sua voz animada. Ficou péssimo! - Me conte tudo. Não me esconda nada.

E assim ele fez, contou sobre cada detalhe - até mesmo os mais insignificantes - de sua viagem. Cada peixe idiota que viu enquanto mergulhava, cada montanha que escalou, cada comida deliciosa que experimentou. Tudo. Tudo mesmo. Só faltou me contar qual era a cor de cada cueca que ele usou durante suas aventuras solitárias.

Tomei mais duas taças de sorvete enquanto fingia que prestava atenção. Não queria saber, realmente, o quanto suas férias haviam sido maravilhosas, enquanto as minhas tinham sido uma titica de galinha.

— Acho melhor irmos - Miguel disse enquanto eu tirava a última colherada da boca.

— Já? - choraminguei - Não tenho direito a mais um?

Ele arregalou os olhos e levantou as sobrancelhas.

— Você já tomou três taças de sorvete.

— Três? Quatro? Que diferença faz? - resmunguei.

Miguel - aquele mala - me ignorou e chamou a garçonete. Ela o atendeu imediatamente com um sorriso enorme no rosto. Novamente não gostei nem um pingo de sua prepotência. Ela nem nos conhecia.

Miguel pagou a conta rapidamente e lhe deu o que me pareceu uma gorjeta bem gorda, o que a deixou ainda mais feliz. Idiota!

Respirei fundo algumas vezes, não ia ser tão legal assim ficar detida por enfiar a cabeça de uma garçonete estúpida dentro de uma máquina de sorvete.

— Sami? - Miguel me perguntou de sobrancelhas franzidas - Você está bem? Seu rosto está ficando roxo.

Fiquei com vontade de enfiar a cara dele dentro da máquina de sorvete também.

Controle-se Sami! - ordenei a mim mesma em pensamento - Ele não tem culpa de ser desprovido de inteligência.

— Estou mais que bem, Miguel - sorri para ele e me levantei.

Meu amigo também se levantou e devolveu meu sorriso. A garçonete nos encarava agora, seu sorriso havia sumido. Me aproximei de Miguel e entrelacei meus dedos nos dele, ele me olhou surpreso, mas não retirou sua mão da minha. Dei uma última olhada para Tânia antes de cruzar a porta da sorveteria, um sorriso debochado escapando de meus lábios.

A noite já estava alta quando chegamos a nossa rua. O tempo havia simplesmente voado. Minha mãe provavelmente ia dá um escândalo quando eu cruzasse a porta. Suspirei estressada desde já.

— O que houve? - Miguel perguntou em frente ao meu jardim.

— Nada demais. Apenas é que... Acho que está tarde - falei ainda concentrada na porta. Minha mãe tinha o péssimo hábito de ficar espionando a rua até que eu chegasse em casa.

Miguel examinou seu relógio e sorriu.

— Relaxa! Ainda não são nem oito - ele falou descontraído e parei de prestar atenção na porta. Os cabelos louros avermelhados de Miguel adquiriam uma cor ainda mais bonita que de costume à luz do luar. Seus olhos negros ainda mantinham um brilho animado.

— Mesmo assim... - suspirei novamente - É melhor eu entrar.

— O.K. - ele disse e depois sorriu - Só espero que sua mãe não me mate quando você recusar o jantar.

Revirei os olhos. Eu sempre fazia isso demais quando estava perto de Miguel.

— Só na sua cabeça que eu não vou jantar hoje.

— Você só pode tá de brincadeira.

Bufei e gargalhei. Miguel já devia está acostumado com meu apetite incomum. Não era nenhuma novidade.

— Já vou indo - eu disse me virando para a porta.

Só neste momento percebi que ainda estava de mãos dadas com Miguel. Havíamos caminhado por todo o percurso assim desde a sorveteria e eu nem mesmo tinha me dado conta. Soltei sua a mão e senti um frio repentino assim que nossos dedos se desvencilharam.

Miguel se aproximou de mim, seu cabelo ainda tinha o brilho prateado nas mechas louras.

— Nos vemos amanhã - ele disse se aproximando ainda mais, ficando a distância de menos de um braço. Seu rosto a centímetros do meu.

Uma parte tola de mim ficou com vontade de se afastar. Toda aquela aproximação não era comum. A parte sensata me manteve no mesmo lugar. Era só Miguel, meu melhor amigo desde sempre. Não era como se...

E então, nossos olhos se encontraram. Os olhos de Miguel eram tão negros e brilhantes. Tão bonitos. Ele sorriu e beijou minha bochecha.

Devolvi seu sorriso instantaneamente, seus lábios eram macios em minha pele.

— Não se atrase - eu disse de brincadeira. Miguel sempre me dizia isso quando marcávamos qualquer coisa, até ir à escola. Claro, eu sempre me atrasava assim mesmo.

— Pode deixar - ele disse sorrindo.

Virei-me e caminhei lentamente até a varanda de minha casa. Quando me virei Miguel já estava em sua calçada, a mão repousando na maçaneta. Segurei a minha e juntos abrimos ambas as portas. Entrei em casa, me sentia mais aliviada que nunca. O tédio tinha sido expulso por meu super-herói CDF.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Mesmo? De verdade? Então está esperando o quê? Deixa um recadinho pra mim.



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