Arcano escrita por freckles


Capítulo 4
IV ― Arcano Zero


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Resolvi postar de quinzenalmente mesmo, mas - se acompanham a fic - desvem ter percebido que esse saiu mais cedo do que o previsto ^^
ATENÇÃO: esse capítulo conterá muito vômito e uma Kiara meio louca HEUHEUHE
Apreciem a leitura!
Chu~



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Lampejo do abismo

Sentia-se cansada. Estafada, em verdade.

A noite anterior havia sido horrível e apenas havia conseguido ter paz após uma dose considerável de sonífero. Não paz realmente, mas uma breve tranquilidade sem mais espectros velando seu sonho.

Levantou-se da cama mortificada de vergonha.

Havia agido como uma criança naquela noite e tinha certeza que a vizinhança toda havia ouvido seus gritos histéricos. Apesar de não se lembrar de muito, sua garganta estava insuportavelmente dolorida e ardendo.

Abatida, foi em direção ao banheiro o mais silenciosamente possível. Seus olhos ardiam como se tivessem jogado sal neles.

Quando se encarou no espelho teve vontade de chorar. Apenas não o fez por que isso não iria melhorar em nada sua aparência cadavérica. Amarrou os cabelos e foi tomar um banho naquela manhã incrivelmente fria.

Quando saiu do banheiro se deparou com sua família no corredor. Seu pai e sua mãe haviam acabado de sair do quarto e seu irmão estava atravessando o corredor.

― Oi meu bem, o que você quer para o café da manhã? ― sua mãe perguntou.

― Acho que teremos panquecas hoje. ― seu pai riu.

― Eu quero com calda! ― Raul gritou se encaminhando para a cozinha.

Aquele momento era absurdo. Por que ninguém estava falando nada sobre a noite anterior? Ela viu seus pais darem as costas para ela, e sentiu como se fosse no sentido literal.

Era normal isso? Seus pais não se preocuparem com você, ou perguntarem como você se sentia depois de um surto como aquele?

Ela seguiu para o quarto dela sem dizer uma palavra. Assim que entrou observou seu quarto. Nada estava fora do lugar, a luminária ainda estava em cima da cômoda, sua cama de solteiro estava no lugar, a sua estante com livros de cálculo ainda estava no lugar.

Por quê? Ela sabia que ela havia feito uma confusão naquela noite, mas estava tudo absolutamente normal.

Mas sim, seus pais poderiam estar simplesmente sendo cautelosos e sensíveis ao sofrimento dela.

Sim, era isso.

Ela se trocou vestindo uma roupa qualquer e indo em direção à cozinha. Assim que entrou no ambiente se deparou com uma bela mesa de café da manhã e seu estômago roncou alto o suficiente para seus pais a ouvirem.

Riram dela e ela acabou rindo roucamente também.

Sentou-se a mesa do café e começaram a conversar, mas ela não podia forçar sua garganta que ainda estava dolorida, então apenas observou, rindo de alguma coisa ou outra.

Naquele momento ela apenas se sentia bem, se sentia feliz.

― Temos que comprar um remédio na farmácia para você, não é filha? ― sua mãe comentou e Kiara assentiu. ― essa gripe que não vai embora.

Kiara fitou sua mãe por alguns segundos e então perguntou com a voz incrivelmente falha: ― gripe?

Sua mãe a olhou de volta. ― sim filha, gripe. Desde o dia da festa de formatura você está abatida, e agora amanheceu com essa garganta assim. ― sua mãe soltou um muxoxo. ― deveria ter percebido mais cedo.

― Mas tudo bem, passaremos na farmácia após sairmos do...

Kiara se levantou da mesa estrondosamente e foi rapidamente para o seu quarto, ignorando os olhares espantados de seus pais.

Entrou no quarto ofegante. Naquele momento o quarto sem janelas parecia ser sufocante. Sua respiração estava falha e, aos tropeços, foi para o banheiro subindo na tampa do vaso sanitário e encostando seu rosto no basculante.

Ela respirou fundo o ar frio várias vezes e erraticamente, em seguida descendo e se sentando na tampa do vaso, branco como todo o resto da casa.

Olhava para aquele lugar branco e limpo e apenas sentia asco.

Por que seus pais agiam como se nada tivesse acontecido?

Eles sempre cuidavam dela quando...

Não.

