Arcano escrita por freckles


Capítulo 5
V ― Arcano Nove


Notas iniciais do capítulo

Olááááá pessoas bonitas! Há quanto tempo não? T^T
Mas entendam que eu sou apenas uma estudante do ensino médio, então ultimamente estou meio que surtando pela proximidade do ENEM e tudo mais, mas assim que o ENEM passar vou me dedicar mais a fic, prometo õ/
Então, aqui está o primeiro capítulo da segunda "fase" da fic, é pequeno e por isso o próximo será maior, acho que é o menor da fanfic inteira e.e
Nem acredito que já cheguei até aqui T^T
Aproveitem, chu~



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Aos pés da colina

Kiara observava tudo com olhos atentos. Apesar de ter que ficar na recepção, ela sentia que ali era o melhor lugar para estar. Ali ela observava quem entrava e quem saía, os mínimos detalhes que diferenciavam os cartões de acesso de cada um deles.

Até o momento havia percebido que seus pais talvez não soubessem o tanto que ela suspeitava que sim.

E que havia pessoas bem mais superiores.

De certa forma começou a prestar atenção em como tudo funcionava lá dentro.

Após pedir para seus pais que a deixassem trabalhar no prédio principal para ocupar as férias, seus horizontes se expandiram.

Enquanto os órfãos ― ela se referia a eles assim agora ― trabalhavam na parte prática do plano, era estava com a parte que ela julgava ser a mais difícil e perigosa: conseguir um cartão de acesso com o qual eles pudessem chegar até as até agora imaginárias, barreiras da cidade.

Segundo o que haviam lhe dito, existia uma distância de mais ou menos dois hectares da cidade até a suposta barreira. Encontraram um caminho de terra batida certa vez, mas não chegaram muito longe, pois a patrulha logo os encontrou.

E, ainda segundo eles, aquela seria a sua rota de fuga.

O plano era cheio de suposições, mas Kiara tinha certeza que a pseudo-barreira era fortemente protegida.

Tinha certeza também que haveria alguns sacrifícios e que ela, assim que lhes desse o que queriam, seria uma das primeiras a ser sacrificada.

― Boa tarde. ― de repente ela vê a sua frente uma flor incrivelmente vermelha e um miolo amarelo. As pétalas da flor se sobrepunham umas sobre as outras, e as anteras amareladas se destacavam salientes no meio.

Deu um sorriso de lado. ― boa tarde. Deseja algo senhor?

Ele sorriu mostrando as covinhas em suas bochechas. ― sim, gostaria de dar esta flor à menina mais bonita da cidade.

― Então o senhor deve se encaminhar à sua direita, em seguida-

Foi atrapalhada por um beijo e se afobou.

― Ainda estou no meu horário de trabalho!

Kieran olhou para o relógio em seu pulso. ― não mais. ― e riu.

Kiara rolou os olhos.

Depois de semanas terem se passado, ainda não havia se esquecido que a família de Kieran com certeza estava envolvida com o desaparecimento de Sora.

Mas aquele era Kieran. Ele era diferente da família dele.

No fundo, ela sabia que estava apenas fechando os olhos e evitando o inevitável. Mas por enquanto queria apenas ficar ao lado dele, logo ele, a pessoa por quem ela sempre fora loucamente apaixonada, a pessoa por quem ela derramou lágrimas e traçou sorrisos. Como poderia ela largar essa felicidade agora?

Ele representava ― em sua imaginação ― tudo o que ela sonhava.

Não, ninguém poderia culpá-la por querer aproveitar esse momento ao máximo.

Enquanto divagava pegou a flor e levou ao nariz, apreciando o cheiro refrescante dela, em seguida levando-a aos cabelos.

Percebeu que Kieran a observava e sorriu. ― vamos?

― Sim.

Em seguida os dois saíram do lugar, logo após ela passar o seu recém-adquirido cartão de acesso na porta.

Desde que Kiara começara a trabalhar ali ele vinha lhe levar para casa todos os dias.

Trazia-lhe doces, joias. Aquela fora a primeira vez que trouxera uma flor, e ela amou.

Como não amaria? Como não se apaixonaria?

Apertou-se contra o braço de Kieran e continuou a caminhar até o carro.

Durante toda a viagem escutou as histórias do curso de Kieran como engenheiro mecânico e seu estágio para o governo.

Vez por outra ele reclamava que ela deveria iniciar em um curso também, pois ela era inteligente o suficiente para isso.

Ela apenas ria e dizia que talvez em um futuro próximo.

Ele acabou levando-a para casa, para mostrar o seu novo projeto do trabalho.

De repente, em uma confusão de movimentos atrapalhados, seguidos por beijos e carícias, acabaram na cama dele.

