A Neverland Tale escrita por Danica Valdez


Capítulo 3
Descobertas


Notas iniciais do capítulo

Hey! Vocês sabem aquele ditado ´´ Ano novo, fic nova``, só que não hahahaha. Eu queria desejar um feliz 2015 e recomendar para as leitoras e leitores antigos, para que leiam os capítulos anteriores (que são poucos). Eu mudei umas coisinhas, nada muito diferente. Ou talvez...algumas coisas diferentes...
Notas finais, se quiser saber mais...



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– Uma sombra? – perguntei com certa incredulidade.

– Eu sei que soa estranho – disse Kole se levantando rapidamente da poltrona - , mas você tem que acreditar em mim!

Encarei Kole pensativa. Ele não parecia o tipo de pessoa que inventaria uma história tão elaborada como aquela só para me enganar. Ele estava falando a verdade.

– Tirando o relato da cozinheira, o que sabemos sobre essa sombra?

– Bom...nada – ele disse passando a mão pelos cabelos.

– Eu acredito em você, Kole. – ele relaxou os ombros demonstrando estar aliviado – Mas, creio que precisaremos de mais informações sobre essa tal sombra se quisermos encontrar seu irmão.

– Tem razão – concordou .

– Felizmente, conheço alguém que pode nos ajudar com isso.

– Quem? – Kole perguntou apreensivo, acho que ele não tinha a intenção de envolver mais pessoas do que o necessário nessa história.

– Simão, o responsável pela biblioteca real e também um grande amigo meu. – respondi – Ele é a pessoa mais inteligente e vivida que conheço.

– Sinto que posso confiar em você – Kole disse fazendo uma reverência - , para ser sincero fiquei com muito medo de que você me mandasse embora do castelo. Ou pior.

Franzi a testa sem entender, Kole se sentiu obrigado a explicar:

– Os membros da realeza tendem a tratar os criados como insetos, quando eles os incomodam, simplesmente pisam neles – ele disse com o semblante sério.

Procurei uma resposta para aquela afirmação, mas felizmente não precisei compartilha-lá. Ouvi passos vindo do corredor, deveria ser o guarda que me supervisionaria. Estava na hora de Kole ir embora.

– Me encontre hoje na entrada da biblioteca após o jantar.

– Certo – ele acenou com a cabeça em um sinal positivo – Obrigado, Adellah.

– De nada, agora vá – disse empurrando-o amigavelmente até a porta.

Alguns minutos após Kole ir embora, ouvi batidas na porta e gritei para que entrasse, o guarda entrou e fez uma reverência seguida por um ´´Majestade``. Ele olhou em volta e perguntou:

– Majestade, onde está?

– Onde está o que? – perguntei fingindo não compreender.

– A lista de convidados do baile de amanhã, onde está? – ele insistiu.

– Oh, não! – cobri minha boca com uma das mãos fingindo espanto - Acho que a perdi.

– Que bom que a Rainha Odette me entregou uma, caso algo tivesse acontecido com a que ela lhe entregou – ele disse sorrindo.

...

– Você parece exausta, Majestade – uma das criadas me disse enquanto colocava meu vestido de baile novo no manequim do quarto.

Assenti com a cabeça e a dispensei. Ela estava certa, certíssima. Passei praticamente o dia inteiro decorando os nomes junto ao guarda, no começo eu lia sozinha, mas uma hora depois ele desconfiou que eu estivesse enrolando ao invés de fazer o que tinha que fazer. Pediu educadamente para que eu lesse em voz alta. No fim, acho que ele decorou mais nomes que eu.

Desci para a sala de jantar e encontrei minha mãe sentada na cabeceira tomando uma taça de vinho, como seu prato estava vazio, imaginei que estivesse me esperando. Me sentei silenciosamente, recusando a ajuda do criado que normalmente empurrava minha cadeira nas refeições. Minha mãe olhou para mim e sorriu, não sorri de volta. Comecei a me servir, ignorando sua presença.

– Deixem-nos a sós. – minha mãe ordenou. Os criados foram saindo, sem se importar se percebíamos que estavam cochichando ou nos olhando curiosos.