Em verdade, ela não se lembrara de nenhuma noite em que eles estivessem preocupados na porta de seu quarto. Ou que ficassem ao seu lado lhe acalmando, e não se lembrava de como parava no quarto de seu irmão.

Fora ela andando? Era ela uma sonambula?

Tentou recordar e as únicas noites de que se lembrava eram quando ela ligava para Sora do telefone da casa, e ficava com a mesma na linha até amanhecer o dia.

Sentiu algo lhe sufocar. Desengonçada, subiu novamente na tampa do vaso sanitário e demorou um pouco mais de tempo respirando no basculante desta vez.

*

Seus pais saíram para o trabalho durante a tarde. Kiara ainda não havia recebido nenhuma ligação e já iria fazer uma semana desde que Sora havia desaparecido.

Ela pensara várias vezes que estava começando a ficar louca, mas sentia como se estivesse sendo observada a cada momento do dia.

Ainda não havia descartado a ideia de que havia começado a ficar maluca, mas também não havia descartado a ideia de que realmente estava sendo observada.

Estava sentada na sala de estar junto com seu irmão quando de repente lhe veio uma pergunta em sua mente e não pôde refrear suas palavras: ― você acha que realmente estamos seguros aqui?

― O que? ― seu irmão perguntou, desviando a atenção do jornal. ― você está ficando louca.

Ela ficou quieta novamente, mas então não conseguiu parar a si mesma: ― mas e se você descobrisse que não estamos seguros? Que tem algo... Muito errado com a cidade, o que você faria?

Ela recebeu o silêncio por alguns segundos, mas em seguida seu irmão lhe respondeu.

― Eu fingiria que não há nada de errado. ― houve uma pausa um tanto longa demais. ― às vezes a melhor escolha é a ignorância.

O silêncio mordaz foi cortado pelo barulho do telefone e Kiara levantou tão rapidamente que saiu pulando de cima do sofá para atender ao telefone.

Ouviu seu irmão resmungar algo como “doida”, mas ignorou.

― Olá, eu gostaria de falar com a senhorita Kiara Ohana, por favor? Aqui é da casa de assistência social. ― Kiara sentiu um alívio ao ouvir a voz da matraca, e se sentiu mais aliviada ainda por ter pressentido que se qualquer outra pessoa atendesse aquele telefone ela estaria completamente ferrada.

― Sim, aqui é ela.

― Olá senhorita, eu falei para Katarina e Adam que a senhorita veio aqui perguntando por eles, e eles responderam que gostariam de se encontrar com a senhorita o mais rapidamente possível, então...

― Ok. ― ela interrompeu a mulher. ― eu posso ir a qualquer momento.

― Ah, sim. Eles me deram um endereço, a senhorita pode anotar, por favor?

― Sim, sim. ― ignorou a voz um tanto afiada da mulher após a sua interrupção. Assim que terminou de anotar o endereço, desligou o telefone e correu em direção ao quarto.

Vestiu uma roupa mais ou menos quente e correu novamente para fora.

― Vou ali, tchau. ― disse apressada para o irmão.

― Ei!

Fechou a porta sem mais ouvir o seu irmão e pegou novamente a moto que estava no fundo da garagem. Naquele dia havia feito um bom trabalho limpando a lama e as marcas de roda no chão, com certeza.

Rapidamente se dirigiu para fora da garagem e foi imaginando o que daria como desculpa para seus pais quanto voltasse.

Talvez que fora a biblioteca.

Durante o seu percurso olhava para a vegetação, em alta velocidade sobre a estrada um tanto úmida da última chuva.

Por que a cidade era cercada de árvores? Bem, já havia ouvido de seus professores que era para manter o clima agradável e a qualidade do ar, mas por que se sentia tão inquieta com isso de repente?

Desde quando ela sentiu vontade de entrar naquela mata e descobrir onde ela acabaria?

A vista ficou embaçada e ela se sentiu tonta. Parou a moto no acostamento e retirou o capacete em busca de ar. Será que ela tinha algum problema respiratório ocasionado pelo nervosismo e até o presente momento não sabia?

Ela respirou fundo várias vezes, de olhos fechados. Talvez se ela os abrisse e percebesse a si própria sozinha no meio daquela imensidão outro ataque aconteceria.

Sentia as batidas de seu coração reverberarem por todo o corpo, não conseguia ouvir nada além de sua própria respiração desregular. Encostou a cabeça no guidom da moto, sentindo gotas de suor frio descerem por sua pele.

