Arcano escrita por freckles


Capítulo 1
I ― Arcano Zero


Notas iniciais do capítulo

YAAAH! Estou animada *--*
Esse capítulo é somente para ambientar vocês ao universo de Kiara Ohana mostrar sua rotina, assim como alguns personagens. É bem lento, mas não se preocupe, logo, logo a ação irá começar :3
Chu~



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Sob a névoa

Deu um salto na cama, assustada, acuada.

Com a respiração ofegante parecia ter saído de uma corrida, mas quem dera que este fosse o motivo de sua agitação, em verdade era bem mais medonho.

Passou a mão na testa secando o suor e constatando que sua temperatura estava muito alta. Olhou para as sombras do quarto com a respiração suspensa, atrás de algum tipo de anomalia, mas não achara nada.

Respirou fundo, mentalizando seu mantra nos últimos sete anos: era apenas um sonho, era apenas um sonho.

Ela não sabia por que ainda acordava tão assustada, depois de sete anos consecutivos aguentando esses pesadelos ela deveria se acostumar, não?

Isso ainda era uma incógnita, assim como o porquê exatamente de todas as noites ela ter esse mesmo pesadelo. Não que ela se lembrasse do mesmo, ela nunca conseguia se lembrar. Era tão estranho, ela sabia que era assustador, mas nunca se lembrava do conteúdo dos pesadelos que se tornaram seu algoz toda noite.

Raramente não tinha pesadelos, e nestes momentos ela era quase feliz.

Mas era somente um refresco, pois nos dias seguintes eles voltavam a atormentá-la, mais reais, mais vívidos.

Momentos como estes, em que se encolhia contra a parede parecendo um pequeno novelo de lençóis, pensava em fugir para a cama de seu irmão. No entanto, respirou fundo e enxugou as lágrimas.

Tentou pensar em outras coisas, pensou até em ligar para Sora, mas pensou que ela provavelmente estaria cansada de ouvir o seu choramingo e acalmá-la todas as noites.

Memórias de momentos vieram em sua mente, e repetiu para si mesma que aquilo era somente uma fantasia de uma mente infantil extremamente fértil.

Sentia-se protegida enrolada sob os lençóis e acabou dormindo com esse falso sentimento.

*

Abriu os olhos, os fechando logo em seguida. Ardiam como se tivessem jogado sal neles. Tentou se acostumar com a pouca claridade da manhã chuvosa e fria. Levantou-se, sentindo seu corpo estalar pela posição em que dormia. Claro que já havia pesquisado sobre como dormir em uma posição mais normal, mas nenhum método havia funcionado ― até os mais radicais, como amarrar seus pés e mãos na cama.

De fato, seu modo de repousar era um tanto peculiar: dormia de uma forma que parecia uma tartaruga, com o dorso sobre as pernas encolhidas e os braços sobre a cabeça.

Apesar dos pesares, não havia tido pesadelos durante o resto da noite então o seu dia já começaria melhor.

Na verdade não conseguia estar mais animada, ao se lembrar do dia que era e do quanto esse dia significava. Pegou sua toalha e roupão indo direto para o banheiro. Acabou vendo seu irmão parado perto da porta.

― O papai e a mamãe dormiram em casa? ― perguntou com um bocejo, se espreguiçando.

― Não os vi chegarem, mas acho que sim. ― bocejou igualmente. Abriu os olhos azuis e fitou a irmã gêmea. ― me admiro de você acordar tão cedo.

― Mas hoje é o ultimo dia de aula do nosso último ano.

― Exatamente, por isso achei que você nem iria hoje, preguiçosa como é.

Ela lhe cutucou as costelas e ele soltou uma risadinha, puxando o cabelo dela.

A porta do banheiro se abriu e o pai dos dois saiu, enxugando o rosto recém-barbeado.

― Bom dia filhotes. ― os puxou, apertando-os contra seu peito em um abraço, apesar das reclamações. ― preparados para o último dia de aula?

O pai de Kiara era incrivelmente alto e ela desconfiava que as vezes seus cabelos roçavam nos batentes das portas mais baixas. A despeito dele, Kiara não era tão alta, mas era maior que a maior parte das meninas e seu irmão apenas a ganhava por alguns centímetros.

