Arcano escrita por freckles


Capítulo 6
VI ― Arcano Nove


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Como vão vocês?
EU vou bem, depois do ENEM ando meio destruída e ainda tem a feira cultural da minha escola que está sugando minhas forças vitais e meu tempo T^T
Finalmente um capítulo saído do forno e nem um pouco revisado, pois já estou mais que atrasada com ele huehueh
Espero que gostem! Reviravoltas destruidoras virão a seguir... :3



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Sob pressão

Acordou assustada.

Ouvia vozes do andar de baixo, mas tudo ainda estava escuro demais.

― Kiara? ― ouviu a voz de Kieran, que acordava assustado ao seu lado.

― O que é isso? ― murmurou ela, se levantando e ouvindo passos duros se aproximarem do quarto.

A porta foi aberta com um estrondo e ela gritou.

― Mas o que é isso? ― Kieran se levantou em um pulo.

Homens vestidos em branco estavam parados na porta.

Conseguia apenas ouvir as batidas do seu próprio coração e nada mais.

Eles vieram me prender, pensou Kiara. A patrulha veio me prender.

Acabou.

― Senhor Kieran Harrison? ― o homem não deixou espaço para respostas. ― você está sendo levado sob custódia por invasão de propriedade e de arquivos restritos.

― O que? ― a pregunta de Kieran refletiu o pensamento de Kiara.

― Filho? ― a mãe de Kieran chorava na porta do quarto sendo abraçada pelo marido.

― Mãos para as costas. ― o homem da esquadra pegou as algemas indo na direção de Kieran.

― Espera! ― Kiara tentou parar o homem, sendo rudemente puxada pelo outro enquanto se debatia. ― ele não fez nada! Me solta! ― repetia desesperada.

― Não! Soltem o meu filho! ― a mulher tentava se soltar do abraço do marido, inconsolada.

― Se acalmem! ― Kieran dizia. ― é tudo um mal entendido, está tudo bem.

Kiara conhecia aquele olhar. Dizia que nada estava bem de verdade, que ele estava fingindo.

― Não! ― o homem de branco saiu levando Kieran para fora enquanto Kiara gritava a plenos pulmões.

Não era verdade, aquilo não poderia estar acontecendo. Kieran estava sendo preso e tudo por sua culpa.

*

Ela tinha vontade de rir. Não de felicidade, no entanto.

Era inacreditável o que havia acontecido: Kieran estava preso sob vigilância máxima acusado de ter invadido os sistemas que Kiara invadira.

E lá estava ela, esperando na recepção da cadeia.

Sentiu vontade de rir mais uma vez. Quem diria que ela estaria ali, na recepção da cadeia no nível de segurança máxima visitando Kieran, dentre todas as pessoas daquele lugar?

Viu os pais de Kieran sendo acompanhados por dois homens da Patrulha e se sentiu estremecer ao olhar para os rostos desolados deles.

― Como foi? ― sentia nojo de si mesma ao ter que atuar daquela forma, como se não tivesse feito nada, como se não tivesse sido ela a culpada.

A mãe de Kieran começou a chorar e soluçar e Kiara quase desviou o olhar.

― Ele não fala nada, sequer nos olhou. ― o pai de Kieran abraçava a esposa aos prantos. ― se ele lhe falar algo, por favor nos avise. ― deu um olhar triste e esperançoso para Kiara, que sentiu seus olhos e nariz arderem.

― Sim, eu aviso sim. ― deu um abraço apertado em cada um sentindo uma imensa vontade de correr e se esconder.

De repente sentiu-se fraca. Deu-se conta do quão fraca era: tanto emocionalmente quanto fisicamente.

Desejou que seus músculos flácidos fossem fortes, que sua mente estivesse cheia de determinação. Assim poderia tirar Kieran dali, fugir com ele para fora daquela cidade e descobrir o que tinha além daqueles muros, como eles acabaram isolados do resto mundo. Por que eles escondiam aquilo da população, vendendo a ideia de que nada existia além deles e daquela cidade?

Enquanto era guiada para dentro da área em que se comunicaria com ele através de um interfone, sentia-se prestes a desmaiar.

Assim que entrou na sala e encontrou o olhar de Kieran sentiu como se o mundo, tudo e qualquer coisa estivessem prestes a desabar.

Se ela desse mais um passo para dentro daquele lugar, tudo acabaria.

O olhar de Kieran a desafiava a entrar, a desafiava a ter coragem, a enfrentar aquela expressão perigosa que ela nunca havia visto ser direcionada a ela antes.

E, por uma fração de segundos, vacilou.