De repente sentiu-se sendo puxada da moto e uma mão em seu rosto, cobrindo sua boca.

Entrou em pânico.

Seria ela mais uma das adolescentes que desapareciam? O que ela faria? O que alguém faria?

Lembrou-se das palavras da matraca.

“[...] sabe, geralmente as pessoas não ligam para essas crianças, por isso a maioria não percebe, mas muitas crianças daqui já sumiram.

Depois se acharia uma completa idiota, mas naquele momento o pensamento de que ninguém perceberia se ela sumisse ou não, de que ninguém realmente se importaria, lhe sufocava mais do que o pânico que ela sentia ao ser carregada mata adentro.

Ela pensou que talvez fosse melhor daquela forma. Iria desaparecer, provavelmente iria ser morta ― para que finalidade ela realmente não estava interessada em saber no momento ― e ninguém iria sequer sentir sua falta.

Ali acabava o seu mundo ilusório de pesadelos.

Quando foi jogada no chão, como um lixo, tossiu e se encolheu. A sua visão era turva e enegrecida, não conseguia enxergar nada além de um borrão e um zumbido agudo ressonava em seus ouvidos.

Ela pensou que seria bom se fosse uma morte rápida.

― Ei, boneca. ― ouviu uma voz de um tom rude ao longe. ― 'vamo', acorda. A gente teve o maior trabalho ‘pra te encontrar sem que ninguém te visse.

― Calma. ― ouviu uma voz feminina sussurrando um tanto zombeteira. ― ela ainda deve 'tá em choque, coitada.

Tossiu mais uma vez e abriu os olhos se deparando com dois pares de botas. Foi virando a cabeça lentamente e se deparou com duas pessoas.

A mulher tinha um físico magro, vestia uma camiseta regata preta e uma calça verde-musgo. O homem era extremamente musculoso, assim como ela vestia uma regata só que azul-marinho e uma calça preta.

― ‘Tá tudo bem aí, boneca? ― ouviu a voz da moça.

Demorou um pouco, mas aos poucos foi se levantando, se lembrando de que aquelas pessoas a tinha arrastado floresta adentro.

Tossiu mais uma vez antes de responder. ― Quem são vocês?

O homem grande deu um sorriso grande e branco para ela. ― Meu nome é Adam, o dela é Katarina. Soube que você queria encontrar a gente.

Assim que ela começou a ter consciência da situação ela observou os dois melhor, se lembrando deles por tê-los visto outras vezes com Sora. O homem tinha cabelos loiros claros e os olhos azuis, a mulher tinha os cabelos muito encaracolados e volumosos, quase formando uma juba, e a pele escura.

― Como... ― ela pausou para respirar um pouco. ― como vocês sabiam que eu estaria aqui?

Adam riu e ela percebeu que ele tinha furos nas bochechas. ― a gente 'teve te seguindo há algum tempo. Sem detalhes.

Ela se arrastou até encostar-se a uma árvore e se sentar. Quando estava se sentindo melhor foi lentamente se apoiando na árvore e se levantando.

― Onde Sora está? ― ela perguntou enquanto os encarava.

Os dois ficaram em silêncio por algum tempo. ― foi levada.

Kiara os olhou, chocada. ― levada? ― repetiu a palavra como se fosse um absurdo. ― para onde? Por quem? Para que? Isso não faz sentido nenhum!

― Se acalma boneca. ― Katarina disse em tom de aviso. Os olhos negros encarando Kiara com cautela.

― Alguém totalmente ignorante sobre as coisas que acontecem aqui como você realmente acharia um absurdo. ― Adam tomou uma expressão séria. ― deixa eu te dizer uma coisa: a gente nunca apoiou essa amizade da Sora contigo. Nunca. Por que a gente sabia que tipo de consequência podia trazer. E agora a Sora foi levada.

Kiara se sentiu enervada. Naquele momento estava prestes a explodir, a situação era absurda demais para ficar calma. Respirou fundo, e com a voz um tanto trêmula respondeu: ― por favor, vocês poderiam me explicar qual o sentido de “ser levada”? Por que a amizade de Sora comigo faria algum mal a ela? ― perguntou em tom de absurdo. ― se algo faria mal a Sora seriam vocês.