― Por mim eu nem iria, mas temos que fazer nossa colação de grau após e tem o cerimonial também, então... ― Raul resmungou enquanto tentava sair do aperto de seu pai.

― Quanto mim, estou muito ansiosa. ― abraçou o pai, dando uns pulinhos animados.

― Você? Os papéis se trocaram por acaso? ― olhou os dois como se estivesse realmente preocupado.

Bem, geralmente Kiara era a mal humorada faltosa e Raul era o animado com a escola. Ela riu um pouco, e assim fez seu irmão.

― Agora se apressem em escovar esses dentes, por que eu sinto o mau hálito daqui. ― Leônidas levou umas cutucadas nas costelas e riu alto como sempre, chamando a atenção da ruiva que saía do quarto de casal bocejando.

― Vejo que meus amores estão animados hoje. ― abriu um sorriso, observando os três bocejarem. Chegou perto deles e os abraçou, ficando com a cabeça entre as cabeças de seus dois filhos e apoiando sua testa no peito do marido. ― eu estou muito orgulhosa de vocês dois.

Apesar do esforço, os braços curtos da mulher não conseguiram abraçar por completo os filhos. Os dois a abraçaram e ficaram assim por um tempo.

― Agora vamos pimpolhos, vocês precisam ir para aula e eu não aceitarei atrasos nem no seu último dia de aula.

Os dois riram com o apelido estranho que a mãe lhes dera e em seguida brigaram por quem iria usar o banheiro primeiro, acabando no triunfo de Kiara.

Arrumou-se rapidamente, trançando os cabelos para o lado em um penteado desgrenhado.

A hora do café da manhã era a preferida de Kiara, principalmente quando seus pais estavam em casa. Todos conversavam, e ela se sentia tão bem ali. A chuva havia ido embora e os primeiros raios de sol iluminavam a mesa do café bem servida.

Apesar da animação matinal, ela não estava muito animada para a pós-festa. Ela nunca fora muito de festas, não que ela fosse antissocial ou algo do gênero, apenas não gostava de ir para um lugar com um monte de adolescentes.

Bom, talvez ela fosse um pouco antissocial para a sua idade.

Após o café foi pegar suas coisas e seguiu em direção da sala de estar. Quando chegou à mesma observou sua família. De todos, ela era a mais diferente. Lara tinha olhos azuis e cabelos cobres, Leônidas tinha cabelos negros e olhos verdes, o seu irmão gêmeo não idêntico nasceu com os mesmos cabelos do pai e olhos azuis da mãe e ela tinha os cabelos cor de areia e olhos extremamente negros.

A disseram que era por que algum parente da família tinha tais carcterísticas.

― Bem, vou deixar vocês na escola. ― Leônidas se levantou e se encaminhou para a porta após dar um beijo na testa de sua mulher, seguido por seus dois filhos.

Quando eles chegaram à escola ela colocou seus fones de ouvido saindo do carro com seu irmão.

Cada um foi para o seu canto e Kiara viu Sora ao longe, conversando com um garoto. Pensou se deveria interromper ou não, mas resolveu se encostar a mureta de baixo de algumas árvores e esperar eles terminarem de conversar, afinal o garoto era o tal Eric de quem ela estava esperando o convite à séculos.

Ela os observou se longe e riu quando Eric se ajoelhou desajeitado e pegou a mão dela em suas mãos.

Sentiu um vento forte jogar seus cabelos para frente de seu rosto e levar as folhas amarelas e pequenas da árvore. Passou a mão nos cabelos tentou prendê-los em um coque.

― Hey! ― ouviu um chamado e olhou desajeitada para a pessoa enquanto prendia o cabelo.

Sentiu seu coração falhar uma batida ao olhar para ele. Kieran era um rapaz branco de porte elegante e cabelos encaracolados.

― Hey. ― sorriu nervosa. “Pelos Deuses, me diz que vai acontecer o que eu quero que aconteça.”

Ele sorriu, mostrando suas pequenas covinhas. Ela o observou enfiar as mãos nos bolsos de sua calça jeans.

Silêncio.

― Então, ― pigarreou. ― você já tem companhia para amanhã à noite?