― Entre. ― foi empurrada para dentro do ambiente branco. Era uma sala um tanto pequena, quadrada com câmeras em todos os quatro cantos e um vidro grosso e límpido a separava de Kieran. Uma porta que parecia ser de ferro estava do lado de lá do vidro, deveria ser a porta que dava para as selas da prisão.

Os guardas ficaram do lado de fora, mas não sem antes avisar de que estavam sendo monitorados.

Quando a porta foi fechada atrás de si Kiara não ousou encarar Kieran.

Ela tremia tanto que achava que iria acabar vomitando ali mesmo.

Ela estava tão absorta que levou um susto ao ouvir o interfone tocar.

Lentamente levantou a cabeça, vendo que era observada por ele.

Assim, em um estado um tanto letárgico, se movimentou até se sentar na cadeira. As roupas dele eram pretas, completamente pretas: a camiseta, a calça, o sapato. Por alguma razão, isso só fez a situação se tornar ainda mais intimidante.

Engoliu seco antes de atender o interfone, estando com uma respiração errática quando apertou o botão.

Ele a encarava, parecendo ter tanto pra dizer e, mesmo assim, nada disse. E isso apenas aumentou seu próprio desespero.

― Não foi minha intenção. ― Kiara sussurrou. Breves palavras que pareciam conter toda a culpa que ela estava sentindo.

Quando sentiu que não conseguia mais segurar as lágrimas, soluçou. E sentiu como se a dor e o medo que sentiu noite passada, em que tudo acontecera, em que ela chorara também, não significasse nada perto do que estava sentindo no momento.

Sentia tanto medo que tremia, tanta dor que soluçava.

Ele nada respondeu, e ela nada falou.

Se ela conseguisse sair dali, o que iria fazer? De que valeria a pena se Kieran não estaria com ela? Por que ela quis sair daquela cidade? Por que ela não desculpou Sora quando deveria?

Era tudo culpa dela. Não que ela fosse o tipo de pessoa que assumia a culpa para si, ao contrário. Mas naquele momento o sentimento de autoflagelação se enraizou nela tão profundamente que ela se sentiu sufocada por alguns instantes.

― Eu nunca... Nunca quis que nada disso acontecesse. ― soluçou. ― me desculpa. Me desculpa. ― continuou a repetir como um mantra, não enxergando nada a sua frente por culpa das lágrimas, balbuciando de tal forma que as palavras não passavam de sussurros.

― Kiara. ― ela quase pulou da cadeira ao ouvir a voz dele.

Secou as lágrimas e o olhou.

Os olhos negros a encarando de tal forma que ela se perguntava se aquele era o mesmo Kieran que ela conhecia. Quem era aquela pessoa de olhos frios? De expressão dura?

― Se você quer que eu a desculpe... ― a voz em um tom mais grave do que o normal ecoou pelo local. ― prove que você se arrepende.

Ela respirou fundo e fechou os olhos antes de perguntar. ― como?

― Entregue-os.

Ela abriu os olhos e foi como se o mundo tivesse parado e voltado a girar em um sentido diferente por alguns segundos.

Até aquele momento, numa parte íntima de si mesma, acreditava que Kieran nunca tivera nada haver com o desaparecimento de Sora, nem com o fato de esconderem que eles eram uma sociedade separada do resto do mundo.

Mas lá estava ele, a encarando. Kieran se tornara outra existência. Ele se tornara não mais a personificação de seus sonhos, mas de todos os seus medos.

― Se eu fizer isso... ― ela tossiu para clarear sua voz. ― o que vai acontecer com eles?

― Você sabe muito bem.

Mais uma vez se perguntou quem era aquela pessoa a sua frente.

― E Sora?

Kieran olhou para o chão e depois voltou a fitar Kiara.

― Sora não existe mais.

*

Kiara estava sentada no banco da sala de espera.

Olhava apara o piso branco.

Branco como o resto de toda a maldita cidade.

Levantou-se e lentamente saiu do prédio. Quando chegou à rua observou ao seu redor.

Ali era o centro da cidade, onde ficavam os prédios principais que na verdade nem eram prédios, já que tinham não mais que cinco a seis metros cada. Claro que não podiam ter mais do que isso, senão qualquer cidadão comum iria enxergar a muralha que contorna a cidade.

Toda a cidade era abastecida com energia termoelétrica, ou pelo menos era isso que queriam que os cidadãos pensassem. Na verdade havia uma estação hidroelétrica além dos limites da cidade, Kiara havia descoberto graças ao mapa que mostrava que além da muralha havia uma floresta densa e extensa.

A cidade para ela, era muito grande. Nela havia pouco mais de cinquenta mil habitantes distribuídos em setores que iam da plantação de hortaliças à produção de remédios e construção de casas.