― O que? ― Katrina explodiu. ― quem 'cê pensa que é moleca? 'Cê acha que sabe alguma coisa sobre a Sora? Ou sobre esse lugar?! 'Cê não sabe de nada! 'Cê é só mais uma ignorante, que pensa que esse lugar é uma utopia! ― gritava a plenos pulmões. Adam, que antes respondia e remediava a situação, calara-se. ― se alguém é culpado por Sora ter sido levada, esse alguém é tu!

Com isso, deu as costas e saiu andando rapidamente por entre o mato.

Os dois que sobraram ficaram em silêncio por alguns segundos olhando para o espaço.

― Ela tem razão.

Kiara olhou irritada para Adam, que não se virou para olha-la.

― Sora foi levada para fora desse lugar por que sabia demais, e 'tava compartilhando essas informações com alguém como você. ― nesse momento Adam fitou Kiara com seus olhos azuis. ― ninguém liga ‘pra gente como a gente. A gente é a escória. Já pessoas como você... ― deu uma risada diferente das que ela tinha visto. Mais amarga. ― pessoas como você são prodígios. São a nata, são protegidas e queridas, famosas. É um problema ‘pra eles se algum de vocês souber algo sobre esse lugar, ou ao menos desconfiar. Por isso Sora foi levada. Por tua causa. Tua e daquele garotinho maldito.

Kiara sentiu tudo ao seu redor girar.

Teve alguns espasmos e sentiu suas pernas tão fracas a ponto de cair de joelhos. Os espasmos então se tornaram mais fortes, e assim ela vomitou violentamente.

Sentiu seus cabelos serem tirados do caminho, mas no momento se sentia tão fraca que mal conseguiu se afastar um pouco do vômito, para, em seguida, desmaiar.

*

Antes de abrir os olhos se movimentou um pouco, sentindo seus músculos latejarem. Ouviu vozes, mas não conseguia distinguir uma palavra sequer. Abriu os olhos lentamente e piscou várias vezes antes de focar sua visão.

Encontrou várias pessoas ― não mais que sete ― espalhadas por um quarto de aparência muito suja e decadente. Kiara nunca havia visto um lugar como aquele. Era marrom e cinza, muito acabado e vazio.

Ela estava deitada no chão, portanto, quando levantou todo o seu corpo estalou.

Todas aquelas pessoas a encaravam sem dar uma palavra, Kiara reconheceu alguns rostos por tê-los visto com Sora, mas outros não. Se sentiu mais do que acuada.

― 'Cê vai ‘pra casa agora, e nunca mais vai procurar a gente. ― Adam quebrou o silêncio. ― vai esquecer tudo que ouviu, e vai viver sua vida como sempre fez.

― Sora está viva? ― Kiara percebeu vários olhares de ódio e o resto de desgosto.

Ficaram em silêncio por alguns momentos. ― não sabemos. ― Adam respondeu.

― Ela foi levada para algum lugar fora daqui. ― não foi uma pergunta, portanto não recebera nenhuma resposta. ― eu quero encontra-la.

― Viu?! ― um homem moreno se desencostou da parede gritando. ― essa garota é problema! A gente devia entregar ela ‘pros caras e pronto!

Katrina, que estava ao lado de Adam, lançou um olhar na direção do moreno e ele a encarou de volta, em seguida encostando-se à parede novamente e lançando um olhar hediondo para Kiara.

― Você ‘tá se ouvindo? ― Adam perguntou incrédulo. ― você é a que mais corre riscos de sumir. De todas as pessoas nessa cidade, você é a mais protegida.

Kiara o encarou e se levantou rapidamente, ainda que um pouco tonta. ― eu não entendo. Mas eu não ligo. Sora é a pessoa mais importante no mundo para mim, e eu quero ajudar a encontra-la.

Antes Sora dividia um espaço com Kieran em seu coração. Naquele momento, Kieran estava começando a se tornar uma figura antagônica.

― 'Cê me ouviu? Acho que de todas as pessoas que poderiam se envolver com a gente, 'cê é a que menos queremos. ― Adam falava com uma calma inabalável. ― você é problema. Aquele merdinha do teu namorado não vai simplesmente deixar tu saber das coisas. Ele e os pais dele ‘tão envolvidos demais na segurança desse lugar ‘pra simplesmente deixar 'cê ir e enfiar o nariz onde não deve.

Kiara abaixou o olhar e sentiu lágrimas formarem em seus olhos. Ela sabia, no fundo, que Kieran estava envolvido de alguma forma. Afinal o pai dele trabalhava diretamente na secretaria de segurança, sua mãe também.