Ela contou até três em sua mente, tentando controlar as borboletas em sua barriga. ― na verdade não.

Na verdade já haviam lhe feito vários convites, mas havia recusado todos somente à espera deste momento.

A relação entre Kiara e Kieran não poderia ser mais doce e profunda: se conheciam desde a infância, ele sempre fora o príncipe e ela a princesa em todas as brincadeiras, brincavam de casinha juntos e ele sempre a protegera dos outros meninos.

Já na adolescência as coisas se estremeceram entre eles: Kieran havia começado a namorar e havia se afastado daquela que era a sua melhor amiga, sua número um no mundo todo; mas alguns meses antes do final do ensino médio ele terminou com sua namorada e se reaproximou de Kiara.

Não que eles tivessem avançado muito no quesito amor, ainda havia aquela essência platônica de amor, pois os dois não passavam da troca de olhares e sorrisos, o máximo que chegaram foi um andar de mãos dadas pelo parque próximo à suas residências ― que por sinal eram ao lado uma da outra.

E agora um convite para o baile de formatura.

Ele pigarreou mais uma vez e estreitou os braços ao dorso. ― então, você quer ir ao baile comigo? ― os olhos negros dos dois se encontraram e se derreteram entre si.

Ela não sentiu o sorriso se espalhar pelo seu rosto quando respondeu sim.

Ela também não imaginara o a cena que viria a seguir.

Ele se aproximou dela lentamente e segurou seu rosto entre as mãos delicadamente, como se tivesse medo que se quebrasse a qualquer momento. Os lábios macios e quentinhos encontraram a testa da menina, que fechou os olhos e sentiu como se as asas de uma borboleta estivessem roçando em sua pele.

E como se seu coração fosse sair dançando salsa por aí.

Os ventos de outono mais uma vez sopraram e ele a abraçou rindo e fugindo das folhas das árvores, assim como ela.

Os risos não eram somente por este motivo, entretanto.

Eram alegrias de contentamento e de amor.

― Então lhe verei amanhã, minha princesa. ― ele murmurou com um leve sorriso, encostando seu nariz no topo da cabeça de Kiara.

― Esperarei por ti, meu príncipe. ― Rodeou-o com os braços, fechando os olhos.

Mais um beijo, este no local onde antes encostara o nariz. Se afastou, olhando nos olhos dela e lhe dando um sorriso brilhante.

Virou de costas e ela lhe observou andar com elegância. Ele nunca deixara de usar aquelas camisetas polo e as calças jeans.

― Hey! ― ela se surpreendeu com ele virando e gritando.

― O que? ― ela respondeu um tanto envergonhada com os olhares das pessoas.

― Eu te amo!

Sentiu que poderia morrer feliz naquele momento, não precisava de mais nada. E pensou que realmente morreria com a vergonha que tomou conta de seu corpo. Ela abaixou o rosto, tentando esconder o rubor típico que surgia.

― Idiota. ― murmurou ouvindo a risada encantadora ao longe e rindo junto.

― Eu preciso dizer que vocês são fofos? ― ouviu a voz da amiga e riu, levantando o rosto e com as costas das mãos cobrindo a região avermelhada.

― Não.

― Mas vocês são tão fofos! ― ela deu uns pulinhos de alegria.

― Mas duvido que essa alegria seja por esse motivo. ― arqueou uma sobrancelha.

Sora riu um tanto constrangida. ― ele foi um fofo.

― Eu vi, ele se ajoelhou e tudo.

Com mais algumas risadinhas e comentários cumplices entraram para a escola.

Assistiram a uma última aula com seu professor conselheiro, e na verdade nem fora uma aula, estava mais para uma confraternização entre alunos. Quando eles foram chamados para o auditório do colégio ela sentiu vontade de chorar. E segurou as lágrimas, enquanto colocava a beca e o quepe.

Sentiria tanto a falta daquele colégio, daqueles rostos. Sentiria falta de jogar basquete com os amigos, sentiria falta de sentar sob as árvores no outono e ler ou conversar.

Chegou ao auditório da escola, encontrando seus pais sentados na segunda fila do lado esquerdo e sorrindo para ela e seu irmão.

