Acordo de manhã e ainda estou preso no meu sonho!

Era o dia da decisão final, o dia em que enfrento a minha escolha. É estranho dizer isto: “Enfrentar a minha escolha!”. Deveria ser uma coisa boa. É a minha decisão, é exatamente aquilo que eu quiser que seja. Então de que é que eu tenho medo?

Decido levantar-me. Vou até ao espelho. Amanhã pode ser a última vez que verei este espelho, este quarto que sustentou todas as minhas alegrias e tristezas durante 16 anos. Foi este quarto que, de alguma forma, me manteve vivo até agora. O que vejo no espelho é um corpo magro, não demasiado magro de forma a ver os ossos, mas aquele magro bonito, em que não existe excesso de gordura mas também não há falta dela. O meu cabelo castanho claro está quase loiro porque estamos no Verão neste momento. Como faz muito calor na Flórida, o meu cabelo tem tendência a clarear nesta época do ano, no entanto, não é nada que me atrapalhe, até porque consegue ficar algo bonito devido à cor dos meus olhos. Verde-água é a sua cor.

Visto uns calções de ganga e uma t-shirt preta, algo muito característico da minha comunidade.

Como a minha mãe tem a habilidade da agilidade, quanto mais confortáveis forem as roupas, mais ágeis conseguimos ser. A minha mãe tem muito orgulho na sua habilidade. É algo que ela sabe desde sempre, desde que era criança. Sempre soube que iria pertencer a esta comunidade. E eu tenho muito orgulho dela, é uma guerreira.

-James! – Chama a minha mãe – O pequeno-almoço está servido.

-Já vou Louise! – respondo.

É mais uma característica dos Ágeis. Nunca tratamos a nossa mãe pelo seu vulgar nome. Tratamos pelo seu nome próprio para mostrar a nossa proximidade. É algo que nunca percebi muito bem, mas espero um dia perceber.

Desço então para tomar o pequeno-almoço que a minha mãe preparou. Uma mesa completamente recheada de coisas maravilhosas. Sumos de laranja e de mirtilos acabados de fazer, croissants acabados de sair do forno, pão fresco, que a minha mãe faz questão de ir buscar todas as manhãs. Depois tem vários cupcakes, fiambre, queijo, marmelada caseira que só a minha mãe sabe fazer. Enfim, um sem fim de coisas maravilhosas. Sinceramente, acho que a minha mãe sente que algo vai mudar. Não me posso queixar das refeições cá de casa, mas hoje está completamente exagerado. Só me deixa nervoso esta refeição e mal consigo tocar na comida, mas há um problema, a minha mãe repara e eu consigo distinguir na sua expressão aquilo que me vai perguntar. Somos muito parecidos, mesmo olhar, mesma cor de cabelo, e temos várias expressões em comum por isso consigo perceber exatamente aquilo que ela pensa.

-James! – expressa a minha mãe, com preocupação.

-Está tudo bem, estou só um pouco nervoso com a decisão de amanhã. – digo eu para tentar atenuar a situação.

-Sei bem o que te preocupa! E não é a decisão de amanhã. – diz ela severamente.

É por isso que conheço a minha mãe tão bem.

-Estás preocupado comigo. Não me queres deixar sozinha. Tens medo que, por mudar de comunidade, eu fique severamente chateada contigo e deixe de te falar, mas isso não vai acontecer. O amor que sinto por ti, James, é muito maior do que o amor que sinto por esta comunidade. E este pequeno-almoço fenomenal não prova nada. Só prova que quero que te alimentes bem antes das provas que vão determinar aquilo que tu já sabes, apesar de tudo. – termina assim a Louise.

Esse é o problema. Eu ainda não sei. Nunca soube, e é por isso que estas provas são tão decisivas para mim. Vou finalmente descobrir a que lugar pertenço, mas ainda assim, minto à minha mãe – Tens razão Louise. É uma tontice estar assim tão nervoso. – e começo a deliciar-me com este pequeno-almoço.