Kiara sentia certa urgência em abraçá-lo, em senti-lo. Sentir seus cabelos cacheados, sua pele macia. Seu cheiro, seu calor. E foi com essa urgência que os dois acabaram entrelaçados sob uma confusão de lençóis.

Ainda um pouco ofegantes e envergonhados, Kieran foi o primeiro a falar: ― o que foi isso?

Kiara riu envergonhada. ― nada.

Kieran riu também.

Em seguida se aninharam um ao outro e ele desenhava círculos no ombro pálido e desnudo de Kiara

― Se... ― a voz de Kieran falhou e Kiara, que estava com o rosto perto de sua garganta, viu o movimento que seu pomo de adão fez. ― se você tivesse que escolher entre eu ou o mundo, o que você escolheria?

Kiara ficou em silêncio por algum tempo. ― você.

― Por quê?

― Se eu escolhesse o mundo, você não estaria nele, não faria sentido. Escolhendo você supostamente eu destruiria o mundo, mas não me importaria. ― pausou enquanto fechava os olhos e ouvia o som da respiração dele. ― na verdade seria a coisa que eu mais desejo: um lugar onde eu e você possamos viver sozinhos. Se todas as pessoas do mundo desaparecessem agora, eu não me importaria.

Depois de outro momento silencioso Kiara se sentiu sendo apertada por braços quentinhos e se deixou adormecer ali por alguns momentos.

Naquele momento ela falou a mais pura verdade. Se ela não tivesse que lidar com tudo aquilo que estava lidando, se não soubesse que Kieran sabia sobre Sora e o suposto isolamento da cidade, ela apenas iria fugir com ele.

Assim que teve certeza que Kieran estava adormecido ela se levantou vestindo uma calça qualquer dele que havia encontrado e sua blusa, pegando um casaco grosso dele e o que queria, saindo silenciosamente.

Andou rapidamente até a sua casa, pegando a moto e a empurrando com um esforço hercúleo para uma pessoa tão magra e fraca. Assim que estava distante o suficiente para ninguém ouvi-la, saiu noite adentro em direção ao ponto de trabalho de Kieran.

Pegou o cartão de acesso de Kieran tremendo e passou pelo leitor da porta, com esta abrindo sem nenhum problema.

E aos poucos foi abrindo cada vez mais portas até chegar ao seu objetivo: a sala de controle e automação.

E seu objetivo maior não era nada simples: conseguir um mapa com as coordenadas de localização da cidade que mostrasse cada ponto em que existia uma câmera.

Fechou os olhos assim que se sentou em frente à mesa que parecia ser do diretor da divisão.

Teve que segurar a vontade de vomitar. De tantas coisas que poderiam acontecer com ela quando ela estava nervosa, por que logo vomitar?

Pegou o cartão em suas mãos e o observou, passando o dedo em cima do nome de Kieran. Olhou mais uma vez para o computador e então decidiu.

Naquele momento, se o cartão de Kieran não desse acesso à essas informações ela estaria seriamente enrascada, mas por um lado aliviada. Enrascada pois a tentativa de acesso irregular iria enviar um sinal direto à divisão de segurança da cidade, mas estaria aliava pois saberia que Kieran sabia tanto quanto ela.

Aquele momento em que ela passou o cartão no leitor foi decisivo para tantas coisas que ela mesma nem fazia ideia.

Mas no momento em que o acesso foi liberado a sua única escolha foi se encolher na cadeira e chorar.

Chorou até soluçar, até não conseguir mais respirar pelo nariz, até seu rosto ficar inchado.

Depois olhou para o computador como se este fosse um inimigo. Rapidamente foi acessando pastas que considerava suspeitas e, quando finalmente encontrou o que precisava observou bem o mapa.

O que parecia era que realmente os órfãos tinham um ponto de razão: segundo o mapa, havia um caminho estreito que levava à uma saída.

A cidade parecia ser grande olhando para o mapa, mas, como ela já sabia, era rodeada por hectares de arvores e logo a seguir vinha uma muralha que cercava toda a circunferência da cidade.

Deu zoom na área que levava até a única saída da cidade, lá era tudo fortemente vigiado: cada dois metros havia um sensor ou uma câmera. Eles provavelmente teriam que enfrentar a floresta, pois nesta só havia câmeras em certos pontos mais limpos e consideravelmente mais fáceis de atravessar.

Toda a cidade era coberta de câmeras.

Disso ela já sabia, mas antes se sentia segura com isso. Agora lhe dava uma sensação de privacidade violada.

Colocou o pendrive que os órfãos lhe deram e passou os arquivos que achava necessários para ele.