Com esses pensamentos em mente, ela continuou em frente e continuou em pé, ouvindo as palavras de Sora, que era a oradora dos formandos.

Olhou ao seu redor e pensou que sentiria falta das palestras que eram dadas ali, sejam elas sobre estatísticas de emprego ou sobre o festival anual do fundador.

E sorrindo junto com Sora, derramando lágrimas junto com Sora, ouviu as últimas palavras de seu discurso motivador e cheio de despedidas. E foi a primeira a bater palmas para sua amiga.

Em seguida vieram as congratulações do diretor e mais uma salva de palmas.

E ele foi chamando os alunos para receberem seus diplomas, por turma e em seguida por ordem alfabética segundo o primeiro nome. Kiara era da turma um, então não demorou muito para ser chamada.

Sentiu tudo ao redor de si como um vulto, naquele momento ela sentia o orgulho de si mesma a enchendo, as expectativas para o próximo passo, para um futuro que tanto esperou.

Subiu os degraus com um sorriso no rosto, um verdadeiro e brilhante sorriso. O diretor retribuiu o sorriso, dando-lhe os parabéns e lhe desejando o futuro brilhante que sabia que ela teria.

Ela agradeceu e desceu com o diploma nas mãos e o sorriso no rosto.

Quando um abraço apertado lhe foi dado, sua primeira reação foi cambalear para trás de olhos arregalados.

Em seguida o cheiro de almíscar e sândalo lhe encheu os sentidos e ela apenas sorriu mais ainda, sentindo os olhos molhados e a garganta apertada.

Os assovios e gritos estavam ao fundo, a alegria de misturava com a vergonha de ter toda a escola e os pais de alunos observando o feito dele.

― Agora é a minha vez.

Ele a soltou e correu para o palco do auditório, tomando o seu diploma das mãos do diretor e lhe abraçando para a surpresa e o divertimento de todos.

O diretor de início o olhou com uma carranca, mas em seguida lhe sorriu e apertou o ombro do seu melhor aluno. Kieran lhe devolveu o sorriso e se virou para a plateia levantando seu diploma como um troféu.

Kiara riu e lhe aplaudiu, assim como vários outros.

Ele desceu do palco recebendo congratulações por todos os lados, o querido e animado príncipe Kieran.

Eles tiveram que esperar até o fim da cerimônia, só então foram liberados. Ela correu juntamente com seu gêmeo para seus pais.

Eles receberam os dois com um forte abraço e lágrimas nos olhos.

― Nós estamos muito orgulhosos de vocês dois, muito mesmo. ― o pai murmurou, apertando sua família em seus braços.

Os dois agradeceram, e quando se soltaram os sorrisos eram emocionados.

Enquanto caminhava para o carro, por um momento ela desviou o olhar da cena pintada de cores e observou uma arvore já sem folhas ao longe.

Era marrom, seca e... Assustadora.

No meio de tantas outras árvores amareladas pelo outono, lá estava ela se impondo estéril.

Sua respiração se tornou falha quando viu um vulto negro no galho da árvore.

A imagem era com certeza perturbadora, ela apenas não conseguia dizer o porquê. Ouviu o grasnar do corvo como se ele estivesse ao seu lado. E como se ele soubesse que o estava fitando ele abriu as asas de piche, como um convite. E em seguida mais um crocitar, como um alerta. Por fim um alçar voo, como um presságio.

― Filha?

Se virou para o seu pai ainda com o coração batendo forte.

― Sim?

― Vamos? Você está viajando aí. ― ele riu.

Ela soltou um riso tão falso que nem acreditou que fora ela mesma. A imagem se repetia em sua mente, várias e várias vezes, lentamente. A árvore seca, as asas negras, o crocitar rouco, o voo em direção aos céus. E mais uma vez ― árvore, asas, crocitar, voo. E ainda quando entrara no carro não conseguira parar de tremer.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso pessoas! Espero que tenha apreciado, apesar de ser uma fanfic lenta no seu primeiro capítulo, a ação logo virá, junto com toda a carga emocional T^T
Qualquer dúvida ou recomendação para que eu possa melhor escrever, deixe um comentário que eu o responderei!
Obrigada pela sua atenção, chu~



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