– Eu menti quando disse que eu e o conselho tínhamos chegado juntos a ideia de você se casar e assumir o trono – ela disse sem hesitar - , eu fui pressionada e sinto muito.

– Sente muito?! – descarreguei minha raiva com um grito – Entendo que você tenha sido pressionada, afinal, o conselho exerce forte influência nas decisões e odeia ser contrariado. Mas, negociar a minha vida amorosa...

– Adellah... – ela tentou retrucar, mas logo foi interrompida por mim.

– ...,papai nunca aceitaria isso da forma que você aceitou.

A frase ficou suspensa no ar, nenhuma de nós disse nada por um longo tempo. Minha mãe me observava petrificada, até eu reconheci que talvez tivesse ido longe demais. Mas, não me importava se a tinha magoado, ela era a única pessoa errada ali. Eu só estava lutando pela minha felicidade.

Ela se levantou rapidamente e foi em direção até a porta, se virou e dessa vez não encontrei um sorriso triste em sua face, mas sim lágrimas que escorriam pelas suas bochechas. Ela disse:

– Seu pai está morto.

E saiu, me deixando sozinha e atormentada por meus próprios pensamentos.

...

– Está tudo bem? Você se atrasou um pouco, Majestade – disse Kole simpático.

– Me senti um pouco indisposta, desculpe o atraso – respondi desanimada – Vamos, entrar?

Kole assentiu com a cabeça e entramos. A biblioteca real era o paraíso de qualquer leitor, as estantes alcançavam o teto e era preciso uma escada bem grande para chegar a última prateleira. De acordo com o último inventário, a biblioteca tinha mais de dois mil livros.

– Adellah? – uma voz calma e suave chamou.

Era Simão, ele se encontrava sentado em sua mesa na companhia de vários livros abertos e uma xícara de chá. Levantou-se e veio em nossa direção, sem pressa alguma.

– Você não costuma vir á essa hora – disse desviando seu olhar para Kole - , muito menos acompanhada.

– Me chamo Kole, a Princesa Adellah está me ajudando com um problema – disse olhando em volta - , viemos falar com Simão.

Simão riu e estendeu a mão para Kole.

– É um prazer conhecê-lo.

– Ah... – Kole apertou sua mão, sem graça – Desculpe, pensei que fosse encontrar um senhor de idade aqui.

Era difícil acreditar que Simão era um sábio, ele era de fato muito jovem para ser um. Era alto, tinha ombros largos e cabelos negros que contrastavam com sua pele pálida, além de não passar de vinte e cinco anos.

– Não o culpo, muitos já pensaram da mesma forma – Simão disse gentilmente – Enfim, por que estavam me procurando?

Kole contou a história toda sem titubear. Simão escutou tudo, sempre atento aos detalhes e silencioso.

– Acho que posso te ajudar – Simão fez sinal para que o seguíssemos.

Fomos em direção ao fundo da biblioteca. Simão tateou a parede por um tempo, até que quando tocou em um ponto, uma passagem se abriu revelando uma escada.

– Nós vamos descer para uma região restrita da biblioteca, poucos foram os que tiveram o privilégio de conhecê-la – disse Simão com o semblante sério – Mas todos guardaram segredo da sua existência, e eu espero que façam o mesmo.

Concordamos e descemos juntos. Estava escuro, mas a medida que descíamos parecia que o ambiente ia ficando iluminado. Quando chegamos encontramos uma pequena sala, com uma única estante de livros gastos e cheios de poeira.

Simão se aproximou da estante e pegou um livro grosso, na capa estava escrito ´´ Terras mágicas, volume quarenta e seis``. Ele começou a folheá-lo, cada página que passava ele lia atentamente. Nunca ia conseguir fazer uma leitura dinâmica como aquela. Em pouco mais de dez minutos ele pareceu encontrar algo.

– Achei! – anunciou animado.

– O quê? – perguntei me aproximando.

– Ah, ah, ah! – disse Simão erguendo o livro para cima, tirando proveito da minha baixa estatura.

– Ninguém pode tocar nesses livros além de mim – disse Simão. Cruzei os braços e voltei para o lado de Kole, que tentava conter um sorriso.

– Creio que sei onde seu irmão está, Kole – disse virando o livro para que pudéssemos ver – Neverland.

– Neverland? – Kole repetiu.