Mas ainda assim doía tanto. Não conseguiu segurar as lágrimas e no fundo ouviu algumas risadas.

E assim respirou fundo e secou seu rosto com a manga do casaco.

― Vocês... ― limpou a garganta. ― vocês querem sair daqui, não é?

Não houve resposta, nem sinal de que ela estivesse seguindo o caminho certo. Levantou o olhar e foi como se pousasse os olhos negros sobre cada pessoa ali.

― Quem melhor para ajudar vocês a sair do que eu? ― seu coração batia forte, ela tremia. ― vocês estão sendo ingênuos. Vocês realmente acham que eu sairia daqui e simplesmente manteria em segredo esse pequeno plano de conspiração? ― os olhos negros perceberam a hesitação, o cheiro estava no ar. ― logo eu, que segundo vocês, sou a pessoa que mais representa ameaça. Eu sou uma aliada, não uma inimiga. Eu posso ajudar vocês a sair daqui. Mas eu vou junto.

Adam suspirou e esfregou as têmporas. ― espera lá fora.

Até o momento ela não havia percebido uma porta, mas ela estava ao seu lado esquerdo. Logo foi apressada para o lado de fora e percebeu que havia outros quartos como aquele em que estava construídos ali.

Poderiam ser chamados de casas, mas eram do tamanho de quartos na verdade.

Mas tudo estava muito velho e acabado. Perguntou-se o quão longe estavam da estrada e o porquê daqueles quartos estarem ali.

Havia certa distância dali para a mata densa, então era mais ou menos um lugar aberto. Havia algumas árvores ainda baixas, que indicavam que o lugar já havia sido abandonado há anos.

Respirou fundo olhando para as palmas pálidas de suas mãos.

Ainda tremia.

Pensou em tudo aquilo. Pensou que queria gritar, queria muito. Pensou que cederia à essa vontade. Mas, por mais que sua garganta doesse, suas mãos tremessem, sua cabeça latejasse, se controlou.

Andou um pouco, mesmo com as pernas trêmulas. Respirava fundo, e pensou que era melhor ter um ataque aqui do que em sua casa. Talvez o lugar espaçoso fosse acalmar seu nervosismo mais rapidamente.

Sentia calafrios e gostas de suor frio escorrendo sobre a pele.

― Oh não... ― não entendia como ainda conseguia vomitar. Não havia nada em seu estômago além de suco gástrico.

Mesmo assim vomitou até não conseguir colocar mais nada para fora de seu corpo. Arrastou-se até encostar-se a alguma parede e lá descansou.

Com os olhos fechados começou a se acalmar. Precisava tomar alguma coisa para essas reações, aquilo não era normal.

Riu da própria desgraça em seguida. Quem diria, ela, talvez a menina mais frágil daquela cidade, ali, encostada à uma parede lodosa e sentada na grama com gosto de vômito em sua boca.

Riu mais um pouco. Realmente não tinha sorte. O que estava acontecendo ali? Tudo o que vivera fora uma mentira? Sentia vontade de vomitar novamente.

Seus pais não sabiam? Agarrou-se a essa possibilidade, para em seguida destruí-la por si mesma.

Não era possível que não tivessem nem ideia do que acontecia ali. Eles trabalhavam na diretoria de um laboratório que desenvolvia remédios e algumas coisas do tipo. Eram a elite. É claro que sabiam de algo.

Sua risada aumentou. Quando sentiu as lágrimas escorrerem por sua face, não ria mais, gargalhava.

As contrações da ânsia de vômito eram tão fortes que teve que se manter sobre os joelhos e mãos. E mesmo assim gargalha e chorava. E vomitava.

Quando Adam saiu porta à fora e a olhou, sentiu como se tivesse visto a imagem do desespero.


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Notas finais do capítulo

UWAH! Essa cena final me deu calafrios enquanto escrevia UHEUHEUH
O que acharam? Esse foi o último capítulo da fase "Arcano Zero", na próxima muitas descobertas virão e reviravoltas também *---*
Mal posso esperar para que vocês saibam o que vem por aí :3
Talvez eu demore mais do que quinze dias para postar o próximo, por isso já deixo avisado.
Qualquer erro de ortografia ou mesmo de concordância me avisem via comentário, não tenho beta e alguns erros passam despercebidos T^T
Espero que tenham gostado! Beijos pra Bibs :*
Chu~



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