Você era inculpável em seus caminhos

desde o dia em que foi criado

até que se achou maldade em você

Ezequiel 28:15

Um feixe de luz invadiu o quarto e despertou Luke, que relutantemente abriu os olhos. A franja, cobrindo parcialmente seu rosto, não o impedia de ver toda a bagunça que decorava o lugar. Garrafas, roupas, bichos de pelúcia, entre outros objetos compunham uma caótica e familiar paisagem. Ao levantar um pouco seu rosto, conseguiu perceber a razão de ter adormecido no chão. Vestida apenas com o cobertor, uma garota de bruços ocupava toda a cama. "Um verdadeiro caçador nunca descansa", pensou.

Meio desperto, repousou novamente a cabeça. Ninguém gostava mais de tudo aquilo que ele. O maior prazer da vida era simplesmente e ver que tudo passaria e ele, inevitavelmente, conseguiria sobreviver. Aquela mistura de hedonismo com autodestruição se repetia dia após dia. Relembrando o máximo de boas memórias que cultivava, fechou novamente os olhos e sorriu.

– Ei, gatinho, fiz seu café da manhã! Quer dizer, tentei fazer né?! Eu esquentei uma pizza que tava na geladeira e peguei um vinho...foi o mais parecido com um suco que eu achei.

Luke, enfrentando novamente o sono, tentava processar aquela imagem. Amy, agora acordada, estava em sua frente segurando uma bandeja, planejada com o máximo de capricho que podia oferecer. Seu cabelo curto e negro contornava perfeitamente o rosto fino, escondendo a testa e as orelhas. Os lábios vermelhos, que estavam sempre acompanhados de um sorriso, pareciam ainda mais destacados por sua pele branca.

– Ei, não precisava trazer nada, só sua beleza, sua maior riqueza... - Disse o garoto, com o melhor dos elogios que sua sonolenta condição permitia.

– Vai comer alguma coisa ou vai ficar só me encarando o dia todo?!

– Não posso evitar, Amy, e é ainda mais difícil com você sem roupas...

– Hum, engraçadinho, eu sei que você gosta do meu corpo. Eu também gosto! Mas você tem que comer alguma coisa, deve estar com fome.

Após deixar a bandeja na frente de Luke, ela o expulsou do quarto e foi procurar algumas roupas. Nem mesmo seu desejo de desfilar confiantemente aguentava o frio da manhã. O silêncio continuou por alguns minutos, interrompido eventualmente por barulhos aleatórios de roupas sendo arremessadas.

Um rangido estridente tomou o local e ela saiu, agora vestida. Fez um breve contato visual com o menino loiro, que já tinha terminado de comer e agora repousava, jogado no sofá velho da sala.

–Luke, por que meus peitos tão cheirando à Chantily e tinha uma bandana do Naruto amarrada na minha perna?

– Não faça perguntas que você já sabe a resposta, gatinha. - Disse Luke, por entre um sorriso maroto. - Você fica linda usando essa minha camisa...

– Eu queria usar as MINHAS roupas, mas por alguma razão você tacou fogo nelas...

– Não era isso que você queria dizer com “Me dá esse fogo, garotão!” ?

– Esquece, engraçadinho. Eu vou passar rápido em casa pra terminar de me arrumar pra escola... Quer que eu venha aqui, na sua casa, depois da aula de novo? - Perguntou Amy, esperando que seu convite fosse irrecusável.

– Então...é que hoje a noite eu ia chamar os rapazes pra vir aqui, sabe, farrear muitas coisas loucas. - Respondeu o garoto, desviando o olhar, pois sabia o quanto era difícil dizer não para aqueles olhos marrons e sensuais.

Ela se aproximou, o abraçou e deu um descontente beijo.

– Humph...não sabe o que está perdendo!

Luke apenas observou enquanto ela ia embora, optando por não dizer nada. Antes de entrar no banho, resolveu contemplar mais uma vez o sol que adentrava pelo quarto.

– Esse dia vai ser louco! - Pensou em voz alta.