Apenas horas depois de Clary ter desmaiada, recobrou a consciência. Estava deitada em uma cama de casal , em um quarto suntuoso. Levantou-se da cama e encaminhou-se para fora do quarto . Percebeu que já era noite; os corredores estavam vazios e velas iluminavam os caminhos que as pareces levavam a pessoa a seguir. Andou pelo corredor e chegou à uma imensa sala de estar. Maravilhou-se , então com a decoração, rica em detalhes e cuidadosamente cuidada e colocada. Na parede havia uma lareira e um pouco acima desta havia uma foto do rei e da rainha de mãos dadas. Aquilo a acordou para a vida : estava no palácio do rei Robert, aquele que queria a cabeça dela e a do irmão em bandejas. Soltou uma exclamação de surpresa sem querer e impetuosamente deu um passo para trás , trombando em alguém.

Simon vinha vindo pelo mesmo corredor para falar com a ruiva. A ansiedade era tamanha que o cegava e ele acabou não vendo quando Clary deu um passo para trás e eles acabaram se batendo.

– O que foi , Clary? - perguntou e Clary conseguiu reconhecer a voz de Simon .

– Simon? É você? Por que está aqui?

– Uma pergunta de cada vez. E você ainda não respondeu a minha.

– Havia me esquecido que estava aqui, no palácio do Robert. Pronto respondi agora responda as minhas.

– Vamos nos sentar, por favor?- ela assentiu e eles sentaram um de frente pro outro, com Clary de costas para a foto.- Bom , eu sou um vampiro ameaçado e isso não é novidade para você. Então Isabelle implorou para o rei e para a rainha para que me protegessem , trazendo-me para o palácio.E , bom, estou aqui , preso , mas estou.- os dois riram.

– Não sei mais o que fazer. Toda vez que eu e Jonathan tentamos nos afastar mais somos ligados por eles. Isso me dá nos nervos . Não gosto de estar próxima a eles Simon. Mesmo que eu e Jonathan estivéssemos mentindo , passamos aquele tempo juntos e isso foi bom para mim. Eu tinha conseguido meu primeiro amigo e também acabei perdendo-o.

– Clary? Perdoei vocês há muito tempo. Queria ter dito isso para vocês no dia em que a família real partiu mas vocês não voltavam nunca. Quero que saiba que você e Jonathan podem contar comigo para tudo.

Clary abraçou-o. Era bom contar com mais uma pessoa , além de seu irmão.

– Você pode contar comigo para tudo e mais um pouco Simon. Desculpe por ter mentido , mas não sabia se você aceitaria nossa identidade como você vem aceitando .

– Não tenho nada para desculpar cenourinha. - e riram . Depois de mais uma rodada de risadas foram para seus quartos. Quer dizer, Simon foi para o seu pois Clary foi para o do irmão. Abriu a porta silenciosamente e viu que o irmão dormia tranquilamente , em um sono pesado. Cogitou acordá-lo mas descartou essa possibilidade quase no mesmo momento. Sentou-se em uma poltrona e puxou suas pernas , abraçando-as. Olhou a decoração do quarto e reparou que era igual a do que ela dormia a poucos minutos.

Não conseguia pegar no sono e isso a fez divagar por diversos pontos daquele dia incomum. O aparecimento de Max na casa de Magnus, a ida ao palácio real, o ataque dos demônios e a bagunça que eles deixaram , o caos e a turbulência que Idris passara em um dia que teria que ter sido especial. A quase morte de Jace a fez refletir o valor de cada um para o outro. Jace era um irmão para Alec, Max e Isabelle. Aos olhos de todos os Lightwood era da própria família. A maneira de sua quase morte foi refletida nos sentimentos dos outros deixava claro que todos ali tinham uma fraqueza. Ou será um dom? Fosse o que fosse o amor poderia fazê-los ruir de tanta tristeza ou reluzir de tanta alegria. Clary sabia que também já amara assim as pessoas da sua vida. E ainda amava . Seu pai e sua mãe haviam sido os mais importantes pilares da sua vida. Ocupavam um espaço em seu coração infinito e a perda deles foi como se tivesse perdido o próprio coração. Aquilo a fez adotar um semblante frio e distante, como se tivesse uma pedra no lugar do coração. Nunca havia pensado muito no amor , pois acreditava que já o havia perdido há muito tempo. Pensou na importância do irmão na sua vida. Desesperou-se. Ela amava Jonathan. E se o perdesse? Afastou esse pensamento logo.

Foi para o seu quarto silenciosamente. Adormeceu logo , sem sonhos. Foi acordada pelo irmão , que fez uma série de perguntas sobre o seu estado. Segundo ele, tinhas de almoçar naquela hora. Sua barriga roncou em aprovação. Eles riram.

No caminho ela contou que Simon havia conversado com ela mais cedo e falou que eles já tinha os perdoado. Ele pareceu já saber disso e Clary ficou desconfiada. Chegando lá viram todos na mesa. Até Simon estava lá. O falatório se desfez assim que chegaram e Clary teve de admitir que se sentiu envergonhada. Eles sentaram-se um de frente pro outro. Cary sentou-se ao lado de Izzy e Jonathan de Simon. Eles comeram em silêncio sob os olhares constantes dos outros. Eles comeram rapidamente pois os dois não gostavam de ser o alvo das atenções.

– Clary , Jonathan?- Maryse chamou quando os dois quase estavam fora da sala.

– Sim?- Jonathan disse, virando-se , assim como a irmã.

– Eu e Robert queremos falar com vocês após o almoço. Tudo bem ?

– Falem agora.- Clary discordou.

– OK , então. Clary , Jonathan temos que pedir uma coisa a vocês. Sei que existem problemas entre nossas famílias mas Idris pode estar perdida para sempre. Nos entendem? Se vocês não nos ajudarem é possível que ninguém saia dessa.Os garotos e Robert já não sabem o que fazer. Nem um plano vem a mente para auxiliar . Nada. Nossos exércitos já estão pequenos por conta do massacre que ocorreu aqui ontem. Nós estamos temerosos pelo que pode vir a acontecer aqui se mais um ataque desse se repetir repentinamente. Nós sabemos da força , agilidade , precisão e disciplina de vocês . Do contrário não estariam aqui. - sorriu para eles.- Vocês estão a altura deles, talvez até melhores e podem detê-los.

– Vocês querem que nos ensinemos e treinemos os exércitos para a guerra? - Jonathan confirmou. Maryse assentiu , esperançosa. Todos na mesa pararam para olhar.

– Mas , me responda, por que ajudaríamos vocês? Me digam. - Clary falou.

Todos ficaram em silêncio. Maryse arquitetava uma resposta.

– Pense em todas as crianças, famílias e pessoas que podem morrer na mão deles. Pensem nisso.

– Posso pensar nos meus pais , que morreram na mão de vocês .

– Vocês são cidadãos de Idris. Têm a obrigação de ajudar-nos. - Robert falou. Clary riu-se.

– Desde quando? Minha família inteira não foi banida daqui? Pelo que me lembro foi exatamente isso que aconteceu.

– Que futuro pessoas inocentes teriam?

– Que futuro nós - apontou para ela e Jonathan - teríamos se vocês não precisassem da nossa ajuda?

Todos caíram em um silêncio perturbador e opressor. Aquele era o peso da grande verdade que ela soltara. Eles deram meia volta e estavam saindo quando ouviram Tessa dizer :

– Pensem no que seus pais fariam nessa situação.