Cambaleei até minha moto, que estava jogada em qualquer canto do asfalto. Eu ainda sentia a dor do soco que levei, e também sentia o gosto amargo do sangue misturado ao álcool em minha boca. Eu precisava sair dali, e estava sendo difícil fazer isso, depois de beber todas e não enxergar direito um palmo diante do nariz e também não conseguir andar sem tropeçar nos próprios pés. Meus músculos estavam dormentes, meus olhos giravam e minha cabeça doía. Tudo era leve e pesado ao mesmo tempo. Eu estava entorpecido.

Quando finalmente consegui levantar minha moto, acelerei o veículo o máximo que eu pude fugir de toda aquela gente que agora queria me matar. Talvez agora eles estejam chamando a polícia, e com razão. Mas agora não importa. Nada mais importa.

–Sasuke!

Todo meu corpo estremeceu ao ouvir a voz de Sakura. Tentei resistir a vontade de olhar para trás, mas foi inevitável. Sua aparência estava decadente. O rosto vermelho e inchado, a maquiagem borrada, o vestido sujo e rasgado. Por um momento pude sentir pena dela. Me senti culpado. Destruí qualquer chance que ela ainda tinha de ser feliz.

Mas ela mereceu. Ela me deixou. Sakura me trocou por Naruto. Nada mais justo deixá-la agora, desmascarar as mentiras dela para seu noivinhoe mostrar que eu não fui pior do que ela foi.

Ela mereceu. Ela me deixou para trás. E agora é minha vez de deixá-la para trás também.

Minha visão estava turva. Não conseguia enxergar a diferença entre uma bicicleta e uma moto, um carro e um caminhão, ou até um pedestre e um trem. Não conseguia organizar meus pensamentos, minhas lembranças. Destruí uma festa, amizades, famílias e levei uma porrada na cara do meu melhor amigo - que agora é meu ex-amigo, aliás, agora eu tenho uma coleção de ex-amigos -além dos vários xingamentos que recebi. Foi ciúmes, inveja, orgulho ou muita bebida? Eu invadi a residência da família Uzumaki e fiz aquele estrago na vida daquelas pessoas que um dia tinham algum respeito por mim, que um dia me acolheram quando eu não tinha ninguém.

O pior de tudo é saber que além de estragar a vida dos outros, eu estraguei minha própria vida. Mas não há tempo para arrependimentos. Eu acabei com tudo. Eu destruí e fui destruído. Eu não preciso do perdão de ninguém. Eu só preciso da minha moto, minha herança, minhas drogas, minhas bebidas e meu orgulho.

Mas e agora, para onde irei?

Acelerei mais um pouco e fechei os olhos. O meu destino agora era incerto. Não sabia o que eu iria fazer agora. Eu só quero esquecer e ser esquecido. Queria uma borracha que apagasse toda minha vida, tudo o que eu fui e um dia serei.

Eu queria simplesmente apagar.

Um som fez meus ouvidos doerem. Abri meus olhos e uma luz quase me cegou. Era um caminhão. Preciso frear, mas os freios não funcionam. O que está acontecendo? O que há de errado com a porcaria dessa moto? Desviei do veículo enorme e minha moto voou para fora da pista.

Meu corpo parecia flutuar por um momento, até que sentir minha pele queimar e rasgar na terra. Tudo girava, tudo doía. Eu estava apagando. Eu estava sendo consumido.

E aí a dor parou. A escuridão me engoliu. A vida se esvaia do meu corpo. O ar faltou. Naquele momento eu tinha certeza que estava quebrando, derretendo, apagando.

Apagando...