– Uma terra mágica, este livro está um pouco desatualizado pelo que vejo. Mas, mesmo assim ainda tem muitas informações úteis – murmurou mais para si mesmo do que para nós.

– Simão? – o chamei de volta a realidade.

– Certo, desculpe... Esse lugar Neverland, é uma terra mágica, lar de seres inacreditáveis e amargos. É o verdadeiro exemplo de que as aparências enganam. Antigamente era um local onde crianças visitavam durante os sonhos, nele elas eram capazes de fazer qualquer coisa que quisessem. Mas tudo mudou, depois que um jovem passou a morar lá.

– Quem? – perguntei.

– Peter Pan – disse Simão com um tom soturno – , após a sua chegada, Neverland passou a ser lar de garotos jovens e desafortunados. Órfãos, vítimas de agressão, ladrões por falta de opção...

– O que te faz pensar que Félix está neste lugar? – perguntou Kole com voz tensa.

– Você disse que ele foi levado por uma sombra, por coincidência ou não... O encarregado de trazer os garotos é uma sombra, controlada por Pan – Simão esclareceu – Agora, me diga...Seu irmão, Félix, ele era infeliz?

Kole desviou o olhar de Simão por alguns segundos e respondeu:

– Talvez – suspirou.

– Preciso de uma resposta mais clara. Conte mais sobre a vida dele. – Simão se virou e colocou o livro no lugar.

– Félix e eu não somos irmãos...de sangue – revelou Kole – ,mas eu o considero como um. Meu pai o trouxe para dentro de casa quando ele tinha uns nove anos, antes ele era só mais um órfão que desafiava a própria sorte vivendo na rua. Viemos de uma família de humildes sapateiros, meu pai ensinou tudo que sabia para nós, mas Félix era ambicioso. Ele queria mais, muito mais. Três anos atrás, me convenceu a fazer teste para a integrar a guarda do castelo, para que papai deixasse que ele participasse. E eu aceitei.

– O que aconteceu depois? – perguntei tentando dar força para que ele continuasse.

– Eu passei e ele não – Kole colocou a mão nos bolsos e baixou o olhar para seus pés - , trabalhou na cozinha desde então.

– Acho que sabemos o paradeiro de seu irmão – falei colocando a mão em seu ombro, numa tentativa de dar apoio.

– Obrigado, Simão. – disse Kole – Princesa Adellah, sou muito agradecido a você também.

Dito isso ele se virou e começou a subir as escadas.

– Kole! – gritei.

– Sim? – ele virou de lado e perguntou.

– Amanhã você vai ser meu guarda particular durante o baile – declarei.

– Sim, Majestade – ele sorriu e se despediu com um aceno de cabeça antes de subir.

Após Kole sumir de vista, virei para falar com Simão que se encontrava encostado a parede e tinha um sorriso malicioso no rosto.

– Guarda particular é?

– Seu bobo, conheci Kole hoje – disse corando - , eu não tenho interesse nele dessa forma. E você não ficou sabendo?

– Sobre o seu casamento? – levantou uma sobrancelha – Duvido que exista alguém neste castelo que não saiba ainda, querida.

– Pelo visto eu fui a última a saber mesmo – bufei.

Simão descolou da parede e fez sinal para que subíssemos. Após ele fechar a passagem secreta me disse:

– Eu vou estar lá no baile amanhã, para dar apoio moral e talvez para dar umas surras em alguns príncipes açanhados.

– Não vou te impedir se fizer isso – levantei os braços rindo junto a ele – Boa noite, Simão.

– Boa noite, Adellah.

Deixei a biblioteca e voltei para o meu quarto. Tranquei a porta e escondi a chave na gaveta da cômoda. Peguei uma fita longa e amarrei uma ponta no pé da cama e a outra no meu pé, duvido que vou sair perambulando por aí hoje.


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Notas finais do capítulo

´´Adellah, noiva?`` ´´ Quem é esse Simão?`` Eu sei, eu sei. Talvez eu tenha mudado umas coisinhas hehehe. Mas você vai ver que ao longo da fic vai tudo se encaixar feito quebra-cabeça ( comparação boa esta). Espero que tenham gostado :) Comentem o que acharam :)



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