Cada casal era limitado a dois filhos para controle de natalidade, então poucas casas eram construídas.

Tudo que a cidade consumia era fabricado por eles mesmos. Eles tinham, no máximo, quatro turmas de alunos para cada série ― eram seis séries de ensino fundamental, três séries de ensino médio e três de ensino específico ― fundamental, no ensino médio eles tinham mais prioridade então cada turma tinha no máximo dez alunos.

Geralmente o ensino específico era somente para os alunos que iriam trabalhar no setor de remédios e de engenharias.

Um vento gelado bagunçou seus cabelos, a lembrando de que estava quase na temporada de inverno e que mais dia, menos dia, iria começar a nevar.

Quando o inverno chegava toda a cidade era coberta de branco, se misturando com o branco dos prédios, das casas, das roupas.

Caminhou um pouco, colocando as mãos dentro dos bolsos do casaco.

O centro da cidade não fazia jus ao nome. Na verdade não ficava no centro, mas todas as ruas acabavam chegando ao círculo de prédios que controlavam tudo ali.

As plantações ficavam mais distantes por estarem, em sua maioria, em estufas enormes, as indústrias quase tão distantes quanto, as casas ficavam mais próximas, mas algumas mais novas eram mais afastadas do centro, que era o caso da casa de Kiara.

As construções quase não tinham janelas, nem as casas, nem os prédios, nem nada.

Aquilo era sufocante, assim como a cidade em si.

Mesmo sua casa sendo distante Kiara quis ir andando. Encontrou com vários amigos da escola indo para o prédio da escola ou indo para seus respectivos trabalhos.

― Você viu Eric por aí?

De repente um estalo ocorreu em sua mente.

― Não, não vi. ― Kiara observou a menina à sua frente. ― e você?

― Escutei que ele quase não sai de casa, não quer trabalhar, não quer trabalhar nem estudar. ― a garota falou como o absurdo que era. Kiara também pensava assim, mas naquele momento não mais.

― Você poderia me dar o endereço dele?

― Ah, claro. ― ela sorriu amigável.

― Obrigada.

Em nenhum momento a menina perguntou sobre Sora, o que deu a Kiara uma sensação angustiante.

Kiara descobriu que Eric e sua família moravam em uma parte bastante distante do centro, na área agrícola.

Continuou seu caminho para casa, observando as pessoas e acenando para conhecidos, dentro de si perguntando como eles poderiam não desconfiar de nada, nem por um segundo se perguntar para onde as pessoas que somem vão parar.

Assim que chegou em casa ― uma construção padrão com quatro quartos, um banheiro, uma sala/cozinha ― olhou para a casa ao lado, exatamente à três metros de distância, também padronizada e igual à sua, suspirou.

Naquele momento não conseguiu sentir pena dos pais de Kieran.

Assim que entrou em casa e passou a entrada, deu de cara com seus pais e Raul sentados no sofá.

― Filha! ― sua mãe veio ao seu encontro lhe abraçando. ― filha, eu sinto muito.

De início ela não entendeu, mas em seguida se lembrou de Kieran.

― Tudo bem mãe. ― a abraçou. ― tudo bem.

Logo seu pai lhe abraçou e até seu irmão. Por que aquela tristeza? Não havia sentido.

Logo percebeu que ela também deveria estar se sentindo daquela forma, talvez muito pior se considerar o modo extremo que ela reagia a situações como aquela, mas naquele momento, parecia que nada poderia machucá-la.

Parecia que se cortassem um pedaço seu fora, não iria doer.

Era quase uma liberdade.

Naquela noite, quando seus familiares finalmente a deixaram ir para o quarto, ela não dormiu por nenhum segundo. Não parecia importante, afinal quem precisava dormir? Então não sentia tal necessidade, mas e daí?

Não se sentia cansada, ou animada, ou triste, ou feliz. Apenas não sentia mais.

O quarto estava escuro, tão escuro quanto era claro com as luzes acesas.

Ela fechou os olhos; não queria ver aquele breu. Não queria se lembrar de Sora. Não queria se lembrar do corvo.

Mas, em algum momento daquela noite, ela abriu os olhos e aquela escuridão lhe pareceu quase acolhedora.

De manhã, quando ouviu seu despertador tocar, foi tomar banho e vestiu a roupa mais confortável que tinha. Colocou algumas coisas na bolsa e saiu antes de todos acordarem.

Pegou a moto e não se importou que a ouvissem, apenas saiu dirigindo, sentindo a vontade de acelerar mais e mais até sumir. Aquela manhã estava muito fria, muito pálida e era o prenúncio da neve que viria em algumas horas.

