Edward suspirou, e amarrou os cabelos, anotando os nomes dos próximos lutadores na lousa.

BRYAN X KAUAN

Bryan, como eu notara anteriormente, estava com uma blusa preta de mangas curtas e calças jeans desbotadas, sem calçados, era moreno, de cabelos lisos que iam até os ombros, e emanava um ar de misteriosidade que empunhava respeito.

Este andou até o centro da sala, agora limpa do sangue dos últimos lutadores, e encarou de cima para baixo seu adversário, medindo-o cautelosamente.

Kauan, a sua frente, parecia cauteloso, fazendo observando atenciosamente qualquer movimento de seu oponente, como um caçador, medindo sua presa. Este, disputando de uma magnífica tatuagem de engrenagens nos braços, descobertos pela regata preta, seus cabelos compridos e ruivos cor de sangue bagunçados, vestido com calças escuras, botas e trajando um belo olhar esmeralda que parecia não perder nada.

Foi como um flash, e logo eles estava trocando socos loucamente, como dois lutadores sanguinários, com muita fome, e sedentos de sangue.

Socos eram trocados por ambas as partes, e a cambada de adolescentes loucos torciam, gritavam, e faziam sons como “UUUUHH” e “AAAAHH”.

Kauan desviou de um Jad direto que com certeza quebraria seu maxilar, afastando-se rapidamente dois metros de distancia de seu oponente, mas Bryan logo avançara, lançando um soco giratório, rodando o corpo e quase acertando com a parte de traz da mão o rosto do ruivo, que desviara por pouco do golpe.

Os dois pareciam velhos companheiros de luta, pela forma como um sabia qual golpe o outro daria, e isso só fazia tudo mais interessantes. Como um desviava dos golpes certeiros e forte do outro, e logo atacava, para ser desviado e sair do alvo do punho do outro novamente.

A plateia – Como podemos chamar a cambada em volta dos oponentes – Gritava histérica, os nomes eram proferidos como gritos de guerra, e pelo canto do olho notei o professor parecer medir os garotos.

Edward estava assim durante todas as lutas, apenas observando, o que gerou uma certa dúvida em mim. Este não seria um simples professor, não seria? E uma aula assim, me parece muito estranha, embora eu estivesse meio cega a pouco por causa da excitação, mas... A algo por trás disso.

Cutuquei Jonathan ao meu lado, ele parecia concentrado na luta, mas olhou para mim, e logo virou novamente para frente, notando que eu não queria chamar atenção.

– Quero falar com você depois da aula – Sussurrei baixo, tampando levemente a boca com a mão fingindo um bocejo, para que ninguém pudesse ler meus lábios.

Jonathan acenou levemente com a cabeça, e voltamos a prestar atenção no que estava a nossa frente.

Os oponentes estavam na posição Ground and Pound, Kauan estava sentado sobre a barriga de Kauan, uma perna de cada lado do corpo do outro, enquanto dava socos no rosto, uns que eram desviados, outros defendidos e acertados.

Em pouco tempo dava para ouvir um sonoro “ok, eu desisto, você venceu” vindo de Bryan, que se recompôs ao ruivo ter saído de cima de si, e depois se cumprimentaram naquele aperto de mãos e batida de peitos sexy.

Edward acenou, e escreveu na lousa.

BRYAN X KAUAN

Vencedor: KAUAN

O professor suspirou, e voltou sua atenção ao seus alunos.

– Amanhã continuaremos as lutas, e como vocês sabem que no fim temos um número ímpar de alunos. Eu mudei de ideia do que fazer com aquele que sobrar – Edward sorrio maroto ao ouvir os “Aaahhh” dos alunos.

– Então o que o lutador fará? – Um aluno de voz grave e profunda do fundo perguntou, parecia mais interessado dos que os próprios lutadores, que estavam jogados sobre carteiras, com vadias no colo. Incluindo Ethan, e isso me aborreceu em um mescla de possessividade, magoa e rejeição. Sinceramente, o que esta havendo comigo?

