Monólogos De Pijama escrita por Carol Damiani


Capítulo 20
Postagem nada coletiva


Notas iniciais do capítulo

Booa Leitura, ( Tema Sugerido por um leitor) espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/532946/chapter/20

Esse deveria ser um texto para uma postagem coletiva, cujo tema é “apenas mais uma de amor”, mas de repente minha cabeça ficou tão vazia de tudo e cheia só de você, que eu percebi que não queria escrever por nenhuma das minhas personagens hoje, porque o nosso romance é o meu preferido.

Hoje, quando eu acordei, meu pai estava usando uma camisa de lampião que lembra aquela que você tem e que eu adoro, porque ela tem praticamente a mesma combinação de cores da camisa que você usou quando me pediu em namoro, que também combinava com o sorvete de amendoim e ameixa que eu tive que tomar. Grande idéia, a minha: “você toma meu sorvete preferido, e eu tomo o seu”. Se eu soubesse que seus sorvetes preferidos eram a junção do mais calórico com o mais amargo, eu não teria proposto. Não sei se eu já lhe disse, mas eu odeio qualquer coisa de ameixa. Odeio até bolos de casamento, justamente por terem ameixa, mas, por alguma razão, aquele sorvete de ameixa era diferente. Quer dizer, na primeira lambida eu senti meus olhos arderem, mas depois me concentrei em você devorando o delicioso sorvete de baunilha e coco que eu tinha escolhido, e comecei a achar tudo aquilo muito bom. Na verdade, eu estava bem mais preocupada com as calorias do amendoim do que com o gosto da ameixa... No início do namoro a gente tem que manter a forma, né? Depois a gente relaxa e diz que é pra testar o amor.

Tá vendo esse parágrafo anterior? É sempre assim. Eu penso em um pequeno detalhe que me lembra você (não que eu precise de alguma coisa pra lembrar de você) e parece que uma teia de aranha vai se formando em minha cabeça. Uma coisa leva a outra, e a outra, e a outra... Ilimitadamente. É quando eu percebo que a teia não é de aranha, é sua, e não está em minha cabeça, está em todo lugar. Cada rosto que eu olho, procuro algo seu. Pode ser um óculos, um corte de cabelo, um sorriso. É claro que eu nunca encontro realmente, mas você bem sabe que minha imaginação é fértil, e têm horas que eu tenho a impressão de que estou cercada por centenas de pessoas com sua boca, ou seus olhos, ou suas orelhas, ou seu nariz... Pessoas com pedacinhos de você, sabe? E a vontade que eu tenho é de recortar todo mundo e fazer uma montagem sua pra mim. E ah!, eu também escuto vozes. No restaurante, quando enchi meu prato de comida, eu posso jurar que ouvi você dizendo "estou orgulhoso de você, amor", e quando eu perguntei ao garçom sobre os sucos, você disse “um de maracujá, por favor”. Só depois me dei conta de que eu mesma tinha pedido o suco, que, aliás, eu nem tomei pra não chorar.

Voltei calada no carro. Meus pais falando sem parar, meu irmão tocando violão (é, dentro do carro), e eu sem ouvir nada. Éramos apenas eu e meus pensamentos, assim como você diz que fica com os seus quando está deitado na sua cama. Por um instante eu até me imaginei na sua cama também, olhando pro seu teto inclinado que parece teto de casa de boneca, enquanto sua cachorra latia sem parar. Quando cheguei em casa, me joguei na rede – meu corpo todo doía como se eu tivesse levado uma surra - e olhei pro céu. Me perguntei se o céu que eu vejo aqui é o mesmo que você vê aí, e, não sei porque, nesse momento eu imaginei você me olhando por cima dos óculos, como você faz quando está sentado e eu estou em pé na sua frente. A partir daí, meu pensamento decolou. Fiquei lembrando da forma como você caminha com a mochila nas costas, do som dos seus passos, das camisas imensas que você usa de vez em quando - que são tão grandes que caberíamos nós dois lá dentro. Lembrei das suas mãos grosseiras na medida certa, sempre suadas, e da sua mania de ficar mudando de lado quando a gente anda junto. Lembrei do jeito que você morde o lábio superior quando está triste e da sua “cara de dor” quando quer chorar. Mas lembrei principalmente da sua expressão de serenidade, de quando a gente vem caminhando em direções opostas pra se encontrar na praia, na faculdade, no meio da rua, em qualquer lugar...

Foi nessa hora que meu celular tocou. Pulei da rede e fui correndo atender, na esperança que fosse você - mas não era. É sempre você, mas hoje não era. Eu lembrei daquela música “o telefone tocou novamente, fui atender e não era o meu amor, será que ele ainda está muito zangado comigo?” e foi quando eu lhe telefonei. Esperei você dizer “oi amor”, mas você só disse “oi”, e eu tive vontade de morrer (senti medo que você não me amasse mais, mesmo ouvindo você dizer o contrário). Meu primeiro impulso foi chorar, e eu só me controlei pra não parecer descontrolada; mas, se quer saber, eu sou mesmo descontrolada quando estou longe você. É você quem tem as pilhas do meu controle remoto. E é por isso que esse post não pode, jamais, se chamar “apenas mais uma de amor”, porque meu amor por você não é mais um e não é apenas, e nada sobre ele o será. Meu amor por você é coisa de outro mundo, é um mundo de outras coisas que eu nem mesmo sabia que existia...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentarios?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Monólogos De Pijama" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.