Observou as casas se afastando e então a estrada principal que cortava a cidade desde o centro até as indústrias era envolta apenas por árvores, em seguida por campos abertos com cheiro de esterco e terra.

Parou à frente da casa de Eric e foi bem atendida pela mãe dele que já estava se preparando para sair para o trabalho. Conversaram por alguns instantes até que ela o viu saindo do corredor dos quartos para a sala de estar.

― Vou deixá-los conversando pois o meu marido já deve estar me esperando lá fora. Foi um prazer em lhe ver de novo, Kiara. ― a mãe de Eric lhe beijou as bochechas.

― Obrigada senhora Levis, foi um prazer lhe ver também.

Logo que ela saiu, Kiara olhou para Eric com cautela.

― Que porra você faz aqui? ― ouviu a voz estrondosa de um garoto que falava tão suave como uma pena ecoar em sua mente.

― É sobre Sora.

A próxima coisa que sentiu foi seu corpo batendo com uma força descomunal contra a parede e sua garganta sendo apertada.

Ela sentiu o ar escapar de seus pulmões assim que bateu contra a parede de alvenaria, com o aperto de Eric ela não conseguia repor o ar perdido.

Eric nunca fora robusto, mas ele era um homem de mais de um metro e oitenta com estrutura corporal boa. Ela, uma menina que mal passava de um e setenta e mais magra do que deveria, não poderia ir contra ele nem se quisesse.

― E-ric... ― segurava-se nos braços dele, suspensa no ar e não conseguindo por seus pés no chão como apoio.

― O que você quer me falar sobre Sora? Logo você, sua vadia maldita. ― as mãos dele se apertavam mais ao redor do pescoço dela a cada segundo. ― você sabe, não sabe? Você é a culpada. De tudo.

Ela tentava de alguma forma falar. Não acreditava que tivesse se arriscado tanto, chegado tão longe, somente para morrer daquela forma. ― So-ra... Eu sei... Onde...

Ela a olhou com desconfiança. Ainda segurou o seu pescoço por mais alguns momentos, mas em seguida a soltou, que caiu no chão encarpetado com um baque surdo.

Enquanto ela tentava recuperar o ar, Eric andava de um lado para o outro parecendo frustrado.

― Eu posso... ― uma crise de tosse a atingiu violentamente e ela sentiu o gosto de sangue na boca. ― encontrar Sora. Sair daqui.

Eric a olhou com olhos de quem estava por um triz de não fazer uma besteira enorme. ― Fala.

― Os órfãos, amigos de Sora, estão planejando fugir. Não sei quando, mas deve ser hoje. Eles prometeram me levar. Talvez você possa ir também.

― Fugir? ― Eric riu estrondosamente, Kiara nunca tinha visto o garoto dar mais que uma risadinha antes. ― você não pode estar falando sério.

― Temos o mapa.

Ela a olhou com atenção, parecendo interessado pela primeira vez.

― Como conseguiram?

― Ouviu que Kieran foi preso? ― Kiara observou as suas expressões.

Primeiro a confusão, depois o choque e depois o sarcasmo.

― Sempre soube que você era uma traidora filha da puta, mas estou surpreso. ― ele se agachou perto dela sorrindo. ― até mesmo aquele moleque maldito, por quem, aliás, você brigou com Sora. ― ele a encarou com olhos afiados e ela desviou o olhar.

― Você vem?

― Claro. Espere exatamente onde você está, se mover um dedo eu realmente te mato.

Kiara assentiu. Assim que ele deixou a sala ela pôde respirar mais tranquila. Sua garganta doía muito, sua cabeça que havia batido na parede também.

Pensou consigo mesma que, se executasse tudo como havia planejado, nem Eric, nem órfãos, nem ninguém iria perturbá-la. Nunca mais.

A menina encostada naquela parede encarando o teto já não era mais a mesma pessoa. Naquele momento crucial, Kiara Ohana morreu.


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Notas finais do capítulo

UOOOOOOOOOOU!
Quem esperava essa? :3
Espero que ninguém huehueh
Que louco né? Agora me respondam: se Kieran sabe que foi a Kiara, por que ele não a entregou logo? Por que ele a ama? Mas então, por que ele a tratou daquela forma? Que papel Eric terá nessa história toda? E com Kiara Ohana morta, quem é a nossa protagonista aventureira de agora em diante?
Hmmmm :3
HUEHEUH
No próximo capítulo de arcano: a fuga.
Espero que tenham gostado, qualquer erro é só comentar e é isso aí. Pretendo postar o próximo antes do ano novo!
Chu~



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