– Como vocês já devem ter visto, acredito que essa luta nem precisa de juiz... Haha! Bem, daqui em diante não precisará! – Edward sorrio novamente daquele jeito, mas ele parecia mais divertido, o que era estranho, professores NUNCA são divertidos. Ele olhou a todos nós, e piscou – Amanhã aparecerá um novo lutador.

O...O que?

É? Quem seria...?

A sala ficou em silencio mortal, eu tinha uma sensação estranha no peito, e isso só me vem quando algo do meu passado vem a tona. Eu não estou falando do passado antes da morte dos meus pais... Mas os desses últimos meses... Com certeza, esse é o passado que eu quero esconder.

– Quem seria esse novo lutador? – Ethan perguntou sacana, olhando o professor com desdém.

– Alguém que não estuda ainda aqui – Edward sorrio, pegou suas coisas e foi até a porta – A aula esta terminada por hoje, vocês tem o resto da manhã de folga. – E assim o professor saiu da sala.

Olhei o relógio, e vi que ainda eram nove horas. Os alunos já saiam da sala, e eu segui o fluxo.

Em pouco tempo eu e Jonathan andávamos lado a lado, pensativos, pelo caminho do colégio e o dormitório, vendo as arvores, a grama verde, e as roseiras vermelhas.

– E então? – Jonathan interrompeu o silencio.

– Você notou? – Falei simplesmente, sentindo uma brisa fresca passar pelo meu rosto e balançando minhas curtas madeixas negras.

– Depende. Notei varias coisas estranhas hoje – Ele suspirou pesado, e me olhou de esguelha.

– Devemos ter cuidado, algo me diz que nosso passado pode vir a tona rapidamente, mais rápido do que eu esperava – Olhei para o céu, estava limpo, tirando por algumas nuvens, branquinhas e pequenas, como pequenos fiapos de algodão, separados um longe do outro, sozinhos.

– Também sinto – O moreno suspirou novamente – Mas a mais não?

– Sim, você deve ter notado, aquele professor... – Sussurei, mesmo que estejamos sozinhos, era perigoso que tivesse alguém por perto nos ouvindo.– Tem alguma coisa estranha com ele, Edward prestou muita atenção nas lutas, não é mesmo?

– Pensei ter sido o único a ter notado, você parecia tão empolgada – Jonathan debochou.

– Empolgada sim, cega não – Sorri sarcástica, e meu irmão riu baixo e irritantemente.

– Estou “pegando fogo” – Zombou o moreno, imitando o personagem do anime Fairy tail de cabelos ruivos.

– Ta querendo fazer cosplay agora maninho? Você não acha que esta muito velho para isso? – Zombei dele na cara dura, e gargalhei.

– Há. Há. Há. Eu só tenho 17 anos, sou muito do jovem, sabias? – Ele sorrio como um bom narcisista que é, com aquelas covinhas fofas, que dão vontade de apertas, e logo notei que já estávamos perto do dormitório.

– As vezes eu penso que somos jovens até de mais, para o que fomos nos meter – Pensei, mas eu não havia notado ter falado também, até que as palavras saíram de minha boca.

– Também – Jonathan sussurrou, e seus olhos delatavam que seus pensamentos já não estavam mais aqui. Ele queria voltar, eu queria voltar. Mas é impossível, o hoje, é a consequência do passado. O passado que nos atormenta.

Entramos no prédio, e subimos no elevador em silencio total, depois indo cada um para seus respectivos quartos.

Não é como se eu e ele tivéssemos ficado de mal um com o outro. O fato é que ele parece me ler tão bem quanto eu sei o ler. Nos entendemos, sabemos o que cada um sente, e eu posso ver o quanto nós somos unidos.

Meu irmão e eu, pelo menos toda essa tragédia serviu para alguma coisa.