Rapidamente saiu dali, agradecendo que havia pegado o casaco de capuz de Kieran e havia puxado o capuz assim que saiu da casa dele.

Assim, parou no acostamento e desceu da moto, sendo logo escoltada ― rudemente deveria dizer ― por dois órfãos até aquele conjunto de casas que, ao olhar para o mapa, havia descoberto ser uma versão antiga da casa dos órfãos.

Lá eles também estavam sendo vigiados, de forma leviana, mas estavam. E assim que as autoridades descobrissem ou sequer confiassem daqueles encontros, não sabia o que iria acontecer com eles.

― Pensei que tivesse desistido. ― Katarina comentou se desencostando da parede suja.

Kiara apenas a ignorou e foi direto para Adam, lhe entregando o pendrive.

― Isso foi muito difícil de conseguir, Adam. ― murmurou encarando o gigante à sua frente.

E ele sorriu. ― mas você é esperta não é, Kiara?

Kiara deu uma risada profunda. Não uma risada engraçada, era uma risada de escárnio.

Claro que ela sabia. Sabia que eles haviam lhe dado uma missão quase impossível logo de cara propositalmente. E que se ela falhasse estava fora, literalmente.

Mas o que havia lhe surpreendido fora o fato de que Kieran e seu cartão de acesso podem chegar mais longe do que havia imaginado. Talvez pelo seu trabalho, ou talvez pela influência de seus pais.

O seu maior medo estava se tornando realidade: Kieran e sua família realmente sabiam o porquê de eles, agora não mais supostamente, viverem em uma comunidade isolada do resto do mundo. E eles também sabiam para onde Sora havia sido levada.

― Não pense que você irá se livrar de mim tão facilmente. ― murmurou Kiara. ― não sou idiota, Adam. Eu estou aqui por um motivo e, não importam as consequências, eu vou conseguir o que eu quero. ― deu-lhe às costas e saiu andando rapidamente, sendo observada pelos outros órfãos a cada segundo. ― não se esqueça de que estamos juntos nisso. Um passo em falso e Sora não será a única a desparecer.

Quando subiu na moto respirou fundo, parabenizando a si mesma por ter conseguido manter seu alter ego. Era isso ou ser engolida por eles.

Ela nunca conseguiria manter uma conversa séria sem gaguejar, imagine fazer ameaças. Por isso, depois de muito treino na frente do espelho do banheiro, ela decidiu ir em frente com a história do alter ego.

Prendeu o longo cabelo cor de areia em um coque e decidiu dirigir sem o capacete.

Naquele momento, naquela madrugada fria e úmida, ela queria se sentir livre.

Dirigindo mais rapidamente do que ela nunca ousou, sentiu-se livre.

E foi assim que voltou para a casa de Kieran, silenciosamente devolvendo o cartão de acesso para o seu lugar e indo direto para o banheiro.

Quando saiu do Box se olhou no espelho enorme e embaçado que enfeitava a parede branca de Kieran.

Olhou e olhou novamente. O rosto pálido, os olhos escuros, o cabelo claro. Passou a mão no espelho para se ver melhor. Deixou a toalha cair e fitou o seu corpo.

Por que tão magra? Por que tão pálida?

Sentia vergonha daquele corpo, daquele rosto, daquela palidez.

Encarou a si mesma, olhou em seus próprios olhos por bastante tempo. Mas parecia de repente a criatura à sua frente não era ela mesma. Não como ela se via todos os dias.

Os olhos negros pareciam grandes demais, negros demais.

O corpo magro demais, pálido demais.

Parecia assustador.

Quando viu uma lágrima descer pelo rosto do monstro à sua frente não pôde deixar de sorrir.

Há momentos em nossa vida que, quando nos encaramos em um espelho por um longo tempo, vemos tudo aquilo que realmente somos.

E lá estava Kiara, encarando aquilo que imaginava ser seu verdadeiro eu.

E se sentia enjoada.


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Notas finais do capítulo

UOOOOU!
E aí? Gostaram? Espero que sim *----*
Como vocês puderam perceber no próximo acontecimentos muito importantes virão, MUITO MESMO, será meio que um capítulo decisivo, mas infelizmente me ausentarei até dia 9/11 para estudar mais, mas assim que o ENEM passar eu realmente vou postar o próximo, então me perdoem, sim? T^T
Se eu conseguir tempo talvez poste antes, mas isso é uma probabilidade bem pequena, então mais uma vez perdão.
Mais uma vez espero que tenham gostado desse capítulo apesar de ser um pouco menor que o normal.
Beijão pra Bibs e para Larissa Almeida, suas pessoas lindas :*
Chu~



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